por
Rafael Belo
De
uma hora para outra tudo pode mudar. Um milímetro, um milésimo de segundo, uma
mudança de trajeto, um pouco mais rápido, um pouco mais lento... São tantas
possibilidades a ponto das probabilidades de acontecer um acidente deixam de
ser metade das chances e aumentam de forma desproporcional, mas isto é apenas
mais uma possibilidade. Das infinitas vividas diariamente. Viver é arriscado e
não há garantias de absolutamente nada. Há poucos dias me vi envolvido em um
acidente bizarro. Até ontem minhas mãos tremiam e parecia que parte de mim ficou
por lá, no local do acidente.
Uma
pessoa transtornada com bebida alcoólica em uma das mãos corria
ensandecidamente próxima a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Entre um
ponto de ônibus e o semáforo. Avenida praticamente sem iluminação, muita escura.
Agradeci por estar em baixa velocidade. Ele correu, sem camiseta, só de
bermuda, descalço e com uma bebida alcoólica na mão direta... Freneticamente ele
veio na direção do carro pelo lado do passageiro, desviei entre tenso e
aliviado... Mas, infelizmente ele voltou e se jogou de cabeça no pára-brisa do
lado do motorista bem rente ao fim deste. Não encostou na lataria do carro. Não
era o que importava também.
Parei.
Tudo parecia irreal. Pareceu realmente uma eternidade. Quando desci dezenas de
pessoas estavam lá fora falando comigo sobre tudo que o rapaz estava fazendo e
que ele se jogou, que se não fosse eu seria outro. Ele estava respirando, mas
inconsciente metade do corpo na grama, metade na calçada. Todos os mototaxistas
do outro lado da avenida estavam ali, universitários que aguardavam o ônibus e funcionários
de uma empresa. Era noite faltava menos de 20 minutos para as 20h. não consegui ligar para ninguém, mas percebi
que um dos motociclista encerrava uma ligação.
Em
quatro minutos uma viatura do Samu chegou seguida de um caminhão do Corpo de Bombeiros.
Fizeram o primeiro atendimento, enfaixaram a cabeça dele e o levaram na maca. Ele
respirava normalmente, mas seguiu inconsciente. Tudo isso durou alguns minutos.
Eu tentava saber da saúde dele e respondia aos bombeiros que fizeram a análise
do local, retiveram meus documentos e lamentaram a minha infelicidade enquanto
eu fazia mentalmente o mesmo, mas mais da pessoa acidentada... Bem mais de uma
hora depois a Polícia de Trânsito chegou, aparentemente temos pouquíssimas
viaturas, o oficial responsável explicou o ocorrido e o que tinha avaliado. Depois
puderam seguir para o próximo acidente... Respondi a cada pergunta aos
policiais tentando detalhar. Ele era conhecido dos policiais por outras dessas.
Respirei tantas vezes fundo e balançava lentamente a cabeça em negativa
tentando me livrar daquela péssima sensação. Todas repetiam sem parar o quanto
podia ser pior e vários e “ses”. E se tivesse vindo por outro caminho, e se
tivesse correndo e se...
Depois de descrever o ocorrido à caneta em um papel oficial, fui liberado.
Faltavam dez minutos para as 22h. Eu olhava para o vidro trincado e não
conseguia evitar a repetição da cena independente de tudo que havia vivido,
aquilo era tristemente inédito para mim, a fragilidade contrastante da vida,
mais uma vez gritou comigo e resolveu subir nas minhas costas por alguns dias.
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