quarta-feira, março 25, 2020

O silêncio guardado







por Rafael Belo

No geral é silêncio. Pelo menos agora. Parece que foi percebida a urgência e gravidade da situação. Há dois dias pais e crianças afrontavam a quarentena, desafiavam nominalmente o coronavírus (COVID-19) e os decretos do “FIQUEM em CASA”. Mesmo após o pronunciamento irresponsável do presidente da nossa República da conveniência menosprezar os acontecimentos e pedir um direcionamento diferente do que o mundo está tomando e sem alternativas concretas. Esporadicamente os sons que surgem são do vento balançando alguma roupa no varal, a telha de metal estalando, a geladeira zumbindo, carros e motos ligando e passando… Esta situação inédita vivida por todos nós tentando afastar o medo com humor e negação, causa extrema estranheza. Realmente estamos em quarentena vendo os erros de outros países que ignoraram a pandemia… Parece que estamos suspensos no ar. Há quem está em casa há dez dias. Eu estou neste momento da escrita há cinco dias. 

Como não lembrar das sucessões de quarentenas bíblicas e, principalmente, a do senhor Jesus?! Andamos no deserto separados dos nossos. Com os pés na areia fervendo e o sol escaldante na cabeça, tentados ao desleixo, ao desprezo, a raiva, a solidão, ao mal... Nestes instantes caseiros  e de isolamento é que realmente as falhas - grandes ou pequenas - se agigantam. Percebemos o quanto nossa humanidade é falha. Vi tantos erros meus confessados pós-descobertas e não os cometendo mais. Assustei-me com o que não me vi fazendo, não percebi minhas ações… Todo o silêncio guardado me corrompia. Sobre tudo e os pensamentos presos se perdiam. Eu me desfazia com ambos. Penso em quantas casas silenciosas estão gritando agora. Estão isoladas, em perigo… Esta quarentena involuntária é praticamente uma internação compulsória.

Esta é a hora de nos desfazermos dos nossos vícios e egoísmos. Esta é a hora de reconhecermos o mal que fizemos, fazemos e podemos fazer. Este é o momento de aprendermos as consequências de nossos atos e mesmo não tendo envolvimento, de alguma forma somos cúmplices da culpa. Nos minutos estendidos da nossa maior fragilidade exposta é que podemos ser fortes e negar as tentações. Podemos nos fortalecer e enxergar a importância de nós mesmos e de todos os nossos irmãos. É hora de limpar a casa, de tirar as impurezas detalhadamente de nós mesmos e aprendermos a discernir os silêncios que nos ronda. Como vivemos até agora não nos leva para onde deveríamos ir. Já se perguntou, ao invés de determinar, para onde deve ir?

Não guarde o silêncio. O use. O entenda. Nada mais de julgamentos. O seu Espírito é o próprio Deus manifestado em ti esperando para agir. Pode ser que o som mais assustador no momento seja o espirro de um vizinho e a tosse seca de outro, mas mais assustador ainda é ver toda a nação caindo diante dos nossos olhos. Levante-se. Ouvi no meu silêncio esta ordem: Levante-se. Compartilhe seu silêncio e acalma teu coração. Não estamos sozinhos, não estamos isolados. Revele-se.

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