por Rafael Belo
Eu era mais um viciado. Vivia vazio me
preenchendo. Não enxergávamos ninguém, mas todos os corpos estavam lá, vagando,
esperando... As autoridades que ainda pensavam diziam ser tudo resultado dos
excessos, principalmente, de passado, presente e futuro. Só desconfiávamos
estarmos loucos de fato. Afinal, como não enxergar o outro? Nada fazia sentido.
Parecíamos todos maiores abandonados como de um músico de uma era distante:
Cazuza.
Batíamos uns nos outros, mas não nos ouvíamos,
não nos sentíamos, não sabíamos conversar mais... Uma onda silenciosa de
suicídios estava acontecendo. A imprensa chamou de Despropósitos. Quando as
pessoas perdiam seus propósitos e repetiam seus apegos materiais caminhando
sobre um abismo onde ainda não era possível ver o fundo, mas havia um fundo.
Tínhamos o orgulho da teoria e a pobreza
da prática. Mas quando nosso espirito nos fugia... Morríamos. O suicídio era só
protocolo. Um viciado até admite ser viciado, mas não o seu vício. Eu era viciado
em sentimentos. Precisava sentir e, talvez, talvez, só talvez... Neste momento,
eu conseguia enxergar um outro alguém e até eu mesmo. Mas, logo acabava. A carne
não era suficiente...
Nada era. Precisava desta satisfação
imediata... Não fazia sentido... Eu não sentia e me desesperava e me jogava
para o vislumbre seguinte. Você me entende? Não vai falar nada? Eu estou
sozinho, realmente. Agora me vejo o protagonista de um filme também de outros
tempos: O Sexto Sentido. Agora eu vejo pessoas mortas o tempo todo e preciso aceitar
a necessidade de fazer o possível para trazê-las de volta à vida.
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