(* Mesmo perdido no solo concreto do fragmento urbano, o verde desponta ao nublado céu entre fios e falas - captei dia 17.02.2011 )
Rafael Belo
Estava tudo silencioso como a hora fatídica na qual até a madrugada adormece. Nem os insetos faziam um zumbido sequer, muito menos os cachorros ladravam ou os gatos regojizavam um sexo de telhado e estávamos em uma maldita capital brasileira... Destas insônes, irrefreáveis com a cara do purgatório sem localização geográfica, mas ainda sim uma cidade cheia de jovens verdadeiros e falsos tentando aproveitar a capacidade de não dormir, onde há o inferno de um bar noturno com música ao vivo até o dia raiar bem ao lado do seu quarto já iluminado pela poluição visual das publicidades.
Paraíso era dormir tranquilo e sem acordar nenhuma vez, até o corpo e a mente descansarem completos. Será toda esta ausência de som o anúncio da morte? Ou seria o disfarçar do inferno espreitando meus pés com sua atraente beleza de pecados e libertinagens? Estarei sonhando... Não! Não tive um sonho sequer com estes olhos fechados e esta memória de elefante! Onde estão os bêbados incômodos tentando pilotar a mortal arma sobre quatro - ou duas – rodas nesta terra de poder político e descompasso? Chega de ficar perguntando perguntas geradoras de novos questionamentos... Vou sair!
Meu relógio não está em meu pulso nem em lugar algum. Os mostradores de horas não contam mais o tempo e se o fazem não querem me dizer... Não vou me preocupar, sempre gostei do silêncio, também cheguei à conclusão deste ser meu único sonho, portanto, é a resposta para as questões não mais feitas... Estou sonhado. Há pouco vi espelhos sem meu reflexo e através deles estava dormindo em um lugar repleto de flores e velas, mas a luz elétrica... Não está mais nas tomadas e interruptores. Vejo vultos de luzes cegantes em pontos variados - como se isso fosse possível - e escuto uma cristalina voz na minha mente dizer para eu esperar... Espere! Ainda precisa redescobrir seu nome...
Eu sei quem sou... Só não consigo lembrar... Experimento ouvir as vozes ao meu redor nos espelhos onde ainda vejo meu corpo inerte. Sei dizerem meu nome a todo momento, mas é um burburinho incessante que chega a mim, como um mundo de orações mentais misturadas as falas... Devo ter enlouquecido e o hospício é meu corpo onde o meu desconhecimento sobre o ocorrido – porque algo aconteceu e é fato – se transforma nas amarras desta camisa de força presa ao invisível. O silêncio é tudo, mas não tenho as sensações dos diversos sentidos para poder me dar ao luxo de sentir esta estranheza em mim mais profundamente.
Por enquanto, esta é a minha única forma de comunicação, por meio de sonhos desconexos a me consumir em algum lugar de mim mesmo... Contactando minha imagem aos sonhos de quem já entrou em contato comigo. Parece uma preparação... Logo volto a entrar em contado,
Atenciosamente,
Àquele Desnome temporário.
4 comentários:
Caramba! Complexo e enigmático.
Boa semana querido!!!!
Me identifiquei com os jovens que não dormem... já fui um deles. Hoje sou só sonâbula mesmo...
Olá, meu caro Rafael. COmo sempre, profundidade.
Devo confessar, que dormir de modo ininterrupto por noites seguidas, agora é novidade pra mim... rs
A quem se apresentou a maternidade recentemente que levante a mão.
Cheiro grande.
Não é rs, no fundo todos somos assim, Jamy rs bj;
Já fui assim tb rs, mas às vezes vem o deja vù rs bjs Dezinhaa;
Não posso levantar rsrs obrigado pela presença querida Dora, cheiros e beijos, logo voltará a dormir mais, mas receio que a preocupação de mãe fará seu sono sempre leve beijos.
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