terça-feira, junho 30, 2009

“Apenas o que devemos ser?”

(foto que tirei enquanto olhava para o céu deitado no banco traseiro do carro)

Por Rafael Belo

Na maioria sub nas outras sobre... Somos assim inconstantes. Quem somos? Ora, humanos... Não é? Deveríamos ser pelo menos... Não há e nem pode haver um medidor de humanidade pelo simples fato da nossa individualidade. O famoso desumano para um certamente é banal para outro. Não quero desviar do assunto, já se tratando de algo do tipo “não imaginei acontecer comigo”. Sabem aqueles fatos da vida envolvendo amigos os levando a se tornarem mais próximos, então este é o assunto.

Parece coisa de cinema para “evitar” lugares comuns, algo do roteiro de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, sem a morte (na verdade não ocorrida depois) e sem a sequência de mortes e perseguições. Mas, um quase pacto silencioso me levou ao filme. Nada grave ou criminoso apenas uma comoção de preocupações envolvendo cinco pessoas. Não vou detalhar a situação, mas o sentimento nascido dela. Quatro pessoas extremamente cuidadoras da quinta.

Foi um desmaio súbito, vindouro de um sequência combinatória não aconselhável a ninguém, perdido nas reações dos demais presentes. Porém, naquele momento surgia algo mais na amizade deles. Uma fortaleza de resquícios da muralha da china totalmente sem pretensão. Despretensiosa de tal forma a parecer algo comum. Nesses momentos não há o dito ou o não dito, há uma ligação interminável, incorruptível. Palavras muitas vezes duvidosas no nosso vocabulário diário.

É recente, mas posso afirmar ser minha concepção de amizade ainda de pouco retorno para mim. Compreensão, aceitação, apoio, opinião, procura... Estava presente em todos. Não pensei em subumanos ou sobre-humanos apenas em humanos. Somos inconstantes e codificados. Como somos humanos e como podemos ser quando a situação exige, mas não deixo de me perguntar se não é tão humano quanto não querer participar do problema alheio ou de quem aparentemente nos é querido?

domingo, junho 07, 2009

Colecionador de fantasmas

(Rafael Belo - foto pela estrada)

Prevaleceu o silêncio diante do caos de sons naquela tarde. Foi o motivo das mudanças. Porém, foi tudo repentino até o sentimento de... Traição (?), de queda de heróis (?)... Quando o nosso mundinho pessoal é estremecido a razão se distancia, mas - se a tivermos de fato – ela volta logo do passeio solitário por aí. Jogando um pouco de luz em tanto subentendido, confiar dói e dói mais quando você acredita em alguém acreditando sempre em você... Mas – sempre ele o “mas”- não é assim o funcionamento da mente humana. Olhando com atenção as relações não é difícil perceber as “’meias’ confianças”, os “meios sorrisos”, as “’meias’ pessoas” escondidas ali atrás das palavras faladas a dedo, resumindo o medo de se expor e se machucar.

As pessoas queridas e amadas bastam em presença em muitos momentos assim. Falar, esbravejar e gritar com as (más) intenções são opções viáveis também ou simplesmente ouvir sua voz incontrolável cheia de porquês, soltar palavras doloridas pela dor causada ao simplesmente confiar. Se arrastar fora deste corpo dono da sua voz. Ver a alma presa a um monte de carne possuída ao verbalizar as dores do mundo. Depois vestir um olhar triste de melancolia vazia ao ruir dos valores. Um traje típico fácil de colocar e se acomodar nele. Fácil também vestir preto e ver na imagem de quem confiava um luto vivo corroendo. Foram dois ou três suicídios onde velei corpos inexistentes, sozinho. Depois dividi meus “mortos”. Colecionador de fantasmas, mas para lembranças e avisos, não amarguras.

Vejo assim o motivo da falta de durabilidade de pessoas e coisas. Quando é com a gente, ficamos arredios por um tempo e pairamos no limbo de nos tornarmos metade ou mais um ator no mundo dos egos. Se, e apenas se, tivermos condições – além da capacidade inata – de medirmos a autodestruição a depois nos tornar póstumos em vida, não passaremos para o outro lado do limbo e nem permaneceremos neste além do necessário luto. Por isto respiro fundo, lamento e dou o próximo passo paciente. Esquecer? É uma homeopatia desnecessária se soubermos realmente o significado de pontos de vista. Autenticidade deveria ser a mistura essencial do homem, porém, é o item de série embutido mais vendido da “máquina humana”. Triste. É fácil ficar triste, por isso prefiro permanece alegre.

Entrega

O indireto doeu além da bebida alta
Fez a curva do bafômetro e levou as sobras contigo
Junto com pedaços da esperança perdida
Foi quando o céu fechou e a luz foi impedida de entrar
Aturdida enquanto o mundo era breu e gelo

Embriagadas das verdades caladas no copo vazio
As pessoas caíram, já não estavam mais entre as escuridões
Onde as ilusões não eram noite sem brilho, já eram elas
Amarelas levadas para a descoloração

Brilha o fundo da garrafa no momento da confiança devassa
Devastar os bloqueios do corpo vago a pintar
Um agora neutro concedido ao próprio inimigo, no espelho
Envergonhado o suficiente, não o bastante... Para mais se envergonhar
Estender a mãos para o escuro, adiantar o relógio e esperar...

Tirei essa também no Rio Paraguai/15h32(Rafael Belo)Folha de Outono 07 de junho 2009.

Tempos frios

Rafael Belo (- foto de um dia atolado na estrada)

Há tempos não assistia televisão que não fosse para me entreter com filmes, séries e artifícios culturais – que não se restringem a arte. Da mesma forma não lia jornais, apenas passava os olhos e direcionava toda minha atenção a colunas e artigos. Nada contra matérias jornalísticas, afinal sou jornalista também, mas a forma robótica e atemporal que são escritas me fazem perder o interesse. Sinto-me assim um desinformado funcional, sabe, como um analfabeta funcional. Sei o motivo de saber isso, mas qual a origem?

Enfim, nem todas as matérias são enfadonhas, porém o caso aqui é o medo passado nos noticiários e tantas mortes anunciadas e factuais. Em menos de dois minutos contabilizei mais de 50 mortes, dezenas de enchentes no Norte, Nordeste, aviões caindo – inclusive o de hoje, parricídio, homicídios dos próprios filhos, pandemias, violência atrás de violência... Porque havia tantas doações e interessados e amenizar as dores catarinenses e não há um só pelso nordestinos?! Então vem a ignorância a achar único culpado ou perguntar de Deus?! O livre-arbítrio e todas nossas escolhas têm sim consequências e a culpa é toda nossa.

Por que a ganância e a arrogância se hospedam indefinidamente em nós? É fácil ficar triste, difícil é permanecer alegre... Porque queremos buscar coisas desnecessárias para nós e acabamos alguma propaganda ambulante na antiga poesia de Drummond (Eu, Etiqueta). Valemos o quê? Parece que a sobrevivência a qualquer custo. Há tanta confusão, tanto barulho por nada que não ouvimos nem a nossa voz nem A que nos guia.
Quem se elege sozinho?! Ninguém... Afastamo-nos da responsabilidade e de nós mesmos e estamos lá no limbo como um bando de invisíveis, sabendo que alguém nos escuta, mas não nos veem... Recentemente um ex-chefe, já passados dos idos dos 50 anos foi espancado, porque não tinha dinheiro, por três pessoas desarmadas e a platéia do outro lado da rua de dezenas de pessoas nada fez...! Nem chamou a polícia! Aí eu me pergunto quais são as almas perdidas?!

Creio que por todo o escrito e não escrito é que não venho me informando de desinformação. Não consigo me conformar nos seres diminutos e egoístas que nos permitimos virar ao virar as costas aos valores morais, éticos e nos afundarmos em Prozac e suas derivações além da velocidade dos carros e da embriaguez reverenciada. Deveríamos saber em que investir nossa fé e auxílio... Para não reclamarmos das consequências em que atuamos quando os tempos ficarem mais frios... Que tal analisarmos a nós mesmo primeiro e nos assistir por um tempo? Vamos voltar a ser irmãos!

sexta-feira, junho 05, 2009

Destroços


------------------------------- (por Rafael Belo - tirei esta foto há alguns anos no Rio Paraguai)

Foram joelhos no chão, mãos espalmadas uma na outra. Primeiro a cabeça pendia para trás e olhava suplicante para o céu, depois os olhos fechavam-se e o queixo encostava-se ao peito e as lágrimas escorrendo de qualquer forma. Era tudo a ser feito. Nenhuma palavra diria um consolo adequado ou suficiente. Como acreditar na morte de tantos conhecidos sem poder velá-los, sem vê-los... Estão em algum lugar, não se desintegram simplesmente. Não podem ter sofrido tanta dor!
Um abraço me envolve sorrateira e suavemente. Me abraça com um beijo salgado de lágrimas e pressiona-me com muita força. Ela ajeita a cabeça em me ombro esquerdo, depois me olha até a última lágrima de meus olhos e afunda a cabeça como se estivesse apenas sobre meu coração. Nos conhecemos quando nos perdemos há um ano. Estávamos em trilhas praticando esportes radicais quando uma tempestade inusitada inundou a região.
Fomos arrastados por milhares de quilômetros, eu nem pronunciava o nome de Deus e ao invés de me enfurecer com tudo, estava calmo e certo de continuar vivo... O trauma matou muitos, instantaneamente e já não havia quase ninguém sobre as águas. Aquilo tudo parecia um cemitério aquático. Perdi os sentidos ao bater a cabeça com uma árvore arrancada pela fúria da chuva e do vento.
Despertei muito zonzo e ela estava ali ficando roxa. Me arrastei até ela, pressionei sua boca do estomago e então comecei a fazer respiração boca a boca. Passados poucos segundos ela se inclinou e vomitou muita água, me olhou - como agora a pouco – depois desfaleceu nos meus braços. Fomos tidos como mortos, mas éramos os únicos sobreviventes – como agora. Ninguém fala nomes, nem o ocorrido com a carreata de dezenas de vans.
Mas... É assim. É como dizer: “nenhum sobrevivente, nenhuma morte... mas morreram todos...!”. Percorri todo o caminho deles, das vans, de bicicleta. Havia marcas de pneus por toda a pista, mas nenhum vestígio de batidas. Parece ser necessária uma imagem, uma explicação, creio ser o motivo de eu ajoelhar e rezar, é o meu resto e ela? Ela é minha força, minha ligação com a vida, e também rezo por isto.

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quarta-feira, junho 03, 2009

Meu inverno vem

É frio o ar sobre meu verão
Vêm os caminhos da solidão
Deixando-me gélido e trêmulo

Os olhos fechados mesmo abertos de outrora
Já não marcam tão certos a esperança
Já não alcançaram os sonhos adiados

As certezas até então tão certas
Já causam dúvidas e vazio alto
Nos sintomas de um caminho tomado

Todos os dons cresceram e querem viver mais
Congela minha respiração e o sorriso se fecha
Inconstantes estações esquizofrênicas da pressão

Quando viver meu dom e satisfação?
Quando me libertar da angústia da rotina?
Quando me desnudar pro meu inverno, não irei mais perguntar...

13h12 (Folha de Outono) 03de junho de 2009.