Miniconto - Tudo
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por Rafael Belo
Pequeno Gafanhoto acordara
certo dia envolto por uma nuvem de verdadeiros gafanhotos e todos os demais
verdes se foram. Público, privado, pessoal, coletivo, vivo ou morto tudo que
podia ser procurado foi devorado. Nem mesmo ele havia percebido o significado
daquela nuvem. Há tempos ele enxergou os gafanhotos separados. Bem, não haviam
ainda se desenvolvido. Eram duas larvinhas e diversas metamorfoses solitárias
depois sim, gafanhotos. Um macho e uma fêmea. Solitários por natureza como
Pequeno Gafanhoto e mesmo assim agora eram aquela nuvem.
A nuvem imprevisível, e
ainda inexplicável em cada uma de suas manifestações, acabou por levá-lo. Ele
pensava naquele fato incomum com tanta força que os mais mentirosos juram que
havia fumaça naquele vivo fogo verde. - Como tanta coisa pessoal ficou
coletiva? Que força da natureza é essa que nem a natureza explica? E o mais
importante: o quê eu estou fazendo aqui?! Um monte de solitários antisociais
devorando pedaço por pedaço até das sombras como avestruzes e emas (bom tanto
faz já que engolem tudo e tem a mesma origem) só que voadoras.
Será que vou mudar de cinco
a seis vezes? Não. Um ser humano sofre metamorfoses pela vida toda... Um ano de
vida...? Improvável. Mas não sou profeta. Vegetariano? Incapaz... Morreria em
menos de 12 meses. Espera um pouco, que calor infernal é esse? E esse murmúrio
como uma chuva de ventos cercando...? Pior é não enxergar nada além desta
fumaça verde viva e me sentir devorado.
Se eu abrir a boca vou engolir... O quê? Milhares de gafanhotos? Seria como me
alimentar deles desde o início da culinária chinesa, há mais de quatro mil anos
e isso não significaria nada.
A língua afiada do
inconsciente coletivo devorou o senso comum e uma multidão cheia de armas,
principalmente medievais tochas, tentava encontrar uma maneira de incendiar
aquela fumaça viva verde e nem isso interrompeu a filosofia mental do Pequeno
Gafanhoto, que além do mais era incapaz de ouvir algo além do farfalhar de
milhares de asas, mas mesmo assim ouvia murmúrios, vestígios distantes do
pandemônio formado. Enfurecidas, nuvem e multidão, se atracaram e mal começaram
a chafurdar, um helicóptero passou fazendo uma chuva de algum líquido
inflamável. Em poucos instantes pensamentos e farfalhares eram reais fumaças,
gritos e ódio eram cinzas, todo campo e floresta eram devastação.
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