por Rafael Belo
Não era um dia comum. É bem
provável que isto de comum seja pura invenção... Era manhã, mas ainda não havia
amanhecido. Todas as tonalidades de nuvens cinza se espalhavam pelo céu,
bloqueando a luz e deixando a sensação de fim e não começo. A qualquer momento
as ruas virariam rios e a fobia de chuva parecia a maior ironia contagiosa dos
últimos anos. Quase toda a população tinha a sarcástica ombrofobia. Adana ria
sempre que pensava nisso. Ela imaginava os governantes dando de ombros
convulsivamente para todos... Não, não era engraçado, mas chorar ela não iria. Esta
palavra era mais uma apropriação do grego. Ómbros significa tempestade de chuva
e phobos, medo ou aversão.
Vivo em tempestades. Com certeza não sou a única, sou mais uma e aquelas
famosas feitas nos copos d’água então... Há tantos medos nos perseguindo como
pesadelos nestas falências múltiplas de tudo, inclusive dos nossos órgãos. Nem sei
se sinto algo mais... Não consigo me conectar de maneira alguma... Será
possível comprar um desfibrilador? Deveria ser item obrigatório nestes dias de
fobias e pesadelos, quem sabe o coração não volte realmente a funcionar...
Quanto tempo vamos aguentar ficar sem respirar nesta atuação da morte?
Sou obrigada a encarar esta chuva. Espero não paralisar. Preciso chegar
até o outro lado da cidade. Precisam de mim por lá... Será que decorei todos os
buracos destas ruas? Há algum espaço para passar com o carro ou sequer com a
moto? E a pé? Os ônibus nem podem passar mais quando a chuva passa de meia
hora. Foi proibido. Imagine só... ! Diziam que os motoristas de ônibus eram
imunes ao medo de chuva... Parece não haver mais imunidade, só impunidade e
cada vez mais doenças novas e velhas...
Os celulares e os semáforos já não funcionavam
antes quando começava a chover... Agora parecem desligar completamente...! Nem
ficam piscando em alerta como antigamente... É possível uma máquina adquirir
fobias humanas? Nossa nem sei mais como sair de casa. Ninguém se arrisca a sair
neste tempo e eu... Parece que estou em um rio e não em uma rua... Se eu andar
muito devagar afogo literalmente, rápido também... E agora? Meu Deus! Meu Deus!
Meu Deus! Cai? Foi de uma vez... Qual o tamanho deste bu... Cratera? Será que
um desfribilador funcionaria na água ou eu morreria eletrocutada ao invés de
afogada? Será que os pensamentos acabam quando você
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