quarta-feira, dezembro 11, 2019

o padecer









a insignificância coletiva
individualmente divide o indivisível
fragmentado pela chuva da cidade
a mediocridade nos toma passiva
mastiga a tortura da nossa falsa retidão

barreiras das ilhas separadas chamadas eu
cercada de inundações
presa por pressentimentos ressentimentos armazenados no coração

enquanto a chuva continua no ensolarado dia
diminuímos derrotados ao fim da noite

de joelhos padeço ensurdecido pelo dobrar dos sinos e pergunto o porquê ambos se dobram.

+Rafael Belo, às 07h46, quarta-feira, 11 de dezembro de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, dezembro 09, 2019

Escute o dobrar dos sinos









por Rafael Belo

Olhando a cidade pelas gotas da chuva desta manhã, o individualismo e o egoísmo seguem triunfantes ao volante. Não há zelo nem atenção fora de si. Os veículos são armas piores. Revólveres, facas e outros instrumentos utilizados pelas pessoas com finalidades mortais, matam menos se comparadas a motos, carros, ônibus e caminhões.

São as pessoas o problema. Aliás a educação e a prioridade delas. O importante é chegar não importa os meios para isso. A todo custo a vantagem e a razão ocupam espaço por uma competição inexistente para chegar em primeiro lugar. Uns contra os outros e o indivíduo por si só. É um mundo solitário reagir sem pensar, competir sem ganhar…

Nestes descaminhos, nesta falta de escolha de caminho, neste seguir a maré, as linhas tortas não são vistas como futuras retas. É o presente imediato inconsequente raivoso o dono da mente. As consequências são ignoradas e todas as conexões desfeitas, ficam avulsas para qualquer necessidade. É uma total desconexão aliada a antipatia.

Logo pela manhã ao invés de desejar um bom dia e prosperidade nem sequer olhar o outro olhamos. O poeta pregador inglês, John Donne bem sabia entre 1590 e 1632 sobre a coletividade se sobrepor a individualidade, mas não apagá-la. Pelo contrário, agregar a qualidade individual a necessidade do coletivo é nossa sobrevivência. Então, todos nós somos importantes e precisamos dar a desimportância na medida para esse caos dominante se dissipar. Para crescer e evoluir precisamos ouvir, agir e nos conectar. Como disse John Donne: "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso, não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."  Somos parte necessária do Todo. Não há insignificância em nós, mesmo agindo e reagindo com insignificância. 

sexta-feira, dezembro 06, 2019

Não olhes nos olhos (miniconto)








por Rafael Belo

A lei proibia utilizar a visão. Não era permitido olhar o outro, mas a pior punição era olhar nos olhos. Era a morte certa. Bem… Aconteceram algumas exceções no decorrer da história. Até há um mito dos heróis. Bom… São dois mitos ou três… Não sei bem se misturei tudo, porém assim devo ter feito.  Acabei criando um terceiro mito. Alguns se cegaram e outros sobreviveram às torturas atemporais, onde por último eram arrancados os olhos. 

Desver era o procedimento mais doloroso de todos os universos. Havia formas de fazer gratuitamente, mas nunca era rápido o bastante. Pagar era dívida eterna… Então, era arcar com os atos. Porém, os mitos apareceram ou já estavam por aí… Como saberíamos se andamos com difusores oculares e cabeças baixas? Apareceram e sabotaram o procedimento de Desver. Foi quando tudo ficou mais assustador. O Governo vivia do Desver. Era a principal fonte de renda legal e Os Mitos revelaram todo o esquema. O Esquema das Promessas. O Governo agiu rápido, mas não acreditava ter Os Mitos em todos os seus tentáculos. Como enxergar isso?

Não era permitido enxergar bem nada nem ninguém. Como identificar… Tudo bem. É possível. Se você não tiver preguiça e ouvir, praticamente, tudo é possível. Hoje enxerga mais quem não vê. Os Mitos nunca permitiriam serem desrespeitados e, lembrando bem, há alguns deles olhando de verdade. Eles se infiltraram em todos os meios…

Como cego mesmo é quem vê… Eles estão agindo em duas frentes: Os Mitos e os Desvistos. A guerrilha atuando em enfrentamentos e sabotagens. Os Eleitos. Estes são os antigos espiões duplos. Eles financiam as duas frentes. Então, no final somos maioria. Eu estou deixando isso na nuvem com todos os procedimentos necessários para a sobrevivência de quem restou. Todos os arquivos estão neste sistema arcaico em todas as versões de mídia. Vocês podem acessar… Se encontraram todo o meu material, claro que já sabem e, meu plano funcionou perfeitamente. Sobraram poucos bons de verdade. Aqueles que agem! Estes só são conhecidos porque não é permitido mais cortar línguas e mãos. Espero que vocês sejam o suficiente e saibam trabalhar em todas as frentes. Não lhes direi boa sorte e nem saudações religiosas, muito menos discursos motivadores. É a liberdade de vocês. Só peço para pensarem bem antes de estarem todos no mesmo lugar. Afinal, todos os passados, presentes e futuros dependem de vocês… Façam como quiserem, mas espero que já estejam avançando e prestando atenção aos sinais Encontrem-me! 

quarta-feira, dezembro 04, 2019

dessaberes








não olhe nos meus olhos
mas me olhe outra vez
respeite o que não faz ideia
para me olhar em dessaberes

dissabores misturados a tudo que não saberás
mesmo assim respeite sem saber
para poder pensar em olhar

olhará nos meus olhos
ainda que eu não saiba de tudo
sei que não saberei

nos olhamos despidos não das vestes a nos cobrir 
nosso olhar nu só não vestirá mais julgamentos e saberes do outro.

+às 07h40, Rafael Belo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, dezembro 02, 2019

Olhar outra vez












por Rafael Belo

A vida é feita de impulsos e tons. Force-se a parar e enxergar. Sinta seu próprio pulso pronto. Estamos pulsando no nosso tempo, mas como está ao redor? Você já deve ter pensado, mas já parou para pensar? Um tom errado e toda a intenção depositada na fala lançada vira palavras ao vento. O impulso mal calculado pode ter sequelas ou resultar no fim antecipado. "É a vida", diríamos preguiçosos, acomodados e cansados. Porém, se prestarmos atenção, a nossa correria enchendo nossa boca para continuar afirmando nossa falta de tempo é total distração dos fatos da realidade.

Distração escolhida e nos cegando em uma rotina massiva acelerada cultivando ansiedades e sensibilidade quando algo nos afeta diretamente. Diria afeta o eu. Afirmo machucar a primeira pessoa. O distanciamento acaba quando não terceirizamos nem pluralizarmos tudo. É pessoal mesmo se não for. Aquele defeito, aquela grosseria chegando aos nossos ouvidos, vindo a público sem o nosso consentimento em um reflexo egoísta nós magoa, nos chateia porque não somos esta fortaleza que vendemos. Isto é só mais uma imagem. 

Precisamos ser sinceros com quem fica com a gente o tempo todo. A honestidade com aquela imagem no espelho precisa vir em primeiro lugar seguindo quem está disposto a estar com muito além desta imagem, deste reflexo. Isto porque tudo fora do que chamamos de eu é reflexo, uma simples palidez da veracidade, umas pitadas da realidade vista pelos nossos olhos. Quem o outro é. O que o outro sente. Todos os obstáculos e quedas corresponsáveis por esta pessoa estar aqui, agora é só dela. Os efeitos e reações são particulares. Por isso, a palavra respeito vem em primeiro lugar.

Não só como palavra mas como ação. Toda reação deve também respeitar e considerar pessoas e lugares, primeiramente. Respeito vem do latim respectus significando ação de olhar para trás. Olhar uma segunda vez. Eu vejo como não emitir opinião, julgamento sobre ninguém já no primeiro contato e em todos os seguintes. É simplesmente considerar o outro e os efeitos de qualquer coisa emitida por nós sobre o outro e sobre o ambiente onde estamos. Ando errando bastante ainda e desrespeitando pessoas e ambientes, mas cada vez menos. Se realmente respeitássemos uns aos outros e lugares, coisas ruins e más não teriam vez, o mundo não estaria devastado socioambiental e sentimentalmente. Assim espero que cada um de nós seja além de impulsos e tons.