sexta-feira, abril 30, 2010

Combustão esquecida

8 não há ninguém apenas reflexos e os anexos de "extensões" chamados veículos e vazios... Dimensões de um copo pouco vazio... tirei esta antes do caminho da pauta...

Derrete o verão a mentira fria pintada de lareira
no romantismo a beira de um abismo claro
em um outono pálido caindo das árvores do preciosismo
feito o achismo arbitrário da cantada falha da permissão do trago
derramado no canto da boca dos olhares de esguelha
onde há quem se atreva a fugir a verdade camuflada na malha alheia

amarrada como um saco de estopa na cabeça soprada
feito areia de praia em dias secos,
onde os rostos do avesso mostram a carne cansada
e a alma distante entorpecida pela fumaça dos gravetos.

Às 19h11, Rafael Belo (Folha de Outono) 26 de abril de 2010.

quarta-feira, abril 28, 2010

Três estados permanentes no meu trailer

8Este, creio eu, é o mais exposto texto meu hehehe por isso coloquei um reflexo de imagem 100% autêntica... Sombra e Luz na janela...

Por Rafael Belo

Pelas minhas estadas pra e lá e pra cá, minhas melhores lembranças vêm itinerantes. A casa da minha memória é justamente esta onde estou, a da minha falecida avó. Porém, lembro de algumas em Ribeirão Preto (cidade natal), onde bons momentos em família aconteceram. Uma dela é a conquista de ir a pé e sozinho à escola, o equivalente a minha imaginação a muitos e muitos quilômetros e eram apenas poucas quadras de aventura diária. Começava meus 11, 12 anos... Em verdade são três casas permanentes na minha memória porque foram nelas onde vieram meus amigos.

A primeira em Rondônia. Lá em Vilhena, fortes laços permanecem unidos pela internet e pelos feitos por lá. Foram três anos perambulando entre os limites da cidade e minha casa fora deles. Uma dezena de amigos carregados em várias viagens de 18 km da cidade para casa em cada fim de semana esperado. Era o sempre presente violão, os nados no rio e o vôlei improvisado. Minha primeira carteira de motorista também é de lá, assim como minha reservista.

Depois vem a casa da minha irmã mais velha quase em Ribeirão, mas é Sertãozinho. Na medida do possível me encontro por lá, isso porque é minha única referência de lar permanente – praticamente – onde morei três anos também. Mesmo nesta minha última estada no lugar onde nasci, me controlava para não estar constantemente pegando menos de meia-hora de ônibus e surpreender o fim de semana na casa dela. Pela adolescência separando o meu tempo e das minhas irmãs, digo ser em Serãozinho onde tenho amigos desde as fraldas.

Para não transformar um prelúdio em livro, já chego onde estou, na casa da minha falecida avó. Por aqui me formei, trouxe todos os grupos de amigos reconhecidos, comecei a trabalhar na área e sempre estive por perto, aliás, morei aqui mais de cinco anos fato inédito das minhas estadas em lares. Muitos natais foram passados por aqui. Muitas traquinagens de infância. É uma casa de lembranças, é histórica por parte da família. é difícil enxergá-la como está agora, a vejo com os olhos da criança vindo visitar a avó querida.

Três Estados mais significativos passados tão presentes ainda digo ser de todo lugar... Não é a mais pura verdade, é mais um ironia com minha aparente falta de raízes, no entanto sou mais daqui de Campo Grande e se me perguntarem com qual casa me pareço. Diria o óbvio (?): um trailer.

segunda-feira, abril 26, 2010

Casa minha

8de uma "sessão" de luz e sombra de meus olhos, tirei há algum tempo só pra ilustrar a quase ficção desta poesia...

Cacei minha casa em cada perímetro do espelho quebrado
em meus castanhos olhos contornados de preto, um extremo quadrado
onde limitava minh’alma a uma falta de caminho espelhado
sem acesso ao corpo sem tocar o coração despedaçado com solidão

nada entrava nas paredes cadeadas de carentes formas de ilusão
levitando entre o leito e o jeito de encarar a derrubada dos muros
de um casa sem porta onde eu era a casa preso pra dentro e as batidas vocês
correndo uma sanguínea corrente ao fim doada

cerrada cada caída das portas terminava com minha caçada
e tudo entoava em poros meus, na alma sobre o corpo
plenos pulmões recuperados em voz.

às 13h20, Rafael Belo (folha de outono) 26 de abril de 2010.

domingo, abril 18, 2010

Casa aos pedaços

8 Qual é a chave embaçada para a sua prisão interna aos pedaços de uma casa corpórea? Tirei esta depois do conto concebido...
por Rafael Belo

Havia o medo da invasão. Por isso, o pavor tremia por entre os escuros daquela casa vazia... Apesar das dezenas de portas fechadas... Era tudo velho e inseguro. Lá no fundo a porta mais distante rangia, segredada. Da porta para a parede havia feixes de vidro permitindo enxergar lá fora. Pero caminhou até esta extremidade e olhou para a luz invasora, bem ali pelo buraco da fechadura.

A maçaneta foi forçada em um estrondo surdo para dentro. A porta chacoalhava. A luz cessara. Uma lima começou um vai-e-vem pelo buraco da fechadura. O barulho de fricção entre os sulcos do ferro da ferramenta e o metal do vão com o exterior povoavam os ares de esquecimento da morada. De joelhos pero arriscou ver pelo vão, sem, no entanto, encostar a vista. A meia-distância tudo em seu olhar era uma chave de um chumbo fosco a girar pelo lado de fora nas engrenagens da porta. Onde estava a luz? De onde surgiu a chave? Ele olhou através dos feixes, mas nem sombras haviam do outro lado. Mesmo assim, a porta era forçada, a lima se movimentava e a chave continuava lá no tom do impossível.

Um rangido brusco de um alívio sonoro de finalmente ser aberta, veio daquela porta. Mas, estava fechada... A contragosto, Pero vistoriou ao redor e a passos firmes, cansados, quase arrastados retornou ao seu quarto. Nada podia fazer. Deitou. Ouvia os barulhos da noite. Não sabia se era sonho ou se pela décima vez na semana ficara paranóico a ver de novo apenas sons na sua casa abandonada.

Com a sola dos pés sob os lençóis de domingo, desconhecia se tremia ou se sua cama começara a sacudi-lo unicamente na parte oposta a cabeceira. Com os olhos dilatados pela escuridão, o coração distante de tão disparado e o corpo rígido de arrepio, hesitou em acender o abajur até acendê-lo. Sua perna estava realçava levíssimos espasmos musculares. Nada capaz de balançar e a mover cama ao encontro da parede... Apesar do calor e das janelas fechadas, um vento fantasma soprava as cortinas e gelava o quarto. Pero ignorou tudo exausto, fechou os olhos e sonhou.

Pero era uma lembrança na casa. A casa certamente se lembrava dele quando ele não era um invólucro oco, seco... A casa foi abrindo suas lembranças pelas paredes e tetos. Os pisos e azulejos soltavam e as rachaduras viraram portas da noite. Pero era um ponto paralelo de algum parágrafo onde ele aparecia em todas as linhas, olhasse para cima olhasse para baixo. Parecia tudo estar sem “tempoespaço” e sombras nos corredores estreitos da casa de todas as portas fechadas bruxuleavam. Pero era as sombras de vários vácuos de épocas de sua vida. Ele havia se repartido e emparedado. Alimentava-se do estoque para alimentar a solidão.

Mas, as paredes cediam. Tudo viria a baixo. Pero precisava sair. Pero precisava se juntar e deixar de ser sua sombra. Ele se levantou de seu coma induzido e circulou sua cama hospitalar. Não atentaria mais contra a vida. Sua vida. Como das inúmeras vezes vestido do kafkaniano artista da fome ou da incorporação da obra balzaquiana sendo a “fidelidade” uma prisão onde se fingi estar para prender o outro, chegou ao limite de estar preso dentro de si, da sua casa conturbada de “fidelidade”. Não! Jamais fugiria de si novamente. Prometeu... E pela primeira vez em tempos se vestiu sozinho.

terça-feira, abril 13, 2010

Em cada pedra levantada, em cada galho lascado


8A avistei da estrada e as nuvens a cercava, procurei os angulos e captei a bela imagem...  Na lente, na alma...

Por Rafael Belo

Ela atravessou o tráfego fora da faixa de pedestre e foi o bastante para bater no topo das árvores centenárias, para logo cair em um som seco no momento da liberação do trânsito. Os veículos todos se encontraram em estrondos em angustia, na pura ânsia de chegar antes sob o efeito daquele corpo. Estava tudo parado em silêncio na cabeça de Reyvan, até quando girou, segundos antes. Sua cabeça parecia expandir e nada respondia, no entanto ela não sabia nada sobre estes instintos. Sua cabeça era um limbo gélido rumo a um buraco negro.

Reyvan via um turbilhão de movimentos perante seus olhos, mas era como captar compreensão sob um corpo em chamas. Levaram-na, falaram com ela e para Rey era tudo imagens sem qualquer significado. O cérebro dela nada processava, mas sua alma estava despertando, se expandindo feito um manto sagrado a aquecer o corpo, a sacudi-lo em delicadeza para voltar a tomar as rédeas... Mas, havia um pressentimento. Demorasse o tempo devido, se suas atitudes e faltas destas não viessem a... Não viessem a traçar um rumo significativo, mesmo com aparência insignificante, poderia encontrar outro corredor da morte.

Passaram-se dias, na cabeça de Rey. Lá fora a multidão aglomerada havia parado o trânsito da cidade. Não importava mais quem era o culpado nem o motivo de chegar a esta situação. Ali um pacto se formava. O medo de mais uma vida se esvair em atropelamentos sem lógica pulsava e podia ser ouvido por quem prestasse atenção em qualquer lugar imaginável. Eram segundos para eles.

Ela sorriu para as lágrimas, fechou os olhos e se lembrou da sua missão caída em anjo. Levantou como se agigantasse em ar de benevolência, abriu as asas invisíveis e em um abraço de esperança cálida fez todos fecharem os olhos e respirarem fundo, enquanto sumia da vista, da memória... Aprofundava-se na alma de todos feita semente, feita precisão. A multidão silenciosa demorou a abrir os olhos e procurar outros olhos mais próximos, para então abandonar os veículos e. quase compacta. seguir para adiante.

domingo, abril 11, 2010

Talvez o estresse

por Rafael Belo
8não é bem o trânsito convencional da cidade, mas a tireina BR
e achei conveniente hehe...
Mais vidas arriscadas no sinal vermelho. Não estava ficando vermelho nem rastro do amarelo havia mais, mas mesmo assim eles aceleraram e passaram após o sinal fechado. Ainda bem que desta vez nada aconteceu além da infração gravíssima não anotada. Nesta sexta-feira percorri aqui, esta cidade morena, e pelas lentes da câmera vi tanto desrespeito no trânsito quanto o visto como motorista. Veículos acelerando o tempo todo em uma competição insana para chegar sabe-se lá onde.

Contudo, nada coopera também com esta síndrome de fórmula-1 coletiva. O asfalto é todo recortado, os buracos brotam como erva daninha e claro, além da falta de educação monstruosa com exceções plausíveis, a quantidade de carros e motos não é mais suportada pela infraestrutura municipal já inadequada para a atualidade. Acerte-me a primeira pedra aquele qual nunca foi fechado ou presenciou aberrações no tráfego da sua cidade. Aqui entre nós, os motoristas fugiram todos (ok, nem todos) da autoescola.

Com a “facilidade” de se endividar mais e por um tempo maior comprando um transporte, o veículo é o objeto de desejo de dez entre dez pessoas e o mais “pacientemente” aguardado. Com o volante ou o guidão em mão os pés de uns parecem de chumbo assim como as mãos de outros. A paciência se perdeu em alguma curva ou em alguma parada obrigatória por aí. Olhar para o trânsito é como olhar para uma confusão sem fim, um caos sem solução. Alguns já devem ter se manifestado contra pedestres e apenas contra os lactobacilos vivos – como diz Marco Luque - os motociclistas. Bom, os pedestres costuram o tráfego como os domadores de duas rodas.

Não há faixa, corredor ou espaço onde estes não se enfiem. Bom, a sorte é os carros serem grandes demais... Vamos lá... Estamos dirigindo no centro da cidade quando um boçal faz o não devido e força aquela freada olhando para o outro lado na fingida “não é comigo”. Ainda bem, não estamos correndo. Além dos palavrões ditos ou poluindo a mente de alguns, desta vez nada aconteceu. Mas, metros depois aquele seu “colega” de volante dá sinal e já entra na sua frente, be-le-za e logo a frente outro faz uma conversão proibida com uma mão, pois a outra segura o celular, cer-tís-si-mo...

Ultimamente sou a favor de não dirigir ou simplesmente quero aderir à campanha “acorde cedo e evite o trânsito/saia depois e não fique preso no trânsito” porque posso começar a ficar levemente estressado. Enquanto isso, di-ri-jo e espero fazerem o mesmo (risos).

sexta-feira, abril 09, 2010

Avesso de ave

8esta foi para uma matéria jornalística e não a tinha em casa no tamanho original, mas tirei hoje diante de toda a imprudência dos motoristas



Atravessou a avenida com saudade do silêncio sepultado distante
apalpou a solidão bolinou a travessura e ficou no meio da rua
brincando de acordar motoristas incapazes de dirigir para o trânsito hesitante

sugador da calma, molestador da harmonia, tirador da razão...
nas batidas de corpos em engarrafamento da ficção na vida real
estirada entre as esquinas do centro preso ocasional

enquanto um sorriso esticado e uma mão entendida acenam
na vazão dos sentimentos precisados na direção contrária

contraída de traição na paciência atropelada pela manhã ordinária
onde as pessoas aceleradas e os veículos da inconsciência gorjeiam.


no vácuo de buraco negro, rafael belo(folha de outono).

terça-feira, abril 06, 2010

Deixa passar

8 quanto mais se partilha melhor o mundo se torna... Há a intensidade , há a força das palavras e a definição poética ler e sentir simultaneamente sem a interferência direta da razão. Tirei esta bem no quintal de casa hehe
Enxergo sob o sol intenso, vejo sob a escuridão profunda,
olho sob os punhos cerrados, tenho a visão do mundo somada ao fundo dos meus olhos
transparentes em mel escuro, livre escudo tomado de sentido onde todos sentidos sentem virem vastos sonhos valentes vociferarem imagens transcendentes daquele berro da alma subversiva aos domos domadores do insosso mundo estilhaçado em pedaços conhecidos como nós, como o nosso eu refletido nestas intricadas partes partidas em intrínsecos ares do pensamento preso em levadas ludibriações secas no avesso voo velado, pelos sonhadores lados a mais de uma mesma vista prevista no contexto do olhar jogado para o amanhã vindouro na sacada da própria mente vivendo os intensos segundos flamejantes anunciando o futuro terminado a cada instante... A se deixar passar.

Às 15h30, rafael belo (folha de outono), 06 de abril de 2010.

domingo, abril 04, 2010

Sonhadores perdidos

8 o sonho das cores fundidas no significado da união da passagem da liberdade, do nosso terceiro dia, ressurreição, novo êxodo, diáspora. Feliz Páscoa. (tirei esta no mesmo quintal renovado de sempre)

Por Rafael Belo

Sim, era um sonho. Falava em voz alta para o vazio. Savage, Solto Savage. Foi tudo o dito para uma dezena de pessoas a revezarem vigília ao redor dele nos últimos meses. Sua respiração e batimentos praticamente inexistiram neste período. Todos o olhavam. Solto tocou suas cicatrizes físicas, irreais para ele. Compreendia tudo ter sido um sonho. Sabia cada voz invisível ter seu rosto envolto da cama florida de esperança. Desconheciam, os mais queridos, Solto ter sonhado por todos. Estava vivo, enfim. Mas o sonho não acabava. Não iria acabar jamais.

A certeza vinha de ter se alimentado apenas da própria mente. Era a única explicação de ao invés de estar um modelo raquítico frágil, estar mais robusto e atlético. Nada de dúvidas naqueles olhos sonhadores, nos passos firmes saídos daquele cativeiro físico do quarto. Solto estava mudo há horas olhando seus amigos, sua família em cada olhar. Ao terminar contou ser aquarela para toda expressão ansiosa. Ninguém fez qualquer pergunta. “Sou a restauração das cores. Sou sonho do mundo. Sou sonho do espírito. Sou sonho da energia. Sou sonho da força. Sou sonho do infinito coletivo particular”. Um silêncio inovador, antes não ouvido, se ergueu. Os demais se sentaram vagarosamente.

Encararam seus espelhos profundamente sorrindo. Os sonhos refletiam nos cristalinos, faiscavam na ponta dos cílios chamuscando o ar de leveza. Nada de impedimentos. A ponte ligando a vida e os sonhadores perdidos caia no remexer da terra em suas profundezas de um terremoto sem vítimas. Sonhar e viver voltava a ser o mesmo. “Vida é sonhar e atravessar a grade dos nossos olhares”, falava sem dizer Solto. “Temam, mas sigam e sintam o medo ser dominado sem ser extinto”, revelava.

Neste momento, em paralelo a restauração, todos se lembravam de Solto antes dos meses de sono profundo. Não mentia, fazia o falado por ele. Não hesitaram um instante em o seguir e se liderarem logo, o tendo por perto. Ninguém possuía a dúvida expressa mais.

“Sonhadores perdidos... Revelem seus sonhos esquecidos. Salvem o mundo realizando seu ímpeto sonhador”. Solto despertou e sonhava mesmo assim, fazendo todos sonharem.