sexta-feira, outubro 12, 2018

Venha falar comigo (miniconto)







por Rafael Belo

Venha falar comigo. Sente-se aqui. Conheça-me e mesmo assim só fale de mim quando estiver comigo. A noite é infância e eu estou a criança que nunca deixei de ser. Vamos ver brincadeiras reais por toda parte. O ódio nunca coube menos nem mais. A gente fala demais e sequer tem argumentos. Brincamos de democracia e como somos representados ? Decerto com memes e piadas, muito orgulho e superioridade… Ah, tem o diálogo, mas ele acontece quando estou no trabalho tentando provar constantemente que igualdade é para tudo e para todos…

Então, este “diálogo” é uma troca de favores. Mas, senta aqui para falar comigo, me olhe nos olhos, me diz quantas fontes você tem sobre esta tua defesa porque com certeza tu não sabe que jornalista estuda, pesquisa (pelo menos deveria) e quanto mais fontes melhor… Aliás, fonte é quem pode provar tua informação… Desculpe, perdi o tom. São coisas da Vida e, eu como a própria, tenho muito a falar, mas escuto também. Sem gritar, sem me exaltar, sem ofender, sem pegar minha bola e ir para casa.

Para mim está todo mundo andando de moto e de carona nesta moto. Acelerando, atacando e roubando minha paz. Não aceitam reclamação, opinião eu queria mesmo devolução. Não disse revolução porque se não estamos preparados para ouvir, para aguentar, resistir quem dirá nos organizar para algo que faça sentido. Nada faz sentido mais. Mas eu sou positiva porque a Vida só pode escolher viver. O problema de esperar em silêncio é o medo e a morte. Senta. Você já não cresce mais, mas pode crescer de outras maneiras.

Já sentou. Demorou de fato. Assim é mais fácil receber as notícias. Eu continuo. Mas até este instante não consigo entender estas diferenças criadas: raça, classe, status, gênero, educação… Só sabemos quem a outra pessoa é se ela nos dizer e só assim.  Às características individuais são justamente o que dizem junto com a personalidade. Tantas divisões e muros servem para o ódio e, infelizmente, para a própria proteção. Hoje ao invés do Amor vejo um antigo veneno no ar. Aliás, esta que você vê na variação da luz também estou eu. Vida e Morte não são duas, são uma só.  Eu só busco meu equilíbrio.

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