quarta-feira, setembro 26, 2012

Miniconto - Erosão dos detalhes


Sua face dizia tanto, seus lábios quanto se mexiam, mas não condiziam com as expressões. Suas mãos pareciam amarradas... Todo o contexto entre os silêncios e a fala parecia perdido entre as palavras costuradas entre uma ferida e outra. Ela estava lá trabalhando a interpretação espiã infiltrada entre o cérebro e a língua, enquanto chovia em uma parte e o sol vinha desértico de outra. Enquanto o mundo vinha desatento trombando em suas falas e suas caras e bocas.

Detalhe é passarem desapercebidos os detalhes. Toda a conversa era incompleta, toda visão deturpada. Toda a riqueza da nossa língua viva e da conversa do corpo eram sumariamente ignorados. Havia um limite bem diante dos olhos oculto e toda informação completa parecia telefone sem fio. Era a aridez de um deserto de atenção. Era como entender apenas 1/3 de cada assunto. Era como enxergar 1/3 do dia pensando ser 3/3. Um rachar da terra na nossa erosão.

Sem água, sem cuidados e sem atenção a erosão se espalhava e toda face rachava e cada máscara despencava. Ela queria entender porque não era entendida, ou melhor, porque era mal entendida e depois tinha de utilizar exemplos. Desenhava e criava uma legenda... E mesmo assim, pouco depois a desatenção voltava. Os detalhes ficavam de lado, a vida ficava de lado. Era essa sua tentativa desde as primeiras linhas: explicar os detalhes.

Mas, a escassez de atenção aos detalhes acabava com vidas todos os dias.  Tornava toda a profundidade um manequim do passado sem vestes para vender sem vitrine para enfeitar. Ela, a entrelinha, ficava solta nas páginas, desentendida nas expressões, flutuando no ar a espera de ser aspirada, no intuito de ser inspiração e a reinventarem como detalhe. Ela gostava de ser um detalhe a mudar tudo, por não ser dita e mesmo assim tanto falar. Porém, ela iria tentar ser ponto final três vezes para garantir ser entendida, mas o grande detalhe é parecer tão reticente...

Um comentário:

Anônimo disse...

A terra mal cuidada,com erosão ou seca,não serve para plantar nem tão pouco para via pública,onde os transeuntes deviam passar.Segundo o conto,ela gostaria de entender o motivo de tanto descaso.
Enfim,o problema com a terra pode ser comparado à um rosto sem viço,que com o passar dos anos,a pele fica flácida,o rosto cansado.Muitas vezes por falta de cuidado:Assim como deixaram de cuidar da terra.