por Rafael Belo
Começamos com
algumas. Éramos poucas, mas juntas chamamos atenção. Nossos pés sangram. Nossas
vozes sangram... Ainda assim continuamos e gritamos! Nós não paramos. Há uma
indignação em nós precisando ao menos sair do peito. Chamamo-nos Artes, nos
chamam Mulheres. A gente só quer ser ouvida. Não! Não é só! A igualdade vem
antes! Queremos criar... Então, nos trancaram em caixas, nos separaram... Tento
entender o que fizeram... Foi um período de descrença, de ataques pessoais, de
desunião. Parecíamos frágeis e submissas... Parecíamos...
As aparências sempre
enganaram. Estávamos ali nos juntando, nos pintando, nos versando, sentindo
novos passos surgindo, novas danças, novas canções... Estávamos apagando o
invisível e quando subimos ao palco novamente não foi mais esporádico, não
havia mais como nos roubarem, retirarem nossos créditos, sabotarem nossa força.
Somos artes. Somos valorização. Começamos a revolução? Não, ela já vinha. Ela
não parou. Estava sufocada pela mídia como as guerras intermináveis divulgadas
como novidades.
Nosso grito de guerra
sempre foi: artista não anda só. Estamos despertando todos os dons capazes de
estapear a sociedade. Estamos onipresentes. Onde olhar verá algo da nossa
responsabilidade e isso irá te tocar. É poesia! É dança! São olhos fechados!
São as artes! Quem não esta compartilhando o espaço com a gente, infelizmente,
está desaparecendo. Descobrimos a tempo, então te chamo para vir conosco. Temos
a cura, mas quem quer o poder pelo poder, não quer a cura...
A cura está no coração, a cura está na alma...
Vocês não escutam nem veem agora, mas Eles estão chegando para tentar tirar
isto de nós. Eles começam destruindo sonhos, apertando às jornadas de trabalho,
encarecendo tudo, roubando nosso tempo, nos induzindo a escravidão, nos
desvalorizando, tirando nossa sobrevivência, mas dons e sonhos não morrem por
mais que digam que sim. Eles chegaram, mas desta vez não resistiram ao nosso
Templo de Cultura. Hoje não somos nós que choráramos de dor... São Eles que
choram pelo Despertar!
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