por Rafael Belo
Eu me distraio com a lua. Ela me atrai feito um inseto na escuridão total sem qualquer outra luz. É uma fascinação como a interpretada por Elis Regina. Está no espaço para todos verem em algum momento da própria noite. É uma distração em um mundo de caos e confusão. É algo em comum para todos. Faz-me pensar… Aliás, repensar sobre nós. Pessoas. Como mudamos, como temos tantas fases, como às vezes estamos cheios, outras apenas repletos e brilhantes e ainda aquelas vezes que sumimos ou nos anulamos. Cheguei a conclusão que não é que não nos importamos, estamos distraídos.
Estamos em outra sintonia. Em outra fase quando uma pessoa quer nossa atenção e em nossa distração não percebemos. Não é maldade, estratégia… Ok. Às vezes é… Mas não deveria ser... Enfim, estamos distraídos. São tantas ocupações e insinuações que em distração em distração vamos nos afastando. É como parar tudo e olhar para a lua cheia. Pare e faça isso agora se for noite, se não, tente lembrar de o fazer quando anoitecer.
O problema é que muitas vezes é sempre noite. Vivemos para nos distrair. Não é obra do acaso ou do destino ou até divina nossa distração cotidiana. Nos enchemos de estimulantes para em um ciclo constante de distração nos alimentarmos de um vazio de angústia fabricado para não terminar. Não vemos o porvir com clareza porque só levamos em conta nós mesmos e às vezes nossa família. Não enxergamos nada bem perto ou distante. Deixamos de ser sociedade há muito tempo.
Hoje somos ilhas de exemplos de como eu posso fazer, de o corpo é meu, da minha causa. Se antes nos rotulavam, agora nós nos rotulamos, etiquetamos, nos colocamos nas caixinhas como subproduto de nós mesmos. Caixa do dia perfeito, caixa do dia da preguiça, caixa da interação, caixa da dependência, caixa da independência, caixa de solteiro, caixa de trouxa, caixa do apaixonado, caixa do sexo, caixa da igualdade, caixa da desigualdade, caixa da depressão, caixa, da superação, caixa da exposição, caixa da lamentação, caixa do homão, caixa do mulherão, caixa do sensível, caixa da menininha, caixa da ofensa, caixa das desculpas, caixa da mudança, caixa do foda-se, caixa da academia, caixa do crossfit, caixa do Pilates, caixa do corpo ideal para mim, caixa da comida fit, caixa da comida vegetariana, caixa da comida vegana, caixa do contra, caixa do à favor, caixa da comida com carne… São tantos catálogos vendendo algo distraindo a gente, a si mesmos dos círculos e repetições que vamos fazendo, que nos acusar de frieza, de não se importar é apenas mais uma distração. É fácil governar qualquer tribo desunida e neste momento, até quem parece unido, só está enxergando o que quer ver. E se isso não é mais uma distração, alguém me ajude a entender.
3 comentários:
Sao tantaa as djstraçoes que nao estamos aqui, mas em qualquer lugar.
Lindaaaa reflexao
Texto perfeito!
Distraindo-se com a lua todos os dias.
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