Trocando as vogais do convívio
por
Rafael Belo
Guerra! Balas, trocação,
sangue... As pequenas lutas forçosas criadas. O cultivo do ódio, a confusão
mental e física. Há uma cisão entre o público e o privado clara (e
necessária), mas a nitidez se desfoca quando o particular e o coletivo se
agridem em campo aberto e se fundem. Nesta batalha campal vazia e, portanto, desnecessária
só acontece descarregamentos de variadas munições com tamanha energia
desperdiçada que os choques terminam em uma hecatombe pessoal ou, no
lugar-comum, o famoso tiro no pé.
Armas carregadas e apesar da
mira, hora na cabeça hora no coração, os tiros sempre são para o alto.
Covardia? Sim. Porque de fato não importa o alvo, importa tê-lo e guerrear a
agitação. Mas antes da covardia contra o outro, é pessoal. Coletivizar é uma
estratégia malograda de dispersão. É como um espião espionando a si mesmo. A
guarda sempre alta com as mãos no rosto tão acima do necessário que nada é
possível enxergar. As portas se fecham e mesmo assim o sangue escorre.
Para cultivar pessoas e,
consequentemente, amizades é preciso o desarmamento imediato. Descruzar os
braços, abrir os sorrisos, cumprimentar as pessoas, olhar nos olhos e saber que
todos merecem um tratamento normal. Porque, além do mais, confiar é uma
conquista diária e frágil a ponto de vir em garrafais letras vermelhas ESTE
LADO PARA CIMA ou você revela seu pessoal para o coletivo? Ser sincero, mas
pensar antes de cultivar o veneno e os duplos fios de corte preciso. O inimigo
é o outro? Não somos nós mesmos e nossa guerrilha interna resvala no profissional
em uma troca sem igualdade.
Trocando o "u" pelo
"o", a extensão se torna cumprimento e o comprimento um fraco aperto
de mão . Esta medida fica desmedida quando ao invés da simpatia ou a tentativa
de, acontece o percorrer do olhar pelo outro, a desarmonia geral e, enfim, esta
constante guerrilha pessoal e a guerra civil profissional. E, pessoalmente, só
podemos dizer que esta confusão cria uma falsa separação entre o físico e o
intelectual mesmo sabendo que todo este armistício é um batalha sem fim de
cultivo de ilusões analisadas onde o convívio consigo mesmo torna-se pior
"do que" com o outro.
3 comentários:
Eu fiquei extasiada. Exatamente o que penso.
Seu jogo de palavras me encanta.
E, parabéns. Esse é o que eu mais gostei, de todo que eu li.
Beijinhos :*
Muito bom....Parabéns ...brinca com as palavras de uma maneira divertida..Sos
Nobre, Rafael.
Desenhas um texto Harmonios, Encantador. Nivelado por cima. Um dia, ainda aprenderei a escrever assim.....
Abraços abraçados.
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