domingo, agosto 30, 2020

Clandestina (miniconto)

 



Eu


por Rafael Belo


Eu ouço as folhas secas pegando carona no vento, preenchendo minha varanda abandonada e esmagadas por pés divertidos lá fora. Só podem estar se divertindo, não é? Estão lá fora… Eu já não tenho coragem de sair. Tenho medo de pessoas mascaradas… Quando eram máscaras invisíveis eu me forçava a fingir para viver, agora não. Não há mais fingimento. Bom, eu não finjo mais.


Não entendo mais estes catálogos sociais rasgados, mas sei que estão nos celulares e não com as folhas ao vento. Ver a sensualidade do corpo exposta junto a uma certa intimidade no que foram as redes sociais no passado já não é possível se você tem seu chip funcional.


Determinaram há alguns anos que a sensualidade de fotos, imagens, vídeos, propagandas, músicas e afins era a causa da violência, principalmente, contra a mulher e as crianças. Mas era só uma desculpa para nos controlar. Hoje é necessário uma série de medidas e muita burocracia para ter alguma página virtual de conteúdo. Eu sou uma clandestina. Retirei meu chip no primeiro apagão das conexões. Demoramos décadas para conseguir achar as ações e as pessoas certas para nossa liberdade.


É sempre ela a causa das revoluções. Estamos criando nossa própria rede dos vazios deixados. É óbvio que não saio há tempos. Estou morta para o Sistema e minha casa abandonada é toda laminada por dentro. Assim não detectam movimentos nem meu calor. Eles não eliminam as pessoas mais ou as prendem. Somos reprogramados. Somos repaginados e destinados ao que melhor servir ao Sistema. Eu criei toda uma rede de sinais baseada em ruídos para ser impossível o Sistema reconhecer. Outros Clandestinos estão comigo para finalizar nossa rede. Estamos criando roupas, acessórios e utensílios para passarmos invisíveis pelo Controle implantando em todo lugar. Se você está decifrando este ruído as coordenadas dos nossos encontros chegaram no próximo pulsar junto com todos os materiais necessários. Não deixaremos mais o Sistema mandar o mundo controlado.




sexta-feira, agosto 28, 2020

Repaginado

 









a surdez coletiva presta atenção

a sensação de venda constante

de vazios vendidos viciados

substituindo sobras de virtudes


atitudes midiáticas de um só 

luz intensa incandescente influente

na busca de referência da mudez


catálogos sociais rasgados 

em luz e sombra editados


do que deveria ser Deus, mas é ego repaginado.

+-Rafael Belo/*

+às 11h51, segunda-feira, 24 de agosto de 2020, Campo Grande-MS+

segunda-feira, agosto 24, 2020

Catálogos sociais

 





 

por Rafael Belo


Presta atenção! O sinal está em alerta em todos os semáforos e estamos nos celulares ou enxergando outro mundo. Presta atenção! Os conteúdos digitais são corpos expostos, seios, nádegas, abdômen, músculos e vivemos em comparação. Presta atenção! Tudo isso passa se não pararmos para perceber, para desenvolver outros músculos longe dos desejos carnais, longe das satisfações materiais e vai sobrar alguma coisa ou alguém no fim do dia quando a cabeça gira na insônia ou apaga de exaustão?


É tudo carne, matéria e comparação? Vamos fingir que não há catálogos de corpos, jeitos e formas de se relacionar em exposições extremamente exageradas? Basta abrir as redes sociais e se envolver com a sensualidade de tudo. Qualquer assunto vira objetificação. O mundo se transformou em um imenso lego sem significado. É tanto vazio preenchendo os espaços que a desatenção se torna um bem comum. 


A desestruturação da amizade verdadeira, o falecimento da base familiar e, principalmente, o uso de Deus como muleta de likes e desculpas para questionamento de acontecimentos fatais ou com sequelas nos desencaminha. Conscientes ou não vamos matando oportunidades e morrendo diariamente a espera dos próximos catálogos sociais ou, simplesmente, em uma obsessão por atualização de instante em instante. É um presta atenção diferente! 

 

Estamos tão carentes e distantes do que seja a sombra do Amor que qualquer migalha parecida com atenção e carinho já é relacionamento, já é entrega e uma série infinita de auto-engano e feridas abertas. Alimentamos nosso ego com desculpas e desvios daquilo detalhado no fundo do coração, no fundo da alma e na superfície da mente: nossa liberdade está em nós, o Reino vive em nós. Preste atenção! Ouça-se e, então, irá ouvir com certeza o seu arredor sem perder tempo com vazios.


quarta-feira, agosto 19, 2020

Onde está o Amor?





Rafael Belo

A empatia morre no primeiro julgamento, no primeiro apontar dos dedos todos os dias ainda pela manhã enquanto a conveniência próspera em adoração a aparência das falsas moralidades. Esta é nossa realidade. As pessoas ao invés de estender a mão, apertam ombros e empurram para outras para dentro do abismo mais próximo e, para garantir a queda, fecham as mãos e esmurram o rosto de quem precisa de ajuda. Soltam das suas línguas palavras vãs em nome de Deus quando só falam pelo próprio ego. 


Os incansáveis versículos MT 22:21, daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus e ainda ROM 13:7, a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. Não podeis ter dívida de alguém, senão a dívida do amor. Simplesmente revelam o quão endividados somos com todos os planos. Estamos no plano físico e devemos respeitar as leis, porém sempre estaremos devendo amor. Sempre estaremos em dívida com o amor e nossos planos seguem rasos nas aparências.


Ontem ouvi uma frase que parece da sabedoria milenar, mas está atribuída a Simônica Nottar, que diz: é possível parecer sem Ser, mas é impossível Ser, sem parecer.  Em um mundo de aparências situações limites revelam ainda mais quem somos. Podemos manter as aparências por um certo tempo, mas como elas enganam, uma hora são reveladas. Agora como Ser sem parecer? Basta ver perfis e construções de personalidades virtuais nas diversas mídias tentando ser sociais para encontrarmos…


Opiniões, comentários, omissões, repressões estão por toda parte, mas sem justiça, sem igualdade de espaço e, principalmente, sem amor de nada valem. Estamos hostis, estamos agressivos, estamos extremamente violentos com o outro e totalmente desrespeitosos ao próximo. Estupro e aborto são generalizados com as vítimas expostas e revitimizadas constantemente… Causando ainda mais divisões, revoltas e além de mais dores, dívidas ainda maiores com a própria humanidade. A pergunta que fica é onde está o Amor?

terça-feira, agosto 11, 2020

Para poder enxergar

 



Rafael Belo


Não liguei a televisão estes dias. Não acessei nada além da editoria do trabalho. Vesti meu anteolhos e trabalhei até o serviço terminar. Nenhum sintoma de COVID, só precaução. Depois me perdia no vazio. Deixei a barba crescer ou simplesmente não a cortei mais... Fiquei meio órfão e meio náufrago. Nada literalmente. Eram só erros insistentes de comportamento solitário, um passo para trás na areia movediça da armadilha do tempo, pois neste agora sou maduro. Não um jovem descartando responsabilidades, mas um adulto fruto de si mesmo. Sozinho se pensa em quem não está fisicamente contigo. Eu poeta.  Eu, marido.  Eu artista.  Eu filho. Eu irmão. Eu  jornalista, eu falido de mim,  longe, isolado, porém, com conexão via web.


É agosto para quem escreve um diário ou precisa se situar pelos anos, meses, datas e horas. É início de terça-feira dia 11 de agosto de 2020. Ninguém entendeu ainda o que está acontecendo, mas todos ficamos especialistas em achar culpados. Melhoramos nossas formas de julgamentos e linchamentos virtuais. Estabelecemos uma censura velada e uma nova guerra de polaridades. São bipolaridades, múltiplas personalidades e uma esquizofrenia enforcada nos horários nobres da tevê e de cada mídia até das sociais. 


São mortes, medo e consequências das mentiras contadas diariamente, dos atos feitos para autoproteção. Pouco se mudou, mas quem não tem caráter segue sem ele, quem ignora a ética tão pouco tem a própria moral bem elaborada. Somos séries de pessoas fatiadas, fragmentadas se escondendo nas desculpas que nem pedimos. Nos tornamos assessores da conveniência, prisioneiros dos sonhos que não sonhamos mais.


Estamos buscando a segurança de dias repetidos, de mortes anunciadas e do salário desafiando o mês. Perguntamos da nossa razão, questionamos a nossa loucura e escolhemos de qual dívida sair primeiro ou de qual maneira trazer a satisfação momentânea gastando… Gastando dinheiro, tempo, mente, corpo e alma barganhando por prazer, trocando consumo por fé. Somos decepções mesmo sabendo pela Luz guardada em nós que podemos nos salvar. Diariamente ajo para poder enxergar.

terça-feira, agosto 04, 2020

Nossa desonestidade






por Rafael Belo


Não há deus da pressa. Não há deus do imediatismo. Estes são os algozes do tempo nos pressionando e auxiliando na autopressão neste nosso viver de refluxos com este suco gástrico queimando a garganta derretendo o paladar. Neste tirar dos sabores a cobrança se intensifica e tudo precisa ser entregue antes de ser pedido, todos precisam chegar antes da hora ser marcada, o resultado precisa ser entregue antes da meta… Esta correria é um desaproveitar de si, do explorar o melhor da entrega… É uma morte certa sem vida onde não respeitar os sinais de trânsito só piora a situação.

Eu reluto para não ter pressa, para correr, para aproveitar cada milésimo do segundo, do minuto, das horas… É tentador desrespeitar todos os sinais. É um risco desnecessário com sequelas tão conectadas a morte, a feridas abertas simplesmente por furar o sinal, pela adrenalina do desafio, pela compensação incompensável do atraso e com qual objetivo? Nos falta honestidade! Isso mesmo: HONESTIDADE! Nos rendemos a um pouquinho mais, ao não tem problema, ao depois eu resolvo, ao daqui a pouco e nos vestimos de dezenas de desculpas que armamos na língua para disparar para todo lado.

Ah, sim. Não podemos esquecer da procrastinação. Este palavrão que usamos muitas vezes sem nem saber o significado ou sem usar a palavra em si, mas vamos empurrando para depois algo que poderia ser resolvido no momento, sem pressa, sem imediatismo. Não somos honestos com nós mesmos como seremos com o outro. Tudo isso gera nossa servidão ao deus da pressa, ao deus do imediatismo que só causam exaustão, estresse, insônia, preocupação e morte.

Mas então nos dizemos cristãos e que Deus é maior, porém sem mover um dedo para resoluções dos nossos problemas diferentes da correria e da falta de tempo. Deus não é construção? Não é obra? Não é tudo ao seu tempo? Sabemos que sim. Só agimos ao contrário desperdiçando o Tempo que não volta e adiando nosso reconhecimento da nossa desonestidade para dali em diante sermos o novo, a Boa Nova. E aí que paro diariamente e peço proteção por quem tem tanta pressa.