quinta-feira, março 12, 2020

O teste de O Médico e o Monstro moderno










por Rafael Belo

Para um povo estatisticamente e da boca para fora cristão, além de chamado de alegre e acolhedor pelos estrangeiros, deixamos tudo a desejar. Cultivamos e apontamos demônios e monstros por toda parte, mas não nos capacitamos sequer para abraçar os mesmos. Agora pouco li um artigo sem o nome de quem escreveu, onde um dos motivos faz sentido e me motivou a escrever sobre nós mesmos e o ignorar do nosso divino.

Já devem imaginar que o texto lido falava da nossa reação sobre o assunto do momento: Dr. Dráuzio Varella e a transexual. O abraço que comoveu quem assistiu em um primeiro momento e gerou revolta em um segundo momento quando o crime brutal cometido pela mesma (o estupro, assassinato e o deixar apodrecer o cadáver de uma criança) chegou ao conhecimento público. No texto o motivo da revolta relatado foi termos tido empatia por um assassino com todos os maus adjetivos e empatia é reconhecer no outro algo em si mesmo…

Não. Não digo termos a capacidade de fazer o mesmo, é algo devastador… Mas de ser possível algo monstruoso, demoníaco ser cometido por qualquer um de nós. Esta "lembrança" forçada a cada um de nós pelo caso foi o motivo da revolta. Julgamos e condenamos o médico e a emissora por nos fazer sentir empatia pelo mal, por gerar dúvidas e ,a verdade, em maior ou menor grau apontamos o "crime" do outro mas quando cometemos o mesmo "crime" não reconhecemos, não aceitamos, minimizarmos o que fizemos e até negamos. 

Não é hipocrisia ou covardia. É medo. Medo de reconhecer que podemos cometer não só falhas pequenas, não só erros mínimos, não só pecados "menores", mas grandes, imensos, vergonhosos e desumanos. Nisto, o que nos incomoda, o que nos indigna é que o monstro pode estar ao nosso lado no espelho sem sequer notarmos sinais ou aparência diferentes. Se fôssemos realmente acolhedores e cristãos não trabalharíamos  com exclusão. Usamos nosso divino como conveniência… Já pensou se todo este episódio do "O Médico e o Monstro" atualizado pode ser um momento de reflexão e um ponto onde, independente de religião, Deus está nos testando?

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