(Miniconto) Bola do mundo
por Rafael Belo
De
um dia para o outro o mundo mudou. A bola que já mandava no mundo virou a bola
do mundo. Os pés descalços foram calçados de chuteiras. Todos as vestiam. A pátria de chuteiras era literal. A bola era o mundo. A conclusão era
lógica. Se o futebol movimentava mais de R$16 bilhões por ano só no Brasil e apenas
em ano de Copa mais de R$ 183 bilhões, com o restante do planeta somavam mais
de trilhões e trilhões, então decidiram pegar os dirigentes e agentes do time e
jogadores da equipe mais rica do mundo e, bem, o mundo mudou.
Toda
instituição tinha seus técnicos profissionais e faziam peneiras para
campeonatos menores que valiam vagas para médios, que por sua vez premiava os
melhores com lugares garantidos nas maiores competições. O ano todo e todos os
dias eram jogos. Só a programação esportiva tinha espaço e ninguém lembrava
mais como tudo havia começado e qual era a origem daquela votação contínua nos
mesmos dirigentes do mundo.
Os
leilões eram acompanhados desde o ventre. Quando nascia o garoto ou garota já
recebia todo o uniforme que só aumentaria de tamanho ao longo dos anos. As pequenas,
grande e médias almas eram vendidas quando bem seus agentes/empresários/pais
quisessem e para quem desce o maior lance a qualquer momento durante qualquer
competição. Desfalcavam times que desfalcavam times que desfalcavam times...
Pessoas desapareciam como bola chutada para o mato...
Mas,
como nenhuma bola é uma esfera perfeita. A bola murcha começou a
ameaçar acontecer. Um belo dia a bola do mundo realmente murchou. A bola que
era o mundo não entraria mais em campo (nem em quadra). Uma bola bomba inicial
começou a explodir diversas bolas bombas por toda parte. A maior bomba bola
ficava na parte central da sede dos dirigentes. Todo o mundo deixou de ser
redondo e se fragmentou em diversos octágonos. A bola fria foi para o octógono.
Era o fim da era do mundo da bola.
Um comentário:
Admirável, Rafael Bello.
Entendo que essa mercadoria chamada de futebol, hoje, está mais para lavagem de dinheiro, que para esporte. E a bola, é apenas, e tão somente a ponte, entre a esculhambação e a promiscuidade.
Parabéns. Uma crônica belíssima.
Tenha um fim de semana, agradável.
Abraços.
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