sexta-feira, setembro 28, 2018

sem verdades absolutas (miniconto)






por Rafael Belo

Nada é distante. Ainda mais se temos o meio de chegar. O meio e o motivo. Não sei em qual tempo estar, qual tempo conjugar, mas chego e quero. Não coloco filtros mais quem dirá máscaras. Mas para chegar até aqui, neste caminho de dramas e contatinhos, você precisa tirar a trilha de cadeados e máscaras que te fazem me seguir. Ao chegar aqui verás não existir nenhuma personagem. Todas estas pedras metamorfoseadas neste atalho até mim são obstáculos inexistentes.

Só eu olho para trás e vejo por onde vim. Para vocês este é só mais um artifício para algum interesse velado. Eu digo agora, antes de encerrarem as votações, sou mulher. Não perco interesse facilmente. Não sou nem serei candidata. Mas, cansei de gente tão chata achando conversar com ameaças e ofensas, ter argumentos com gritos , ironias e humilhação. A minha razão é ser nua e crua. Não sou heroína. Rejeito máscaras, capas e proteções.

Só estou vivendo o agora e tirando máscaras ainda desconhecidas até por mim. Todo dia eu redescubro meu eu natural observando o amanhecer selvagem onde negamos ser os animais sem propósito que demonstramos ser atrás de sobrevivência, sexo, violência e alimentação. Este carnal entregue… Mas se vejo em mim um corpo liberto florescendo Belezas de um divino infinito além da compreensão do corpo, deixo este pulsar em sensações.

Por contratar os chatos eu vou presa, mas não calada. Não seja mais um chato. Digo isso enquanto minha liberdade de expressão é amordaçada, amarrada e transformada em uma  fakenews viralizada exposta no horário nobre da tevê aberta e pipocando a toda hora no WhatsApp. Eu me permito ser mais humana e quero o mesmo para a humanidade. Ainda assim, com esta aparência de caos, me sinto em harmonia cuidando e sendo cuidada. Vendo o Amor no final de mim, então, todo este ódio e desamor vai se chocar com algo tão lindo e quem sabe comece a enxergar e o Ser Humano ressurja sem verdades absolutas enxergando a inexistência do tempo e da distância.

quinta-feira, setembro 27, 2018

aconchegando






senti meu rosto entre meus dedos
chovia choro com chuva
um sal doce de mim mesmo
sem síntese resumo eu cru

toda minha história em minhas mãos
meu molhado mistério no olhar
desabafo da enchente e seca da pele

minhas dores me reforçam
se afogam sequidão se secam inundação

grito carne berro alma minha razão é outra estendo aconchego a quem ainda não se encontrou lar.
+às 18h17, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 27 de setembro de 2018+

quarta-feira, setembro 26, 2018

enquanto eu dormia (miniconto)






por Rafael Belo

Minha face era desconhecida até para mim mesma. Parecia delicada, confiante, uma perfeita máscara social, mas por trás desta adaptação sintética há algo mais pesado. É como olhar para frente e para cima, mas na verdade ter dor na nuca porque meu rosto vive voltado para o chão com o peso de tantas câmaras misturadas às camadas de quem não sou. São tantos cadeados nas fechaduras desta máscara de ferro que já nem lembro mais quais os códigos da libertação.

Cada número está na minha frente. Eu os vejo, mas não os entendo. Fico presa em um desconhecimento e em mim, desconhecida. Mas sou figura conhecida que muitos julgam serem amigos, conhecer… Eu rio de nervosa, chego a perder o controle dos músculos e tremo. Depois procuro os motivos dentro do vazio dentro de mim só para me cansar. Eles fogem. Como demônios me possuindo, se negam a dizer o nome e eu sigo no desconhecimento ao não pertencimento.

Enquanto pensam eu ser muralha, estrutura, firme bloco, eu desmorono. Vivo desmoronada como se insistisse em viver nas áreas de risco da cidade e todo ano as chuvas levassem tudo que tenho. Sempre um pouco mais que nada. Como dizer: eu não sei quem sou e não sou quem você diz eu ser? É tanta gente dependendo destas minhas máscaras que qualquer coisa fora do roteiro que eu faça vem direto para as minhas decepções e fobias secretas.

Hoje eu acordei no meio de vocês sem vocês saberem quem são. Vocês perderam a memória e não sei julgar se é egoísmo eu fingir também não saber quem são vocês porque, para mim, parece ser a primeira vez que vocês estão no meu lugar. Eu admiti não saber quem sou, ontem assim que terminei de descaracterizar minha personalidade quando todos esperavam que eu cantasse. Talvez tenham tido todas as dúvidas entre realidade, interpretação e ironia. Mas agora que liberei o monstro que sinto ser ainda não tive coragem de abrir o último cadeado. Parece que enquanto eu dormia soube finalmente decifrar todos os códigos dos meus cadeados.

terça-feira, setembro 25, 2018

pontuando errado








não sei se minha máscara veste o mundo
o quanto esconde aquela vela luz em mim
esta velha alma esperando o corpo
tirar as capas de um falso herói

uso tanta proteção virando dores
tudo é uma costura de ais
cada dobra em mim sofre em dobro

com tanto sintético me fazendo síntese
me sinto uma decoração de plástico

finjo fazer fotossíntese e ser um ponto final.

+às 16h08, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 25 de setembro de 2018+

segunda-feira, setembro 24, 2018

Estenda a mão






por Rafael Belo

Eu vejo máscaras por toda parte. Mas só quando não olho porque quando enxergo ali está a pessoa debaixo de tantos sentimentos enrijecidos nos padrões faciais feitos de traços de defesas pessoais. Há dor lá. Muitas cicatrizes e muita poeira para ser removida. Maquiagem feita para encarar os outros e as coisas que damos tantas importâncias. Na verdade, isso só cria distâncias, principalmente, de nós mesmos.

Estas máscaras vêm em um kit distribuído gratuitamente em qualquer lugar. Contém capas e proteções impedindo nossas sementes de germinarem, que dirá oferecer o florescer. Podemos ver os caminhos a serem percorridos, mas como se permitir correr o risco em um caminho não percorrido ainda? Estamos emergidos sem sequer termos feito a imersão. Precisamos da sensação de ser nós mesmos e esta precisa ser visitada e revisitada até voltar ao seu curso natural: de dentro para fora.

Podemos ter cuidado e cuidar para criar este fluxo e fluir. Ter cuidado com o outro na tradução do sentimento, não é ficar atento ao que este pode fazer contra nós. Pelo contrário. Ter cuidado é cuidar do outro, oferecer carinho, amparo, presença e assim nos cuidamos também porque vamos virando primaveras sem fim e acabamos por dar frutos e aquela vontade de cheirar, de apreciar, de curtir cada momento e dançar com o ritmo deste novo coração liberto.

Por meio das sensações e através delas somos nós mesmos. Desarmamos qualquer impedimento tolo capaz de gerar violência e contra nós mesmos e ao próximo. Assim, podemos enxergar o poder da paz que aduba a terra para o Amor, o próprio e aquele transbordando nos permitindo a liberdade de tratar o outro como a nós mesmos. Esta seria a Beleza da humanidade. Esta é a melhor forma da sobrevivência, de subir o próprio patamar para se elevar a vida e estender a mão para que o outro viva também.

sexta-feira, setembro 21, 2018

Está tocando minha música (miniconto)





por Rafael Belo


Está tocando minha música. É agora que toda conversa some. Todas as pessoas desaparecem. Todos os programas se apequenam, se solucionam. Visto meus sentimentos. Dispo meu sorriso. Sintonizo minha energia e ela me conecta com outro alguém na mesma vibração. Não há peso. Não há músculos. Sou um impulso deste sentir. Eu sou a pista. Eu sou o som. Sou o ar. Também sou a terra e o fogo. Sou toda a  água fluindo. Além de tudo isso… Eu sou a conexão.

Sou um encaixe dentro de mim, dentro do outro. Solta neste salão chamado ar livre, clamando o céu aberto, fluindo a energia compartilhada por todos nós quando silenciamos tantos impedimentos, tantos barulhos nos tensionando, nos pressionando dentro de tantas caixas, impedindo a gente de ouvir a liberdade nos chamar para dançar. Então, eu sinto o arrepio dançando na minha pele chamado o brilhante sorriso a tocar a alma já fora do olhar, a flutuar em alívio e evolução.

Meu corpo é alegria, alma e coração. Eu sou o ritmo desta canção, sou cada instrumento, sou minha própria pausa. Eu apenas reajo. Não penso. Sou... sentimento, movimento… Cada átomo da respiração. Sou pura emoção. Sou tempo e espaço. Eu e o Todo. É tanta profundidade interagindo com tudo e nada que nesta entrega eu vou... Meus olhos veem fechados. Não há prisão em mim. Não existem grades que me prendam. Não há infinito que me caiba.

Estou toda asas e só sei dançar para expressar gratidão. Minha pele inspirada lateja. Meus pés descalços desejam. Eu renasço a cada passo e me olho parte por parte inteira. Sou novidade. Curiosidade de como o Universo conspira em mim novos desdobramentos, ressignificados, retirando tudo o que é pesado para um transbordar desconstruído contínuo que me torno e eu o entorno embebeda desta poesia cósmica que começa a se sentir pelo ouvido e então tudo é orgânico, novo e eu vivo.

quinta-feira, setembro 20, 2018

e a gente dança






minha alma chora de alegria por incontenção
transbordando transferência de peso
indo de encaixe em encaixe flutuar
na leveza real de ser unidade

a emoção se movimenta em verdade
desenhando no chão a Árvore da Vida
na velocidade de um passo por arrepio

não há desafio para o corpo quando ele é alma
são sorrisos soltos em respirações

minhas conexões são luzes massageando a pele quando sou canção te sentindo comigo
e neste equilíbrio a gente dança.

+às 15h45, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 20 de setembro de 2018+

quarta-feira, setembro 19, 2018

parei no meio da pista (miniconto)







por Rafael Belo
Eu parei no meio da pista. Estava em um salão de dança. Achava estar sendo observada por todos os lados. Na verdade. Era de um único lado. De dentro. Eu estava me limitando. Eu estava me prendendo. Eu estava desconectada de tudo. Estava precisando de uma limpeza. Estava precisando de menos. Mas cada parte do meu corpo que eu tentava soltar… Era uma dor medonha. Tamanha. Eu parei para me perguntar há quanto tempo venho me ferindo deste jeito? Há quanto tempo venho me condicionando em tantas caixinhas onde nunca coube ou caberia?

Foi como um colapso. Meus músculos não aguentavam mais, minha mente faziam minha cabeça doer… Era o fim de algo e eu nem entendia. Estou aqui. Estou parada. Não consigo ligar nada nem desligar. Gostaria de relaxar e mandar a eletricidade artificial embora. Está luz dela não me serve, nunca serviu… Parece estar ali oscilando quente prestes a se apagar ou com o objetivo de me hipnotozar, mas não me permite enxergar de verdade. Eu quero a energia das conexões, mas…

Onde estão? Gostaria de poder enxergar… Gostaria de poder fechar todos este olhos julgadores, gostaria da leveza das folhas quando soltam suas pétalas para a mais leve brisa a direcionando a própria vontade… Mas, talvez seja cedo demais para mim. Então, vou deixar aqui neste lugar. Nesta pista fria irregular, neste salão vazio e assustador, nesta lista de cobranças de movimentos, de passos, de ser melhor na vida, mas eu sei só poder me comparar a mim mesma!

Quero sentir o que sustenta este piso, o que está abaixo deste chão, mas a conexão precisa vir de mim, desta energia que meu cérebro comanda organicamente para o encaixe dos membros no corpo, se esforço, sem músculos, tudo ascendendo a chama do meu coração para a minha alma. No entanto, eu preciso de calma, de silêncio, quero meu campo distante, minha praia deserta e, por enquanto, só consigo ser esta cidade barulhenta nas cobranças incabíveis sem fim. Até mudar vou estar parada no meio da pista sem ser quem eu sou.

terça-feira, setembro 18, 2018

tensão





não teve olhares
o toque era frio
a distância pesava entre os dois
eram duas bolhas

cheias de passos repletas de movimentos
todas os sentimentos estavam espalhados
eu olhava meio de lado rígido

só sentia a tensão sem nada do sentir
caíram todas as conexões

aquela transferência de peso não tinha consciência não era dança.

+às 14h36, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 18 de setembro de 2018+

segunda-feira, setembro 17, 2018

Para melhor escutar





por Rafael Belo

Eu sempre tive vontade de dançar. Parecia algo inerente ao meu corpo. Se eu fechasse os olhos meu corpo se moveria inspirado pela letra, instrumentos, melodia, pela música... Sempre me inspirou. Eu me divertia, mas alguma voz inadvertida me repreendia por algo não estar certo. Passos, ritmo, dança... Também sempre desconstruí palavras, rimas, significados, imagens, sentimentos, respirações. Aliar tudo isso a fechar os olhos e harmonizar o corpo com o invisível me ressignifica mais uma vez. É terapia dissociativa unida as palavras do universo.

Neste verso eu me crio, recrio, silencio, sorrio e grito. Dançar te prepara para a vida e te desmonta. Há expressão de tudo isso em duas personificações: Brenda e Anderson. A história deles. Tudo que a dança fez e faz até aqui com estes dois. A alegria incontida ali. Aqueles sorrisos livres e iluminados. Entender o sentir e o sentimento pela leveza e intensidade do toque. Limpar a mente. Relaxar o corpo. Dá uma clareza para dançar até nas sombras. Dançar é ser poesia. Ah, e eles são Poesia.

Estar trocando experiências com Brenda e Anderson foi mais um degrau evolutivo, não só na dança, mas na vida. Em dois dias reduzidos a poucas horas - porque não há tempo para dizer ser o suficiente -, eles lembraram a todos ali presentes, compartilhando, que a primeira expressão da alma é o movimento, o silêncio, a concentração, o relaxar, uma descoberta constante do equilíbrio e da liberdade do corpo. Diante de tantos obstáculos na vida, no tempo deles, eles foram lá e dançaram, ressignificaram os problemas, as dores, os amores os traduzindo em liberdade da ponta dos dedos dos pés até o último átomo sobre a cabeça.

Brenda Carvalho e Anderson Mendes são seres humanos únicos construindo e desconstruindo diariamente provocando reflexões e muitas emoções com o que mais amam: a dança. Como cada um de nós que parou de repetir e passou a questionar, a liderar a si mesmo, eles ensinam os primórdios do ser humano. Os primeiros momentos de aprendizagem, a pureza, a atenção aos detalhes, a cada parte de si mesmo e assim elevam a arte de dançar porque cantar ainda necessidade de som, mas o corpo para dançar completo, inteiro, íntegro, puro, precisa do silêncio dentro de si para melhor escutar.

sexta-feira, setembro 14, 2018

Estamos em guerra (miniconto)







por Rafael Belo

As pessoas cultuam a saudade e a dor por aqui. A sociedade da dor e da saudade. É o que move a economia neste mundo destruído. Nesta terra desatenta, os joelhos se dobram sustentando o mundo, as culpas, os mares se formam de saudades transbordando em deturpações latentes, queimando, dilacerando estes alimentos adulterados com vidro moído nos triturando por dentro, nos matando para desvalorizar as pessoas e valorizar objetos, status, a velha aparência padrão desdenhando de pele, corpo, classe...

Eu era estas pessoas. Tentei derrubar este sistema e posso dizer que estou morta. Para a sociedade, para o sistema... Venderam minha atitude, minha voz, tentaram me deletar da existência, mas havia muitos backups de mim por aí e os downloads foram realizados com sucesso. Eu viralizei e a cada tentativa de sumirem com algo, apareciam milhares de avatares meus contaminando cada clique com views desta sociedade lucrando da nossa dor e transformando a saudade quase em uma maldade...

Quando derrubaram todo o sistema para hackearem toda a tecnologia rastreada deste mundo do avesso, eu realmente tive de desaparecer. Dada como morta, não poderia morrer novamente, não poderia aparecer que qualquer câmera ou smartphone me denunciaria e em instantes meu mito seria arrancado de toda a existência. Eu tive que aprender a sentir dor e saudade novamente. Minha insensibilidade crônica causada pela Síndrome de Riley-Day me fez viver uma jornada em busca dos meus neurônios sensoriais...

Haviam células troncos experimentais capazes de serem redirecionadas para a criação destes neurônicos. Funcionou e adivinhem, virei experimento. Todos viram a primeira vez que chorei, que senti dor, mas eu aprendi biológica e neurologicamente a não permitir ser dominada pela tristeza na hora da saudade e pela negativada na hora da dor. Então, eu ria ao chorar também, eu sorria ao lembrar do passado, das pessoas... Eu era uma anomalia de risco. Eles me consideraram um risco ao equilíbrio nacional e hoje eu sou uma foragida. Não estou sozinha e nem original pareço diante de tantas distopias, mas eu sou real e desperto ao menos a reflexão e só de causar este risco causei o colapso desta economia. Estamos em guerra quer você saiba ou não.

quinta-feira, setembro 13, 2018

por ter






deitei na grama matinal
o orvalho se misturou a mim
fiquei imóvel até ser parte abstrata
daquele ciclo concreto

sorri sozinho sendo solares raios
contei tantas quedas mas não doía
veio a saudade deitar comigo

desta grama fértil  escavei reforços
sujo de terra verde céu

suspirei aqui juntando tantos eus felizes por terem saudade.

+ Rafael Belo, às 17h11, quinta-feira, 13 de setembro de 2018, Campo Grande+

quarta-feira, setembro 12, 2018

Ciclos (miniconto)







por Rafael Belo

Eu parecia digna de uma internação. Ria e chorava sem saber qual era qual mais. As pessoas desviavam de mim. Desviavam! Que mundo é esse, gente! Isso significa que preciso de ajuda e não isolamento. Ei! Quem chamou a polícia? É porque sou mulher, não é? Se afastem! Saiam! Não encostem! Não fiz nada de errado. Tenho mais direito que estas propriedades! Sou uma pessoa, não a droga de um estabelecimento comercial escravizando estes pobres coitados por um salário indigno... Tira a mão! Espera! Vou chamar meu advogado! Lógico que tenho! Devolve meu celular! Você não tem esse direito!

Você não deveria ter esperado tanto! Como estão os machucados? Eu não bati neles! Eu me defendi! Eles me ofenderam, me agrediram, disseram que tinha saudade de quando as mulheres eram obedientes... Vai se f*&¨%@! Foi demais para mim! Quando tentaram me subjugar aí me defendi e só dei um golpe em cada um, não importa que desmaiaram ou se omiti as minhas graduações marciais. Você viu quantas visualizações tinham os vídeos? Quantas pessoas gravaram e subiram no Youtube? Viralizou é? Por isso a gritaria lá fora... Ninguém descobriu minha identidade. Eles não podem me obrigar a dar minhas digitais ou qualquer outra forma de identificação e...

Eu disse para você não falar com ninguém... Como você? Seu filha da p*&¨% mexeu nas minhas coisas. Como fica minha teoria da dor e saudade serem a mesma coisa? Seu bosta! Não sei como me sentir com isso além de raiva... Você falou algo de Enoque, Matusalém, Lameque, Noé... Tudo bem! Só espero não ter falado daquelas realmente importantes Betenos, Ada, Zilá, Naamá, Enzara... Não falarei o nome de todas. Este patriarcado falso nunca existiu o homem não pode gerar nada. Só saudade e dor. Nós fomos contagiadas com ambas e ainda...

Deixa eu me calar. A saudade e a dor serão despertadas agora na forma certa. As lágrimas serão enfim novos oceanos. Escute a comoção lá fora. Escute os celulares, as rádios, os podcasts, as tevês... Estão todas ligadas neste momento e por alguma razão que ainda desconhecem falam de dor e saudade... Eu devo voltar a rir e chorar como se só fosse saudade, como se tudo acabasse em dor e cada vez mais minhas prisões serão menores. Está na minha pele, no meu coração, na minha mente e na minha alma. Minha caixa final nem tem grades. Agora minha prisão é real!

terça-feira, setembro 11, 2018

Quem







quando a saudade bateu no peito e gritou
já veio do colapso da mente no tempo
fiquei me olhando ali selvagem
sem saber o que fazer com as malas nas costas

eu cai ralado vítima de mim mesmo
sem entender aquela dor me esmagando
com o rosto perdido foi minha cara arrastada

não sei se meu escândalo era compatível com alguma coisa
mas eu gritava dono de nada

o que eu esperava se me construí sem lar e não queria viver em mim
quem viveria nesta casca fosca?
+às 19h07, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 11 de setembro de 2018+

segunda-feira, setembro 10, 2018

Está em nós




V


por Rafael Belo

É normal sentir saudade. É comum sentir dor. Ambos também nos prendem e presos definhamos em uma solitária depois do último escândalo que fizemos reclamando de onde nos colocamos. Isso! Nos colocamos. Ninguém é responsável pelos nossos passos e por onde eles nos levaram. Esta dupla sertaneja, dor e saudade, ainda está na creche cantando as escolhas tão identificadas por nós. Eu sinto saudade do meu pai falecido, das minhas irmãs e meus sobrinhos morando longe, dos meus amigos, mas não é dor. São momentos que eu quero compartilhar com eles. Eu sorrio quando penso neles e sinto toda a energia que compartilhamos. É um impulso bem bonito.

Eu não concordo com a saudade doer. A saudade só dói quando aquelas boas coisas do passado são o nosso melhor. Quando seguimos em frente leves, sem amarras, sem pendências não há passado porque carregamos com a gente todo o bom e bem que sempre esteve aqui presente, torcendo por nós de alguma maneira. Nós vivemos sem o outro, nós vivemos sós. Esqueça isso de não viver sem alguém, a não ser que este alguém seja você mesmo. Se vamos no caminho da dependência não temos como compartilhar nada e tudo vira dor e saudade.

Saudade é um lugar tão bonito dentro do meu peito. Eu olho e vejo quantas histórias me contam, me constroem e quantas ainda estou escrevendo para este espaço sem fim. Aprendi a tratar a todos como família. Venho com esta minha alma antiga de tempos incontáveis tentando me unir em liberdade com as pessoas e não sinto dor. Sinto sorrisos saindo em Amor... Mas se pudesse recomendar o choro, recomendaria. Mas, só se você tiver preparado para o alívio, para pensar no próprio crescimento. Não há tempo para ficar lamentando o que não pode ser desfeito, o que feriu e o que ficou para trás. É daqui para frente o caminho das possibilidades, de se refazer, de crescer.

Sinto –me assim e não quero esconder as lágrimas possíveis de representar uma dor que vai indo quando percebida. E a cada gota de lágrima caindo brilhando a saudade nestes dias corridos eu me sinto revigorado, preparado, olhando para o horizonte atento ao tempo. Sem pensar por um instante para no instante seguinte eu pensar o quanto cada um é capaz de mudar, de crescer, de sentir falta e “de repente” começar a criar e fazer tantas coisas que só posso encontrar maneiras para aprender a encontrar diariamente esta capacidade em mim mesmo também e eu sei que aqui ela está.

sexta-feira, setembro 07, 2018

as cartas que eu deixo (miniconto)






por Rafael Belo

Apesar das notícias antigas, você sabe que eu vejo novidades. Você vem quando brilham meus olhos. Você os vê brilhando e finge não ser nada. Por isso, sigo indo embora e deixando novidades escritas à mão. As cartas que eu deixo é para você ter certeza. Eu sei que está atrás de mim. Mas, você só vai me alcançar quando eu cansar. Azar o seu se eu canso das pessoas e dos lugares antes de você chegar.

Você tornou tudo mais difícil quando divulgou minhas cartas como novidade. Mas só por um tempo. Logo eu fui copiada de todas as formas. Agora é tão comum e chato. Todos fazem o mesmo enquanto curtidas, comentários e compartilhamentos estiverem acontecendo depois é o próximo. Eu sei. Sei de cada uma das tuas tentativas. Não vai funcionar de novo. Somos espíritos antigos em corpos que não envelhecem…

Não contamos o tempo da mesma forma. Eu tento dormir só para me misturar. Tento reclamar para ninguém desconfiar. Tento estar na maioria dos rolês para ninguém ficar falando. Tento fingir embriaguez não importa quantas misturas de bebidas nem sequer fazerem efeito… Tento até me relacionar, mas talvez realmente eu não tenha coração como você me acusou certa vez. Você tem certeza que não o devorou pouco depois de despedaçá-lo?

Eu tento esquecer das coisas, dos nomes, dos lugares, das pessoas, mas eu esqueço mesmo é das possíveis dores… Ainda não descobri o motivo de armazenar tantas informações se a seleção natural deixou de ser eficaz e é assaltada, burlada, ignorada, assassinada pelos contatos, pelas relações e minha balança jaz enferrujada ao som de algum esquecido jazz… A única coisa que ainda me faz procurar é eu ter dado minha Palavra existir boa poesia por aí. E como nosso tempo é outro, eu vou seguir deixando minhas cartas e você, único capaz de ler, segue tentando provar minha existência.

quinta-feira, setembro 06, 2018

saiu da multidão





passaram as novidades
e eu só acompanhei com o olhar
já haviam passado há tantos passados
que sentei ali tentando conversar

não houve diálogo mais do mesmo se foi
mas meu rosto ficou iluminado
desembalado encarou a repetição a rejeitou

o desfile seguiu porém quem me viu ficou
vivendo aquele momento revelador

parados eu relógio quebrado e aquela que saiu da multidão e me consertou.

+às 16h26, Rafael Belo, 06 de setembro de 2018, quinta-feira+

quarta-feira, setembro 05, 2018

Tudo de novo (miniconto)





por Rafael Belo

Não sou este tipo de monstro, ele me disse. Eu só pensava a partir de então qual tipo de.monstro ele seria se eu sobreviveria a esta noite. Ele riu de um jeito descontraído e debochado. O que disse em seguida me assustou e deixou claro que ele sabia o que eu estava pensando.

Mas, você também não é este tipo de monstro, nem o mesmo tipo que eu, mas é meu tipo, ele continuou. Ele estava se divertindo comigo como um gato antes de se alimentar. Ele é um gato, mas espera. Eu sou um monstro também. Do que ele está falando, afinal? Eu nunca mais vou me encontrar com ninguém de aplicativo… E pela milésima vez, é verdade.

O ser humano é um ótimo disfarce. Sempre foi. Até em outro ciclos e outras linhas temporais. Um saco de pele cheio de emoções e contradições que se dá tanta importância quando tudo praticamente é insignificância. Conseguiram até acabar com o que de mais forte tinham: a união, a comunidade, a sociedade, o amor, a amizade…

Eu não sentia que ele estava brincando. Foi aí que realmente ele ficou sério e quando me tocou dizendo que era hora de terminar mais uma vez. Eu chorei e me lembrei. Quantas vezes nós tínhamos nos separado só para voltar a nos encontrar inevitavelmente. Estávamos provando esta teoria das almas, mas o mundo estava acabando novamente. Sem novidades. Íamos chegar aos sete dígitos de milênios e mais uma vez nos esqueceríamos de quem somos. Morreríamos para fazer tudo de novo.

terça-feira, setembro 04, 2018

não sabemos








não há nada novo não há nada interessante
os semblantes estão apagados os indivíduos embriagados
todos guardados nas caixinhas dos achados e perdidos
as vidas seguem bem cuidadas pelos outros

totalmente descuidadas por nós mesmos
embalados na embalagem dos medos
treinamos o olhar de fortes

enfraquecidos pela coleção de inseguranças
na confusão das abundâncias com fartos glúteos

surdos ao que nos dizem os sinais os demais adiante nem procuramos nos informar e ainda não descobrimos como parar.

+ às 16h05, Rafael Belo, terça-feira, 04 de setembro de 2018+

segunda-feira, setembro 03, 2018

Sem novidades






por Rafael Belo

Não há novidade por aí. Todas as crianças agora estão entretidas em brilhantes telas móveis, antes eram notebooks, antes eram computadores fixos, antes era a televisão... Mudamos os métodos devido aos constantes upgrades, à tecnologia nos atropelando sem sequer termos tempo de respirar e ela vai muito mais rápido, mas o interesse do mercado é vender aquilo que está muitos passos atrás do que estão fazendo no momento. Nossos filhos ainda são os mesmos e os métodos de maquiagem virtual são tão avançados com tutoriais no Youtube que as imagens são algum padrão novo de beleza irrelevante. Não temos certeza da aparência de ninguém e vociferamos por toda parte sobre o quanto não nos importamos com esta, com os padrões, ainda assim nos atraímos por eles na nossa hipocrisia diária para ter o prazer de postar nosso novo papel de trouxa por termos sido enganados exatamente da mesma forma pena incontável vez. Nós precisamos da atenção que não damos para nossos filhos.

É um ciclo vicioso. A poderosa droga inebriante levando o raciocínio para algo mais distante... Somos desviados. Os desvios infinitos nos penduram no varal do desinteresse. Fica para a conta do dia esta dívida. Estamos aqui na tal maioridade sem ter amadurecido nada, só seguimos cultivando novas sementes que nos fazem acreditar que sim, somos maduros. Somos independentes. Vivemos do nosso suor e reclamações diárias. Buscamos a riqueza, o orgulho, o glamour... Será que a satisfação faz parte realmente disso? Trabalhamos para seguir para o próximo trabalho capaz de nos dar acesso ao tal sucesso, mas basta ter coragem de ler sobre a vida das celebridades e balancear entre se sentir bem, fingir estar bem e vender a imagem de cheguei onde queria para saber que até fazer o que gosta precisa de um tempo, que há um limite onde tudo se inverte e sonho vira pesadelo. Esta é a maturidade?

Qual a relevância da maturidade, afinal? Reclamar que era tão melhor não ter responsabilidades? Seguir um sonho aleatório em busca de fama e glória? Ser exemplo? Alimentar fantasias de estar tudo bem, de estar fisicamente bem, financeiramente bem e estar com saúde mental em dia? E a paz? Onde está a paz? Parecemos estar ao mesmo tempo sentados em um trono equilibrado em um pedestal e presos em um buraco profundo na beira da praia enterrados até o pescoço com todos ao redor pensando ser uma encenação. Quando estamos em cima elevamos nossa caminhada, falamos da possibilidade de chegar, de quantos não acreditavam em nós... Quando estamos embaixo exaltamos nossas fragilidades, porém com a força da necessidade das quedas para subir de novo mesmo com a depressão, falamos das dificuldades, da vontade de desistir... Se formos seguir a história do mundo e de cada um, descobrimos tantas semelhanças...

Ao invés de tentar entender, de escutar, de ir dar mais um passo, pensamos em estratégias, na jogada seguinte, e mesmo afirmando não ligar, perguntamos o que os outros irão pensar... Somos formados na arte diária de deduzir. No final das contas não se trata do que o outro fez, mas de como isso atingiu você, o eu, o ego, a imagem... Este ó poder de uma informação. Verdadeira ou falsa, a informação sempre foi um meio para o conhecimento, para derrubar, criar intrigas, enfraquecer, manipular, a diferença é a velocidade, a instantaneidade atual. Há mais de uma década quando comecei a aprender jornalismo, estudávamos quanto uma informação não apurada podia destruir vidas para sempre mesmo se aquela inverdade fosse desfeita, recompensada, ela não volta. A imagem manchada, o nome sujo, a reputação destruída não é recuperada. Ainda a justiça brasileira retirou a validação do diploma e tudo é feito para tirar a credibilidade de veículos de comunicação, de jornalistas quando sem informação bem apurada, com técnica, nem um passo seguro é dado. Por isso, ainda hoje não há novidade por aí.