quarta-feira, dezembro 24, 2008

_____________________________________
Coletivo das paixões
O ônibus parou já mais cheio do que deveria. O comentário dentro era que quebraria e muitos nomes diferentes para o motorista surgiam. Ele continuava pegando passageiros. Quando estava quase no destino... Quebrou. Não adiantou que eu rezasse e pedisse para as forças do meu não entendimento ajudassem. Antes eu passei pelo primeiro ônibus perdido. Ironicamente estava cheio demais... Me pareceu sarcasmo do destino. Os telefones do meu emprego não me atendiam...

Fiz cara de fazer o quê e fiquei preso dentro do ônibus quente quebrado e no acostamento entre os municípios. Alguns minutos depois chegou o primeiro ônibus salvador (?). Só então, pude perceber a dimensão de “lotação” (que o certo mesmo é cheio, mas...) pela primeira vez olhei para cada um na mesma situação e realmente se fazia uma pequena multidão que não coube tudo neste salvador olhei para todos os lados e... Continuei pensando.

Finalmente, mais alguns minutos depois, chegou aquele que “me” levaria mais algumas centenas de metros até meu destino: a rodoviária. Ao lado dos na mesma situação ouvia as mesmas reclamações enquanto estava em pé antes da catraca no ônibus prestes a quebrar:

- “Não pode”, dizia um.

- “São normas da empresa”, argumentava outro.

- “Tem que pegar todo mundo, mesmo se quebrar. Senão, dá problema para o motorista... Já fui motorista por 30 anos...” silenciava o mesmo outro.

- “Ainda bem que minha mãe ficou com o bebê e o levou no carro. Trazer criança em ônibus é fogo”, mudava de assunto uma terceira.

Sem maldade, fiquei pensando: Por que não foi com sua mãe de carro...? Da rodoviária fui tirar meu pai da forca e subindo a pé as ruas íngremes, costurando o trânsito feito motoqueiro, comecei a raciocinar: “meu” ônibus pára três quadras à frente... Nisso, olhei para trás e o vi. Meu ônibus parando na esquina que acabara de abandonar. O sinal estava fechado para ele e deu tempo para a minha entrada. Ufa! Depois do trabalho sem trabalho, teve reunião que salvou o dia e então o corpo-a-corpo do trabalho. Atrasos em outros compromissos à parte...

No ponto de ônibus ela estava toda de branco. Sentou com sua amiga perto da porta de saída... Lá no fundo. Mais ao fundo à direta, à esquerda de quem caminha de frente, duas mulheres falavam... Não não... Uma! A outra escutava como quem assiste um novelão. Estava em pé de lado e óculos escuros. Olhava, sorria, prestava atenção. Era criança e ainda havia quem gritava no lugar do motorista: “Um passinho para trás... Vai que cabe... Aperta mais um poquinho...” Que mania de diminutivo. É como lidar com criança. Por que não faz uma música...? Só um pouquinho... Pra trás... Pra trás... Naaão!! Disse música, mente ignorante! Nos banco do ônibus, uma ouvinte paciente e ansiosa com a falante do coletivo das paixões. Ex-namorado ciumento recém ex de alguém. Toda empolgada a garota conta que já diziam que não ia durar que ele ia voltar. Parecia que tudo acontecia no presente com ela. Eu estava em casa meu pai me chamou e achei que fosse meu namorado, não era. O cara tentou me agarrar queria um beijo de qualquer jeito, ofereci um abraço. Ele disse que não acreditava que eu estava namorando “desde quando” ficou falando. Há duas semanas (ela disse como se fosse uma eternidade) e ele repetiu: “Não vai dar certo, ele vai voltar com a ex dele. Eles se gostam muito... Daí você vai correr atrás de mim.” Aí percebi que era passado. Parei de olhar de canto de olho sob os óculos escuros, olhei de frente recebi um sorriso e pensei. Coletivo, paixões... Ah, coletivo das paixões. Ela me olhou com um sorriso convidativo, descemos. Eu para um lado e ela para o outro. Adoro o coletivo...
__________________________________

terça-feira, dezembro 23, 2008

Aperto

Corre acelera mais freia faz uma massa o povo
Loucos nem tanto cansados animados querendo o destino imediato
O motorista pára recebe toca em frente e o povo sobe e desce
Balança e quê calor no aperto de gente compacta na lata de rodas
Modas histórias são pessoas rumo às trajetórias no coletivo
Enchido de vidas bifurcadas ligadas por um umbigo social

Se encostam se amassam se juntam e se incompreendem
Enquanto os destinos passam param seguem sem parar
A cidade se movimenta a trancos solavancados a nos segurar
Nos olhos pela janela em algum lugar entre partida e chegada
Sempre entra mais um na massa misturada de todas as diferenças
Conversas silêncios barulhos gritos e relações se formam ou continuam

No som da corda soando o espaço ocupado do ônibus
Mãos se levantam se seguram quando procuram equilíbrio
No trânsito atrasando o ônibus atrasado todos estão em pé no ponto
Acompanhando os minutos a cada segundo talvez no relógio talvez no celular
Mas esperando sem parar o transporte transportar a catraca rodar
Quem sabe quanto tempo dura o vazio de um ônibus lotado...

Lugar para sentar dá o ar no meio da multidão e nem sempre é ocupado
Senta levanta e o sinal fecha e os carros buzinam E o sinal abre e não há lugar
Acena o sinal puxa desce sobe continua anda espera... Chega...
Acelera freia suspira e vai... Até o outro dia.
11h39 – 23.12.08

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Destino dos "Ses"

Fiquei pensando em uma segundona brava destas em tantos “ses” que minha vida mudaria totalmente. Mas aquela segunda não era feira era fera (que trocadilho horrível) me mordeu o dia inteiro e no final não era fim... Não tinha dado certo, afinal (risos). Começou com muitos atrasos, nada que eu mexia funcionava, as coisas no trabalho se enrolando e no começo da noite tomei a chuva que tinha “programado” para tomar de manhã... Era tudo que eu queria... Estava muito calor. Depois fiz treinos forçados e na saída... Chuta... Chuva! Entrevistei um anjo... Na terça. Um artista performático “vestido” de anjo em estátua viva. Ótima história de vida. Mas, voltemos a segunda, os desencontros da noite só aconteceram porque me atrasei em uma reportagem. Bom, não fui eu... Meu gravador (mp4) deu abundância de informação e tive que apagar muitas coisas para repetir a “conversa”... Se cada coisa não tivesse me atrasado à sua maneira não teria me esgotado absurdamente e ficado sem meus treinos de terça, se fosse "à" eles teria sido assaltado...

É o destino dos “ses”! Se não existissem, as coisas não seriam como são, não é? Se eu não tivesse ficado nove meses “sem emprego” teria nascido um desânimo avassalador que eu não saberia criar nem que mudasse de sexo e virasse homossexual (nada a ver)... E o destino oposto? Se tivesse acontecido estaria eu escrevendo o se não tivesse acontecido? Vamos bagunçar a mente mesmo... Em outra segunda (a seguinte da comentada) ia tranquilamente em direção ao ônibus e a um quarteirão ele virava a toda velocidade, pensei perdi... Mas, após a curva algo impedia o ônibus de virar totalmente, o que interditava o trânsito no fluxo por onde eu passaria. Ainda havia uma fila média possibilitando que eu andasse calmamente e entrasse no ônibus e não me atrasasse.

Dentro do ônibus leio e pareço objeto de curiosidade, mas, ninguém pergunta nada... Os pequenos grandes milagres da vida estão conosco todo o tempo ,enquanto acontecemos, eles acontecem... Basta observar e nos dedicar a fazer o que gostamos. E sim há uma conspiração no mundo e é a favor de cada um de nós. Otimismos? Não, percepção. Deixe o olhar atento e sorria, afinal do quê adianta amarrar o rosto, esconder os dentes, rosnar e soltar fogo e fumaça? Estas coisas que não adiantam pesam. Alguém acredita que o quê fazemos e não fazemos dá a volta e se volta contra nós? Acabei parando de me preocupar com coisas banais e rir delas sem sarcasmo, talvez com um pouco de ironia. E não somos nós a própria ironia... Bom, não importam os lugares, importam as pessoas!

domingo, dezembro 14, 2008

___________________________________________

Na distância


Você acorda uma manhã qualquer e... Não, não é uma manhã qualquer, é uma manhã de segunda-feira pegando fogo. Seu fim-de-semana invade a cabeça e tudo que tem vontade é mandar tudo à merda. Muitos egos e “conhecimentos” em uma roda me gera mal estar. A atenção se dispersa e... “O quê estou fazendo aqui?”... Quanta introjação (palavra derivada de introjado que significa mundos egoístas para uma visão de conforto na vida) e clichês mal feitos.

Meu defeito, caro, sou ser eu mesmo. Nando Sincero. Sou eu. Feito o Doug Fane... Introjado? Só invento mundos pré-existentes e para minhas histórias. Detesto regras, elas não me permitem ser. Este fim-de-semana fui calado. Tanta falação desvirtuada me deixou com as costas pesadas. Em um ambiente tão trêmulo que palpável. Ninguém finge perceber ou sentir algo diferente. Mostram seus mundos como únicos (e o são) e verdadeiros (não deixam de ser), mas serão verdade?

Diziam não dizer! Sem conselhos e os davam... Pareciam aceitar tudo que era dito, mas cada olhar dizia ao contrário. “Quero falar”. Devo ter uma visão torta e porque me irrita? Qual a mentira, afinal? Para quem ouve ou para quem diz? Uma luz, por favor! O quê estou fazendo, onde estou? Viro as costas e me disperso. Bebo litros de água, suco e em todo lugar dizem as mesmas babaquices homossexuais. Ô “vida louca”!

Nenhum homossexual por perto e a conversa imita trejeitos. Imbecilidade comum entre homens, mas e quando parte das mulheres... “A mesma vida tudo sempre igual”! Sou extraterrestre, me tirem daqui. Chega!

- EI, VOCÊS!, ele grita com um sorriso de raiva enquanto todos se viram imediatamente.

- “Caros”, Juízes, advogados e júris. Que merda vocês estão fazendo? Que porra de idade vocês têm?, encarando cada olhar perdido perplexo e se auto-desculpando internamente pelos palavrões.

(silêncios trocados em olhares)

Nada na cabeça deles a não ser egos e álcool. Se divirta diziam. Se divertir é se embebedar, vai se foder (me desculpe a mim mesmo). Me irrita a alma tremendo o corpo querer ser igual mostrando ser diferente...

- Todos assim serão infelizes... Ninguém escuta de verdade o outro ninguém argumenta, impõe. Idéias não são exclusivas. Parece uma selva de celebridades aqui. Nada de dizer o que pensa. Predadores vendo um monte de presas e mostrando as suas...!, ele balança a cabeça. Não adianta!, desabafa respirando fundo soltando o ar.

Desce do capô do carro e fica surdo para cada palavra interrogativa às suas costas. Era irritação de berço... Desaparece na distância.

__________________________________

sábado, dezembro 13, 2008

Nos

Estar cheio me deixou vazio
Contaminou-me de aborrecimento
Com expressões amarradas em tédio
Enojou minha garganta vomitando náuseas
De sinceridades incomodadas com complexos

Mordendo os dentes com a voracidade de um animal faminto
Envermelhando os olhos no enveredar sedento de uma piscina suja
Tornou bruto o olhar endurecido de egos falantes saltando no ar denso
Tensas rodas repatriadas nas pátrias perdidas no pensar sem reflexo passado
Cheira tonteiras o clima forjado no impulso de qualquer participar quando ausente

Qual a força social prendendo o anti-social no meio do nada pomposo de recheio amargo?
Todos têm uma opinião vestida de piada pronta na posição do retardo do ataque de sonda
No corpo mórbido a equilibrar a sonsa idéia de não existir primordial princípio que torça
Suposta retidão para caminhar nas tosses tortas avisando inconveniência na saliência falante
Boca tosca torcida para mostrar esvaziar enquanto a saliva corrói visão indigesta impalpável

Estar nem sempre é agradável quando o corpo cansa
Ser se silencia nos ombros levantados encolhidos feito tranças
Enrola-se tudo por não deixar de ser criança a imaginar o mundo
Povoado de criatividade sonhada enquanto era uma vez
Estar cheio esvazia nos momentos de insensatez

13h07min. 1º. 11.08

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Quem?

Parece que o mundo me dá raiva e não diga “a mim também” (são raivas diferentes). Sinto o mundo rancoroso. Sinto-me assim, assim estou porque evitei escrever e claro, meu sono está tão atrasado que ainda não cheguei no dia de hoje. Quanto aos outros, o quê evitam? Pensei “Quando até os ventos contrários sopram à favor é tempo de ignorar os ventos e prestar atenção em si mesmo!” É, jogue o seu jogo. Deve ser eu, mas as pessoas ao meu redor parecem não querer sair da frente ou seguir: todas querem liderar. Todos querem ensinar... Bom, às vezes eu entro nesta arrogância também. Mas, hoje não tomei o gole deste veneno por mais que fosse oferecido. Ouvi o seguinte há alguns dias: “Tem pessoas que a gente conversa e vai sentindo um peso nas costas...!” Concordei da mesa ao lado. Seria isto acúmulo de energia negativa? Não...? É que certos tipos de “atitudes” não caem bem em nenhuma hora do dia.

Nem sempre a sinceridade espontânea é ouvida ou deve ser dita. Porque o outro não vai gostar? Não, porque, pode ser que, você se sinta mal com isso. Então, um sorriso inexpressivo e o silencio podem resolver, afinal sutilezas existem. Muitos (provavelmente todos) os monólogos fora dos palcos são chatos, enfadonhos, sonolentos... Perfeições são forçadas (a não, talvez, ser o equilíbrio) tal frase nos permite concluir: há muitos pontos de vistas e dominar todos é de uma raridade... Faz bem voltar à caverna, nos torna mais tolerante, pois, a simplicidade da vida é uma, mas, as suas faces... Por isto o mundo me pesa e me põe em qualquer lugar para me sentir deslocado. Acontece muito, até o momento em que parte de mim se recoloca e outras ficam de fora observando anotando. É quase um parcial conforto fazer parte em parte daquilo, daquele ambiente surreal para quem vive em outro mundo.

Você escuta e troca de corpo vai até a experiência de quem fala fazendo uma trajetória possível deste. Pode ser que assim o mundo não dê tanta raiva, assim você vê que independente de quantidade há algo a aprender. Há muito além de nós e o precipício fica aí. Hipócrita é a palavra do século, pois, somos introjados e inventamos nosso mundo definitivo... Olhamos para fora do nosso mundinho e procuramos quem se encaixe no eterno reality show voyer, nas nossas expectativas e frases feitas de piadas prontas, no nosso desrespeito a imagem do próximo, nas nossas cansativas falas e pouca ação, na nossa projeção de querer e embaixo de tudo isso se forma um vazio cansado enterrado, difícil de achar. Não nos damos chances de conhecer os outros sem listá-lo imperceptivelmente, temos um ideal forjado a tempo ínfimo e imagem limitada do que vemos e o quê vemos, afinal? Talvez, quem se “pareça” conosco e não quem nos aceite como somos! Mas, quem somos?