segunda-feira, janeiro 28, 2019

Nossos (d)efeitos no tempo







por Rafael Belo

Lembro de Nelson Rodrigues quando ele fala de beleza. Vou adaptá-lo. É preciso chegar às pessoas e dizer: “ser bonito não interessa, seja interessante”. A beleza acaba em 15 dias em uma fadiga visual. Agora pessoas interessantes se perpetuam… Mas, não estou falando aqui de beleza e sim do tempo. Perdemos o controle diante dele. Há toda uma ditadura social impondo nossos direitos e deveres diante do tempo. O tempo nos controla. Somos alienados para temer os efeitos dele. Entre parar, descansar, refletir e continuar pensamos sobre este vigia eficiente e tão presente em nós. Sim ele passa. Ele não pára. Cabe a nós entender como ele funciona individualmente. Sabe, eu estava estes dias esperando em uma das cachoeiras do Ceuzinho. Era só o barulho das folhas e daquela pequena cachoeira. Ouvi meu silêncio ali e senti minha paz.

Vendo as águas passarem preenchendo os espaços, percebi que estamos na história com nosso passado, no amanhã em mistério e tudo isso deságua no nosso agora, neste presente onde podemos aplicar nossa aprendizagem até ontem e nos preparar para revelar nosso depois. Tudo dependendo deste momento. Tocando o frescor daquele rio, realmente senti ele não ser o mesmo a cada instante acontecendo. Eu era aquele rio. Sou ele. Somos… Aqui comigo, você está ouvindo o som de alguma cachoeira na sua memória. Lembra como se sentiu? Está sentindo o mesmo agora. Sentimento é tempo. O tempo é o sentir. Esqueça o controle. Foque nas ferramentas dentro de ti para lidar consigo mesmo e assim lidar com tudo.

A maneira como nos sentimos é prisão ou liberdade. Eu sinto o tempo me libertando a cada passo dado, a cada palavra formada, a cada nota emitida como canção e em toda dança eternizada em um abraço gostoso. Este é o tempo, este é o sentimento, estes somos nós lidando, conforme nossas escolhas, com a mão estendida da vida nos tirando para dançar todos os dias, a cada instante. Por isso, individualmente 1 minuto pode nos ser eterno e dez anos um sopro, um instante. É nosso sentimento-tempo. Realmente depende de nós. Individualmente e coletivamente. Então, não se prenda dizendo eu não tenho controle sobre o meu sentimento… Aí entra o pensamento, a reflexão, o conhecimento. Um exemplo? Quantas vezes você pensou amar alguém e no primeiro deslize da pessoa seu sentimento foi de raiva? Diga-me: isso é amor? Ou, então, quantas vezes você não sentiu raiva e quando parou para pensar percebeu o mal que estava fazendo a si mesmo?

Vamos voltar a Nelson Rodrigues na vida como ela é e dedicar este último parágrafo ao interesse e ao interessante. Não é mais interessante não sentir raiva e focar o interesse em resolver a situação? Quanto tempo vamos desperdiçar com egoísmo, com desamor, com raiva, com futilidades e nos deixar transformar em pessoas manipuladas, controladas pelo desinteresse, pela ausência, pelo domínio de sentimentos que apenas nos fazem mal e contribuem para um vazio ganhando tempo e espaço nas nossas vidas? É interessante nos permitir sentir até a tristeza e a dor, mas é do nosso interesse utilizar nosso tempo como uma ferramenta para crescermos individualmente e coletivamente estendendo a mão, chamando também a vida para dançar no tempo do abraço gostoso localizado naquela cachoeira da memória.


Um comentário:

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