por Rafael Belo
Faltaram as palavras.
Foi aquele silêncio constrangedor. No meio do protesto tudo se esvaziou, as
pessoas se dispersaram com o novo assunto recém-chegado. Depois a internet
parou de atualizar e ninguém mais curtiu, nada foi compartilhado. A invenção parou. A voz foi calada e os dedos
de tanto atrito acabaram calcificados no excesso. As ruas já vazias jaziam
inertes enquanto os semáforos piscavam à procura daqueles seres de outro tempo
a congestionarem... As imitações e
apropriações deram lugar à letargia. Toda esta sonolência pescava em cada vazio
a completar mais uma adaptação do distúrbio social da sequidão. Esta seca se
espalhava.
De alguma forma
aquele homem disforme se tornara seco. Perdeu seu nome e qualquer registro de
identidade. Acreditava ser o ouvir. Tudo ouvido era absorvido e caracterizado. Mas,
durava pouco ele precisava se isolar e celebrar suas verdades secretas. Não se
sabe porquê estas verdades dele se mantinham. Porém, qualquer informação
recente, logo era esquecida. Algo em
torno de um dia, 24 horas e pronto... Nada. Sua mente se reiniciava como um bug do milênio real. Sua memória voltava
a ser uma esponja seca e os recém-conhecidos, absolutos estranhos. Ele vagava
em meio à poeira e a fumaça de um incêndio recente se alastrando com o forte
vento.
Suas realidades
virtuais não eram contradições. Contradição era sua presença, pois ela era a
ausência em pessoa – bem quase isso. Havia um conflito o tempo todo para se
saber sobre o motivo da briga, às vezes opinava sobre a superficialidade de
tanto conflito interno, mas quando tudo se transformava em crise, ele batia
cabeça. Faltavam palavras, faltavam pessoas, faltava conversa... Faltava...
Bem... Outra hora lembramos... Certo era o homem sem nome navegando em águas
turvas, se aventurando por onde não se enxergava, sem eira, sem beira, sem
forma, devidamente constrangido em meio aos ex-conhecidos a o olharem de esguelha...
Algo dizia em seu
interior empoeirado ser ele o escolhido para viver longe da sociedade, mas em
sua loucura autista escolhida sempre se esquecia... Ser mais um de pele de
areia, de memória curta, de vícios dispersos a ser dispersado por todo vento
soprado, contra, à favor... Mas há
tempos não ventava e os secos clamavam por um vento novo. Todos pediam por uma
ventania para levar esta casca plastificada e chamavam por um interior perdido
em outras profundezas. No entanto, havia algo mais enraizado nesta poeira... A
preguiça abraçada ao devido profundo se espalhava. A seca era a comida dos
olhos, a bebida expelida da boca, o toque espinhoso do sentir, o arder do
cheirar e as palavras quebradiças arranhando os ouvidos... Era o deserto de
pessoas.
2 comentários:
Seu texto me fez refletir por alguns minutos, parada na frente do computador. Muitas vezes nos encontramos em um desses desertos de pessoas e nem nos damos conta. Falta carinho, falta amor, faltam palavras... sem isso não dá para viver. Beijos e boa semana Rafa!!!!
Não dá, não é?! Obrigado por sua presença Jamy! Ótima semana!
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