quarta-feira, julho 29, 2020

Caixão do nada







quando a febre sobe no peito
já queimou a pele
ferveu o sexo deixou em cinzas a carne
neste um só do corpo
os sentimentos evaporam
depois de suar pela mente
inquieta com o pulsar veloz do coração
a manipulação da sexualização 
é a animalização das desculpas do ser humano
e nos rasgados panos da própria perdição 
o desperdício dos dons
é a paralisação no caixão do nada.

+-Rafael Belo/*

+às 10h20, quarta-feira, 29 de julho de 2020, Campo Grande-MS+

segunda-feira, julho 27, 2020

O conceito da carne








por Rafael Belo

Temos a mania autodefensiva da comparação e de achar o dono da culpa. Mas, a pior condição do ser humano é o desequilíbrio entre a inveja e o sexo. A sexualização do mundo sempre esteve presente e a música é o espaço onde está de maneira subentendida, nos duplos sentidos e cada vez mais explicitamente. A culpa é do compositor, dos músicos? Não porque está em toda parte: Nos diálogos, nos olhares, na propaganda, na publicidade, nas novelas, nas séries, filmes, nos nossos atos, nos nossos pensamentos… É uma tendência contínua de que sexo é direito, é poder, e que vende mais e da objetificação das pessoas, principalmente da mulher.

Este comportamento animal comum foge da nossa racionalidade e qualquer infração, qualquer crime neste sentido vem com a desculpa pronta: a carne é fraca. A carne é fraca ou não admitimos nossos adultérios, nossos erros, nossas falhas? Nossa hipocrisia é tamanha a ponto de separarmos o corpo entre mente, coração e alma. A carne faz algo sozinha, o coração faz algo solitariamente, a Alma é independente do corpo? A pressão pessoal, social, familiar, religiosa em relação a satisfação sexual coloca o ato como obrigação e desencadeia uma série de desigualdades e violências sob a paternidade do machismo.

Como amar a si mesmo desta forma? Como amamos uns aos outros como a nós mesmos? Nos comportamos como animais seguindo um ciclo de procriação da natureza e da multiplicação bíblica, mas sem entendimento e sem a busca pela compreensão. Falta querer ouvir e dizer a Verdade. Mas temos medo desta liberdade. Vivemos na escuridão e nas desculpas.

Sem a Verdade, não há o Amor. Há desculpas e a divisão inexistente de nós mesmos. Somos um só. Carne, mente e alma. Rejeitamos a responsabilidade dos nossos dons os escondendo em violências, em  vícios, álcool, drogas e qualquer forma de escapar da realidade e das consequências. A fuga da responsabilidade dos nossos dons não fica de graça. Escolher viver na ignorância é escolher a morte. É escolher ignorar que há uma força absoluta maior que o todo esperando nossa decisão para nos salvar.

sexta-feira, julho 24, 2020

Toda dor (miniconto)







por Rafael Belo

Pedi toda tua dor pra mim. Como carregar um ventre que não te pertence? Eu, mulher infértil, como fertilizarei? Busquei na fé tão somente. Li Tuas Palavras apenas procurando minha razão, então, não havia leitura. Era um ruptura desta separação inexistente.

Alma, carne e mente são um só. Porém, os profetas do prazer propagam a satisfação deturpada, limada dos propósitos de Deus. A energia criativa nos habita e a gente confunde com o prazer da carne. É porque nossa cultura assim trouxe, assim nos separou e desta forma nos segmentou em sedentos, obstáculos e resistência enquanto controlamos a própria Essência sussurrando silêncios retumbantes no ouvido do nosso Ser.

Prazer sensorial da carne é limitado aos sentidos e imagens da mente, mas ser obediente a alma e romper estes obstáculos da separação. Não há separação. Somos uno com o todo, mas nossa mente formatada vai errada vagando.

Criando mortes constantes, quando somos vidas abundantes. A própria criação, lar do princípio, o habitar do Jardim do Éden, o próprio sagrado e ser sedmentado em segmentos e justamente jogar estas pedras nesta minha situação. Estou divisão e não tenho que carregar nenhuma dor porque ela é crescimento, basta ler com o coração. Toda dor em mim sem crescimento é fermento de desertificação. Preciso sair deste deserto para compartilhar o cálice do transbordamento em ação.

quarta-feira, julho 22, 2020

Silêncios dos ventos






há perseguições amontoadas nas solidões coletivas
rolando nas ruas vazias como feno de faroestes
e nenhuma leitura real é feita deste livro ao vivo
conversando com a gente em um diálogo inexistente


nos silêncios dos ventos de potências controladas
os sopros podem ser vendavais indigentes
levando a confiança para outros convívios


onde somos indivíduos impotentes
reféns de mãos condicionadas


mas há revoadas nos lendo e batendo as asas 


assumindo que sem acreditar e buscar é ter razão.


+-Rafael Belo/*

+às 15h59, terça-feira, 22 de julho de 2020, Campo Grande-MS+

segunda-feira, julho 20, 2020

Ler é a salvação






por Rafael Belo

Se não fosse minha fé, eu com certeza estaria com medo. Provavelmente na fila dos desesperados gritando e compartilhando fakenews para confirmar minhas teorias, para me dar razões e encher o mundo com imãs de negatividade. Estaria ofegante e babando ódio, cuspindo rancor e inveja. Mas, distribuir o caos instalado e contaminante é fácil. Seguir a onda ou remar contra a maré é convencional, porém, entender o que realmente está acontecendo e realmente se posicionar é raridade. Você já tentou conversar com as pessoas sobre o que está acontecendo?

Dia desses conversando com uma possível líder para organizar as ações das mulheres em uma cidade do interior daqui de Mato Grosso do Sul, percebi de imediato que não daria certo. Não era bola de cristal, vidência, premonição, preconceito… Nada isso. Era pura e simplesmente a falta de diálogo e ausência de democracia presentes nela. Fui desconstruindo por partes. A primeira vinha diretamente atacando minha classe profissional, que além de desunida não possui definição de piso nem teto salarial ou qualquer defesa contundente fora a nota de repúdio. Jornalista, pobres jornalistas.

Ela culpava os jornalistas pela bagunça e ingerência desplanejada de nosso agora. Eu perguntava para ela o porquê dela pensar isso. Ela citou o jornalista e blogueiro Eustáquio que foi preso injustamente, sem provas e que todos o estavam atacando.Enfim, perguntei se havia lido a matéria todo e em quantos locais diferentes ela havia buscado a mesma informação. Ela me respondeu: só li o título. Sabe, toda matéria séria possui mais de uma pessoa envolvida no conteúdo relatado: são vítimas, acusadores, acusados, autoridades, etc. Além, disso há linhas editoriais que cada veículo de comunicação segue e você vem me dizer que só leu o título? A função de um título é chamar a atenção para que toda a matéria seja lida...

Essa postura repercute por todos os extremos hoje apelando para ironias,e ofensas na falta de argumento e diálogo. Falta leitura e vontade para as pessoas. Há preguiça e a busca por estar certo, não por ouvir o outro. Esta ignorância generalizada nos trouxe até aqui. Lembrando que ser ignorante não é uma ofensa é simplesmente não ignorarmos o conhecimento sobre algo específico. Sou ignorante em muitas coisas.  A gente não lê e, assim, não conseguimos absorver de forma clara um título, quanto mais a propagação, da verdadeira meia verdade. 

Nossa fé também se distorce por aí. Há tantas denominações religiosas, proibições e afins, mas se lermos a fonte, a base de tudo saberemos que ali há Amor, causa e consequência e não julgamentos. A fé por si só não salva, ler, reler e agir sim.