quarta-feira, setembro 05, 2018

Tudo de novo (miniconto)





por Rafael Belo

Não sou este tipo de monstro, ele me disse. Eu só pensava a partir de então qual tipo de.monstro ele seria se eu sobreviveria a esta noite. Ele riu de um jeito descontraído e debochado. O que disse em seguida me assustou e deixou claro que ele sabia o que eu estava pensando.

Mas, você também não é este tipo de monstro, nem o mesmo tipo que eu, mas é meu tipo, ele continuou. Ele estava se divertindo comigo como um gato antes de se alimentar. Ele é um gato, mas espera. Eu sou um monstro também. Do que ele está falando, afinal? Eu nunca mais vou me encontrar com ninguém de aplicativo… E pela milésima vez, é verdade.

O ser humano é um ótimo disfarce. Sempre foi. Até em outro ciclos e outras linhas temporais. Um saco de pele cheio de emoções e contradições que se dá tanta importância quando tudo praticamente é insignificância. Conseguiram até acabar com o que de mais forte tinham: a união, a comunidade, a sociedade, o amor, a amizade…

Eu não sentia que ele estava brincando. Foi aí que realmente ele ficou sério e quando me tocou dizendo que era hora de terminar mais uma vez. Eu chorei e me lembrei. Quantas vezes nós tínhamos nos separado só para voltar a nos encontrar inevitavelmente. Estávamos provando esta teoria das almas, mas o mundo estava acabando novamente. Sem novidades. Íamos chegar aos sete dígitos de milênios e mais uma vez nos esqueceríamos de quem somos. Morreríamos para fazer tudo de novo.

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