terça-feira, outubro 31, 2017

ousar ser






aquelas asas debatidas em revoadas atadas
das angelicais flores vivas e não mais aladas
iam caídas por esta primavera despetalada
em uma força oculta outra total declarada

tinha aroma que entorpecia hipnotizava até quem não via
atraia pela via guardada pelas asas arrancadas dessintonia
sem ser flor anjo demônio nem o antônimo causava disrritimia

tentava só sorrir simplesmente sendo tão gente endeusava
acabava tentando sem vestígios diabólicos angelical pausa

até puxar maré seu intenso feminino Mulher ser quem é danava salvava.


+ Às 10h, Rafael Belo, terça, 31 de outubro de 2017+

segunda-feira, outubro 30, 2017

quebrando pescoços



por Rafael Belo

Desculpe se minha prosa parecer outra dose violentamente jocosa de machismo, mas o anjo e o anjo caído vivem ativos dentro da mulher. Esta poderosa imperfeição poética divina olhando glamourosamente evoluída para a pequenez dos homens. Esta imperfeição nos cabe tão masculinamente pobres querendo diminuir a sensação de inferioridade com falsa sagacidade, falso bom-humor e a testosterona da violência pela atitude incoerente e comportamento inadequado diariamente. Neste prestar atenção superficial não há como se afogar, só quebrar o pescoço.

Nós, homens, somos crianças e adolescentes em uma Terra do Nunca consciente persistentes no erro de querer sempre dominar. A mulher arruma o cabelo atrás da orelha, dá um meio sorriso, endireita o corpo e o homem acende a luz errada de alerta. Pensamos tudo ser flerte nesta nossa carência, mas a musa poética é independente e pode ser apenas uma indireta com delay, já não é mais para ela, o clima passou, o rolê agora é outro.

Aquele sabor parecendo o melhor bem estar já bugou, molhou totalmente, não está mais aberta a janela da oportunidade e isto pode ser uma eternidade ou passar antes do olho piscar. Repare bem nem anjo nem anjo caído à mulher. Ela tem o ar adquirido de todo o próprio penar. Há exceções, mas veja bem nunca fui mulher não posso dizer como brilhar nesta pele, como aturar interrupções constantes, obstáculos falantes, viver tendo o tempo todo que se superar e provar. Este é o meu olhar. Se acredita em anjos e anjos caídos, tenho certeza que eles dariam as asas para ter a força e determinação femininas. Fariam o que pela Alma?


Neste mundo de aparências, Vinicius de Moraes pediu perdão as feias para exaltar as bonitas na boemia dele falando da essência de se ter beleza, mas eu acredito no poeta. Ele falava além do enxergar dos olhos e os padrões mudam com o tempo. Elas podem tentar, guardar, voar, derrubar, só precisam acreditar nos detalhes delas mesmas, nas evidências, nas entrelinhas, no protagonismo e antagonismo mesmo nem tudo sendo poesia, poesia é tudo e seria nada se não fosse a alma feminina.

sexta-feira, outubro 27, 2017

A perspectiva (miniconto)







Por Rafael Belo

Morreu a esperança. A esperança morreu. A esperança foi baleada no Rio. Quase janeiro novamente. A esperança era carioca. Agora, a esperança está morta. Jaz com uma bala perdida, mas parece ter sido enforcada e esquartejada como Tiradentes. Está espalhada por todos os estados tentando intimidar os rebeldes com vontade de novidades. Mas, a história é sempre contada pelos poderosos, por quem quer deixar uma lição para o futuro, com medo de acontecer novamente. Por isso, ela estava tão revoltada com mais uma fake news. Perguntava-se o motivo das pessoas acreditarem mais nestas notícias falsas a verdadeiras.

Quero largar tudo. Dar as costas e partir. Não sei o que me segura... Aliás, só eu me seguro. Nesta dança eu sou a âncora. Não movo meu corpo com a música, não mexo meus pés no ritmo, minha alma espera a conexão, minha pele tem estática demais e não passa o som. Procuro o arrepio... Sento respiro, então sinto. Lá está ela brilhando dentro de mim. Meu sol particular aquecendo e iluminando não me deixando cair... Na rotina. Acredito e ela vive. Eu vivo nela, ela vive em mim. Se eu morro ela me ressuscita, se morre ela a ressuscito eu.

Não é um jogo. É um impulso ativando cada músculo do meu corpo deixando meu cérebro alucinado naturalmente. Sem nenhum lubrificante externo ou incentivo fora da palavra e da ação. Sinto-me toda uma convenção distante de coisas superficiais, covas rasas, ódios convencionais, tempestades temperamentais... Aí digo que podem matar quantas vezes for a esperança. Esta família não tem fim. Não começou ontem nem termina agora. E estes pássaros lá fora? Bicando, piando, ciscando, comendo... Mas, não voando...


Vou sair. Eles devem ter esquecido como fazer funcionar estas asas. Urubus, corvos? Peraí. Corvos não vivem no Brasil só Gralhas, o equivalente deles... Tucanos, Gaviões e... Corujas... Anoiteceu de repente. Faltam quatro dias para o Halloween... Quem diria que vem de “All hallow's eve” (véspera de todos os santos)? Enfim... Eles pararam. Que revoada linda! Não acredito que parecia noite de tantos deles... Quer dizer que a maioria voava. Eu só precisava sair de casa para ver. Pensava que antes eu acreditava.

quinta-feira, outubro 26, 2017

podemos ser




a novidade diária sou eu tentando me desinventar
fazer de malabares o ar de uma mão para outra
este sorriso de satisfação solto safado é imaginação
sou soldado situado na resistência rebocada ruidosamente ainda de roupas

tolas as pessoas decepcionadas com suas trouxas rasgadas nos ombros
logo nos primeiros tombos substituindo o rosto um pouco de cada vez
até a lucidez se esquecer de tudo falando falta fez

dentro da insensatez arranco as asas azaradas dos carnívoros pássaros
metonímia metalinguagem misturas do básico beijo da morte

explode vida junto com a sorte quem morreu vive descobrindo quem é enquanto o mundo começa de novo no porte livre além onde repetidamente podemos ser Bem.


+Rafael Belo, às 21h16, quarta, 25 de outubro de 2017+

quarta-feira, outubro 25, 2017

sem perdão (miniconto)




por Rafael Belo

Os urubus rodeavam entregando a localização de algo se decompondo ou talvez ainda vivo, mas com cheiro de morte. Os tucanos queriam meter o bico, gaviões davam rasantes e as corujas piavam assombrosamente... Geila estava tropeçando e com a pele toda queimada. Suas roupas puídas quando não rasgadas estavam coladas nas feridas e no suor. Olhando os movimentos de uma vista aérea, qualquer um diria ser um zumbi.  Demorando mais um pouco, alguém diria ter vistos olhos vidrados brancos mortos e arrastando a perna direita.

Eu deveria ter me matado. Mas, qual tipo de vingança eu teria cometido terminando em suicídio? Não sou covarde. Não. Nada me faria me matar... Matei sim e mataria de novo. Pelo menos sei quem eu sou. Sou ruim? Pode ser. Sei que vou responder por isso em algum inferno me aguardando, mas não vou acelerar a punição da minha alma... Já não a tenho. Não posso provar a venda a não ser por esta marca de total ausência de cores se espalhando dia após dia... Mas, antes disso eu já era “incomum”.

E estes pássaros? Eles têm uma comunicação entre eles. Te garanto. Eu os matava quando ainda era criança. Mas, só estes que agora me perseguem. Estas feridas são um oferecimento deles... Eles tentam me comer viva há tempos... Juntava as asas deles para tentar voar? Não. Eu dizia que eu matava até anjos caídos. Meus pais diziam ser uma fase... Isso até eles perderem o jogo quando a fase ficou difícil demais para a mentezinha pequena deles. Eles não tinham fotos minhas e nunca me falaram do meu nascimento. Bem, até ser tarde demais...

Não me delicio com os rostos se contorcendo de dor nem utilizo armas no meu próprio punho. Sou descolada demais para isso, não me atenho aos detalhes nem quando sonho com minhas obras tentando me assombrar. Todo mundo querendo achar tanta violência ser consequência de... Mas, não! Ela sempre existiu. Nem sempre fui Geila. Quando fui Lilith me deliciava com os detalhes, com os pecados... Nem me lembro de quantos infernos foram isso. Inferno mesmo é ter que nascer de novo e tentarem me fazer uma alma boa... Sendo que nunca tive uma... Hoje prefiro atear fogo, estourar bombas e controlar sistemas tecnológicos inteiros. São mais pessoas mortas como pouca energia gasta. 

Agora não consigo me levantar. Será que meus órgãos vão se regenerar e eu vou ter que caminhar neste sol deste mesmo jeito pela eternidade? Não poderia ser só o fígado como Prometeu? Pelo menos me mandem um Hércules mesmo eu não tendo perdão.

terça-feira, outubro 24, 2017

boiando






os talheres estrindem nos pratos sujos da pia
range o corpo como a casa contraindo dilatando autonomia
mais anarquia nem é mais novidade na cidade que se degladia
qual pássaro você é quando perde suas asas no meio do voo da miopia?

a disritmia da tempestade arranha com galhos secos a janela
fazendo fobias fenomenais raios cortando celestias olhos em tela
escapa a alma pelo caos da boca aberta desperta o alerta da destopia

tramam traumas traços insurrectos daquilo feito pelas traças de nós
sós nesta insurreição do fim do mundo a todo segundo que animal devora esta carne podre?

sobre várias mortes nossas boiam os rios que não mergulhamos e ao final do dia tudo esvazia para onde vamos?


+ às 11h39, Rafael Belo, terça, 24 de outubro de 2017+

segunda-feira, outubro 23, 2017

Não há novidades




por Rafael Belo

Não há novidades acontecendo no mundo. Morte, histeria, fatalidades e tragédias. O mundo está ao contrário há muito tempo. Não é que a gente não repare, infelizmente é um costume se acostumar. Ando tão em silêncio ouvindo as pessoas reclamarem estarem sós ou da pessoa com elas. Reclamam do país, do emprego, da família, fazem críticas gratuitas aos amigos e conhecidos e falam mal de quem nem conhecem... O botão do pânico se instala e desinstala automaticamente como um vírus indetectável. Assassinatos, vinganças, assaltos, roubos, corrupção e alardeamos o fim do mundo outra vez.

É triste conviver com tantos fatos pesados e a forma de lidar com isso segue só dependendo de nós, mas não mantemos a palavra mesmo assim. Nós mentimos para nós mesmos, descombinamos o certo e desconhecemos nossas prioridades. Estamos flutuando pelo mundo sem objetivo algum sem nem cuidar do lugar onde vivemos. Perdemos. Fomos derrotados por aquela imagem alterada no espelho e nem temos a capacidade de reconhecer. Portanto, nem vamos perceber a necessidade da derrota, da dor transitória... Nós somos o Mal do mundo e poderíamos ser o Bem. Nossos interesses se sobrepõem ao coletivo ironicamente. Já reparou nossa “necessidade” de ser melhor que o outro?

Este ciclo infinito preso no looping de uma montanha-russa sem manutenção formam um padrão de desgraças e horrores atemporais. Basta ligar a televisão, assistir vídeos do youtube, acessar sites de notícias, fuçar nos perfis por aí... Não, né?! Estou equivocado demais. Nós recebemos tudo no whatsapp... Fake news, notícias reais e quaisquer tipos de revoltas rasas armadas de ignorância, intolerância, ódio e desarmadas de conhecimento e argumentos. Tu não achas que isso tudo ajuda a fomentar a situação na qual estamos preservando neste mundo e ainda assim desprezamos?


Tu tens feito algo para mudar a si e, ao menos, o seu redor? Fico pensando nesta tal liberdade onde nos tornamos pássaros, mas qual tipo de pássaros? Aí penso: algumas pessoas são como rios. Nunca passam por nós da mesma forma. Não podemos desperdiçar o mergulho, mas vivemos de desperdícios e desperdiçar. Somos como carniças esperando o urubu nos almoçar, mas também somos o urubu... Neste mundo impossível de desassociar do que consideramos espiritual quem é você, afinal?

sexta-feira, outubro 20, 2017

Primeiro voo (miniconto)






por Rafael Belo

Só percebi o desaparecimento quando me perguntaram. Senti-me iluminar quando percebi. Eu simplesmente disse “obrigada”. Nem respondi. Meu médico não puxava mais minha orelha... Eu sempre ficava irritada. Beirando os oitenta e levando sermão de criança...! Faça-me o favor. Ele nem tinha 30 anos. Mas, tinha razão. Não conte para ele isso. Você ganharia a minha ira. Sou irada... Ah, não usa mais isso, né?! Ok! Sou “A” Mulher... Oi? Sem aspas? A Mulherão da po$#%! Pronto. Essa sou eu.

Dou meus rolês. Sou enxutona. Pára de me corrigir. Por favor. Aff! Gíria nova? Rolê é dos anos 1970, já cantada pelos Novos Mutantes. O que? Aaa! Hummm. Eu tenho o direito de confundir e esquecer... Aliás, Novos Baianos. Satisfeito? Pode me deixar em paz agora? Você vai embora ou vou eu? Biscoitinho? Vovó? Ah, vem aqui seu moleque! Vou pra minha hidro porque quando me convém sou velha mesmo e daí?! Tenho muito orgulho da minha vivência, desta experiência mal disfarçada na minha cara.

Vergonha? Não mais. Nem desta roubalheira toda... Talvez nossa diferença dos outros países seja a idade e não me venha com mais este ou aquele de primeiro mundo porque pode até não ser escancarado, escrachado, a tal cleptocracia escrachada nossa de cada dia, mas tem... Enfim, eu não reclamo da minha vida. Estou viva, não estou? Todo mundo criado e sadio, não está? Filhos, netos, bisnetos e por aí vai. Um dos meus maridos morreu de uma hora para outra e até hoje os médicos não me disseram a causa...


Nem fico triste pela ausência de visitas e os telefonemas... Escassos? Não! Inexistentes. Tem whats e quando precisam saber de algo, ficam sabendo e o mesmo para mim, então... Tristeza mata e ainda não estou pronta para desistir da vida. A consciência é de cada um. Não vou pagar nada para ninguém nem incluir marmanjos e marmanjas formados, assalariados, com família nas minhas viagens. Também não sou obrigada a ficar disponível... Na minha época... Ah, não! Eu disse isso mesmo!? Preciso adiantar minhas viagens. Deixa a hidro para lá vou pegar o primeiro voo para qualquer lugar.

quinta-feira, outubro 19, 2017

Alvorecer solar




todas as gerações tinham ido adiante a própria poeira se foi
nada de síndrome do ninho vazio nem ditado da boiada pelo boi
estas marcas de expressões se escondem até dos olhos o tempo jo soy
el viejo estoy apenas na idade minhas emoções são uma eternidade

da cidade nada mais quero se pareço velho esqueço a aparência espero
desfaço cleros derrubo tetos queimo o presbitério com a legião de rugas
rusgas desintegro minha religião é a liberdade de viajar com minha felicidade a domar

troco minha experiência por goles de dignidade mordidas de respeito
sou sujeito solto sem ser aquele sentado clichê idoso na praça a jogar

meu ar é rarefeito na gravidade do meu próprio sistema solar para puxar meu querer para o realizar.


+ Rafael Belo, às 10h01, quinta-feira, 19 de outubro de 2017 +

quarta-feira, outubro 18, 2017

Maldita frase (miniconto)




por Rafael Belo

Até então, ela não tinha se dado conta da idade. Já era idosa há tempos, mas tudo o que faziam ao seu redor era exaltar a beleza e juventude ainda nela. Só vinham e iam com os típicos “não parece”, “não acredito”, “é verdade?”, mas ainda não tinham chegado ao fatídico: “Quero chegar assim na tua idade, mas não sei se quero ficar velha”... Isso mudaria em pouco tempo. Naquele dia ela tirou as selfies que aprendera a tirar e postar no status do whats, no snapgram e no snap do face, “chocando” os mais jovens...

Não falava de rolês, mas procurava entender. Beirando os 70 anos parecendo 50 ela estava satisfeita com ela mesma, vivia sozinha e lidava bem com a depressão, mas naquele dia não conseguiu acionar o Uber, não conseguiu carona e não teve coragem de ir no carro dela. Queria economizar e, sob o sol do deserto daquela cidade pegando fogo, foi para o ponto. Não queria mexer no celular para não ser assaltada porque ouvira tantos casos... Mas, queria conversar com alguém, então entrou na loja próxima ao ponto, confirmou os horários e quase perdeu o ônibus...

Mas, conseguiu correr com dificuldade atrás do ônibus, fazer aquelas brincadeiras que só quem já viveu de tudo nessa vida não se importa em fazer e sentou (até parece!)... Não! Ela não sentou nem iria sentar. Os olhares no ônibus de focados nela passaram a total ignorância. Ela se tornou invisível instantaneamente. Fingiu não reparar e foi dando indiretas, mas nesta época tecnológica ao extremo, fone de ouvido é item obrigatório como o sono pesado repentino até daqueles sentados em assentos prioritários e poderiam muito bem estar em pé.

De pé e com dores ficou ela. Tentou não ficar com raiva e tagarelava sozinha enquanto centenas de olhos circulavam para todos os lugares onde ela não estava e as bocas se contorciam contrariadas e entediadas. Histórias foram perdidas e resmungos evitados, mas quando o motorista, também de fones, freou bruscamente tarde demais atropelando um gato em fuga que corria de vários cachorros... Todos foram arremessados para a frente do ônibus e o impacto foi dobrado porque quem vinha dirigindo atrás estava tão colado que não viu a luz de freio levantando, assim, a traseira do ônibus. Nem quem estava sentado se segurou...


O ônibus ficou parecendo um pacote de últimas bolachas quebradas e quem ficou – sabe se lá como – por baixo de todos foi a idosa. O remorso foi geral até daqueles tentando não ter nada a ver com a situação. Com a vasta experiência, a idosa sabia fazer um drama, sabia conseguir o que queria e teve sua vingança. Foi mentalmente para a praia semi-selvagem onde gostaria de estar enquanto fingia estar morta e não achou estar pegando pesado até porque - depois de todos questionarem se ela estava morta - acabara de ouvir a maldita frase: “Quero chegar assim na idade dela, mas não sei se quero ficar velha”. 

terça-feira, outubro 17, 2017

Sou gente




quem olha de volta do espelho inteiro enrugado
marcado rosto desta montanha de pele empilhada
a voz está velha a orelha dobrada tudo vai tão devagar
enquanto envelheço sou aquilo que esqueço no tempo passado

já não sou o velho da história irritado nem o avô bonzinho amado
sou indigente parado na fila um encosto para o jovem apressado
uma carga avulsa no ônibus lotado equilibrado nas dores acuado

meu nariz não é meu vive vermelho me sinto o próprio palhaço
espaço desocupado da previdência onde fingem tomar providências

aposento a aparência levo as mãos ao rosto da paciência choro pelo presente inexperiênte tentando gritar... O quanto sou gente.


+ Às 08h42, Rafael Belo, terça-feira, 17 de outubro de 2017 +

segunda-feira, outubro 16, 2017

Envelhecer




por Rafael Belo

Envelhecer é complexo. Não pela idade em si, mas pelo abandono. Você já esteve em um asilo? É triste ver pessoas com uma longa trajetória na vida terminarem ali totalmente carentes e solitárias. Não importa a qualidade do lugar e das pessoas ainda se parece com um depósito de gente. Há lares para idosos com hotéis onde é possível deixar aquele patriarca ou aquela matriarca hospedado enquanto a família vai viajar? Você acredita? Parece não haver dignidade depois da aposentadoria...

Mas, pode ser pior em casa quando se depende de terceiros, quando há maus-tratos, quando o idoso é impossibilitado de fazer qualquer coisa por lesão, deficiência ou limitação da idade. Pode estar tudo na mente, mas qual mente se mantém sã sem incentivos, tratada como um animal de estimação? Abençoados àqueles capazes de serem independentes, àqueles se superando diariamente... Eu convivi com três dos meus avós e pude ouvir e testemunhar a força deles, beber de fonte da experiência, principalmente da minha avó materna um dos principais motivos de eu ter vindo para Campo Grande.

São humanos, óbvio. Nem tudo eram flores. Mas, como se diz ela era uma velhinha porreta que fazia o que bem queria quando queria... Era independente de todas as formas, não precisava pegar ônibus e viajava muito. Animada que era também era turrona. Hoje vejo o desgaste da minha mãe. Tantas coisas ficaram no caminho e querendo ou não ela está sozinha. Não pode ter a mobilidade desejada, mas é muito parecida com minha avó. As preferências já não são suficientes porque não há respeito. O idoso fica horas em pé quando não pode, fica pendurado no ônibus enquanto pessoas mais jovens e mais saudáveis fingem estar tudo bem.


As pessoas sempre tiveram medo de envelhecer e agem como se fosse uma doença ou nem existisse. Não adianta negar. Os idosos são ignorados o máximo possível, os cabelos brancos são arrancados, pintados, as plásticas são divididas no cartão, oferecidas pelo SUS e a indústria cosmética corre contra o tempo para criar antirrugas, antimarcas, colágeno e tudo para retardar o envelhecimento, mas ele chega. A síndrome de Peter Pan pode nunca ser curada, a idade pode ser para sempre negada, a aparência pode ter manutenção diária, mas a velhice vai bater na nossa porta, tocar campainha, interfone, até ter a chave e entrar. Aceite, se respeite, respeite o próximo, curta quem você é e jamais deixe de respeitar os mais velhos. Ah, não esqueça: Todos vamos envelhecer.

sexta-feira, outubro 13, 2017

Amanhã... (miniconto)





por Rafael Belo

Chove lá fora torrencialmente e aqui dentro está tão quente que eu queria reclamar, mas não. Não quero chamar atenção pelos detalhes errados em mim. Não vou desabafar. Não vou fazer textões. Chega disso. Quero mais é deixar para trás. Tudo. Fique tudo lá atrás e não me persiga mais. Quero me livrar deste eu sem encaixe aqui dentro de mim. Precisamos de tão pouco para ser feliz, mas eu gostava dos meus mimimis. Tinham tanto... Tanto reconhecimento sabe?! Era uma repercussão fenomenal. Eu era a rainha dos rolês. Todo mundo colava em mim, mas era tudo falso, né?! Eles só concordavam...

Quero reflexões, puxões de orelha... Pelo Amor! Eu sou dessas!! Demorei pra descobrir? Talvez, mas sou... Ninguém me conhecia de verdade. Mas, a sensação de pseudocelebridade é ótima sem quaisquer responsabilidades. Estes julgamentos constantes me constrangem. Preciso descobrir de qual geração eu sou. Ainda estou perdida, não a geração. Uma geração não se perde, não é?! São os indivíduos que não sabem onde estão, para onde vão e somente existem. Vão existindo, ocupando espaço e, às vezes, nem isso.

Sinto-me uma fuçadora de perfis. Vasculhando, vasculhando... Mas, o que? Tirando pessoas como estou deixando de ser, ninguém fala coisas ruins, nenhum ser fala coisas negativas, posta foto feia se não for tendência, se não for dar audiência, se não for aquilo que quer mostrar. É pra acabar mesmo. Eu bodo com essas coisas. Fico putaça, aí penso: pra quê?! Quero descobrir do que eu fujo, ao invés de bodar. Quero ser meu próprio romance, ao invés de enrolar, joga e jogar e jogar... Ah, vai. Um joguinho dá um UP, dá não? Bem de leve?!

Mas, enfim... Se eu quero mesmo porque não faço? PQP! Por que a gente é assim?! Ah, “Mais uma dose” de Cazuza... “Mais uma dose é claro que eu tô afim. A noite nunca tem fim por que a gente é assim?” Sábio Cazuza viveu e morreu intensamente... Tem gente que o detesta e quem o endeusa. Quer saber?! EU sou minha própria deusa e quero ser a causa da minha morte, não outra pessoa, por isso, vou viver. Não vai resolver eu sair de todas as redes sociais porque só fortalece minha fraqueza. Vou continuar só vou mudar minha atitude. Minha mente é forte e eu vou começar já... Ei! Olha só... Posso começar amanhã?! 

quinta-feira, outubro 12, 2017

pensando músculo





arrepia o metal arranhado na pele fria esburacada
foi só o susto das balas não atiradas dos vermes ainda em gestação
sem saber sobre quem virão qual ser serão ao nascer
a saliva cessa morrem as palavras ao ficarem no passado do tecer

fiam-se fios fabulosos de onde nem linha havia
o tecido da realidade se rasga na maior euforia
bicho-da-seda se renova quando percebe o dia

no chão tudo está misturado até as tecidas asas levarem a língua
lavada à mingua tirando do ar respiro junto com o invísivel deitado neste pulmão
movimento de pulsação expulsa repulsa a afirmação de sermos espasmos dos músculos da imaginação.


+ Às 14h37, Rafael Belo, terça-feira, 10 de outubro de 2017 +

quarta-feira, outubro 11, 2017

Só eu o tenho (miniconto)





por Rafael Belo

Línguas irmãs não se falam preferem o metal ao doce. Diálogos são baladares das ovelhas. Os rebanhos estão soltos nos posts e ao invés de banhos de saliva é sangue escorrendo. Estou morrendo pela boca ou estou muito louca nesta hora do rolê. Será que vou lembrar-me de tudo que eu escrever. Talvez se eu continuar a rimar algo dê... Chegou a tempestade sem umidade, sem água, sem chuva, nem nuvens e eu preciso publicar este sentimento só meu.

Já editei tantas vezes, publiquei outras tantas, ocultei inúmeras vezes e ainda assim hesito - sem êxito - quando quero excluir. Pessoas achando que vou me matar ou matar alguém, pedindo calma, se reconhecendo, tenho piedade, dando pena, me xingando e os haters. Não é nada diferente. Já li coisas parecidas e já postei coisas iguais. Eu sei o que estou fazendo. Não é nada inconsciente. No meu caso, eu preciso de atenção. Planejo tudo do meu jeito. Passo horas nesta imersão. Só peço seu sacrifício e de alguém que queira sacrificar. Não importa! É só dedicar a mim.

Entenda, é minha diversão. Não é por mal. Gosto de ir aos rolês (todos) e causar, mas é difícil chamar a mesma atenção... Entende? Parece que já vivi coisas melhores e nada de bom virá. Por que só eu não posso reclamar? Todo mundo reclama como se fosse um mural da fama twitter e face... Aliás, qual a palavra mesmo? Ah, lástimas. Mural de lástimas. E daí se sou drástica, dramática, performática, não estou roubando ninguém. Só quero parar o tempo para pensar... Não! Péra! Não quero pensar, pois aí sou obrigada a perceber...


Curtidas, comentários, reações... Sou uma deusa e esta é a devoção que me mantém viva. Curtam, curtam, curtam, reajam, reajam, reajam, comentem, comentem, comentem, espalhem, espalhem, espalhem... Ainda me chamam Afrodite e este é o amor para mim hoje. Amo mobiles e a capacidade de distração e imersão das pessoas nestas tecnologias. Esvaziem suas vidas e preencham a minha. Eu tenho todo o tempo do mundo, mas só eu o tenho.

terça-feira, outubro 10, 2017

(re)pulso





desfia-se desfiles de fios solares na dó não sentida nem entoada
a pena apenas paira não se sente mais vai devagar subindo na rede
postada jaz deitada reluzindo alguma coisa qualquer no mal-me-quer
balança entre sopro e outro talvez no jogo ou realmente consolo da dor

há sangue na tela nos dedos na língua sem nenhum homicídio cometido
é ferida aberta voluntariada na atração voltada para o um dia vivido
repetido em detalhes omitidos pelo erro do outro pela perseguição

tocada visão embaçada forçadas lágrimas idolatradas pela invocação
faca cega na mão solitária coletiva emotiva no suicídio da resignação

se não for agora é perdição eterna pululando na tela em acelerada pulsação.


+às 09h13, Rafael Belo, terça-feira, 10 de outubro de 2017+

segunda-feira, outubro 09, 2017

Daqui para frente




por Rafael Belo


Eu vivo me lembrando de Toni Garrido e daquela música da Cidade Negra que diz “você não sabe o quanto caminhei pra chegar até aqui"... Sei que continua aí na sua mente se já a ouviu. Minha lembrança é simplesmente pela necessidade vital das pessoas de contarem o quanto é difícil ser elas, tudo que passaram para chegar até onde chegaram e desta forma exaltam as próprias mazelas, dificuldades e etecétera. Comparam com fulano e ciclano e beltrano, falam da máquina, da sorte e esquecem-se do principal: que chegaram até aqui.

Chegaram e, portanto, tem uma nova oportunidade para não repetir e acabar exaltando as mazelas... A dor, o sofrimento, as marcas, as angústias, os “fracassos” se tornam mais importantes a vitória em si, a conquista adquirida e como está tua vida? Todo mundo passa por coisas ruins. Não é exclusividade de ninguém um coração partido várias vezes, decepções, desilusões, dívidas, mortes, tristezas, erros... São degraus de uma escada que enquanto não aprendermos a subir – e descer - ficaremos parados e passando novamente pelo caminho das pedras.

É um reviver constante do que foi. Há uma espera de compaixão, reconhecimento, curtidas, pedido de ajuda, mimimis, holofotes? Não sei. Qualquer coisa dita é especulação. Cada um tem sua motivação e se a exposição lhe cai bem... Ou se a intenção é uma Indireta direta de direita para nocautear no momento desabafo e dizer exatamente “você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui”... Esta música, “A Estrada”, fala de esforço, de amor, de companheirismo, de fé, de sacrifício, de solução e de mudança sem nenhum lamento.


Então, fico pensando como você age se algo te incomoda... Você é um ditado popular? É uma interpretação? Vamos juntar os dois. Há diversos tipos de ditados populares, falas motivacionais e coisas parecidas apontando a necessidade de não esquecermos nossas origens, mas não entendo isso de forma literal. Vejo mais como um existencialismo. Viemos ao mundo sem nada não importa em qual família nem lugar. Há humildade neste nascer, neste aprendizado constante e curiosidade necessária para não ficarmos acomodados, reclamando, falando mal e julgando até alguém nos ouvir. A gente quer ter razão, mas é só emoção e um monte de desculpas que temos. Vamos seguir nossa própria estrada, de preferência, a construindo daqui para frente.

sexta-feira, outubro 06, 2017

A tempestade não parou (miniconto)





por Rafael Belo

Ninguém conseguia falar nada. Ou era a comprovação visual e audível de um milagre ou só as mídias digitais sabiam quais eram as opiniões. Quais seriam as novas velhas divisões a se formarem de um novo Marco Zero nem se formulou como pergunta. Não havia inquietação nem burburinho. Só o silêncio. Nenhum questionamento surgiu. A polícia não a prendeu por atentado ao pudor. Sei ser incrível, mas ninguém se horrorizou acredite. Este foi o dia profetizado por Raul Seixas, mas ninguém tocou Raul. Só a Terra parou mesmo.

Foi neste dia. O dia em a que a Terra parou. Só eu lembro até agora... Acordei com o ímpeto de acabar com toda essa palhaçada e sei lá... Só comecei a juntar roupas, peças íntimas, calçados e carreguei aos poucos até a praça central. Não sabia ser possível ter tantas roupas e insistir não ter... Nova nunca tem. Repetida sempre... O dia começou a silenciar. Era uma sexta-feira. Outras pessoas simplesmente começaram a me imitar... a pilha cresceu... Parecia com nossa expressão para os poderes: uma trouxa imensa...

Nem fui eu a responsável pelo álcool. Juro! Procure... Deixa quieto. Não vai achar. Esqueça. Só pode acreditar em mim ou não. Enfim, o rolê ficou mais tenso sem tensão nenhuma porque o fogo também não fui eu quem iniciei. Sou responsável apenas por começar a levar roupas e de subitamente me despir com tanta naturalidade a ponto de todos fazerem o mesmo. Procurei não me assustar com esta força tamanha... Este movimento nudista sem razão. Nudista da emoção? Bem, tudo realmente estava parado quando a multidão se aproximou daquilo a representando: uma imensa trouxa.


Será impossível... Aliás, seria impossível dizer quem jogou o isqueiro aceso... Mas, naquele momento parecíamos estar no meio de uma escuridão densa e, metamorfoseados em insetos, corrêssemos em direção a uma lâmpada. O calor começou a chamuscar pelos e peles. Aquele odor de humano queimado aliado ao suor fez as pessoas se afastarem, porém só até um ponto onde o calor não as abrasava. Todos nus sem perceber. Então, houve um clarão e um temporal começou. A tempestade não parou até agora.

quinta-feira, outubro 05, 2017

estoque




correndo no asfalto salto despido buracos fabricados instantaneamente
esfolo meu corpo ralando meu peito profundamente visto a mente
meu apelido é explícito nesta pornográfica corrupção indecente

tudo é aparente raso nos olhares sem profundo
afundo na superfície como um abuso absoluto
luto para desafogar de tanta gente no altar
exaltar sou insano profano manto rasgado sob o zelo sagrado

há um estralo estalo no cheiro do ralo do banheiro
tomo banho de roupas trouxas estou nu por inteiro

sacode meu corpo explode o torto toque tocado nesta nudez vestida de olhar.


+ às 10h37, Rafael Belo, quinta-feira, 05 de outubro de 2017 +

quarta-feira, outubro 04, 2017

Paro de pensar (miniconto)






Por Rafael Belo

Eu viajei. Estou longe para ver se me livro de tantos eus me expondo na exposição diária. Ontem, até ri da piada do idoso mostrando seu genital para crianças na praça e disseram que, se fosse em um museu, a arte valeria milhões... Hoje não rio mais. Estou transbordando posicionamentos favoráveis, contra e o que eu quero é não pensar. Mas, isso tanto me incomoda. Arte não é só coisa bonitinha é transgressão, choque, fomento, reflexão e incômodo. Ah, mas criança com o tal do nu artístico lá no museu... Sei lá...

Pedofilia? Incentivo? Arte? Quanto à criança entende? Prefiro não pensar. Estou soterrada de mim aqui, mas há uma paisagem refletindo do meu ser. Você também vê? Mas essa sou eu ou é você? Quem sabe seja eu te saudando e você me saudando de volta... Não sou hipócrita já choquei bastante, me libertei desta vida vulgar há muito tempo... Mas, tudo cansa e vim aqui descansar... De mim.  Deixar-me aqui um pouco. Absorvo muitos socos agora, mais do que desferí-los ensandecida.

Neste lugar virgem eu me pertenço mais. Não tenho que me preocupar com pudores, atentados ao pudor, com convenções sociais... Sou bem mais eu em qualquer parte. A naturalização dos corpos não combina com nossa sociedade pseudo-livre porque ninguém é ensinado a nada a não ser conquistar postos, cargos, carros, casas, esposas, maridos... E a se descobrir? Nada. Será que só eu penso assim? Não quero ninguém pensando igual, gosto de estar perto do diferente... No entanto, a linha é tão tênue tensa como a mais aguda das cordas da execução clássica de um violino.


Ao som da natureza neste lugar onde só eu estou, tenho tanto calor e despudor que não consigo enxergar a fragilidade ou a tal vulgaridade da nudez. Nada é permanente. Alguém entende isso? Provocar é obrigar a pensar, a enxergar...? Eu me obrigo sempre e este é meu abrigo. Chego aqui e me adentro na mata selvagem. Escalo, nado, abro espaço para chegar... Vejo a graça só quando é difícil chegar e o valor vem em cada passo. Agora danço com o vento me desfazendo, refazendo... Escoteira faço fogueira com pedras e galhos. Queimo roupas íntimas, agasalhos e sem querer a pele... Ou melhor, só o cheiro de pelo queimado, quase um susto com a fumacinha subindo para a lua a uma ínfima fatia de ficar cheia. Deito entre a praia e a mata a olhando. Então, paro de pensar.

terça-feira, outubro 03, 2017

degradantes



as roupas estão espalhadas pelo furacão do corpo
a vergonha exposta como amostra grátis do julgamento
mente confinada no confinamento parte da contravenção
sem flagrante quando o degradante ganha holofotes da televisão

carne fraca oculta na desculpa de uma excitação descontrolada
a quem servem leis raciocínios do homo sapiens se animais são as bestas que controlam a pele desabitada?
desejo latente se corta com atos coerentes da sociedade totalmente segmentada

há tantas lâminas afiadas na naturalização dos corpos cortando todos
na nudez desafiada incentivada o gume da exposição vive na indecisão se é tabu ou não

estamos sangrando até nos esvair quem estamos criando qual legado estamos deixando na população criminosa a qual juntos vamos cair?


+Rafael Belo, às 08h43, terça-feira, 03 de outubro de 2017+