por Rafael Belo
Não era a primeira vez que Biane
via aquele beija-flor. Só podia ser ele... Mesmas cores, mesmo jeito... E ela
já o tinha observado tanto... Não tinha como se enganar... Sempre que ela
estava se sentindo mal, ela o sentia. Primeiro era um sopro, uma brisa além de
suave roçando na pele dela, depois ela sentia um enorme bem-estar e sabia estar
sendo observada. De repente ele aparecia. Ela o chamava de esperança porque era
assim o sentimento quando ele surgia e tudo parecia fantástico e tudo seria
feliz, mas... Hoje foi diferente. Houve tempestade, tudo alagou, a energia foi
interrompida, não havia conexão com nada, então, ela o viu. Estava debaixo do
toldo e rodeado de galhos estranhamente o destacando tristonho no meio.
Não! Não! Vai embora! Por que estou pensando isso? Esperança parece um
borrão... Não consigo focar minha visão nela... Tem algo muito errado! Ela não
vai voltar mais. É uma despedida! Mas, por quê? Ela... ela... Nem voou ao meu
redor! Ela treme! Esperança treme por isso não consigo vê-la direito. Está
seca, não está? O milagre vai embora... Nunca me esqueço das vezes que chegava à
casa ou saia e lá vinha ela me ver... ME VER! Que Alegria! Ainda mais quando
deixei de ser adolescente, cheguei aos 40 e lá vinha ela...
Claro, você vai dizer ser impossível. Só porque a expectativa de vida de
um beija-flor é de 12 anos? Pois é, deveria passar a chamá-la de Milagre, mas
não podemos falar dos milagres... Eles parecem parar de existir no momento
exato de verbalizar o ato... Bem, agora passei dos 99 há alguns anos e a
Esperança me incentivava com a mínima presença dela. Pairando no ar, voando
para frente e para trás, desafiando a vida, a normalidade, as regras e me
dizendo ser possível eu também voar na contramão...
Parece ser um adeus guardado, amargurado, agoniado, trancafiado para não
acontecer... Queria ver uma última vez estas assas batendo em até 80 vezes por
segundo, o coraçãozinho estaria em até 1260 vezes por minuto, mas assim
estranhamente parado, enquadrado deve estar a 480 batidas por minuto... O Meu
já bate 70 vezes por minuto, mas agora... Olá, Esperança! Veio me ver ou me
levar? Agora não consigo não sorrir, ela me olha e já não é mais um borrão! Vem
em minha direção, a janela aberta.. e então...!
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