por Rafael Belo
Quando o agora deixou de existir, eu era o vazio. Não uma mulher vazia ou a própria Gaia desterrada, devastada, desolada… Não! Só parecia haver um Limbo em mim. Meu Purgatório na minha alma cansada. Fui filha e mãe do Tempo… Mulher, Deusa, Titã… diversas ordens não necessárias. Desnecessariamente perdi meus propósitos humano, divino, perdi meus caminhos e não estava boa suficiente para procurar quem eu era na atemporalidade.
É esta Liberdade nova, repaginada, renascida, resolvida a responsável pelo vazio vir à tona. Eu era a desmemória sistemática. Fui rodapé e protagonista na linha da minha vida. Fui e voltei. Será que não roubei oportunidades de outras? Não. Como Gaia não permitiria este desvio. Um desvio de conduta sem reparação. Lá estive no rodapé e no protagonismo da História. Quando meu filho ainda me chamava e o vi utilizar de si mesmo para evoluir. Foi quando eu sumi. Ele não me viu e eu o via latejando poder…
Penso sempre se O visitei quando ele, O Tempo, era contado. Quando… Ninguém usa mais este condicional localizador… Mas eu lembro Dele me dizer o quanto O culpavam por tudo. No começo O aborrecia e ele fazia todos ficarem bem idosos e necessitados da ajuda de outras pessoas para quase tudo, porém, bem em si mesmo foi mudando até perceber sequer ter existido como os humanos o fazem existir… Com certeza os conflitos familiares deveriam cessar…
Ah, meu filho! O desequilíbrio causado pelo seu retorno se equilibrou com o desequilíbrio causado por mim e teu pai. Terra e Céu estavam em colapso. Até nos reencontrarmos e no recompormos. Mas o que sobrou da nossa forma original, afinal? Nenhum humano tem a capacidade de sobreviver a visão das nossas formas reais nem sequer a imensidão da imaginação deles. Como não pensei nisso quando interferi diretamente e também seu pai? Agora tantos infinitos nestas almas também são deuses sem Tempo e o acusam filho de algo criado por eles próprios. Eles precisam deixar de serem Hades. Há muita escuridão nesta confusão deles. Eles precisam esquecer… Esquecer… Você!
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