sexta-feira, março 22, 2019

Cansada de fazer a fina (miniconto)







por Rafael Belo

Eu estou cansada de fazer a fina. Vocês são gente como eu me criticando por eu ser eu... Entendem?! Soltaram minha mão em algum momento ou será que nunca a tinham segurado de verdade até agora?! Prefiro olhar pra frente… O problema, queridas, é o imperialismo do machismo! Sim, meu bem, minha maior Beleza é minha inteligência, mesmo o julgamento do preconceito ser apenas estético.

Meu coração foi restaurado e depois de tudo que passei… Ainda sou maltratada e condenada por vocês. Isso mesmo, princesa, grava tudo. Eu sou feliz com minha independência e o tempo é tão ligado a mim que sei que é uma mulher. O problema é esta falta de empatia e de cuidar, primeiramente, da própria vida. Tenho problemas com toques sem consentimento e dificilmente permito.

Mas além desta invasão dentro do falso moralismo e total desconhecimento, há a falsa sensação de poder ao inventarem sobre mim. E vocês sabem exatamente quem são. Já tenho que fazer a fina e sorrir dizendo ter namorado, mas só o respeito poderia resolver esta situação constrangedora e de assédio.

Só para constar: não sempre será não! Onde encontro minha paz so interessa a mim e a quem eu quiser que interesse. Não adianta nada tantos sorrisos falsos cheios de segundas intenções e este bando de elogios vazios direcionados para terceiras intenções. Gravou tudo, amorzinho?! Eu volto apenas a falar quando você for notificado… Aliás, todos vocês homens hipócritas, machistas e cretinos. Espero que sejam todos intimados e presos por violarem o espaço e tempo de nós, mulheres. Arrasou! Vamos fazer outra denúncia agora, aqui no: “Homens são de Plutão e Plutão nem é um planeta”.

quinta-feira, março 21, 2019

deseducado




a mão assediou o ouvido
assediado pelas sensações de invasão
travou um falso sorriso na segunda intenção
terceirizando os crimes pessoais passivos

participando no absurdo do natural
agredir o outro em pleno desconforto
torto na hora de demonstrar respeito

sujeito a todas as leis reconhecidas
indigestas na hora de se educar

neste radar reconhecendo faces as fases vivem de retardar.
+Rafael Belo, às 14h15, quarta-feira, 21 de março, Campo Grande-MS

segunda-feira, março 18, 2019

Demonstre respeito





por Rafael Belo

Eu tento não me irritar com a hipocrisia, tento achar comum, mas não consigo. Ainda mais quando ela resulta em tratar o ser humano como um pedaço de carne em exposição em quaisquer vitrines e se constrói uma muralha de respostas vazias para justificar os próprios atos enquanto condena os atos alheios. Não se engane! É assédio quando alguém age e diz algo desconfortável para você. É ofensivo e extremamente desrespeitoso! A sociedade sexual só sabe agir com violência e julgamentos que, infelizmente, terminam em crimes traumáticos, brutais e fatais. Exala o sentimento de posse e de censura. A pessoa é livre para vestir o que quiser e assim o é o corpo. Este é o mesmo corpo vendido com todo tipo de produtos e músicas, como satisfação do outro.

Em uma sociedade que desvaloriza o trabalho do outro, desvaloriza a opinião do outro e desvaloriza o outro quando foge da expectativa dela ou do indivíduo dotado apenas de poder aquisitivo, o que se pode esperar? Quando uma mulher é considerada bonita todo comentário infeliz é feito e classificado como elogio. A pessoa se acha no direito de fazer convites totalmente inadequados porque é uma animal irracional incapaz de se conter. Viola qualquer tipo de sensatez para tentar toque, visualizar partes íntimas, forçar beijos e relações sexuais. A mesma forma propagada na antiguidade quando as invasões aconteciam por posses, domínio, escravidão e poder. Este tipo de machismo segue condenado e imperando, basta ver os números alarmantes de assassinatos de mulheres e todos os gêneros diferentes da heterossexualidade. Mas, este comportamento também é reproduzido nestes tão diversos gêneros.

Não é de hoje que as pessoas não só querem se meter nas vidas umas das outras como inventam coisas absurdas e praticam ato revoltantes. Chegamos a um patamar de arrogância tão elevado que a Mulher não pode simplesmente não querer o outro, ela precisa justificar e até dizer estar namorando e esta pessoa, a qual se relaciona, está ali no momento. As teorias de igualdade são belas palavras, mas na prática segue todo tipo de assédio. Propostas ridículas para pegar na mão, para um beijo, para ver as partes íntimas, para sair, para fingir, para sexo…  Há contradição e interesse humilhando muita gente que se submete pela necessidade, pelo dinheiro, pelo poder, mas é a escolha de cada um diante de tanta gente repleta de falso moralismo e incapaz de estender a mão e de emprestar o ouvido.

Como é possível em um mundo dito tão evoluído a desconfiança, a insegurança e o medo serem os sentimentos mais comuns entre as mulheres e as pessoas que praticam seus posicionamentos de gênero naturais para elas? É inadmissível a liberdade, a autenticidade e a coragem do outro ser ele mesmo incomodar. Quanta covardia cabe em um só ser humano só fugindo de todos os preceitos básicos da convivência e de qualquer prática real religiosa e ainda assim usando estes como máscaras diárias para julgar o próximo, para avaliar vestes, o que é nudez, o que é perversão e insistir na segmentação, na divisão e no isolamento baseado nas próprias vontades? Fingir, mentir, enganar, ignorar não resolvem problema nenhum apenas permitem o acúmulo e o cúmulo de piorar. Não seja conveniente com o coleguinha nem conivente com o assédio disfarçado de elogio, chega de inconveniências. Na dúvida aja e demonstre respeito.

sexta-feira, março 15, 2019

monstro roxo de olhos verdes (miniconto)





por Rafael Belo

Só haviam marcas roxas e olhos verdes. Eu tremia em um canto. Faltava luz. Mesmo assim aquele brilho pesado tentava fazer eu me sentir mal. Eu não acreditava em monstros. Eles não acreditavam em mim. Mas, não da mesma forma. Eles queriam me eliminar da existência. Roubavam minha energia. Sugavam minha alma. Eu era fonte infinita de alimentação deles. Foi assim que chegamos aqui onde estou. Neste cárcere.

Presa aqui eles tentavam minar minha motivação. Minha vida parecia ir pelos vãos criados por eles. Eles me enchiam de dúvidas, de raiva e eu só reclamava. Sentia nada mais dar certo. Estava parando de acreditar. Eu quase não acreditava mais em mim. Quando repensei cada passo, percebi. Eu atraia os monstros porque eu era o sol. Eu era a luz. Assim que esta fagulha se reacendeu em mim. Os monstros conseguiram me apavorar até aqui.

Eles não são monstros. São insetos e vão atrás da luz para tentar se entenderem, para se preencherem, para buscar um sentido e acabam se perdendo. Perdidos não fazem ideia de nada, se transformam em… Monstros. Mas é só aparência. Refletindo eu voltei a brilhar. Ao invés de cegar os monstros, eles voltaram a se encontrar. Não todos, claro. A claridade tem um caminho pessoal e um tempo particular. É do privado para o coletivo, não ao contrário.

Ser sol no próprio caminho é um caminho a parte. Muitos já caminharam por ele, mas ele é como um rio onde as águas nunca são as mesmas. Os monstros ainda surgem, mas não me atingem mais, eu compreendi do que são feitos e porque são desfeitos. Este monstro roxo de olhos verdes segue, stalkeia, finge e espalha falsidade e pode até estar no espelho, tentando sobreviver se alimentando da luz do outro, mas vive morrendo por dentro.

quarta-feira, março 13, 2019

escorrendo






Está tudo verde até ficar roxo
o monstro nos cerca louco
morto querendo viver por nós
na vontade de nos tirar do meio

é o fim da ausência de começos
só cópias e desejos venenosos
envenenando corações perdidos

cegos arroxeados no amarelado olhar
não tem lar nem qualquer rumo

quer comprar em demolição onde moramos desfrutar dos frutos sem saber seu real sabor salivando.

+Rafael Belo, às 12h15, terça-feira, 12 de março de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, março 11, 2019

Não alimente o monstro





por Rafael Belo

Ando em silêncio e a passos leves quase flutuantes. Há famílias inteiras de monstros dos olhos esverdeados proliferando como ratos de esgotos e coelhos selvagens. Antenados, mal-intencionados, querendo difamar, humilhar, tomar para si ou, pior, apenas que o outro não tenha. Há tanta gente verde de inveja espreitando, stalkeando que proteção nunca é demais.

Não se distanciou tanto da sua origem latina invidere (não ver)  ao se entregar para a cobiça, mas não ver no sentido de deixar de enxergar que com empenho e honestidade é possível chegar a qualquer parte. As pessoas não veem o peso e acúmulo de energia negativa emanando delas para impregnar o objeto invejado, o objeto de desejo… Já que todos fomos objetizados.

Sendo objetivo. Não há inveja branca ou de qualquer outra cor. Ela é verde ranço, verde, imaturo e a expressão “verde de inveja” tem origem na obra de William Shakespeare. Othello, the Moor oficial Venice ( Otelo, o Mouro de Veneza). Ao invés, do ser humano apoiar, incentivar, parabenizar as conquistas do próximo, do amigo, da família… Questiona, minoriza, inferioriza, adquire raiva, desistimula e depois reclama. Além de reclamar do motivo da própria vida estar seja lá como.

Ainda assim acredito em pedir todas as proteções possíveis espirituais, sobrenaturais, todas as medidas protetivas e mudar do país seja a solução… Quer dizer… Não! Brincadeira! Tenho esperança no ser humano. Ainda há muitas pessoas ficando feliz com o sucesso alheio, se inspirando em pessoas que se destacam por serem elas mesmas e realizarem seus sonhos. É possível derrotar o monstro de olhos verdes nos perseguindo e aquele dentro de nós. Basta não alimentar este animal e cuidar, antes de mais nada, da própria saúde mental.

sexta-feira, março 08, 2019

Sob o olhar dela (miniconto)





por Rafael Belo

Aquela correria do dia ainda acordava quando ela já estava no terceiro compromisso da manhã. Ela representa não só as negras, mas todas a mulheres… Tão fortes e únicas com aquela inteligência de cabeça erguida. Mas neste dia os planos dela reverenciavam algo que a mente não pode sequer conceber. As convergências cósmicas se ajoelharam diante dela. Ela olhando com o negro olhar intenso, vestida do seu Ébano esculpido pelas estrelas, flutuou.

Naquele momento toda a Alma dela a estava vestindo. Todos os poderes irradiando nem a deixavam mais tocar o chão. Uma heroína diária. Seu próprio sol. Seu próprio sistema solar. Sendo órbita particular há muito já tinha decido atrair só a evolução para si. Com um simples sorriso sincero sacrificou barreiras, mentiras, machismo e cada preconceito tentando fazer a inveja abalar a recém descoberta Deusa que é.

Estava tão repleta da energia inexplicável criadora de tudo que chorou Alegria. Aquelas lágrimas sorridentes eram declaração da maior independência jamais vista: a liberdade de ser quem quiser. Vestida de si fez todos caírem antes sequer de se aproximar dela. É a arrebatação e a ausência temporal. Todo lixo humano causador de violência foi virado do avesso com cada osso quebrado e se extinguiu pelo odor da própria podridão.

Não havia reparado estar no Centro de todos os universos, mas todos os seres a viam. Desceu em excelsa energia transbordando naquelas se sentindo ali, na Deusa, e preenchendo aquelas ainda com vazios a pressionando. Aqueles presos no olhar dela sentiram o coração expandir em um oceano novo de águas infinitas. Mas, ainda com tanto poder e autenticidade algumas sobras de lixo seguiriam com negação e destruição sobre diversas máscaras. Porém, sob o intenso olhar dela será só conquista.

quarta-feira, março 06, 2019

Nosso esporte





é uma luta em dobro o dobrado do dia
a pele dourada do negro brilha
com o suor misturados às lágrimas
retroativas dos retrocessos escritos em sangue


dores em anexos resilientes no olhar
não permitem as correntes prenderem
a desimportância de nos ofenderem


referências punhos erguidos bandeiras
ignorando todas as rasteiras do preconceito


o eu me aceito é mais forte
a volta por cima é nosso esporte.

+Rafael Belo, às 14h14, quarta-feira, 06 de março de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, março 04, 2019

desunião diária





por Rafael Belo

Acabei de ouvir no filme “O Menino que Descobriu o Vento” que a Democracia é igual mandioca importada: apodrece rápido. O olhar de quem não é negro - sobre o negro - segue o mesmo processo. Tudo está podre e mais uma vez vivemos em um ciclo de retrocesso. A representatividade tão reduzida em um Brasil onde mais da metade da população é negra mostra o pensamento dos governantes que tivemos até aqui. Ignorando totalmente a fachada de democracia (do grego antigo “governo do povo”).

Onde está o povo? Não  adianta dizer que cota é mimimi. Não é! Nunca será! É uma tentativa falha de pagar a dívida com os africanos, e nós descendentes, por toda a destruição feita aliada a escravidão. Hoje ainda há pessoas discriminadas pelo simples fato de serem negras e pessoas se achando no direito de ofender alguém que já sofreu abuso racial. O olhar preciso e intenso do negro só é visto por ele mesmo, quem não vive esta realidade só consegue ser solidário e apoiar em lutas pela igualdade, além de se posicionar contra esta segmentação cruel.

Mas como na África, onde muitas guerras  aconteciam para escravizar os derrotados desde os primórdios, aqui quem sofre diariamente de desconfianças e ofensas revoltantes, também é capaz de tratar os irmãos com pedradas e segmentação ao invés de estender a mão, conversar, ajudar a esclarecer ou simplesmente apoiar. Um amigo novo me relatou coisas absurdas onde o condenaram por tentar algo relacionado com representatividade e união. Pela fala dele eu vi o que li em “O Destino da África - cinco mil anos de ganância e desafios”. Vi a desunião.

No livro Malawi está presente, que é onde  acontece o filme citado no início. Este filme, baseado em uma história real se passa no país de Malawi, no continente africano. Malawi vem do nianja (língua original local, mas a lingua nacional é  o Chewa, mesmo com a língua oficial sendo inglês) e significa “o sol nascente”. Há 50 ou 60 mil anos, o primeiro ser humano habitou a região e os exploradores só chegaram por lá no século XVI. A partir daí milhares de habitantes locais foram escravizados e mandados para outros continentes, a maioria sempre morria no caminho.

Mesmo com as missões escocesas, que converteram chefes e reis para assim toda a população se converter ao cristianismo, elas também tentaram acabar com a escravidão, mas o tráfico de escravos seguiu até o fim do século XIX. Toda a África foi invadida, teve a cultura renegada e explorada, principalmente, por portugueses, ingleses e espanhóis. Eles descobriram que o mais lucrativo comércio era de pessoas seja em xhosa, zulu ou algum dos outros nove idiomas nativos sobreviventes. Ou seja, convém a quem está no poder o manter e o mantém com dinheiro e poder recheados a ganância, a discórdia e a desunião dos negros e toda a maioria levada a crer ser minoria.

sexta-feira, março 01, 2019

Esqueço-me e sou você (miniconto)







por Rafael Belo


Eu sou uma deusa, aliás, Deusa. Maiúscula. Mas faço questão de esquecer para me misturar. Eu evoco imediatamente Liberdade e Saudade. Nasci do Dia e da Noite quando estes ainda eram uma só coisa estendida no universo deste planeta. Sou ambos e assim Contraste.

Eu danço libertação e na minha palpitação se ouve o arrebentar de qualquer corrente. Tudo ecoa na mente quando não nasce nela. Eu sou a ação que reverbera e da minha própria estratosfera sou você. Então, nascemos, renascemos em pequenez e imensidão. Sem contradição, só contraste, apenas equilíbrio.

Eu, daqui, deste ponto de mim, influencio todas vocês e as sou também quando retiro tuas almas dos teus corpos pelo álcool… Todos acabam me reverberando, me fazendo própria maré, mas quando bate a ressaca somos inteiras. É aí que a liberdade se reconhece e a saudade segue seu ser. Nestes desencontros vamos de encontro a saudade daquele eu pelo caminho, porém, ao nos vermos nós entendemos. Obedecemos a desobediência social.

Além deste bem e mal estereotipado, padronizado, há dualidade que nem existe. Mas lembramos do medo cultivado em nós para criar falsos papéis, fortalecer a manipulação e se acomodar. Você estão entendendo?! Eu sinto cada uma de vocês. Somos escravas das contas diárias… É vocês fazem exatamente o que gostam. Bom falta força. Vocês estão apenas me imitando e vamos começar de novo, de um falso zero. Falso porque não se apaga tudo que vivemos, se aprende… Enfim, eu sou uma Deusa. Assim mesmo maiúscula. Mas me esqueço para ser você...!