O imediatismo da impaciência
por
Rafael Belo
Ansiosidade. Pouca idade. Diversidade.
Cadeiras. Show. Desrespeito mútuo. Uns em pé em detrimento de quem estava
sentado outros sentados com palavras de ordem para que os da frente fizessem o
mesmo. Tentando ignorar os gritos da massa, permaneciam em pé. Tentando não
serem ignorados, todo arsenal em mãos era arremessado com má pontaria, acertando-os nas mesmas condições destes, sentados. Muita munição desperdiçada até se
sentarem todos, porém ainda há alguém disposto a continuar os joguinhos dos
desrespeitos. Em cima da cadeira vocifera para quem joga e há discussão. Segue lá
em pé e em pé sobre a cadeira. Única. Sozinha. Solitária no ato. A desafiar sem
nenhuma palavra. O corpo denuncia o constrangimento e o ato repetido por
empáfia, mas então senta. Show com
cadeiras. Este foi o magnífico show de Ana Carolina há três fins de semana.
Do começo ao fim houve
esta agressão paralela ao som de altíssima qualidade. A marcante apresentação
da consagrada cantora mostrou uma parcela do público diversa dela, ela
simpática, expansiva e interativa, ele tempestuoso e egoísta. Este comportamento
só ocorre em duas ocasiões: em grupo ou em um automóvel. Um enfrentamento que evidencia a falta de
respeito das pessoas e o prazer das sentadas permanecerem atirando latas,
papéis e seja-lá-o-quê-estiver-próximo. Um desrespeita-me que eu te desrespeito
que por a minoria ceder não terminou em baderna e até pancadaria. Claro que
quem estava sentado e não se envolvera, desvia a atenção para o cabo de guerra.
Mas ninguém se metia. Assistia como um show à parte. Uma realidade paralela que
se distanciava voltando os olhos e ouvidos para o show. É irrelevante dizer que
eram meninas. Adolescentes. Porque tudo parece se misturar nesta nossa
realidade e nada vai mais de gênero e sim de personalidade ou a epidêmica falta
dela.
Fato é a massa sentada incomodada
com o grupo em pé em frente às cadeiras, somava aos gritos de ordem da meia
dúzia mais eufórica. Era um: SENTA SENTA
SENTA. Enquanto rolava o show da talentosa Karina Marques. Mas foi por
pouco tempo. Quando a cantora e compositora local terminou o show. A demora
voltou o foco do pequeno grupo sentado, mais à margem das cadeiras, a quem
estava em pé. Divertiam-se. Riam. Estavam lá para se divertir e todos repetiam
o coro. Senta Senta Senta Senta Senta
Senta SENTA SENTA SENTA. Havia vaias também quando se sentavam e logo
levantavam. Durante todo o show foi assim. Quem senta quer enxergar, quem
levanta quer enxergar... E neste senta levanta acabam ficando todos estes sem
sentir o show, sem se envolver realmente porque o diálogo não existe. Parece não
haver vocabulário nem para se comprimentar, quanto mais palavras sensatas para
chegar a um acordo. O imediatismo da impaciência...
Ah, esta impaciência
imediata... Se não acontecer no tempo determinado por fulano-sicrano-beltrano,
o tempo fecha, a temperatura muda, arde o mármore do inferno e todo o sol vira
gelo. Tudo no olhar é fúria e é morte rápida, principalmente de quem as têm
brilhando nos olhos. Mas sabe lá o que é desrespeito. Esta pandemia tupiniquim
do distanciamento chamado egoísmo – mesmo alguns chamando de mídias digitais,
alienamento, autismo opcional e ignorância funcional – do julgamento, de uma
antecipação covarde do imprevisto sem sequer termos tempo para olhar para este
nosso imenso umbigo sem a mínima higiene necessária. Só porque nem ao menos nos
respeitamos... Saímos por aí, perfeitos fios desencapados a procura de
coletivizar nossas angústias e vazios, afinal achar culpado(s) pelo (nosso) bem
maior é o objetivo que mais respeitamos. Quem sabe o segundo seja chocar...
3 comentários:
Ola, Rafael bello
Bom dia.
lendo esta crônica, que chamarei de coisas do cotidiano, fez-me lembrar das do carioca Ibraim Sued, muito popular nos anos 70 e 80 nos jornais: O Globo e do Brasil, ambos do Rio de Janeiro. Mas, retornando a sua escrita, entendo que a cantora Ana Carolina, esqueceu de levar " As Rosas", para o seu publico. Sim, sei que é uma questão de Educação. Mas, volto a contrapor que além disso as Casas de Show, sabem que as pessoas, principalmente da primeira fila, tem a tendência de ficar de pé, como quê, querendo bulinar nos artistas. Precisam adaptar-se estruturalmente. Acontece, que os patrocinadores dessas festas, farras, fanfarras não estam preocupadas com o conforto do consumidor e sim com o vil metal que lhes derrama os bolsos. As pessoas, independentes da idade, estam lá ansiosas, debochadas, despautérrimas, revoltadas e revoltantes. E, buscam nesses espaços, um derramamento de energias negativas.
Creio, que seja senso comum, esse tipo de desrespeito. Até por que a vida, quase sempre é copiada comportamentalmente das bulas da idiotices juvenis.
Abraços, pra você. Felicidades.
Obrigado caríssimo. Está correto, só preciso fazer a ressalva que o show foi gratuito (desconsiderando nossos impostos pagos claro)
às vezes em diversas situações de nossa vida, somos levados pela impaciência, por não acreditar mais em soluções, principalmente por parte de nosos governantes, que assistem de palanque os nossos senta-levnta da vida!mamys
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