por Rafael Belo
Não parecia haver mais sentido. Não
era uma coisa específica, mas todas. Ela já nem conseguia pensar. Já não tomava
banho há 15 dias, não falava com amigos, não atendia celular, não usava mais a
conexão virtual. Mal conseguia ficar acordada. Sentia um desespero e um aperto
na garganta dolorido... Lauri sentia estar sendo enforcada novamente! Estava com
tanto medo que chorava. Achava que a qualquer momento iria sufocar e a dor era
terrível. Eram dezenas de agulhas perfurando o mesmo ponto e sendo retorcidas
até quebrar no lugar...
Não entendo! Para onde foi todo mundo. Será ... Será... Será que morri e
este é meu inferno? Não tenho voz e estou sufocando. Meu maior medo era este...
Não, era perder a cabeça... Mas, por que estou falando no passado? Tanta preocupação
está me enjoando... Acho... Droga! Este gosto horrível que fica na boca. Onde estão
os espelhos desta casa? Nem vidro tem por aqui? O que está acontecendo? Preciso
sair daqui... Não sei se estou mais apavorada ou irritada e quem vai saber?
Olha! Tem gente nas ruas! Como sou idiota... Achei realmente que não
haveria ninguém? Que eu seria o último ser humano? Estou assistindo filmes de
mais... Mas ninguém fala comigo, ninguém me vê... Não não não não... Alguém me
ajude! Por favor! Aqui. EII!! Concentre-se Lauri. Não adianta botar as mãos na
cabeça, esfregar o rosto e os olhos. Pense pense pense!! Um telefone tocando
longe... É na minha casa? Não consigo correr! Por favor, não pare de tocar! Ótimo!
Agora todos me olham...
Deixei tudo aberto? Alô? Cadê minha voz? Se eu não ouço ninguém ouve,
certo? Não acredito que esta operadora ridícula quer me vender pacote com esta
conexão ridícula! Ahhh. Ótimo! Arranquei o telefone e o roteador da parece...!
Espera! Se o céu está dentro de nós, o inferno também está... Eu preciso mudar,
eu preciso mudar, eu preciso mudar... Nossa! Quão longe podemos ir com o
pensamento? A imaginação é tão forte... Há quanto tempo estão me chamando? É
tão fácil se perder, se entregar...
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