Por Rafael Belo
Não deveria ser cena típica, mas os relatos são. Alguém sendo assaltado do outro lado da rua por vários ninguéns desarmados - ainda a espancarem covardemente a vítima -, e os espectadores, acumulados, ficam fascinados e não se movem para nada. Testemunhas com celulares nas mãos para filmar, fotografar, não para - ao menos - chamar a polícia. Sem falar da gratuidade surtada das pessoas. De repente você vê um alvoroço e certamente é briga. Todos querem saber o acontecido e quase sempre é totalmente banal. “Uma mente desequilibrada quis entender “tudo errado” e começou a esmurrar e chutar homens e mulheres”.
Eu agradeço por não ter presenciado nada disso ainda. Não conseguiria ficar de testemunha de uma atrocidade. Não adianta dizerem: “Não tem nada a ver com a gente”, “Não podemos nos envolver”... Eu pergunto como não? Tem a ver sim estávamos lá, o alvoroço mudou tudo e como estamos vendo estamos envolvidos. Isto me lembra dois filmes. “O Encontro” e “ Violência Gratuita”. Este último uma refilmagem fiel do mesmo título de 98, aliás, é uma tradução desnecessária de Funny Games.
A excelente atuação de Naomi Watts, Tim Roth, Brady Corbet, Devon Gearhart e Michael Pitt mostra um quê de esquizofrenia e de psicótico nos “vilões” criando um jogo divertido – sem diversão nenhuma - onde no final todos deveriam morrer. Já “O Encontro” vai mais com nossas caras de testemunhas. Uma amaldiçoada por Deus, Christina Ricci, é obrigada a ser testemunha de todas as tragédias da humanidade, simplesmente porque ficou assistindo fascinada a Crucificação sem reagir. Vem-me a cabeça nosso às vezes, assim, passamos o ano todo frios para esquentar no Carnaval. Olhamos o bloco passar, não porque há um amor exaltado por lá, mas por que ele está em todo pedaço de qualquer lugar e parece haver alegria naquele momento passante... Depois é um ano de espera.
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