8 o sol adere, ao meio da tarde, às sementes do fundo do meu quintal. captei neste sábado...
Ao fim
Tudo acabou quando chegou ao fim. fechado. lacrado.vedado. enterrado. Para não mais. súbito, depressa igual a pressa de chegar. o intuito de atrasar a desculpa de acelerar o tempo. até o tempo parar para as lágrimas avermelharem os olhos pesados na feição e envelhecerem antes de caírem pelo caminho do rosto ao gosto de todo descontrole agarrado às mãos vazias ‘desprovida’ de um consolo contínuo na vida (in)contida.
Às 22h27, 09 de julho de 2010 (Rafael Belo)
Sempre indo
Passou a morte. Alguém não morreu... Eternamente? Alguma vontade de prolongar o já foi permanece um éter na mente, suspensa na dualidade da fé quando a dúvida chora e o corpo sepulta e ressuscita a ausência na flora definhando, posicionando o sol na aquarela poente, mesmo em um dia de noite enlutado resoluto por mais uma ida teimosa, solitária até se for, por enquanto quem fica reúne o inconformismo conformado em ser formado para ir.
Às 09h10, 10 de julho de 2010 (Rafael Belo)
Falta de umidade
Escorreu a água no pátio, decreto do fácil terminou montado em palcos do suicídio de tanto trabalho por nada, cara limpa mesmo toda pintada de nariz vermelho, a pressão do joelho a não mais equilibrar, a transição sucessiva a descontinuar, um prolongamento onde o peso se vai para o vento desmatado levar a gente, seco(s).
Às 10h40, 10 de julho de 2010 (Rafael Belo)
Torneira mal fechada
A projeção apagou a lousa, sem marcas hidrográficas no painel de giz, alérgico ao pó, despedaçado em blocos compactos, a espirrar a dor das roupas, desnudas das peles, apagadas dos humanos, abaixo delas, fantasiando um existência de claquetes e ações onde a desistência é a abrangência do raso com uma ausência sórdida da morbidez caótica da repetição. Sem um amanhã dividido em luzes.
Às 13h36, 10 de julho de 2010 (Rafael Belo).
sábado, julho 10, 2010
quinta-feira, julho 08, 2010
Passagem para permanência
8Imagem do dia combinando com o escrito do dia. Fim de tarde, visão da minha casa. E aqui vai o meme dos 7 pecados capitais a minha maneira confiado pela querida Lezinha do La Sorcière (Agora indico para a querida Naty do Revelando Sentimentos e para a Jamy do Com a palavra...)
porRafael Belo
por
Nem o sangue é real. Nem o rubor é crível. A abstinência virtual me fez bem. Sentado em frente a uma tela... Ram... Não mais além do necessário. A realidade me alucina muito mais... Muitas pitadas de imaginação são necessárias... Mas, a sinceridade das coisas palpáveis me são mais agudas. No entanto me abster de mim quase descontrola minha energia. Desestabiliza-me. Adoece minha alma tão propensa a criar sempre. É meu pecado de sumir, de desaparecer de permanecer temporariamente na minha passagem ao meu molde.
Meu egoísmo de guardar uma criação a deixar de me pertencer ao ser criada. A consciência de estar devendo, de estar na luxúria de escolher e irar-me com um mundo não pertencido a quem não lhe pertence. Uma cobiça inversa de desejar ser ordinário por momentos passageiros, não permitindo sequer o fim da ideia para passar. Talvez a inveja de querer ser célebre e não o desejo permanente de ser anônimo. Mas, a rotina de abster-se de aparência e aparecer é um bem a não ser nunca negado por mim mesmo.
É um simples disparate deixar-me adoecer por não escrever, tocar, socializar... Confinar-me na minha insignificância sem passagem para lugar algum pensando no meu não-lugar tão possessivo e... Minha loucura precisa da sanidade da saída de todos, de um silêncio significativo e desolador, pois da dor vem mais crescimento, mas também vem a avareza aliada a uma gula inversa de esquecimento, porque meu real alimento são as novas ideias, os olhares do avesso tão devoradores de mim. Todo o resto é velho...
Minha passagem para permanência vai preguiçosa, mas vem tão voraz e arrebatadora a se espalhar em tinta e grafite e papel por toda parte a me cercar, tanto a não ter dedos, teclas e horas suficientes para atualizar e quanto há a impossibilidade... Parece passado, outro tempo, outra escrita aí vem à razão da preguiça. Mas, não posso terminar de pecar sem dizer meu maior pecado... Cansar fácil do meu fazer e ter de mudar e mudando de novo transformar... Assim acabar vendo o vazio tomando conta por aí e às vezes tão perto a me deixar à vontade para acariciá-lo e me aquecer deste frio.
sexta-feira, junho 18, 2010
Assim era
8 o que é uma janela 'senão' a projeção dos nossos sonhos ou nosso sonho para encarar a realidade? captei esta em Ribes City pela janela do meu quarto...
Por
Os olhos dele brilhavam tanto a chamar atenção dos insetos, os confundindo com luzes artificiais e batendo neles. Os dela faziam todos desviarem o olhar como se olhassem para toda a incandescência fugitiva do centro do sol. Assim um imaginava o outro. Assim, um nunca o outro encontrou. Apenas ali, nas intimidades das mentes. Nas... Obscenidades das mãos em pleno autoprazer a deixar um vazio consequencial sequente. Um labor de abandono saboreava os lábios solitários e os olhares se apagavam aos poucos distantes um do outro como antes, como sempre.
Tudo fantasia detalhada cada vez mais para continuar a se bolinarem sem a coragem de realizarem uma vontade fracassada por relacionamentos mal acabados passados. No entanto, era incontrolável aquele instinto animal carnal invasor de pensamentos dominador da imaginação mais vulgar, mais recriminada pela sociedade dos pudores hipócritas, do êxtase talvez somente sentido por aquele ideal de sexo narciso. Mesmo subindo pelas paredes, tudo ficava ereto e ofegante como um exercício militar misto recluso nos confins do isolamento.
Já não tinham nomes. Eram desejos de gêneros diferentes talhados a calos manuais e um Kama Sutra particular nas extremidades da mente com extensão para cada pedacinho da pele. Era uma loucura a dois, a um só realmente. Bastava se 'sentirem próximos' para tudo se iluminar e o mundo se ofuscar de água na boca com lábios continuamente úmidos de corpos suados.
Bocas perdidas nas imagens da cabeça longe. A impercepção ruborizada no despertar público da reação involuntária do corpo brilhando como se tudo fosse real. E ela fosse de verdade desnomeada do seu controle de toque. Mas, não... Ela era Lascívia Maçã, ele era Intenso Torpor... Tocava assim a banda. Assim era para ela conseguir se apresentar e se libertar perante tantos olhares da plateia a desejando.
quarta-feira, junho 16, 2010
Plateia
8 a luz o verde o contraste em um momento ciclíco de elevação... captei no quintal de casa.
na noite plena de plenitude enviesada
no palco da vida atormentada pela libido
das mãos aliviadas durante a agitação pública
dos pudores horrorizados de prazer alado
da anestesia súbita de todas as dores do mundo
emancipadas pelo trêmulo estremecer trépido
nas horas engarrafadas em testemunhos de sentidos metafísicos
desruborizados místicos dos rubores coletivos excitados
de sensores intimamente ligados a idéia da timidez errada em falta
nos achados estrelados em alfa na insensatez da plateia.
às 22h43 (Rafael Belo Folha de Outono) 16 de junho de 2010.
segunda-feira, junho 14, 2010
Digitais nas genitais em público
8 esta psicodelia natural da máquina captando luz em movimento é de uma virada de ano no Vila Dionísio em Ribeirão Preto... Como não captar para falar de um fato pouco crível?
Por
Ela, diante do palco aos pés da banda e precisamente da vocalista, masturbou-se. Criou um rubor vaidoso nos músicos, na vocalista... Enquanto o som se espalhava, vibrava, relaxava e contraia em todos os corpos como se os tocassem, apenas ela se tocava profundamente... Intimamente. Como não perceber um ardor de cima do palco queimando? Foi um show no qual eu não estava e no qual lotado, poucos perceberam a ousadia, de quanto um som pode ser orgástico. Lá, no Parque das Nações Indígenas (ou seria em outra concha acústica?), a apresentação do Dimitri Pellz teve um novo marco.
Talvez o orgasmo trazido pelo som realmente fosse uma cópula fetichista bem exibicionista e excitante das digitais ou a tensão sexual da jovem estivesse em um frenesi incontrolável. Ali, de costas para dezenas ou centenas de pessoas em uma data não muito distante, a mulher simplesmente mostrou estar hipnotizada pela música baixando a mão sob a calça jeans e aliviou seu estupor e satisfez seu sexo, seu corpo. Nada de preocupação... Quem sabe só ela lá estivesse em um show especial e exclusivo...
Impunemente, liberalmente, apenas o fez. Devia estar acompanhada (devia?), mas seu ato solitário e imagético a tornava independente, sem identidade conhecida e atrevida, a desconhecida da multidão poderia despertar também ambigüidades a apontando como despudorada, abusada, sem vergonha... Extravasar é a razão de um show... O ato em si no mínimo traz desconfianças sobre este texto ser real ou não... Mas o é. A tecnologia portátil registrou o momento e o ‘eternizou até durar. ’
Toda vez que o vídeo for acessado a masturbação feminina diminui seu mito, mas a negação pública - por ter sido em público? - do particular talvez aumente e rotule a garota sem nome, sem rosto e sem idade diante de um show, a frente de tanta gente e mesmo assim em seu mundo realizando, quem sabe, sua fantasia. Quando assisti percebi algo diferente e precisei assistir de novo, não por tara, mas porque como vocês não acreditei ter visto e vi de novo. Nunca vi masturbação tão longa... E a banda Dimitri Pellz jamais vai esquecer a cena, para ela... Um show à parte.
sábado, junho 12, 2010
O que tem na cabeça?!
8 captei na Lagoa Itatiaia no Dia Mundial do Tai Chi e Chi Kung. 'Não se imagina o que tem na cabeça e a sombra se aproxima pela ondulações...' 
Aquele cheiro incomodava o bairro inteiro. Parecia vir de todo lugar e ia ficando pior. Provocava náuseas, tontura e um torpor quase zumbi nas pessoas. A loucura beirava os olhos e passeava pelos meios sorrisos. Um mês havia se passado. Depois da primeira semana a desconfiança era tratada a portas batidas e viradas bruscas de rostos. Ninguém dormia mais passada a segunda semana. Na terceira a histeria silenciosa dominava a lápide cravada naquele bairro.
A água se tornou escura. Todo e qualquer cano produzia o odor da morte. As autoridades responsáveis pela água e esgoto vasculharam tudo causando mais caos e procurando sair rápido dali. “Aquilo podia ser contagioso”, diziam. Agora, além de fétido, o lugar parecia ter sido palco da mais violenta guerra civil. Aquele cheiro não era da Morte. A Morte costuma ser limpa desde antes de qualquer deus e principalmente depois deles. Eram mortos, era pura podridão vinda do desconhecido...
Mas, antes da lembrança certa despertar em uma pessoa, o bairro já estava lacrado. Isolado de tudo em uma redoma transparente feita de um falso vidro hollywoodiano. O estado mental daqueles bairristas já quase variava. Largados aos próprios olhares de esguelha e as próprias mãos. Ouviram aquela certa pessoa lembrar... Ela lembrava de um reservatório antigo feito para aproveitar aqueles gêiser cretáceo. A água era a mais pura. De alguma forma os canos antigos e novos eram os mesmos. Um plano quieto foi desenhado...
Dos milhares de moradores deste bairro, nenhum deixou de ir ao antigo reservatório da cidade. Foram caindo pelo caminho. O cheiro era insuportável. O ar ia ficando cada vez mais denso, quase precisando da criação de uma porta para passagem. Poucos, tanto a apenas uma mão contar, chegaram já chorando, já sem conseguir conter os olhos abertos. Uma dezena de velas bruxuleava mesmo sem qualquer vento. Demorou a se acostumarem com aquela iluminação medíocre.... Mas tudo se voltou para acima das velas... Cabeças conservadas na parafina balançavam em varais de aço... Só um prosseguiu. Centenas de metros adiante, uma criança estava rodeada de pernas e sangue e pêlos e peles... Não era preciso dizer nada... Olhando ao redor era possível ver o gêiser cretáceo dissolvendo corpos apodrecidos... O último tombou pela última vez...
Quando os primeiros acordaram... Se atacaram enquanto a criança se aproximava de cada um, o tocava até este lhe oferecer o pescoço... O qual devorara até a cabeça cair. Então, a criança sorria ao percorrer a trilha de corpos de volta às velas, acendia uma vela nova e pendurava mais uma cabeça para preservar e colecionar. Depois começava tudo de novo!
quarta-feira, junho 09, 2010
Sombras da luz
8 captei no meu quintal... pra variar rsrs... encaixe imagético...
Meio vazio meio cheio, totalmente sorumbático pela completude
uma sombra de dor carente sentindo o peso de tanto nada
preenchido de repente no início de uma semana qualquer
esvaziada do se esconder do por vir, deste será sentido
no verme cheio de você, resquício de humanidade
devorando pacientemente os vestígios do abismo
sem medo de se jogar para o alto do frio proeminente da barriga
tragando sua vontade enquanto seu olho direito treme sem parceria
nas vistas de um vigia sorrateiro do seu descaminho
vindo do erro de viver distante do seu dito destino
mastigando sua alma por dentro em conturbação
pelo desvio tomado nas sombras da luz.
Às 07h43 (Folha de Outono Rafael Belo) 08 de junho de 2010.
segunda-feira, junho 07, 2010
De volta ao tacape e o arrastar das cavernas
8 captei na universidade federal daqui porque... à noite as sombras invadem mesmo quando é dia...
PorRafael Belo
Por
Pensando ainda estar viva, ele decapitou a senhora septuagenária. Assim foi o assassinato brutal na última quinta-feira (12 de abril) em Campo Grande. Primeiro os criminosos acertaram a cabeça da senhora de 73 anos, com uma panela de pressão, foram embora e depois voltaram para esfaqueá-la pelas costas e na “tentativa de degolar” houve a decapitação. Friamente o jovem matador de 23 anos, confessou seus atos como quem comenta de uma festa qualquer e denunciou o comparsa foragido.
Alegou estar sob efeito de maconha e álcool. Por isso estendeu a cabeça em um varal interno da casa antes de incendiá-la. Tudo virou pó. Acredito que tenha visto a “cabeça ainda não encontrada” durante a reportagem (dias depois ele foi encontrada aonde achava eu tê-la visto...). Creio ter sido carbonizada e eu impressionado. Mas, o bizarro e grotesco foi a atitude simplista do assassino confesso. Como quem faz uma entrevista de emprego conquistado, acusou muito indignado a assassinada de influenciar sua mulher a denunciá-lo para polícia devido ao não pagamento de pensão.
Se não tivesse acompanhado o caso pelos meios de comunicação, pensaria ser uma obra de Edgar Allan Poe ou Anne Rice. Se não visse na televisão a reportagem ainda acharia uma fantasia, um conto de terror. Mas, ‘presenciar’ a prisão do elemento e registrar a casa em pó e o corpo carbonizado trouxeram o horror para muito perto. A crueldade e covardia do ser humano vão além da indefinição do bem e do mal, ultrapassam a Bruxa de Blair, transpassam as supostas pedras atiradas pelo vizinho na casa da septuagenária... Sim, porque este também foi ‘um motivo’ alegado do assassino da porta da frente.
Não temos o direito de encerrar a vida de ninguém e depois sorrir para as câmeras. Quando a vida tornou-se tão banal...? Melhor, quando tornamos a vida banal...? Hoje não há limites nem fronteiras dentro ou fora de casa, o respeito foi desintegrado, aonde eu começo e você termina inexiste e assim como o amor – diria Zygmunt Bauman – o sujeito, a sociedade perderam a solidez, estão todos líquidos e em constante liquefação. Em todo seu poder de escolha, o ser fica impotente e torna-se animal.
sexta-feira, junho 04, 2010
O tempo não foi mais naquele lugar
8 subindo a torre do tempo, os sinos badalam e tudo retumba um ressoar de parada... captei subindo a Torre do Sinos em Ribes City
Por
Os ponteiros estavam parados às três e meia da manhã e todo aquele lugar os imitava. A chuva embevecia com os ventos arrastando folhas secas e os galhos verdes uns nos outros. Fazia anos e os anos não faziam diferença. Não faziam nada. Nem sequer passavam mais. Estava tudo vermelho tenso no céu e as gotas d’água pairavam no ar em uma gravidade inversa. Havia uma pausa lenta entre o acontecer e o acontecido. Estávamos todos adormecidos há tempos.
Naquela hora marcada, todos abriram os olhos há meses pela última vez. Centenas de corpos ressoavam um sono pesado ressonado em um tempo nunca perdido. Ninguém sabia estar em sonhos coletivos de uma telepatia desperta. Algo teria de estar desperto. Um sentido mais avançado no cérebro primitivo trabalhava. Todos aqueles minutos travados exatos em todos os marcadores da passagem do sol revelaram o mal mascarado de tantos sentimentos em tantas incertezas e indefinições.
Seria para sempre este dilúvio de inconsciência inundando o mundo? A consciência estava cansada demais e acabou dormindo no tempo com o bom senso. Foi mais... Foi um apagão incontrolável a revelar o verdadeiro rumor ensurdecedor e acima de quaisquer decibéis permitidos: a fúria do silêncio. Era um sepulcro ritmado pela respiração inconstante na sinfonia dissonante a tomar conta de um mundo de exceções aonde às regras são faltas.
Haveria o despertar coletivo com o som dos olhos se abrindo e piscando e piscando e piscando... Haveria a mesmice física pela parada do tempo e espaço. Mas, o trabalho da mente pela limpeza de tantas artérias entupidas de pensamentos, de tantas almas enroscadas na tubulação do coração carregado de confusão e reversão de prioridades seriam as reais horas. Por enquanto os ponteiros continuavam parados às três e meia da manhã e como imitações de todo lugar. Embevecia a chuva com o arrastar das folhas secas pelos enquanto os verdes galhos verdes se roçavam. Anos faziam e não fazia diferença os anos. Nada faziam. Sequer... Mais passavam.
quarta-feira, junho 02, 2010
Ponteiros tortos
8 um formigueiro vive em nós mais obediente e com menos formigas ... o tempo e nós, nós do tempo... tirei na porta de casa depois da chuva.
Relógios se perdem em pulsos nus
feitos confusos fusos difusos no tempo
emaranhado as rugas de desculpas imaginadas
nas atas atadas de soltos pensamentos
testando momentos regulares nas folhas incertas de zoneamento similares
aos rastros dos celulares ondulando impulsos crus
ecoando em um espaço fácil de saber as horas
dona das memórias biológicas cansadas de acertarem os ponteiros
matreiros pentelhos a nos dizerem o próximo feito
aonde quer que estejamos, seja lá o que somos ou o que nosso tempo fez de nós... Feitos (di)minutos.
Às 15h02 (Rafael Belo/Folha de Outono) 02 de maio de 2010
Relógios se perdem em pulsos nus
feitos confusos fusos difusos no tempo
emaranhado as rugas de desculpas imaginadas
nas atas atadas de soltos pensamentos
testando momentos regulares nas folhas incertas de zoneamento similares
aos rastros dos celulares ondulando impulsos crus
ecoando em um espaço fácil de saber as horas
dona das memórias biológicas cansadas de acertarem os ponteiros
matreiros pentelhos a nos dizerem o próximo feito
aonde quer que estejamos, seja lá o que somos ou o que nosso tempo fez de nós... Feitos (di)minutos.
Às 15h02 (Rafael Belo/Folha de Outono) 02 de maio de 2010
segunda-feira, maio 31, 2010
Desculpa pelo tempo
8 as nuvens têm seu tempo de passagem concordado com os fragmentos do vento... Captei no meu céu natal.
por Rafael Belo
Uma vez escrevi sobre o tempo e seu significado. Lembro minha reflexão central do tema: O mundo é o tempo do nosso pensar. Desde então a desculpa do tempo deixou de sê-la porque tempo não é desculpa. Como uma definição passei a torcer os lábios a toda demonstração desta ‘razão’ para não fazer algo. O maior motivo é o fato de nos ocuparmos tanto com formas diversas de ganhar dinheiro para não o utilizarmos da maneira querida.
Cansamos, precisamos dormir, necessitamos de uma fuga ou parafraseando a ironia de Bandeira em seu “Poema tirado de uma notícia de jornal”: viver era entrar em um bar, beber, cantar e dançar... Fora isso eram uma morte simbólica e um cotidiano tachado pelo tempo sobre taxas de uma realidade tarimbada pelo João Gostoso do poema. Viver para trabalhar, trabalhar para viver parece passar pelos olhos dos trabalhadores a cada manhã como se o tempo nada fosse a não ser um castigo, uma repetição até aquele viver.
Tudo passa com o tempo, pois este está no caminho, mas não significa esquecimento nem distância é mais uma constatação a dizer sobre os passos seguintes e isso pode demorar mais ou demora pode ser apenas uma relativização simplista demais. Voltando ao nosso pensar do primeiro parágrafo, este relógio biológico inerente a nós vem e vai daí. Nosso humor e dissabores diários dependem das nossas idiossincrasias e então o tempo pode nem existir.
Não posso ver o amanhã por ele acontecer a todo instante antes de se tornar presente e correr para o passado nesse meu tempo. Sirvo-me do relógio para saber em qual momento do dia vivo e nem sempre isso acontece enquanto trabalho na profissão escolhida porque preciso dos meus momentos comigo, dos meus momentos com os outros como necessidade para respirar e perder a respiração. É a precisão de independência a se manifestar de forma diferente em cada tempo onde somos nós. Espaço aonde nem nós nos controlamos, apenas fluímos.
sexta-feira, maio 28, 2010
O Apocalipse de cada um
8 as faces dos sentimentos se multiplicam em desordem da razão, aprisionados em psicodelia... Captei a banda Autoramas
Por Rafael Belo
Parecia sangue em seus olhos e de certa forma era. Resultado de silêncios quando as palavras sufocaram na garganta. Soma de todas as vezes onde o engano tornou-se alguém até então confiável. Multiplicação da quantidade de indigestões ao invés do regurgitar. Era a raiva finalmente solta dos grilhões amargos da contenção indevida, a exalar trêmula de um rosto fechado e injetor do medo. Não havia quem olhasse ou se aproximasse. O cheiro da raiva ardia na pele e no respirar nas pessoas mesmo a quilômetros de distância.
Os pensamentos se perdiam como latidos em uma noite agitada onde as rinhas selvagens eram permitidas na mente sem identificação e todos os cães latiam enfurecidos sem controle. A raiva se personificava na carne latejante, na respiração densa e acelerada e naqueles olhos vidrados por destruição varrendo olhos feitos possessões a encontrar a ira alheia para o despertar. A Raiva, a Ira e a Fúria provavam o sangue diariamente em parcelas pouco satisfatórias. Cada uma agora se procurava e procurava uma a outra. Estavam por aqui com seus olhares sanguinários, por aí com seus dentes afiados e garras assassinas.
Descontrole era a visão daqueles três corpos entregues as próprias barbáries, até então guardadas em um canto sinestésico qualquer esperando ser esquecido... Mas na verdade a espera era para ser lembrado. Bastou o vazio, as mudanças constantes e a derradeira caminhada sem rumo finalmente acontecerem para a dissimulação cheia de água na boca ser enraivecer, se irar e se enfurecer naquele silencio medonho, mas não mais contido, não mais escravo do controle.
Aqueles corpos viam sua capacidade e queriam parar, mas já era maior o sentimento maculado pela revolta e inaceitação. A morte desejada se realizava para cada um capaz de afrontar o ideal daquelas três despersonificações, já desumanas, já arrependidas de terem cedido a sede do corpo para a devastação sem fim. Eram obrigadas por cada instante de eternidade, a se verem de dentro de si acabando com o pouco restante de um mundo tornado vadio e ganancioso. O apocalipse em todos já era certo.
quarta-feira, maio 26, 2010
Humano
A pele coça, os olhos vidram, terminam os limites
os sussurros vencem os delírios e os demônios saem
pelos tremores do corpo quedando anjos
por todas as partes onde não estejam caídos
em brutos suspiros vermelhos
ensanguentando mãos abrindo feridas nos pés
soltando todos os monstros da alma
pela fúria do coração
com as garras da noite em pleno meio-dia
explorando a raiva em dia por uma simples troca de pele.
às 23h52, (Rafael Belo/Folha de Outono) 25 de maio de 2010.
segunda-feira, maio 24, 2010
Raiva em dia
8 em dia de chuva as gotas se prendem em contraste e conectam o antes solto... Captei do quintal em casa...
PorRafael Belo
Por
Chove em uma segunda bipolar na felicidade química do fim de semana terminada antes da manhã. Raiva em dia. Dizem ser ruim sentir raiva, esta ira controlada com total necessidade de ser descontrole. Um saco de pancadas, um desabafo algo para esta imprescindível energia irada se esvair. Quando nossas crenças encontram o chão, nosso rosto vai junto e chafurda nos detalhes omissos dos dias de trabalho. Parecem correntes da decepção tentando eternizar este momento obrigatoriamente efêmero.
Uma angústia premonitória da quebra daquela insistente ideologia falsificada nas atuações atuais. Parece mais uma vez uma perda de sentido na profissão, no trabalho e claro, a constatação: nada mudou. Certo, nós mudamos. Aprendemos um pouco, mas voltamos às valas dos nossos desejos nobres ridicularizados pelas grandes corporações. Dificilmente o desânimo deixa de se manifestar. Então, vem o pior. Não foi a vida nossa decepção... Fomos nós.
Temos de nos livrar deste sentimento. Por isso a vontade de largar os afazeres momentâneos e ir de encontro à chuva - nostálgica e eterna catarse dos momentos nevrálgicos das nossas escolhas. É permitido fechar a cara como o tempo se fecha lá fora, mas se amargurar é perder todo o potencial e denegrir o próprio caráter em prol da nossa parte maléfica... Dos maus pensamentos maculando a mente sem aviso prévio. A vitória diária é não ceder nas ações, os sentimentos pesados a nos atracar em situações adversas.
Com a raiva em dia, podemos ver o cardápio dos próximos passos. Respirar fundo todas às vezes necessárias, contar nos números, esvaziar a mente, se livrar das besteiras possíveis impregnando a mente a carregar seus mais próximos consigo. O clichê da vida que segue, então toma conta e a segunda continua chuvosa até raiar o dia com a vontade contínua da chuva em nossa vida vir a nos molhar por completo para limpar toda a mágoa instantânea e levá-la distante.
sexta-feira, maio 21, 2010
Desexistindo
8 Minha terra sem posse, meu banho nu de despossessão... Captei nos fundos de casa...
Por Rafael Belo
Contrariando todos os clichês de desaparecimentos e abandonos, ele reuniu todos os milhares de amigos reconhecidos pela vida e anunciou sua morte. ‘Estou morto!’, gritava para os rostos de interrogação, ‘Estou morto!’Eles o conheciam há tanto tempo e ao mesmo tempo desconheciam o significado daquelas duas palavras tão reveladoras e sem necessidade de muita explicação. A única pessoa a o entender foi a única ausente e ele lamentava isto no fundo de seus olhos perscrutadores.
Ulisses parecia poder ouvir cada mente. Os conhecia bem, mas nunca achou ser imprevisível demais para ser compreendido. Agora não importava. Ele calou-se depois de repetir as duas palavras excêntricas, afinal, quem não está morto? Mas, ninguém ousa dizê-lo... Quanto mais admitir... No centro de todo o burburinho se formando, coexistiam várias fogueiras. Não era mais possível saber os detalhes do material a mantê-las acesas... Para Ulisses, elas tinham cheiro de ‘já foi’. Um aroma pertinente de um passado ditador de quem ele era até então. Não mais. As fumaças subiam e o despersonalizavam de seu antigo nome não revelado. Era Ulisses e ‘ninguém’ mais.
Em sua Odisséia pessoal coletiva fez cada um dos presentes se conhecerem no decorrer de sua vida. Com isto estava satisfeito. Mas quando o sol raiasse novamente... Ele não existiria mais como uma peça política a querer o sorriso e o agrado de todos. Não mais. Sua insatisfação consigo mesmo o fazia desejar sua própria Ilíada. Queria se lançar e se encontrar quem sabe em um conjuntos de mares únicos e distante. No entanto, sua água salgada seria temperada por ele.
Esta festa seria sua Ítaca final. Odisseu também seria seu nome se o chamasse assim... Poderia ser Homero. Queria mesmo descobrir-se por si mesmo sem referências, sem bibliografia, sem qualquer existência a o preceder. No arder daquelas fogueiras estava sua então existência social: roupas, identidade, fotos, escritos, relatos, trabalho, números, som, textura, imagem, digitais... Apagou cada vestígio de lembrança gustativa, degustativa, visual, vocal, olfativa, tátil de todos ali. Aos poucos se misturou até sair sem ser percebido. Saiu de costas precavido...
Ele estava descalço com um saco de estopa no corpo e o desconhecido a frente. Não era ninguém além de um anônimo. Estava feliz com todo o seu não ser e se foi.
quarta-feira, maio 19, 2010
Identidade
8 as belezas enferrujam e morrem pela falta de cuidado, então não há mais identidade... (Captei no quintal do fundo de casa)...
O Tuiuiú bate as frondosas
asas sobre as nuvens
queimadas sobrepostas
ao engarrafado trânsito incontido
nos fragmentos da cidade em cinzas
se envenena aos poucos
com os pedaços concretos
do urbano funesto incendiário
procura um canto verde pré-utópico
para morrer simbolicamente longe
das invasões.
Às 12h51, 15 de maio de 2010 (Rafael Belo/ Folha de Outono)
segunda-feira, maio 17, 2010
* Meu desconhecido
8 a terra do quintal de casa... captei e toquei...
porRafael Belo
por
*A terra entre minha mão, escorrendo nos dedos e o cheiro de vento pelo vento. Como se eu me banhasse na característica de onde estou. Sentindo o lugar, trazendo minha alma de um fuso horário próprio tão meu para esta presença absoluta de um não lugar. Observar os arredores e pormenores, fechar os olhos, pender a cabeça para as costas e esvaziar para me preencher daquele momento. Nada de julgar ou me influenciar. Tem de ser puro pelo menos para mim. Este ritual faz parte de mim e até então só eu sabia.
Ver fotografia em uma desconstrução poética e cada encontro, desencontro, conversa ter um início de uma futura obra literária. Mais algo de mim no geral desconhecido. Intuitivamente querer ajudar, partilhar, compartilhar com o próximo ou o distante o ínfimo do meu ‘saber’. Para completar seu segundo desconhecimento da minha pessoa com um terceiro, eis o motivo de eu decidir escrever quando criança: trocar experiências/compartilhar.
Então vem o silêncio. Meu silêncio. Não falo de terceiros não presentes e mediante insistência me calo. Silencio também para me abster ou para absorver várias coisas simultaneamente. Minha identidade me diferencia principalmente pelo próximo quinto fator de qualificação paradoxal. O fato de eu não me apegar a nada e ninguém com facilidade, mas me sociabilizar facilmente. Não significa eu ser fechado, sou um livro totalmente aberto, basta perguntar. Tenho pra mim, ser isto uma facilitação para quando eu paro de dar sinais temporariamente – e é meu feitio.
Para completar, aonde quer que eu vá, não me importa o lugar. Importam as pessoas. Para eu me entregar ao lugar e realmente curtir a música, a interação e as pessoas, ‘precisam ser muito bons’. Aí me dizem travado. Bom, eu desminto profundamente. Se o clima me agrada, acabo me tornando o lugar. A entrega é verdadeira. Nada disso quer dizer: “não gostei deste ou daquele show”. Quer dizer simplesmente: “Eu não me entrego às expectativas”.
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*(Este texto foi escrito para a ‘grande’ e talentosa Naty Araújo do Blog que me inclui entre suas pessoas queridas e portanto escrevi ‘seis’ coisas que não sabiam sobre mim. E repasso para outras seis pessoas que me são queridas: a virtuosa e emblemática Lelezinha ; a verdadeira e talentosa Jamy ; a magnífica e visceral Mai ; a amada e multifacetada De ; a presente/ausente e sagaz Is e a bem-humorada e sincera Kellen – Nos revelem seis coisas sobre vocês que ninguém sabe - se possível nos seus blog:)
sábado, maio 15, 2010
Alienistas
às 20h52, rafael belo (folha de outono) 9 de maio de 2010.
8 estão no começo do quintal da frente de casa, os caminhos alienados dos cabos...tive de captar...
sexta-feira, maio 14, 2010
Foragida
8 uma mistura da definição da 'foragida' que captei no meu bom e velho quintal...
PorRafael Belo
Por
Não havia por que dizer algo, mas o silêncio atormentava dentro da minha mente acolchoada em total branco sem portas nem janelas. Meus pensamentos pararam, as imagens se foram com as vozes. Até... Até os ecos... Os ecos também me abandonaram junto com aquela camisa única amarrada por tanto em mim. Jogo-me nas minhas paredes procurando meu precipício... Lá no princípio, mas não caio. Não saio de mim. Há gente lá fora, talvez meus outros eus estejam por lá.
Lá aonde não há ninguém. Quando não são parte de quem sou em partes... Uma indefinição com múltiplas personalidades moldadas antes em uma. Nada concatena mais, minhas costuras foram desfeitas para o bem da má sociedade patética. Tenho meus espasmos, minhas síndromes de consciência, mas sou inconsciência estranha a este corpo do mundo montado. Diferente... Quantos eus de vocês não me são? Nada de sanidade por aqui... Ela se baniu por ela mesma... Para ser sã, finalmente...
Meus dados não rolam mais. Estão gastos e ralados. Entorpeceram-me aqui para eu não mais jogar. Todos jogam dados diários... Procuram me negar ou se perguntam se me são. É só rir e falar só. É ‘só’ o sol sair do eixo deslocado da cultura do medo. É só parar e fazer o contrário. É só se importar, tachar se otário... É só rir e falar só.
Assumam-me e parem de sumir. Deixem sua crueldade se acusar. Misturem os dados da falsa normalidade e lancem-os ao universo... Deem meu habeas corpus. Este controle... Deixem-me descontrolar. Debatido. Sinto as barras de ferro geladas, as amarras da maca e meu nome sorri ‘in sano’ de uma dimensão a outra da boca. Estou rouca de tanto gritar o atormentado silêncio. Vou fugir.
quarta-feira, maio 12, 2010
‘Louco’ traz brincadeiras infantis de volta às ruas
8 quase a imaginação captada... há algo mais solto mais... 'louco'? captei exclusivamente para esta tríade...
Por Rafael Belo
A brincadeira se misturou logo pela manhã. Ninguém sabia mais se era pega-pega ou esconde-esconde, o certo era o retorno das brincadeiras infantis, porém renovadas. Porque agora o legal é no esgoto e todo mundo correndo e procurando uma só pessoa. No caso o ‘João’ louco. Foram ‘apenas’ quase quatro... Quase quatro horas se “divertindo” no lugar mais cheiroso de uma cidade! Isso foi na sexta-feira (7), em Campo Grande. Munido de uma peça de ferro, ‘João’ evitava a aproximação. Mas, centenas de pessoas acompanhavam o mais próximo possível.
Talvez em sua mente confusa e aversa a qualquer tipo de confinamento, fugir de uma ala psiquiátrica era o caminho. Há algum tempo, no dos Manicômios, o choque sofrido por ele - mas choque mesmo, não um susto ou trauma - não surtiria efeito algum senão, o das risadas. Quando suspenso do bueiro mais próximo, ele estaria nu se não fosse à solidariedade de uma moradora - acompanhado tudo em primeira mão. Ela doou camiseta e shorts para ‘João louco’ deixar de ser oficialmente um foragido. De volta à ala psiquiátrica.
E daí se falava sozinho, se estava naquele ‘hábito hospitalar’ com a bunda de fora e corria e se camuflava no escuro e tirava a roupa...? Não seria loucura maior o fato de vivermos confinados por vontade própria? Confinados a estigmas e paradigmas e claro, rótulos? Claro, há os medos e receios... Mas, às vezes não seria melhor ser um foragido da nossa loucura cotidiana a fingir uma pseudoescravização ao trabalho, ao dinheiro, ao mais... E enfrentar uma afronta as narinas: o esgoto? Porque é difícil saber aonde fede mais...
Por aí entende-se o fato de nem todos aguentarem a pressão e a vida cotidiana por hábito ou acomodação e acabam mobilizando metade de uma cidade, bombeiros e policiais trazendo velhas brincadeiras infantis de volta enquanto temos a empáfia ou a maldita convencida arrogância de julgar com olhares superiores as desrazões de um ‘João’ nem tão louco quanto aparenta.
segunda-feira, maio 10, 2010
Casal Carnal
8O que dizer das sombras das vestes despidas...? Tirei no meu quintal
Por As roupas se espalhavam em meio aos suspiros e gemidos e estalos das bocas enquanto as línguas se amansavam na selvageria de se sugarem em busca de uma alma. A trilha das vestes terminava nos corpos despidos encharcados de excitação química cantando a melodia da cama em intervalos de recuperação quase instantânea, sem ligar para os dias e as horas acumulados em poeiras e cartas e email empilhados nas entradas reais e virtuais de um casal carnal.
Bastava se verem para dizerem não. Não quero te ver e logo quem dizia já ligava querendo ver. A atração era irresistível e os lençóis vibravam. Uma estava entorpecida de paixão e o outro não dizia, até dizer. Foram três enquanto ficavam e um namorava. O namoro acabou, mas ficar continuou, com a outra. A outra deixou de ser outra. Mas, engana-se quem pensa só haver sexo entre o casal. Havia o encaixe em todas as cenas dos atos da vida dos dois. Assim era.
Eles se davam muito bem e se dão constantemente. Abraçam-se vestidos, dançam ao som dos corações negativos para na soma positivarem. Há um incêndio geográfico apossando ambos em proporções extintas, em escala avassaladora. Vai aquecendo a pele ao olhar vindouro, começa a espalhar a chama pelos curtos pelos da derme e quando a pele começa a derreter as bocas se encaixam e as vestes voltam às cinzas como jamais foram, vendo do chão os amantes rolarem.
Ele a olha embebido de torpor e contaminado de sexo, pura carne. Pede para se despir. Ela retira lentamente a blusa a friccionando propositalmente na pele, passa as mãos sobre os fartos seios, enrijecidos de prazer antecipado e se expõe com o sorriso despido. Malícia sincera nos lábios. Língua umidecendo como uma labareda fugidia da devastação. A água na boca se espalha nos dentes mordendo a boca saliente. Ele só vê os seus olhos incendiados.
“Pronto”, pronuncia ela entre os dentes em um suspiro corrente em calor. “Não! as calças”, diz com o olhar lambendo o espaço entre eles. Ela o faz. “Me abraça”, Ele diz em tom de entrega. E suavemente se encostam e se encaixam com o êxito de um quebra-cabeça angélico decaído. A pele se sente como se antes não existisse. A cabeça se mexe como um tardio instinto animal roçando uma face na outra. Só há respiração profunda e os braços se apertando nesse abraço de súplica. A carne casa em um sexo de pele e o mundo enfim termina a dois.
sábado, maio 08, 2010
Cafajestes
Eram três corpos no início sem fim
pela atenção de um, enfim virara dois
sem um seriedade por um lado e de um lado para outro,
havia a carne cafajeste nas entranhas dos cafajestes
em um encaixe corpóreo flamejante de gestos da pele
emaranhada a sensação da sensualidade rebolada
no suor da cama felada da felação da troca de línguas e genitais
nos gemidos suspirados na gama dos alfas alcançados
na pele respirando a outra pele no alfabeto sexual de ais
em compromissos fluídos nos fluidos do fim dos atos finais
às 21h44 Rafael Belo (folha de outono) 3 de maio de 2010.
quinta-feira, maio 06, 2010
A carne lateja em êxtase
8e o encaixe acopla a terra e se alonga... Tirei no meu quintal
PorRafael Belo
Por
Esta semana um casal foi preso praticando sexo oral em público durante plena embriaguez em Dourados. Estavam praticamente nus e o homem fugiu assim que a polícia chegou. Bom ele tentou fugir, pois com as calça arriadas caiu - suponho eu, porque pode ter caído de bêbado. Quando li a notícia fiquei pensando no atentado ao pudor, na covardia do infeliz e na quantidade de hormônios explodindo para acontecer ali e naquela hora. Além disso, me veio à mente se o ato libidinoso aconteceu “apenas” pela bebida correndo nas veias ou se era a realização de uma fantasia.
Mas, era meio da tarde. Exatas 15h de um domingo, horário de outra excitação brasileira (futebol). Será que a carne estava sedenta por expelir seus fluídos. E não! Não haveria tempo hábil para encontrar um local menos inadequado... Ali, no meio da rua aquela cena clássica entoando nos filmes de terror nudez e perigo, álcool e excitação acontecia para os olhos calejados dos voyeurs procurando prazer com a “coragem” alheia.
No meio da rua talvez nem fosse um ato exibicionista. Para os dois poderia não haver mais nada além do encaixe de uma boca e uma genitália. Talvez fosse romântico... E no mundo daquele domingo só os dois faziam sentido e gemiam... Até... Até a polícia chegar e o egoísta correr... Quem recebia a língua torneada de lábios entre as pernas não importa... pelo menos para nós... A maioria tão criteriosa com o sexo, tão cheia de regras, tão tensa a perder o tesão na autocensura de se expor sobre o assunto.
Clara é nossa exposição constante ao erotismo e sensualidade em toda parte ativando nossa sexualidade irracional. Tendencionados a uma excitação cerebral lá do cerebelo, nosso cérebro primitivo a impedir a hipocrisia do corpo entregue a primeira oferta de sexo sem ofensa, até ofender o respeitável público bipolar. Então, usamos o fingir e as dores de cabeças casuais para separar a alma do corpo ereto percorrendo a pele arrepiada e a mente em psicodelia a deixar a carne latejar em êxtase. Como se a sociedade não nos fosse.
terça-feira, maio 04, 2010
Derrete o verão as palavras vazias
8o tom das cordas vai no tom da verdade e quem alcança todas as notas? Tirei esta há muitos meses...
por
Mais um verão ido. Terminaram as férias, mas o calor continuava fosse inverno ou outono. Não importavam as flores espalhando seus parcos perfumes ao meio de tantos cheiros sem autenticidade, a não ser para os animais. Não importavam as folhas caindo em um fluxo de tempo determinado pelas horas a se olhar para as árvores e delas para o chão. O autêntico não vinha com as estações. Era mais uma fuga, um segredo, uma mentira vestida para depois ser lavada e posta no guarda-roupa junto a tantas outras.
Era quem queria ser? A resposta era mais vaga ainda... Talvez. Pudera. A vida foi uma mentira, fugindo sabe-se lá por que. O nome era uma incógnita pela ausência do paradeiro da família ou um documento qualquer. Estes espalhados na fogueira? Todos falsos. Quem não pode sentir o cheiro de tanta mentira? Se um cachorro a fareja a irritante distância... Esta falta da verdade impregna como tecido vivo queimado em agonia no silêncio do grito das expressões malpassadas. É assim por trás das palavras daquela língua venenosa.
Tanta pestilência para proteger suas areias edificadas na beira do penhasco e um simples vento desconfiado abre um buraco no chão para simplesmente preenchê-lo com o proprietário da peste. Cada verão um personagem diferente, uma fronteira invadida e uma nova vida a espera de desmoronar. Quem sabe desta vez não dure mais... Quanto tempo até a mentira anterior se esbarrar com a nova?
Quem sabe este outono seja diferente e as folhas não caiam e o tempo não se prepare para o inverno inexistente em rigor por aqui... Disso eu sei. Não vai acontecer...! É mais fácil continuar me enganando e fingir saber quem eu sou a pretender dizer sobre as estações marcadas em quatro pela razão da natureza, pela sua definição variante. Fui ao topo das minhas mentiras como uma multidão feita de ninguém a ser passado constante.
Minha natureza era outra, era órfão de virtudes, de moral, de ideia da ética... Decidi entrar no guarda-roupa, me trancar e morrer aos poucos de outra maneira, ao lado do meu mundo de mentiras nuas e nu na minha escuridão... Tentei em vão deixar de ser de mentira.
domingo, maio 02, 2010
É tudo mentira!

por
Compulsivamente surge a mentira para aquele “autoengano” de um vício qualquer tão avassalador para o viciado seja em fugir do mundo ou de si mesmo, normalmente de ambos. Mas, há tantos vícios neste nosso mundo a desvirtuarmos com voracidade. É uma psicologia reversa tão palpável na clareza de uma certeza camuflada daquele nosso falso olhar entendedor da vida. Para ficar mais fácil usamos exatamente isso, a medida da facilidade. “É mais fácil para você, é mais fácil para fulano...” E sobe nosso dedinho podre apontando um julgamento insosso sobre o outro. Mas, serão estas linhas amontoados de mentiras para fugir de um assunto...? Não quando o assunto é mentir para o espelho.
Você já mentiu hoje? Pelo menos o sorriso do dia já fez esboço na boca... Mas, realmente parece uma compulsão por parte de quem o faz e culpa a sociedade pela pressão. Acaba tornando-se aquele em quem não acreditam... Fica marcado e fica fato consumado a pessoa ser apresentada como não confiável. Uuu! Pesado... Não. Quem mente torna-se... Exato. Mentiroso. É difícil desgrudar deste rótulo grudento e ninguém gosta de rótulos. Não diga mas é uma mentirinha só... Mentirinha, mentirão... É tudo mentira... certo...
Mas, mesmo assim é uma sociedade da mentira a qual somos vendidos. Ambição para ganhar mais e mais e trabalhar mais e mais para mais trabalhar, claro. Nada de usufruir do furto fruto de tanto trabalho, no futuro quem sabe... Não tem aquela frase clichê...? O futuro é agora...? Bom, daí devem vir as mentiras e o vazio formado entre as pessoas e entre o mundo por onde passamos. Estamos sempre nos preparando para o porvir e o agora? Este nosso automático consumismo, esta nossa fuga para as frustrações de algumas outras mentiras contadas a nos impedir de ver além das mentiras protegendo os seres falsamente frágeis por trás delas, nós. E nos dizemos tão inteligentes...
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