segunda-feira, abril 01, 2013

No estranho primeiro de abril dos médicos e monstro

No estranho primeiro de abril dos médicos e monstros
por Rafael Belo
Se ele é aquele que se esconde, eu serei aquele que procura. E se ele e eu fôssemos a mesma pessoa? Este antigo trecho é de 1886, do Estranho caso do Dr. Jekyll and Mr. Hyde de Robert Louis Stevenson ou, como conhecemos a obra, O médico e o monstro. Temos nossos médicos e monstros dentro de nós e dependendo do nosso equilíbrio particular tendemos mais a uns. Dentro de nós, seres humanos, não há o bom puro ou um mal destilado, há nosso crescimento e decisões. Somos aquele que esconde e aquele que procura. Mas, às vezes nos escondemos tanto, a ponto de não sabermos qual é qual, porque, afinal, ambos somos nós e queremos que tudo seja simples dividido por lados: mocinhos e bandidos.
Este clássico é baseado na vida dupla de um escocês de Edimburgo: William Brodie. William roubava as casas dos moradores da cidade à noite e durante o dia era um respeitado marceneiro. Como sempre não é tão simples na realidade. Esta suposta dicotomia vive dentro de nós sem tanta obscuridade, mas com muito eufemismo e metonímia. Regrados por leis, éticas e moral, a vida acaba por ser uma constante vigilância e autovigilância. Suprimimos e reprimimos muitos desejos e vontades por "n" objetivos e nossa mente guarda, nosso corpo armazena, nosso coração sobrecarrega e nossa alma amplifica. Somos instintivos e sensitivos como os animais, mas somos mais racionais e neste primeiro de abril podemos dizer que muitas vezes, nós somos a maior mentira.
Nesta data, seguimos a tradição de “pregar trotes” porque hoje foi um dia o início do ano até Júlio César mudar para primeiro de janeiro meio século antes de Cristo, por questões políticas. Década depois o papa Gregório XIII estendeu a data para toda cristandade e o calendário gregoriano foi difundido para todo o mundo.  E não há troca de presentes falsos para troçar dos desobedientes que continuram há séculos a comemorar a data como verdadeira ou o “peixe de Abril”. “Peixe de Abril” marca o fim da Quaresma (consumo proibido de carne vermelha para cristão e a data que marca a morte e ressurreição de Cristo) e onde o peixe é o presente mais frequente. Assim, dia primeiro de abril é dia daqueles que não aceitam a realidade ou a querem de outra forma.
Assim, distorcemos nossa visão, inventamos outra e não aceitamos muito do que não venha de nós. Talvez tenhamos três naturezas em luta constante para ser livre: a humana, a demoníaca e a divina. Podemos ser fusões, mas somos mais pelo cotidiano, pelo vivido por nós, por onde crescemos, onde trabalhamos, pelos outros e pelas diversas culturas que absorvemos. Não somos uma coisa ou outra, apenas não aceitamos a realidade, a queremos de outra forma e criamos mecanismos onde somos médicos ou monstros. Dr. Jekyll acreditava que o problema era quando o lado negativo se libertava e ia parar nos noticiários. Acredito que o problema é quando guardamos só para os silêncios nossas impressões, sentimentos e acumulamos energia ao invés de compartilhá-la, de distribuí-la e não vir a conhecimento público de jeito algum ou muito tarde. Tudo isso vira ressentimento e, uma hora, quem está escondido dá as caras.
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“...dentro de meia hora, irei novamente e definitivamente incorporar aquela odiosa personalidade, e antevejo com irei sentar tremendo e chorando em minha cadeira, ou continuar, com o mais desgastado e apavorado êxtase auditivo, a andar de cima para baixo neste quarto (meu último refúgio terreno) e atentar a qualquer som de ameaça.” (Trecho de O Estranho caso de Dr. Jekyll and Mr. Hyde, ou o Médico e o Monstro).
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Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito nessa mistura de médicos e monstros que vive dentro de nós. O dificil é separá-los.