segunda-feira, julho 02, 2018

Distribuindo desimportâncias






por Rafael Belo

Há incontáveis beija-flores se espalhando do estômago para o peito e acelerando o corpo todo. A gente treme com eles e ficamos em uma dança aérea angustiante tentando segurar toda esta Beleza dentro de nós. Não tem como sabermos se o mundo aguentaria tanta Beleza, mas precisamos soltar um a um deles, ao invés disso aumentamos a quantidade destes raros e especiais pássaros dentro de nós. Nós podemos cair sem encontrar a calma aqui dentro, neste abismo, onde o fundo é em um sem fim, a queda é uma angustia ocultando nossa verdade.

Pode vir daí uma tristeza inexplicável retirando todas as nossas vontades cirurgicamente e uma fileira de elefantes vai se acumulando nas nossas costas. Estas figuras de ansiedade e depressão nos atingem nesta cirurgia clandestina feita no desespero destes sentimentos nos consumindo vorazmente adoecendo nossa alma com um fervor ainda recebendo o preconceito e a incompreensão para atrapalhar ainda mais. As sequelas cirúrgicas se misturam somaticamente as nossas incertezas mentais. Parecemos diminuir com tudo isso em uma sequência de supostos azares deitados nesta tal melancolia.

Nosso estado mental é 100% atitude. Mas, precisamos desconstruir para reconstruir. Pedaço por pedaço saindo desta área cinzenta e começar a colorir entendendo quem nos tornamos e quem podemos nos tornar. Assim, buscamos a luz dentro de nós saindo deste emaranhado de sombras costurado em algum momento dentro de nós, nisso há mãos se esticando em nossa direção, prontas para ouvir, para ajudar a resolução de seja lá o que se acumulou de nós. Os elefantes podem ser retirados aos poucos e nossa alma vai evoluindo, desencurvando, se abrindo para ser mais.

Os beija-flores vão saindo quando vamos redescobrindo o sorriso, a calma, a paz em nós e a certeza de, mesmo dependendo 100% de nós mesmos, não estamos sozinhos. Não há necessidade de pressa, aliás, o lento, o devagar, o demorado vêm com mais valor, é melhor aproveitado e nos permite ver os detalhes do mundo percebendo tantas maravilhas perdidas quando não prestamos atenção. A Beleza do mundo é nossa conexão com ele e quando a conexão cai a percepção se vai também, por isso, precisamos parar e tomar distância para distribuirmos as desimportâncias para seus devidos lugares nos perguntando o que nos importa?

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