por Rafael Belo
Naquela
janela ela vivia debruçada. Por esta janela ela assistia o tempo. Pela janela
ela era mera paisagem... Pendurada em uma infância sem fim, jogada em uma adolescência
sem chegada. A maturidade era uma picuinha à toa sem resultado sem início... De
um meio tão parado a ponto de nada parecer. Com os fundamentos em falta e as
formas sobrando, tudo parecia ser forma por fora e por dentro. Por isso, então,
o raciocínio travava, empacava em um vazio às vezes preenchido por uma
personalidade passageira.
Ela
tinha um congelamento mental. Portanto, a inação e a falta de encorajamento
eram reações normais. Mas, admitir o envelhecimento era inadmissível, era um
palavrão imensurável. Era algo tão distante preferível de ficar olhando pela
janela... E pela janela a personalidade passava os riscos se esvaiam e nada
acontecia, além da angústia, o sentimento de abandono e uma forma abismal de
fim a abraçava com força por trás. Um peso sem medidas por fora e outro com
toda a gravidade por dentro.
Era
um remoer feito rato faminto tentando sair, forçando espaço para escapar de seu
fim tão derradeiro, tão próximo a sentir o hálito duvidoso da morte esmagando
com mãos afiadas um coração de retalhos. Com aquela bomba de sangue se
espalhando pelo corpo com tanta ausência, mais tanta solidão e carência
acumulados por desconhecimento de afeto, ao vento se tornar uma paixão
avassaladora pelo toque cauteloso e envolvente na pele esquecida. Este era o
motivo de ficar ali na janela. Ela esperava um sopro ao menos...
Esta
brisa não vinha. Estava tudo seco. Ela secava cada vez mais também. Pela janela
debruçada... Sentia um temor de perder até sua personalidade passageira... O
tato ainda lhe restara, todos os outros sentidos dormiam. O sono profundo a
velava. Nada escutava nada cheirava nada falava nada tinha gosto, mas ela
acredita ver – nada via... Não podia ver a madrugada abrindo os olhos da
alvorada para ela dissipando cada sombra carregada nas costas, cada sombra
grávida no interior... Mas pelo ressoar mudo e a pele arrepiada, ela sonhava outro
sonho, além das digitais na viva janela.
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