O
individualismo fatal ao nosso alheamento
por Rafael Belo
Ninguém nas ruas.
Melhor, quase ninguém. A frente uma moto e logo depois um carro, ambos parados
em um raro retorno na Avenida Gunther Hans, mais conhecida como Marechal
Deodoro aqui em Campo Grande, saída para Sidrolândia. Muito escuro. Passadas às
23h de um domingo próximo. O carro com a porta aberta arremessava objetos não
identificados no canteiro central. Cena inusitada e que com certeza gera inúmeros
rumos para a nossa imaginação, mas a mais insignificante seria: não tinha um
lugar mais escondido para isso não?! Depois dessa vamos ao mundo virtual
procurar algo a respeito e nada. São como os inconsequentes acidentes diários,
os quais me recuso achar corriqueiros. Toda falta de seta para conversão, toda conversão direto da faixa do meio, toda
fechada, furada de sinal vermelho, parada em cima da faixa, alta velocidade e
costuras no trânsito nomeio de uma irresponsabilidade tão egoísta...
Nossa imprudência...
Nossa sim, porque dê a primeira buzinada àquele que nunca foi irresponsável ao
volante... “Uma” distração que só não foi fatal pelo simples motivo de sermos
mais motoristas a pilotos... Aliás, é um individualismo coletivo esse nosso
trânsito. Como se só um dos milhões ao volante estivesse atrasado em pleno
horário de pico e esse um quase sempre seria nós mesmos únicos incomodados com
o sol direto nos olhos. Veste-se o alheamento, veste-se o capacete e a única
comunicação é o trajeto traçado na mente para chegar mais rápido. Acordar mais
cedo ou simplesmente levantar quando o despertador toca nem pensar... É um
absurdo pensar na fluidez do tráfego. Este só seria fluído se pensássemos uns
nos outros, mas não. Este é um problema para os nossos representantes
políticos, para as autoridades responsáveis pelo trânsito, até para o Chapolin
Colorado e suas astúcias, mas nosso não. Ah, não! Nem vem... Nem me peça para olhar pelo retrovisor...
Este estar alheio nos
vestiu como uma carapuça sob medida. Encomendada como traje inusitado ao videogame
do piloto automático que viramos no vai e vem das marchar. Levando-nos a outro
fato no trânsito, onde eu estava ao lado, foi bem além da imaginação: Chuva média. Primeiras horas da tarde. Um carro
desce lentamente e de repente ao lado da janela do motorista uma briga
incoerente (redundante...) se inicia. Uma motociclista invadiu a pista. Na
contramão e aos gritos buzina incessantemente e esbraveja: vai passa por cima, você não é homem e acelerava a moto vai passa por cima passa passa passa, passa
por cima. O condutor da caminhonete aguentou bem vários minutos, depois
desviou vagarosamente e seguiu. Não contente a mulher o seguiu e foram-se à
direta no cruzamento a perder de vista. Um dia de fúria versão automotiva.
Deveríamos pensar mesmo
é na vida. Não me lembro à última vez de ter chegado ao serviço antes de passar
por um acidente. Assim como não lembro
quantas pessoas não estão falando ao celular e com a outra mão conduzindo. O celular
toca e uma vez ou outra lá vamos nós na velocidade, na inconsciência atender. Às
vezes olho em volta, no sinal fechado ou durante o trajeto, e é rara a
quantidade de pessoas que não estão alegres ao celular ou com a cabeça
inclinada para baixo digitando mensagens de texto. Nosso imediatismo parece não
ter um retorno próximo e quebramos todas as regras para depois cobrarmos bons exemplos
que não damos.
O sentimento de segurança em um carro sob nosso “domínio
total” é tamanho que a síndrome do super-homem segue a toda velocidade imaginando,
quem sabe, uma bandeira quadriculada no fim da corrida maluca. Quantas vidas
são envolvidas em um acidente por “desleixo” nosso?! Precisamos de uma revisão
assim como nossos veículos e agora. E isso não seria uma cura porque não
precisamos de cura e sim de prevenção. Precisamos nos prevenir desta dose
homeopática de falas no lugar de silêncios e silêncios no lugar das falas, para
não os transformamos em invisíveis rachas diários sem saber se o sinal no próximo
cruzamento estará funcionando.
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