domingo, junho 17, 2018

Haja naturalmente






por Rafael Belo


Há tantas coisas a serem lidas, mas meus livros favoritos são as pessoas. É possível ler de perto o que está acontecendo conosco. Quando estamos sós, perto da família, com amigos, com melhores amigos, com pessoas do trabalho, com quem amamos, com quem nos interessamos e por quem estamos nos apaixonando... Não há disfarces possíveis para olhos atentos. Queremos acertar e sermos bem quistos, assim, buscamos constantemente algum tipo de aprovação e perfeição totalmente inexistentes... Até a naturalidade anda forçada. Somos naturalmente imperfeitos e falhos, mas somos ensinados a interiorizar que não está tudo bem com isso.

Somos dados a evolução e aceitar quem somos é o início de tudo, porém, invadimos a contramão e vamos acumulando jogos em busca de vencer, de sermos melhores que os outros e assim que um assunto nos incomoda, mudamos de assunto, gritamos, confrontamos, simplesmente ignoramos, mas diálogo com argumentos são raros, queremos mesmo é convencer o outro que estamos certo. Nesta vontade de convencimento colecionamos troféus conseguimos atuar bem em sociedade. Conseguimos forjar a indiferença, a ignorância, até a frieza boa parte do tempo, mas não o tempo todo. Então, achamos ler as pessoas.

Buscamos enxergar padrões, mas é a partir de nós mesmos. Portanto, qual a validade da referência? O outro é feito das próprias experiências. Não que nossa experiência não ajude, mas é a partir do entendimento de cada pessoa, não do nosso. Por isso expectativas são supervalorizadas. A melhor forma de convivência é a sinceridade e o simples perguntar. Mas, preferimos interpretar, esperar estarmos certos sobre o que pensamos e sentimos sobre alguém. Desta forma somos agressivamente repletos de imaturidade afetiva porque buscamos a própria satisfação. Neste jogo físico-psicológico sendo jogado sem vencedores acontecendo em tempo real, não importa o quanto de ausência haja nas cabeças baixas e os corpos inclinados caminhando em conexão ao vivo esperando respostas imediatas, há uma fuga constante de si mesmo.

Prestando atenção em tudo parece que estamos constantemente inventando outros de nós pela sobrevivência. Estamos nos adequando a cada situação com uma medida de restrição mental baseada nas nossas vivências ruins. Somos injustos com nós mesmos, principalmente se tratando de se apaixonar. Uma nota fundamental para nossa fragmentação diante das possibilidades. Não queremos perder nada e vamos criando camadas de conexões com todo mundo. Aí vem aquela aceleração. Queremos rápido, queremos agora, pensamos que tudo deveria ser instantâneo não importa quantos tombos levamos não queremos perceber que não é assim. Tudo leva tempo e o tempo nos leva. Com o tempo, gostaria de ler autenticidade nas pessoas junto ao reconhecimento da imperfeição, da falha de cada um e o estar bem com tudo isso. Aí poderia dizer: isto é perfeito!

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