terça-feira, abril 23, 2013

O individualismo fatal ao nosso alheamento


O individualismo fatal ao nosso alheamento
por Rafael Belo

Ninguém nas ruas. Melhor, quase ninguém. A frente uma moto e logo depois um carro, ambos parados em um raro retorno na Avenida Gunther Hans, mais conhecida como Marechal Deodoro aqui em Campo Grande, saída para Sidrolândia. Muito escuro. Passadas às 23h de um domingo próximo. O carro com a porta aberta arremessava objetos não identificados no canteiro central. Cena inusitada e que com certeza gera inúmeros rumos para a nossa imaginação, mas a mais insignificante seria: não tinha um lugar mais escondido para isso não?! Depois dessa vamos ao mundo virtual procurar algo a respeito e nada. São como os inconsequentes acidentes diários, os quais me recuso achar corriqueiros. Toda falta de seta para conversão, toda conversão direto da faixa do meio, toda fechada, furada de sinal vermelho, parada em cima da faixa, alta velocidade e costuras no trânsito nomeio de uma irresponsabilidade tão egoísta...

Nossa imprudência... Nossa sim, porque dê a primeira buzinada àquele que nunca foi irresponsável ao volante... “Uma” distração que só não foi fatal pelo simples motivo de sermos mais motoristas a pilotos... Aliás, é um individualismo coletivo esse nosso trânsito. Como se só um dos milhões ao volante estivesse atrasado em pleno horário de pico e esse um quase sempre seria nós mesmos únicos incomodados com o sol direto nos olhos. Veste-se o alheamento, veste-se o capacete e a única comunicação é o trajeto traçado na mente para chegar mais rápido. Acordar mais cedo ou simplesmente levantar quando o despertador toca nem pensar... É um absurdo pensar na fluidez do tráfego. Este só seria fluído se pensássemos uns nos outros, mas não. Este é um problema para os nossos representantes políticos, para as autoridades responsáveis pelo trânsito, até para o Chapolin Colorado e suas astúcias, mas nosso não. Ah, não! Nem vem... Nem me peça para olhar pelo retrovisor...

Este estar alheio nos vestiu como uma carapuça sob medida. Encomendada como traje inusitado ao videogame do piloto automático que viramos no vai e vem das marchar. Levando-nos a outro fato no trânsito, onde eu estava ao lado, foi bem além da imaginação: Chuva média. Primeiras horas da tarde. Um carro desce lentamente e de repente ao lado da janela do motorista uma briga incoerente (redundante...) se inicia. Uma motociclista invadiu a pista. Na contramão e aos gritos buzina incessantemente e esbraveja: vai passa por cima, você não é homem e acelerava a moto vai passa por cima passa passa passa, passa por cima. O condutor da caminhonete aguentou bem vários minutos, depois desviou vagarosamente e seguiu. Não contente a mulher o seguiu e foram-se à direta no cruzamento a perder de vista. Um dia de fúria versão automotiva.

Deveríamos pensar mesmo é na vida. Não me lembro à última vez de ter chegado ao serviço antes de passar por um acidente.  Assim como não lembro quantas pessoas não estão falando ao celular e com a outra mão conduzindo. O celular toca e uma vez ou outra lá vamos nós na velocidade, na inconsciência atender. Às vezes olho em volta, no sinal fechado ou durante o trajeto, e é rara a quantidade de pessoas que não estão alegres ao celular ou com a cabeça inclinada para baixo digitando mensagens de texto. Nosso imediatismo parece não ter um retorno próximo e quebramos todas as regras para depois cobrarmos bons exemplos que não damos.


O sentimento de segurança em um carro sob nosso “domínio total” é tamanho que a síndrome do super-homem segue a toda velocidade imaginando, quem sabe, uma bandeira quadriculada no fim da corrida maluca. Quantas vidas são envolvidas em um acidente por “desleixo” nosso?! Precisamos de uma revisão assim como nossos veículos e agora. E isso não seria uma cura porque não precisamos de cura e sim de prevenção. Precisamos nos prevenir desta dose homeopática de falas no lugar de silêncios e silêncios no lugar das falas, para não os transformamos em invisíveis rachas diários sem saber se o sinal no próximo cruzamento estará funcionando. 

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