terça-feira, janeiro 31, 2017

Não há razão





diretamente a mente sente o desconforto indireto desenhado
em tempestades isoladas no entendimento comprometido desolado
acuado no recuo das nuvens acumuladas por toda extensão do olhar
paira a miopia quando ecoa o silêncio na goteira da noite em uma visão

visto meu avesso cotidiano fazendo planos de clareza não sou de planejar
tempo está nublado em tons de nuvens na lógica ilógica da antecipação
futuro muda instantaneamente presente só existe hesitante depois não

nas mancadas da interpretação há o vão claudicante a conseguir começar
os problemas de visão são agudos inexiste gravidade porque não há razão

ganha a borboleta usando suas asas bravas pousando para polinização.

+às 12h54, Rafael Belo, terça-feira, 31 de janeiro de 2017+

segunda-feira, janeiro 30, 2017

Troféu Dono da Razão



por Rafael Belo

As tempestades isoladas na cidade correspondem às pessoas sorridentes por aí. Você não precisa estar nublado e chovendo torrencialmente o tempo todo, basta clarear os sentimentos mesmo com o tempo fechado. Muito sol faz mal, chuvas exageradas nos transbordam e achar que é entendido da maneira que você diz e entende as pessoas é excêntrico até para a excentricidade. Há quem ache as indiretas o antigo suprassumo do ó do borogodó acumulando a redundância no mundo nebuloso da clareza.

Mas, não! Se tem algo a dizer procure fazê-lo da maneira mais clara e direta possível, desenhe se for o caso, compare com situações comuns ao se receptor - ou simplesmente seu ouvinte - e tenha a mais absoluta certeza do entendimento deste. Indiretas só causam confusões a não ser que este seja o caso: causar confusões. Aí é fácil. Talvez queira fazer as pessoas pensarem e fale sobre a situação sem qualquer rodeio tentando colocar em palavras cada detalhe do assunto exigindo uma reflexão e não uma concordância com o dito, sem querer induzi-la a pensar como você... Boa sorte com isso.

Há uma intimidação muito grande diante de uma pessoa com opinião formada e exposição do que pensa. Somos contestados, comparados ou forçados a crer em uma tal obrigação de dois lados sempre. Esta dicotomia inexistente está presente no mais fulo diálogo, na mais simples tentativa de emendar uma conversa, na mais direta aproximação como se houvesse uma competição no jogo de palavras e no final o ganhador levasse o troféu dono da razão. O Bem e o Mal são extremos e nós estamos em várias áreas cinzentas entre eles porque somos capazes de atitudes boas e ruins, mas não somos definidamente uma coisa OU outra, somos esponjas.


Os contrastes são nítidos, mas vivemos em uma sociedade míope que não admite ter problemas de visão. Uma sociedade seguindo as direções do vento, deixando a vida levar... Mas ser mal interpretado pode ir de encontro ao humor do outro, porém vai principalmente de encontro à experiência pessoal de cada um e ir ao encontro do outro é necessário para evitar conflitos porque as tensões são tantas que qualquer atrito pode provocar um incêndio avassalador. Ainda mais na nossa atualidade cada vez mais acirrando a competição e a disputa ao invés da resolução, união e da palavra amiga que tanto precisamos.

sexta-feira, janeiro 27, 2017

Dia do Silêncio (miniconto)



por Rafael Belo

É dia de conflito, eu sinto... É possível tocar a tensão no ar. Quando cortaram minha língua em rede nacional, todo mundo teve razão para ter medo de falar! A quantidade de visualizações no youtube ainda bate recordes diários, mas nunca imaginei ter paródias daquela cerimônia de tantos anos atrás terminando na minha mudez... Uma imagem grotesca, arcaica, lenta, dolorosa... Porém, é tão surreal quanto os movimentos criados a partir dali. Os noticiários em todas as plataformas possíveis de acesso são apenas recados, “indiretas” de um pesadelo constante do mundo adolescente.

Um enorme quebra-cabeça codificado com imagens, números e trechos invisíveis de destopias literárias tudo explodindo em uma crescente hoje, dez anos depois neste contraditório Dia do Silêncio. Lendo por trás das máscaras, vendo os sinais por trás das palavras procuro evitar ser reconhecido por aí. Assim como a chegada na lua ainda há quem acredite ser falso aquele vídeo ao vivo... Sou a ironia de um mártir vivo para uns e o demônio encarnado para outros sem precisar fazer nada... Pelo menos não cortaram minhas mãos, não danificaram minha mente – bem, não tanto...

Posso pensar, escrever, mas está tudo tão ao contrário do contrário do contrário... Quero fazer as pazes com minha família, reencontrar meus amigos... Mas, nunca as coisas são como queremos, não é? Imaginei que dizer tudo sempre, principalmente o que me incomodava, o que vinha a mente era meu dever...  Já não enxergo mais como no passado. Via tanto e tão longe com toda a clareza possível, por isso olho para trás agora, há tanto tempo. Meu presente é turvo e amanhã só me vem em cegueira aos olhos.


É o Dia do Silêncio! Em alguns minutos nenhum som será permitido durante 24 horas. São quase oito horas. Já fizeram a fumaça artificial tapar o sol. O Presidente vai falar, vai prometer, vai chorar, vai reprisar minha língua sendo separada de mim... Sempre uma lembrança e um alerta, sempre! Então, tudo será cortado. Nada de energia, nada de água, nada de conexão, o mundo virtual vai se calar também... nem do lugar vamos sair. Ficará escuro, mas sem sombras só escuridão e silêncio... Será que chegaremos este ano a redução de 50%? A transmissão começou!

quinta-feira, janeiro 26, 2017

Einsteiniano



sussurros sibilam silenciosamente às costas
camuflados contam constantemente apostas
constituem conspirações conscientemente impostas
surpresas serenas sorrateiramente dispostas

emanam odores separando a realidade em fossas
muros moldados em escoras apodrecidas pelo tempo
distorcidas notícias emboladas nas línguas nossas

teorias trancam acontecimentos tramam passatempos
momentos do circo alimentando o pão que endossa

contratempos conduzem fugas de comportamento aleatórios números nos dados jogados com o universo que ignora o azar nas consequências de ser e estar não há probabilidades na reação da casualidade.


+às 11h32, Rafael Belo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2017+

quarta-feira, janeiro 25, 2017

Desfribilador (miniconto)




por Rafael Belo

Não era um dia comum. É bem provável que isto de comum seja pura invenção... Era manhã, mas ainda não havia amanhecido. Todas as tonalidades de nuvens cinza se espalhavam pelo céu, bloqueando a luz e deixando a sensação de fim e não começo. A qualquer momento as ruas virariam rios e a fobia de chuva parecia a maior ironia contagiosa dos últimos anos. Quase toda a população tinha a sarcástica ombrofobia. Adana ria sempre que pensava nisso. Ela imaginava os governantes dando de ombros convulsivamente para todos... Não, não era engraçado, mas chorar ela não iria. Esta palavra era mais uma apropriação do grego. Ómbros significa tempestade de chuva e phobos, medo ou aversão.

Vivo em tempestades. Com certeza não sou a única, sou mais uma e aquelas famosas feitas nos copos d’água então... Há tantos medos nos perseguindo como pesadelos nestas falências múltiplas de tudo, inclusive dos nossos órgãos. Nem sei se sinto algo mais... Não consigo me conectar de maneira alguma... Será possível comprar um desfibrilador? Deveria ser item obrigatório nestes dias de fobias e pesadelos, quem sabe o coração não volte realmente a funcionar... Quanto tempo vamos aguentar ficar sem respirar nesta atuação da morte?

Sou obrigada a encarar esta chuva. Espero não paralisar. Preciso chegar até o outro lado da cidade. Precisam de mim por lá... Será que decorei todos os buracos destas ruas? Há algum espaço para passar com o carro ou sequer com a moto? E a pé? Os ônibus nem podem passar mais quando a chuva passa de meia hora. Foi proibido. Imagine só... ! Diziam que os motoristas de ônibus eram imunes ao medo de chuva... Parece não haver mais imunidade, só impunidade e cada vez mais doenças novas e velhas...

Os celulares e os semáforos já não funcionavam antes quando começava a chover... Agora parecem desligar completamente...! Nem ficam piscando em alerta como antigamente... É possível uma máquina adquirir fobias humanas? Nossa nem sei mais como sair de casa. Ninguém se arrisca a sair neste tempo e eu... Parece que estou em um rio e não em uma rua... Se eu andar muito devagar afogo literalmente, rápido também... E agora? Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus! Cai? Foi de uma vez... Qual o tamanho deste bu... Cratera? Será que um desfribilador funcionaria na água ou eu morreria eletrocutada ao invés de afogada? Será que os pensamentos acabam quando você

terça-feira, janeiro 24, 2017

sangrentos



a teoria teceu teias tratando todos taticamente
confiando conspirações concretas nas discretas vidas secretas
desfiou desconfianças desafiadas desordenadamente
dando trancos cerebrais em interpretações diversas

setas piscam depois da meia-noite esperando amanhecer completa
em um momento sou eu no outro sou você sem nós sabermos
razões se perdem nas direções sem fim consequências vão acontecer retas

as aranhas disputam quem vai nos devorar de novo
mastigar meticulosamente nossa querida conspiração

rachaduras arranham todas nossas partes sangramos ilusão.


+às 10h41, Rafael Belo, terça-feira, 24 de janeiro de 2017+

segunda-feira, janeiro 23, 2017

Nós somos a conspiração!



por Rafael Belo

As teorias da conspiração nunca se cansam. Estão sempre nos cercando, puxando, empurrando, inundando as programações televisivas, radiofônicas, jornais, web e redes sociais. Ficamos uma espécie impossível de especialistas superficiais sobre tudo induzidos por um tipo de jornalismo que se alastrou e, infelizmente, parece prevalecer. As situações e acontecimentos não estão sendo noticiados para pensarmos por nós mesmos, vêm com intuições e direções já formadas. Não há um balanço de opiniões divergentes e um relato, há fatos divulgados como absolutos e irrefutáveis compartilhados mais rápidos que a reflexão. Vivemos de repetição!

É como se não fôssemos mais capazes de sequer subir nos muros. Ficamos parados em muretas, sentados, amassando o matagal formado em volta, sem olhar os reflexos e compartilhando uma opinião pinçada em alguma matéria fincada em uma plataforma dita de credibilidade como Globo, G1, Estadão, Veja... Quando ainda era estudante de jornalismo fazia algo que não faço mais com tanta frequência: assistia todos os noticiários, lia todas as revistas e jornais para formar minha opinião sobre um assunto, seja qual fosse... Somos, obviamente, humanos e é humanamente impossível ser 100% qualquer coisa, principalmente isentos.

Temos nossos gostos, gestos, valores e tendências, portanto, quando falamos sobre um assunto, e queremos credibilidade, citamos muitas plataformas e fontes para acreditarem mais na gente, para o que dissemos seja levado em consideração. Analisando bem, as pessoas querem ter razão, não basta ter a palavra e serem ouvidas, há de se dar a palavra final, aquela que fica e é considerada a verdade. Seria mais uma teoria da conspiração queremos ter sempre razão ou só mais uma repetição maçante nos fazendo acreditar nisso?


Nem sempre há só uma resposta ou há respostas, mas vivemos nesta privação de sentidos buscando o eterno Arquivo X insistindo que a verdade está lá fora, que tudo tem explicação... Mas, não... Nossa prática é ouvir, mas ainda somos intolerantes e queremos intervir mesmo com fragmentos de informações, nos deixamos ser tomados por emoções ainda mal construídas, mal elaboradas, sustentadas nestes castelos de areia feitos dentro de furacões. Podemos pensar e assim deveríamos...  Não é nossa maior diferença pensar, refletir? Nós somos a conspiração!

sexta-feira, janeiro 20, 2017

E então... (miniconto)




por Rafael Belo

Não era a primeira vez que Biane via aquele beija-flor. Só podia ser ele... Mesmas cores, mesmo jeito... E ela já o tinha observado tanto... Não tinha como se enganar... Sempre que ela estava se sentindo mal, ela o sentia. Primeiro era um sopro, uma brisa além de suave roçando na pele dela, depois ela sentia um enorme bem-estar e sabia estar sendo observada. De repente ele aparecia. Ela o chamava de esperança porque era assim o sentimento quando ele surgia e tudo parecia fantástico e tudo seria feliz, mas... Hoje foi diferente. Houve tempestade, tudo alagou, a energia foi interrompida, não havia conexão com nada, então, ela o viu. Estava debaixo do toldo e rodeado de galhos estranhamente o destacando tristonho no meio.

Não! Não! Vai embora! Por que estou pensando isso? Esperança parece um borrão... Não consigo focar minha visão nela... Tem algo muito errado! Ela não vai voltar mais. É uma despedida! Mas, por quê? Ela... ela... Nem voou ao meu redor! Ela treme! Esperança treme por isso não consigo vê-la direito. Está seca, não está? O milagre vai embora... Nunca me esqueço das vezes que chegava à casa ou saia e lá vinha ela me ver... ME VER! Que Alegria! Ainda mais quando deixei de ser adolescente, cheguei aos 40 e lá vinha ela...

Claro, você vai dizer ser impossível. Só porque a expectativa de vida de um beija-flor é de 12 anos? Pois é, deveria passar a chamá-la de Milagre, mas não podemos falar dos milagres... Eles parecem parar de existir no momento exato de verbalizar o ato... Bem, agora passei dos 99 há alguns anos e a Esperança me incentivava com a mínima presença dela. Pairando no ar, voando para frente e para trás, desafiando a vida, a normalidade, as regras e me dizendo ser possível eu também voar na contramão...


Parece ser um adeus guardado, amargurado, agoniado, trancafiado para não acontecer... Queria ver uma última vez estas assas batendo em até 80 vezes por segundo, o coraçãozinho estaria em até 1260 vezes por minuto, mas assim estranhamente parado, enquadrado deve estar a 480 batidas por minuto... O Meu já bate 70 vezes por minuto, mas agora... Olá, Esperança! Veio me ver ou me levar? Agora não consigo não sorrir, ela me olha e já não é mais um borrão! Vem em minha direção, a janela aberta.. e então...!

quinta-feira, janeiro 19, 2017

introduzidos



esperança abre o chão chamando calmamente pela luz
não há impedimentos intransponíveis impossíveis induzidos
nem água afogando nem calor derretendo só nossa cruz
nascida no nosso peso revelando cada segredo abolido

um levantar insistido queima por dentro simplesmente conduz
fechando os olhos confiantes não há quaisquer sinais abatidos
o rosto se ilumina face a conquista de continuar sem usar o capuz

as possibilidades são tantas e podemos estar perdidos
seduzidos pelos vazios acumulados um muro que se traduz

reduz a velocidade as montanhas ainda chegam sem idade passam estamos abastecidos de profundidade somos motivos movidos pela identidade.

+às 12h34, Rafael Belo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2017+

quarta-feira, janeiro 18, 2017

Tão fácil... (miniconto)



por Rafael Belo

Não parecia haver mais sentido. Não era uma coisa específica, mas todas. Ela já nem conseguia pensar. Já não tomava banho há 15 dias, não falava com amigos, não atendia celular, não usava mais a conexão virtual. Mal conseguia ficar acordada. Sentia um desespero e um aperto na garganta dolorido... Lauri sentia estar sendo enforcada novamente! Estava com tanto medo que chorava. Achava que a qualquer momento iria sufocar e a dor era terrível. Eram dezenas de agulhas perfurando o mesmo ponto e sendo retorcidas até quebrar no lugar...

Não entendo! Para onde foi todo mundo. Será ... Será... Será que morri e este é meu inferno? Não tenho voz e estou sufocando. Meu maior medo era este... Não, era perder a cabeça... Mas, por que estou falando no passado? Tanta preocupação está me enjoando... Acho... Droga! Este gosto horrível que fica na boca. Onde estão os espelhos desta casa? Nem vidro tem por aqui? O que está acontecendo? Preciso sair daqui... Não sei se estou mais apavorada ou irritada e quem vai saber?

Olha! Tem gente nas ruas! Como sou idiota... Achei realmente que não haveria ninguém? Que eu seria o último ser humano? Estou assistindo filmes de mais... Mas ninguém fala comigo, ninguém me vê... Não não não não... Alguém me ajude! Por favor! Aqui. EII!! Concentre-se Lauri. Não adianta botar as mãos na cabeça, esfregar o rosto e os olhos. Pense pense pense!! Um telefone tocando longe... É na minha casa? Não consigo correr! Por favor, não pare de tocar! Ótimo! Agora todos me olham...


Deixei tudo aberto? Alô? Cadê minha voz? Se eu não ouço ninguém ouve, certo? Não acredito que esta operadora ridícula quer me vender pacote com esta conexão ridícula! Ahhh. Ótimo! Arranquei o telefone e o roteador da parece...! Espera! Se o céu está dentro de nós, o inferno também está... Eu preciso mudar, eu preciso mudar, eu preciso mudar... Nossa! Quão longe podemos ir com o pensamento? A imaginação é tão forte... Há quanto tempo estão me chamando? É tão fácil se perder, se entregar... 

terça-feira, janeiro 17, 2017

amarrados



pousa no infinito um instante curando as horas passadas
solta os pensamentos confiantes voando pausas atropeladas
liberdades respiram fundo atrás dos olhos trazem asas imaginárias
batendo momentos transeuntes fora do alcance do som das cigarras

o olhar parado dança no horizonte em movimento o tempo não acaba
continua contratando concorridos silêncios deslizantes em muitos nadas
escorrendo esplêndidos esquecimentos principiantes no fim das jornadas

mergulhando em novos começos no sol se pondo e retirando em camadas
no pedaço de tudo pertencente ao antes nada no depois feito em fornadas

retiradas em mãos vazias cheias linhas desviadas onde o céu se amarra.

+às 11h29, Rafael Belo, terça-feira, 17 de janeiro de 2017+

segunda-feira, janeiro 16, 2017

Refletindo o mundo



por Rafael Belo

As notícias não são boas e não mudam muito. Os personagens se diferem... São mortes de todos os tipos e formas, crimes variados sempre prejudicando a população. A corrupção nem se fala, já faz parte do cotidiano há tanto tempo que nem percebemos a chegada do segundo sol. Está tudo ao contrário, nós vivemos do avesso... O clima vive diferente e imprevisível, mas o calor está insuportável. Mesmo assim, o que mais nos derruba é sermos privados da nossa liberdade. Basta não podermos sair de casa, não fazer o que queremos e já não somos ninguém.

Está no chão o céu e a firmeza nos passos já não existe mais. A sociedade está doente e tudo que fazemos é pagar e pagar e pagar... Sabemos das notícias, mas não conseguimos assimilar mais a quantidade de mais do mesmo com a banalização da vida e do nosso bem-estar. Temos medo do amanhã, da hora seguinte, a insegurança vive dentro de nós e queremos sempre reviver o passado. Alimentamos a dor... Porém, há esperança nos menores gestos, nos mais contidos sorrisos, na nossa recuperação, na nossa cura...

Queremos melhorar, ouvir boas notícias, evoluir... Mas o mais difícil nesta estrada é descobrir quem somos e, assim, para onde vamos. Os pais nos dizem quem somos, os parentes dizem quem somos, os amigos dizem quem somos, os conhecidos dizem quem somos, os outros dizem quem somos, os desconhecidos dizem quem somos, a sociedade diz quem somos... Desta forma não sabemos para onde vamos, mas vamos e quando chegamos lá não é preciso se reinventar... É preciso se descobrir. O valor da vida vem da descoberta de nós mesmos para identificarmos o Amor.


Quando fugimos de nossas prisões queremos parar o mundo e descer. Há tantas coisas hediondas, absurdas, revoltantes acontecendo... Ao falarmos de violação de corpos e almas tudo se intensifica. Mas, vamos nos entregar? Enxergar estas inversões como tudo e única realidade ou a escolha das notícias a serem divulgadas? Com certeza há muito mais do bem e bom acontecendo bem diante dos nossos olhos. Nós estamos reclamando, sendo coniventes, derrotados ou estamos tentando mudar, mostrar outras possibilidades, agindo, interagindo, mostrando quem dá valor somos nós e as pessoas têm valor? O céu está no chão porque vive dentro de nós e atados uns aos outros podemos refletir tudo que há de melhor.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

Quando tudo está perdido (miniconto)




por Rafael Belo

Ijara nunca teve superstições nem crendices. Acreditava no que via e tocava igual qual Jó. Tudo bem, alguém precisava ser desta maneira... Mas, neste dia 13, sexta-feira 13, normalmente seria mais um dia comum... Hum... Normalmente. Tudo de 2016 havia deixados marcas terríveis e profundas provocando terrores noturnos em Ijara. Ela estava quebrada. Corpo, mente, coração e nada, nada mesmo tirava da cabeça desta pessoa que a primeira sexta-feira 13 do ano faria juz aos clichês, superstições, crendices populares e cada lenda urbana.

Deveria mudar meu nome para Murphy. Pelo menos teria a vantagem de ter minha própria lei: se algo tiver que dar errado, dará. Ah, com certeza deu! Já passei dos 30 faz tempo. Não tenho família que preste, meus amigos já têm muitos problemas, homens... Enfim, diz por si só. A última coisa de minha posse, de minha propriedade... Era o carro... Primeiro ele me quebra, depois ele quebra e me quebra mais ainda e agora... Ah, engole o choro... Não vou chorar! Se tudo está tão ruim vou ser ainda pior!

Faltam poucas horas para amanhecer e lá vem à alvorada dar na minha cara... Humm! Ei! Está úmido e nublado... Não acredito que vai... ISSO! Be-le-za!!! Fiquei p da vida agora!! Mais!! Já não sei onde morar... Não tenho, Né?! Agora estou instantaneamente encharcada e uns dez quilos mais gorda. Aff! Ninguém merece! Não algumas pessoas merecem sim e até pior. Olha... A toda certinha da Sauna tão longe... Reconheço só pelo jeito Popozuda de andar... Se bem que pode não ser ela, nunca a vi correr desesperada desse jeito...Nunca a vi correr. Ah, está de brincadeira... Quem disse que nunca tem uma viatura policial quando precisa. Vixi! Ela desabou! Ei! Espera! A Murphy aqui sou eu. Ela é tio Patinhas com Gastão!


Problema dela! Tenho os meus a resolver. Pelo menos distrai um instante para ter toda a eternidade para me concentrar nesta vingança. Mas, vou me vingar de quem?! Da vida? Ah, isso só pode ser uma pegadinha sem fim... Cadê as câmeras?! Quem eu estou querendo enganar?! É uma piada que se repete e repete e repete até alguém achar graça. Uau! Que ideia brilhante! Sou uma gênia mesmo! Se eu roubar dos políticos vou fazer justiça e bem... Não seria roubar, seria? Hora de aproveitar minha prática em t.i e programação... Preciso só de um notebook e de uma casa. Sei do político ideal. Rá! Quem estou enganando! Não há políticos ideais!!

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Imaginar-ser




corrupção canalha cultua pequenas almas vendidas
ativas ainda alterando exageradas palavras perdidas
na seletiva hipocrisia atada aos desatados nós da vida escondida
gritam ignorâncias quando quem é passageiro nunca quer descer

esperança aparece na prece do povo mas com os doloridos joelhos como em pé se manter?
ouvimos tão pouco há tanto tempo falando pelos ralados cotovelos do proteger
o fio da vida se enrola em uma trajetória de espelhos admirando o admirado permanecer no aconteceu

ah, otimismo automático disfarçando os dramáticos pensamentos
somos ao mesmo tempo diversos momentos em um só ser

é natural abastecer respirar fundo e contar fechar os olhos e se imaginar.


+às 09h45, Rafael Belo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2017+

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Tráfico de torturas (miniconto)




por Rafael Belo

Sauna corria pela vida. Usava todas as forças ainda restantes com razão. Era a mente mantendo o corpo em colapso, ativo. Fugia em busca de proteção. Foi torturada até enlouquecer. Ela só pensava em sobreviver. O instinto natural, animal, que ela nunca teve... Nem quando criança chorou. Já nasceu com a face fechada e os olhos buscando algo. Era uma exceção. Ainda duvidava de isso ser bom. Só a fez mais dura e é dureza passar os anos assim. Mas, a vida não era a pura hipocrisia que seu pai falava? A vadia que a mãe acusava de ter acabado com ela?

Sobrevivi até aqui com estes pensamentos e acabei sendo torturada por uma horda de malucos querendo o futuro, querendo a vida eterna... É bom pensar em outra coisa para esquecer a dor do corpo... Mas, não sou maluca também? Como culpar a vida pelos meus caminhos? Se eu sentar agora – provavelmente vou morrer – a vida vai continuar, independente de mim... Vou ficar reclamando? Acusando? Xingando? Acumulando raiva? Vou parar de viver só para me vingar? E depois? Nossa! Como está quente!!

Não importa o tipo de agente que fui? Ninguém consegue ouvir nada que eu não queira dizer! Não é que a vida seja traiçoeira e quando tudo parece bem... Bumm... Não é eu ser mulher o motivo... Não temos controle... Mas, não vou me permitir ficar com raiva, a não ser agora... Até conseguir falar com meus colegas... Preciso colocar este ódio e este medo para fora antes disso me derreter, acabar comigo, a dor acabou me revelando, me fazendo chorar... Isso foi raro, mas não vou agradecer pela tortura... Tudo começou com uma simples desconfiança, uma intuição e não é sempre assim?

A investigação acabou comigo sendo torturada, mas só minha palavra não basta e – querendo ou não – vai ter o machismo, vão falar de histeria, vão questionar minha certeza... Mas, passar por adolescente e ser descoberta foi arriscado demais... Traficando a infância, vendendo a juventude e comprando adultos defeituosos. É um “belo” mercado e eu achando que acabaria com ele... Meus supervisores vão me trucidar... Ah, mais do que já fui é impossível. Tinha certeza que estava no Centro da cidade e a cidade não chega nunca... Minhas pernas começam a falhar!!

terça-feira, janeiro 10, 2017

Terra




ignoram as horas seus minutos de hipocrisia
seletas ignorâncias para não causar azia
passam fora do círculo vão em tortas linhas
fabricar um tempo de ilusão perdida

no dia rótulos se etiquetam em conflitos
os atritos faíscam até ser chama
chama o fogo um incêndio de vícios

indícios do esfriamento dos passos lunares
troca-se o pé pela cabeça na lua

atua a reação na aterrissagem todos temos nossas mensagens.


+às 09h26, Rafael Belo, terça-feira, 10 de janeiro de 2017+

segunda-feira, janeiro 09, 2017

A hipocrisia da ignorância seletiva



por Rafael Belo

A hipocrisia da ignorância seletiva fica perdida nas palavras, se esconde nos desatos. Esta falta de ato fica na fala. Nós falamos tanto e ouvimos tão pouco há tanto tempo que é de se admirar estarmos admirados com nossa vida hoje. O otimismo exacerbado, exagerado mesmo, nos faz acreditar sempre na cegueira na qual vivemos. Não é segredo, assim como é palpável de tão real, termos pensamentos negativos, nos irritarmos, sermos pessimistas... É natural como respirar. Claro, é algo passageiro ou deveria ser.

Passageiro como as crises e os políticos. É fácil achar um culpado e jogar todas as outras culpas nele. A exposição é menor. Mas a profissionalização da canalhice, da corrupção criaram duas espécies de políticos: os profissionais e os profissionalizando. Isso desde o início desta espécie. Eles entram no jogo do poder para poder fazer algo de suas promessas. Pode não ser troca em dinheiro, cargos, cabide familiar, tráfico de influência, peculato, esta forma de corrupção em si, mas este meio contaminado e falido troca favores para sobreviver, para mostrar serviço, para ter algo aprovado, para ter pauta positiva nos jornais, para ser lembrado, tudo é planejado – nem sempre bem, mas o é.

Promessas deles e de nós mesmos também são corrompidas, deturpadas, adulteradas mesmo, ou simplesmente interpretadas da melhor forma para se justificarem, para nos justificarem. Podemos até não sermos de todo hipócritas, mas há muita hipocrisia em nós. Usar a máxima: não é possível fazer omelete sem quebrar os ovos, é a desculpa perfeita para seguirmos atalhos para o frigir dos ovos, para termos a refeição, mas será que estamos tão bagunçados, tão indiferentes, tão frios a ponto de não ligarmos para o significado de quebrar os ovos?

Podemos sempre ver o lado bom de tudo, mas não podemos descartar os lados ruins porque – a não ser que exista um dano, uma contaminação – há 50% de chance de dar errado e, óbvio, 50% de chance de dar certo. Há perigo em toda parte, a vida e o clichê do risco... Não somos rótulos incapazes de sentir diversos sentimentos conflitantes ao mesmo tempo sobre a mesma situação, sobre a mesma coisa, sobre a mesma pessoa. Só é mais hipocrisia não admitir isso e não agir diante dos fatos é simplesmente covardia.


Nós precisamos ter em mente que nós criamos os nossos próprios monstros e, por ausência, presença ou omissão, ajudamos os outros a criarem os deles. Ser humano é imperfeição, é erro, mas não podemos usar estas obviedades para seguirmos andando para trás perdidos nas palavras, escolhendo a ignorância da vez. Esta seria a única loucura: viver no famoso passinho do moonwalk. Esta caminhada lunar é apenas um passo de dança e é para trás. Que tal escolhermos caminhar para frente? Para existir agora é necessário reagir.

sexta-feira, janeiro 06, 2017

Chamam de virada... (miniconto)




por Rafael Belo

Por um instante, Leara, pensou ter visto uma sereia. Ela estava contemplando o céu e acompanhando a extensão da beleza do fim por todo o céu, quando um movimento fez seus olhos fixarem na maré. Era um vulto deitado imóvel com o que parecia ser um vestido branco e as pernas cobertas pelo mar. De repente, a praia foi engolida tão depressa e já não havia mais nada. Claro! Não era uma sereia! Elas não existem! Só faltava logo no primeiro dia de 2017, a Ariel aparecer... Leara sacudiu a cabeça para se livrar de pensamentos impróprios e voltou para seu fim ou era o começo?

Foi um lapso? Um ato falho? O que aconteceu? O dia está começando ou terminando? Para Leara, pense! Só lembro-me aquela mulher na praia, mas era só algum destroço, não era? Há um limite para tudo... Pelo menos eu limito, imponho metas, delineio os espaços... Ou eu só fingia ser assim? Caraça! O que eu tomei? Quanta confusão. Está me dando uma dor de cabeça... Espera! Eu não estava sozinha! Tínhamos combinado de vir todos e estávamos vindo até... Não. Só um clarão do sol saindo de trás das nuvens e trazendo... O Que!? Amnésia?! Regressão?!

Só posso estar acontecendo e algo me diz ser assim toda virada. Acontecendo? Não! Enlouquecendo!! Estou mesmo! Nossa senhora! Será? Será este um ponto de igualdade paralela no tempo? Dá onde tirei isso?! Mas parece lógico... Há um ponto de convergência todo o ano na mesma hora onde tudo e todos vão ficar sós para tudo e nada ser a mesma coisa e, às vezes, só às vezes... Alguém tem o direito de perceber isso indo para outro ano? Reinventar-se? É! Já inventaram isso. Chamam de virada...


Tenho certeza... Estava de relógio... No chão?! Hum... Trincado o vidro, os ponteiros formam uma cruz... Mas não eram só três?  Meu celular novo? Ganhei no Natal! Quem sabe tenha fotos, vídeos, pistas e ele me ajuda a me preencher... Será que eu quero mesmo? Posso ser quem eu quiser agora... Peraí! Este sol não vai ser pôr ou nascer? Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, zero, menos um... Estranho! Hoje já é sexta-feira... É 2017? Alguém? Olá?

quinta-feira, janeiro 05, 2017

se não for sorriso



 renova a pele descamada camada sob camada dos anos que ainda virão
há uma imensidão de passados impregnados nas marcas do corpo
céu e inferno se perpetuam em uma eterna fumaça

não importa nossa façanha há algo no faça a nos derrubar
precisamos cair para enxergar para entender o desentortar no topo
há uma constelação pulsando fora das nossas mãos em datas esparsas


janeiro vem certeiro dando a sensação de recomeço de novo
quantos interiores guardamos sob o peso solto da nossa pressão?
os silêncios doem no peito enfartam horas ainda não nascidas

jazem abortadas já sem serem sequer seduzidas pela vida
convertendo tempo em espaço afrouxa o laço é o invisível
impossível de se ver com os cotidianos olhos se não for sorriso.

+ Rafael Belo, às 10h57, quinta-feira, 05 de janeiro de 2017+

quarta-feira, janeiro 04, 2017

Eu, fantasma de mim (miniconto)




Por Rafael Belo

Ela simplesmente acordou ali. Havia um sol se pondo de um lado com árvores e uma estrada no meio. Logo aos seus pés o mar se atrevia a ser maré e subir aos poucos pelas pernas. Mesmo assim ela não se mexeu. Abela olhava para todos os lados enquanto o mar voltava a engoli-la e pensava no ano que estava... Também pensava sobre a própria efemeridade, o quanto a vida é um sopro e naqueles loucos quebradores de promessas anônimos. Mas esperar o quê?

O Ano Novo chegou? Se chegou foi para os outros. Nem sei onde estou e este tal de tempo não cura nada só nos ensina a lidar com as coisas certas e, principalmente, com as erradas. Eu ainda sou 2016. Não vou esquecer porque serei assombrada por mim mesma. Eu, fantasma de mim, nesta água salgada me fazendo me sentir viva, então só posso concluir que não estou morta, certo? Mas não tem uma reles criatura para me garantir! Já sou fantasma de mim...

Fantasmas pensam ou apenas agem como resíduos da memória de quem foram? Eu preciso pensar pausadamente para lembrar de tudo. Estive na festa na ilha e como não bebo, não bebi, certo? CERTO? Droga, mas então como eu vim parar aqui?! Onde é aqui?! Eu só fui naquela festa por um beijo e continuei sendo trouxa... Quantos ele beijou, afinal? Ah, Abela pensa em você e esqueça este que não vai nomear! Sim! Foi isso! Eu me afastei pouco antes da meia-noite e o cruzeiro... Fez um barulho ensurdecedor de quadro-negro sendo arranhada e então... Então... Eu cai!

Sou eu fantasma de mim realmente? Onde estão os destroços? Por que aquele som horrível só podia ser uma pedra abrindo o casco do navio, certo? Droga, droga, droga, drogadrogadrogadroga.... Meu Deus! Este mar está me puxando! É o refluxo! Aho aho aho... Estou me afogando. Fantasmas morrem? Ei! Como posso estar aqui em cima e na popa deste cruzeiro? Onde estão a praia e o sol se pondo? Quando ficou tão tarde? Será este fio o Tempo?

Abela estava sorrindo longe de todos na popa do navio pensava no ano que viria. Era 2014. Ela era feliz e não sabia. Era?

terça-feira, janeiro 03, 2017

Descobertas



erradas linhas desentortam formam portas que se abrem sem chave
três traves travam tudo no nada
uma encruzilhada onde nem tinham paredes
há uma rede bem gostosa para embalar
um quarto aparece com quatro divisórias provisórias em um lugar antes inteiro

É janeiro primeiro antes das coisas começarem

mais uma miragem do novo daquele déjà vu acumulado da vida até aqui ali na nossa frente pousa pavoneando paralelos um pássaro
laço livre laceando liberdade no horizonte que se põe

compõe um som inédito com créditos carentes dos silêncios voam lenços antes tensos no vento preguiçoso denso diluído detalhadamente atrevido nos descobrindo raros.


+às 09h01, Rafael Belo, terça, 02 de janeiro de 2017+

segunda-feira, janeiro 02, 2017

Coisas erradas




por Rafael Belo

As pegadas atrás de nós mostram o peso da gente. Não os quilos do nosso corpo, mas o tanto de desnecessidades se acumulando dentro da gente. Cada um de nós traz uma quantidade incalculável de poeira escondendo quem somos e quem podemos ser. É uma sujeira curvando o corpo, baixando os olhos, adiantando um envelhecer inexistente no cansar dos olhos, no arrastar dos pés, na desistência triste lapidada na expressão sempre distante da face. Nossos pés estão tão fundo no concreto que é preciso muita flexibilidade para retirar a perna do buraco para o próximo passo.

Não estamos ocupando nosso espaço, nem estamos presentes. Vivemos de uma ausência complexa fabricando um vazio constante e estamos de enfeite na estante assistindo nosso próprio espetáculo sem nos reconhecer. Somos novos! Um novo ano acaba de nascer! Não somos promessas nem este ano ou os que foram e virão. Somos realidade, sonhos, presente... A simplicidade, os detalhes dos pequenos gestos... Nada de espera. Não me venha sentar e aguardar o fim dos tempos, o advento porque já acontece tudo isso em nós.

Somos este milagre que a gente tanto espera, esta chance de prosperar, esta oportunidade de se realizar, as boas novas, a Paz e o Amor. Nenhum destes é um sentimento. São estados da nossa Alma, são sujeitos do nosso Coração. Nós somos o tempo. Não há idade. Há a experiência e a sabedoria tentando serem vestidas, respeitadas... Mas, veja só - olha a gente – nos deixando levar pela ira, pela discórdia, pela ausência, confundindo esvaziar com vazio, esquecendo de nos olhar nos olhos, entregar um sorriso, desejar o bem e o bom...!

É de se envergonhar nossas mentiras, nosso comportamento, este temperamento velho, rançoso dominando a necessidade criada de dinheiro e glória. Quem ganha com nosso egoísmo, nosso empobrecimento de ideias, nosso esfriar do coração, nosso apequenamento da alma, nossa descrença? Por que matar nossa criança e impedir a infância de quem nem chegou a adolescência? Estamos nos tornando máquinas da eficiência: duros, mecânicos e conectados. Buracos negros engolindo nossas mãos estendidas entretidas com as coisas erradas. Nossa liberdade faz revoada de um pássaro multiplicado e nós não vemos nada.