Como uma ostra
por Rafael Belo
Observar parece algo distante e
longe da concepção da interação pelo simples fato de termos sempre de emitir opinião
e compartilhá-la. Não podemos apenas observar e usar a imaginação para as
possibilidades. Por quê? É possível estar no lugar e permanecer ausente. Não é
preciso de um analista para fazer um laudo afirmativo e comprovar esta prática
humana. Mas, “somos obrigados” pela convenção social a abrir a boca mesmo se
for para esvaziar o vazio. A presença não basta. Então, como uma ostra vamos
guardando pequenas mentiras ditas a nós mesmos até as pérolas saírem.
Gosto de observar como se fosse
parte da paisagem onde acontece a situação diante dos meus olhos e até como se
eu fosse a situação. É um exercício integrante da calma. Permite uma visão o
mais completa possível de qualquer coisa. Muitos pássaros o fazem. Da janela do
gabinete há um recorte do movimento da natureza lá fora. Vejo através janela. A
água cai do ar-condicionado e forma um mini-lago lá embaixo. Entre o almoço e o
retorno ao trabalho, um pássaro preto saltita silencioso e olhando para todos
os lados bebe da água, olho novamente e bebe uma última vez antes de alçar novo
vôo.
Como percebê-lo ou aos demais pássaros,
principalmente os diversos tipos de beija-flores buscando o néctar das flores lá
fora, se estivermos sempre ocupados com algo? Falando, pensando, tentando
sempre interagir e participar de seja lá... Nossos supostos silêncios estão na
verdade participando de algo maior, mas no meu caso estão criando porque
dificilmente vou encontrar palavras para descrever o sentimento de tantas cores
e movimentos. O interesse da sombra na luz e o da luz na sombra. Esta dança diária
diante de nós é intensa e nosso objetivo é apenas sobreviver mais um dia...?
Absorver a dança da vida da pequenez
e a força excomunal da delicadeza de um beija-flor afagando o mundo com suas
asas para se manter no ar e se alimentando é algo difícil de se conceber com
sonoplastia. Por isso, se como uma ostra guardar pequenas mentiras, poucas
horas depois meu corpo padece parcialmente como meu reflexo interno e o incômodo dessa “sujeirinha” se
transforma rapidamente em uma pérola oca sem valor envergonhada dentro de
mim... Também é bem possível se transformar em algo subjetivo... Porém, se como
uma ostra acumular silenciosas observações (como a do pequeno grande pássaro),
elas gritam uma pérola robusta e única simplesmente porque vi o que me era possível
enxergar através da janela.
Muito lindo o texto só alguém romântico que observa e pode ver as pequenas grandes coisas da vida..Parabéns !
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ResponderExcluirA capacidade de observação e a arte de lidar com as palavras fez o texto brilhante,coeso e coerente.Parabéns,Rafael jornalista,escritor e poeta...