por
Rafael Belo
Morto e enterrado. Para as
pessoas e a medicina, Jazco Silva jazia há uma semana. Exatamente sete dias
haviam se passado quando o falso falecido fez seu corpo presente no meio de sua
própria missa de sétimo dia. Não há dúvidas da correria, do pensamento de
brincadeira mórbida. Mas, o ex-morto, estava realmente vivo. Sujo, faminto,
desnorteado, praticamente um zumbi. Por isso, o fato da igreja ficar acima do
jazigo da família explicava o motivo de Jaczo estar ali tentando raciocinar
porque tantas imagens dele e porque todos os familiares, amigos e conhecidos
estavam ali.
Coração parado. Estas foram as
últimas palavras ouvidas por Jazco. Depois tudo foi silêncio. Nenhuma voz de
fora. Quando acordou tinha certeza de ter conversado muito, mas se falar. Estava
se esforçando para lembrar palavra por palavra, enquanto os mais saudosos e
corajosos se aproximavam, tocavam, perguntavam... E Jazco olhava olho por olho
ao mesmo tempo lembrando a história de cada presente com ele. Até então, tudo
estava escuro e rastejante, mas aos poucos uma ponte iluminada surgiu em sua mente.
Veio a Luz. Como se sua alma
voltasse apenas neste momento. Jazco sorriu e todos pararam, tudo silenciou e
quem se encheu de ruídos e de todo o claro som do mundo foi Jazco. Iluminado
começou a falar, foi até o altar e feito o principal elemento para quem a missa
era dedicada, inverteu os papéis. “Uma voz me tranquilizou este tempo efêmero
no qual estive enterrado. Meu coração estava parado. Mas tive nova chance... Não
sabia... Meu coração parado, já vinha sem bater há muito... E este ato físico
acontecido, há de acontecer com todos se não ressuscitarem seus corações”.
O dito acelerou tanto os
corações presentes a ponto de esquentar em um grau de espasmos. Corpos e almas
se mantinham embevecidos e a pele arrepiada, porém, as mentes medrosas ferviam
por outro motivo. Não era algo racional, nada a produzir um raciocínio
aceitável, então, continuaram a ignorar os sentidos do corpo, da alma, as
batidas dos corações parados e, pelo anunciado, estavam prestes a somatizarem
para um funeral coletivo de proporções tão imensas a quebrarem as tradições dos
caixões tailandeses... Vários Jazcos estavam acontecendo por toda parte.
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