sexta-feira, março 30, 2018

Atração (miniconto)







por Rafael Belo

Sinto-me o vento. Soprando e sendo soprada. Livre de tudo que possa me prender e o que já me prendeu nem existe mais para mim. Já odiei, pratiquei o desamor… Fui tão indiferente que eu era referência para antipatia e quaisquer sintomas de frieza. Era uma prisão e aprisionava. Hoje eu liberto. Sou só energia boa. Nada de mal quero transmitir. Aí sou brisa quando te toco e me desloco dentro de ti. Neste momento não há dor nenhuma, só relaxamento. Deste desprendimento renasce um Amor imortal sem contradição. Sou incondicional.

Ando amando tanto. Ando dançando no sol, na chuva e como anda chovendo… Ando cantando como se fosse cantora e precisasse estar sempre com as cordas vocais aquecidas para alcançar todas as notas. Sinto-me sublime em uma independência conquistada diariamente, mas ainda tenho que ouvir cobranças veladas de estar em um relacionamento custo o que custar. Já nem me dou o trabalho de responder. Eu forço um sorriso e uma respiração curta mas profunda e já puxo um assunto polêmico impossível de ninguém conversar para na primeira oportunidade eu me afastar deste ar oprimido.

Não entendo porque tudo precisa terminar em estar pelo menos namorando ou transando… Sou mais minha paz e assim que me desconecto das bobagens e barras forçadas alheias eu me conecto comigo. De mim única barreira de proteção é contra energia negativa e a preocupação com o fazer do outro. Lógico que me preocupo com meus amigos, mas não os julgo. Apenas exponho o que estou sentindo e pensando… Parece ser meu dever se vejo algo aparentemente os atrapalhando a serem que são, mas enfim... É quase engraçada a imaturidade que eu disseminava com ódio antes até para eles…

Era tão pesado. Eu só pensava em dormir e comer e reclamar e tudo era negativo e difícil… Bem, não deixou de ser, mas eu não me enveneno mais. Eu me espalho feito livre vento, sou brisa quando preciso, ventania quando necessário, mas sem me perturbar por isso… Respeitar fundo e olhar nos olhos parece um remédio milagroso capaz de semear e fazer brotar o amor continuamente, incondicionalmente. É, hoje eu sou incondicional. Meu coração está saudável, tão livre e minha mente voa como se fosse minha alma. Não sou mais indiferente, mas não significa eu deixar todo mundo entrar e ficar até porque amor só atrai amor. E se você está lendo isso é porque você atraiu.

quinta-feira, março 29, 2018

águas de vento



não há ódio que fique por aqui
tudo se dissipa rumo ao inexistir
estou a partir a todo instante daqui
mas volto culpado de não querer ir

inspiro de olhos fechados expiro maus-olhados a me perseguir
fico abismado com a quantidade de abismos criados a seguir
de lado me sorri sincera simpatia do porvir

uma alegria floresce todo meu jardim
borboletas voam suas asas pousam eu me amo distribuindo estas flores em festim

escolho amar todos os dias sem fim em um mar de motivação deixo navegar meu coração nas águas de vento provocando a sensação de pertencimento com cada emoção a nos reunir em desprendimento
cada momento estende um infinito atrás do outro por pouco não fico pendurado eu caio e começo de novo.

+às 13h47, Rafael Belo, quinta-feira, 29 de março de 2018+

quarta-feira, março 28, 2018

poucos dias




por Rafael Belo

Presa na chuva. Maravilha. Tanto lugar pra chover na cidade e justo na minha região acontece o dilúvio. Todo um feriado irritado para aproveitar e eu devo é ficar dormindo sonhando com ovos de Páscoa não ganhos. Queria estar indiferente e cheia de ódio para descontar em algo ou alguém, mas não! Estou miseravelmente em autopiedade. Nem bobagens consigo falar para me distrair e os rolês estão tão irritantes… Nem saio no meio, às vezes, já chego indo embora. Aí tem horas que o ódio vem indiferente e eu finjo não ser de mim mesma…

Queria uma sobremesa gratuita da vida. Destas para saborear sem parar e não engordar. Existe isso? Será que um coração tão partido pode se juntar de novo ou ele se espalha de tal maneira a ponto de cada parte partida virar um coração novo? Se for este último eu posso distribuir sem me machucar de novo. Também nem sei nada sobre este assunto. Amor… Será possível alguém saber? No fim tudo parece vingança, ranço, ódio, indiferença e se terminou assim… Tenho certeza não ter sido amor. Talvez uma fagulha capaz de se alimentada ter toda a potência de se transformar nesta criatura rara chamada religiosamente de verbo vivo, mas tão banal nas bocas por aí…

Eu vivo de colecionar talvez, de não é o momento, de fins de semana, feriados e festas do fim do ano… Pelo visto vivo pouco porque são os que menos acontecem… Se eu contar dará ao menos um mês? Todo este ódio e indiferença que quero ter, já tive… Não quero nostalgia, voltar no tempo… Ou quero? A questão desta enrolação toda é o desânimo. Está me ouvindo? Estes montes de montanhas de promessas falsas não me movem mais e eu não movo mais estas montanhas… Sou uma menina imatura em um corpo de mulher desde a adolescência… Não poderiam os hormônios esperar eu crescer mentalmente, sentimentalmente também? Ou terei que ser uma eterna criança como os homens?

Não entendo como consegui deixar o ódio e a indiferença se transformarem em desânimo. Realmente agora nada me move. Nem me comove… Acredita que eu nem rio de memes mais? Ei! Volta aqui! É sério, viado! Vai mesmo? Traz um chocolate na volta, vai… Não queira ressuscitar meu ódio, reviver minha indiferença… Sabe, estas conquistas infinitas são de um despropósito… Não, não nos conhecemos e com certeza não te aceitei nas redes digitais. Oi? Conversando? Eu só estou falando com você porque poderia estar te matando com esta chuva sem fim me frustrando para variar, este alagamento virando um rio me isolando para não sair do lugar-comum e a total ausência de um conhecido para justificar minha agressão mortal. Exagerei de novo?

terça-feira, março 27, 2018

piras glaciais



há labirintos na desconhecida pele
a me cercar totalmente de todos toques
não é calor nem qualquer sensação elétrica
é muito além do choque

são sons de Alok em reboques  carnais
raves de inexistentes carnavais de retoques
confusões por onde não passo mais

elaborados dramas sentimentais os quais sou autor ator
ódios conjugais de verbos divorciados neandertais do meu eu usurpador

nas piras glaciais em chamas gélidas das pontes da indiferença ignorando a presença do amor ao escolher a dor sendo distribuidor de feridas abertas com sais.

+Rafael Belo, às 13h34, terça-feira, 27 de março de 2018+

segunda-feira, março 26, 2018

Estado do coração




por Rafael Belo

Eu olho para o mundo e o mundo me olha de volta. Não há um abismo entre nós, não há ódio nem rancor. Nem sei se há desperdício. Esta questão da dependência também... Assim, não depende apenas da forma que olhamos, não é?! Este tal de copo meio cheio ou meio vazio... Parece mais uma negação do equilíbrio das coisas, mas há tantos tipos de poder com o mesmo objetivo nesta politicagem onde somos protagonistas... Enfim, esta divagação é porque toda forma de poder também pode ser levada a uma interpretação de amor e ódio, sabe? “Eu presto atenção ao que eles dizem, mas eles não dizem nada”... Nós andamos assim, vazios. Achando semelhanças entre ódio e amor quando nem opostos são.

O oposto de amor é o desamor e do ódio, a simpatia. É fácil sentir ódio de alguém, de alguma coisa… Basta darmos a importância que não tem. Formularmos culpas e desculpas. Eu vejo o amor como algo transcendental, sem necessidade de motivos, prisões, retorno, cobranças…  É a extrema liberdade com o a mais de nos fazer feliz pelo outro. Nos faz sentir extremamente bem em relação a tudo independente de sermos motivo do bem-estar da pessoa amada. Infelizmente, eu não vejo nem percebo este sentimento encarnado por aí. Já desamor tem de sobra. A ausência de afeto e a total indiferença ao próximo ou até, a ação disfarçada de atenção e afeto movida apenas por interesses pessoais.

Assim, parece uma antiga conspiração para nos fazer desacreditar no amor, na esperança, no outro e no afeto gratuito. Já o ódio é disseminado e plantado com muita discórdia por toda parte. Distorce o melhor em pior. É um óculos negativo nos fazendo enxergar o que queremos e o que não está lá. Para tentar justificar este veneno nos adoecendo aos poucos e matando aos montes. Estamos sendo enganados e convertidos a um isolamento ao mesmo tempo agrupados com pessoas pensando da mesma forma. Pensamentos iguais somam de que forma além de um massagem no ego coletiva?

Aquele balançar de cabeça do rebanho tilintando o posicionamento de ideia fixo e a geolocalização constante para lançarmos as justificativas injustificáveis com aa frases de efeito: eu amo porque ou eu odeio porque...  E no fim acabamos não dizendo nada só procurando motivação para amar ou odiar. Eu penso que não fomos enganados como gostamos de pensar e dizer. Apenas não ouvimos nosso coração, nós nos enganamos. Peça desculpas a si mesmo, se perdoe, acredite ainda haver todas as possibilidades do mundo para quem sabe ainda descobrirmos o que é o amor… Aliás, como está seu coração?

sexta-feira, março 23, 2018

Invasão domiciliar (miniconto)






Por Rafael Belo
Tenho certeza não ser amor e isso não vai mudar. Eu olho para tantos homens com acessórios a mais faltando ou  e no fim realmente são todos iguais. Só não querem dormir sozinhos, ou melhor, sequer dormir querem... Fazem de tudo para conseguir isso. Podemos não ser tão diferentes e ter um coração mais exposto – grande parte de nós pelo menos – mas a fraqueza deles é negar chorar, chorar escondido... Este machismo que nos afeta mortalmente, ainda pior quando demorarmos para admitir sermos machistas também e como somos.

Eu não olho para ninguém com expectativas, bom, eu não idealizo mais as pessoas... Sei só eu ser responsável pela minha felicidade. E esta busca constante me trouxe até aqui. Livre quase como um pássaro selvagem. Muda aí o fato de eu não ficar arredia com a presença de ninguém, nem me intimidar. Ah, não. Não faço mais silêncio, nem reverencio ninguém. Não vou ser guardada na estante para observar e agradar. Quero flores, chocolate, mas muito mais respeito e uma cerveja bem gelada, faz favor. Mas, ninguém nem nada me compra com qualquer um destes itens e comportamentos. Nem diria procedimento legal, mas sim, procedimento normal.

Meu ideal não é encontrar um boy e reproduzir. É me divertir, evoluir... Melhor ainda: desidealizar. Aí eu quero matéria... Matéria física, presença, cheiro, toque, gosto, olho no olho, pele na pele... Não é um ideal isso é um materialismo conceitual, é um desejo, algo como ser embalado por uma animada música emotiva a me fazer sorrir e se eu fosse acusada de algum crime seria invasão domiciliar. Ah, porque eu iria invadir cada segundo da minha vida e daqueles próximos do meu limite domiciliar... Até não ter mais limites. Eu trabalho diariamente para tirar férias deste amontoado de ideais pesando as pessoas.

Não fujo mais de nada. Se tenho dúvidas, esclareço. Hesitar? Até esqueço da existência. Minha aparência vive brilhando ultimamente bem diferente de antes quando eu idealizava... Era tanta dor escondida que quando eu queria resolver já não era mais possível e a fila andava a uma velocidade moderada porque eu insistia em buscar aquele meu ideal de pessoa que jamais existiu. Agora, eu não postei isso para aparecer, viralizar... Não! Nem dê o seu like, nem post seu comentário e, por favor, não compartilhe. Inspire-se, inspire e, então respire... Para postar como você está se livrando dos ideais. Publique algo útil desta vez. Tenho certeza que o que precisa virá até você se você se mexer. Agora se mexa! Vá!

quinta-feira, março 22, 2018

eu desperto



eu acredito em dotes
isso que estamos fazendo é intenção
eu existo você existe não há ideais nem invenções
trocamos ideias dividimos beijos

indivíduos coletivos em uma relação
não nos perdemos só nos encontramos
quem está perdido é o tempo entre uma hora e outra da nossa desconstrução

ela é uma novidade diária
descoberta multifacetária da libertação

totalmente completa e eu integrado
estou desperto e ela me faz ainda mais acordado.

+às 11h38, Rafael Belo, quinta-feira, 22 de março de 2018+

quarta-feira, março 21, 2018

Seria ideal (miniconto)







por Rafael Belo

Achei que era amor e ainda acho. Sempre aprendi que era preciso ter recompensa, retribuição e acabei tentando certo controle no outro, na relação… Ainda achando, talvez sabendo ter algo errado… Sei estar confusa neste meio. Não sei mais se existo, se existe este outro que me beija, que quer que eu mude… Eu fico muda. É muita coisa para mim. Não é como imaginei. Não é como quero. Mas, não me imagino só, eu preciso ficar sozinha para me entender e no fim me envolvo tão fácil com quem me dá carinho.

Não fico só. É difícil sair desta imposição, desta incorporação, desta acomodação e todo este idealismo me destrói. Mas eu nego. Visto um sorriso e conto vantagem para as amigas. É involuntário porque, na verdade, estou tentando continuamente me convencer que é isso, que estou bem! Que está tudo saudável e existe mesmo. O que realmente sinto é que somos dois personagens de filmes bem B precisando atuar da melhor forma para manter os papéis e sobreviver com esta linha arrebentando.

O ideal seria… Olha aí!? O ideal seria não haver ideais. Às vezes sinto que somos marginais perigosos e se nos descobrirem seremos presos no mínimo por falsidade ideológica. Aliás, se tivéssemos ideia do que estamos fazendo e se houvesse alguma lógica… Seria ideal… Não, não seria. Isto tudo é muito material, egoísta, então penso que não existe o amor ou não aceitamos dar sem receber sob nenhuma hipótese, mas fingimos tão bem…

Este sofrimento silencioso mata. Agora não sei se posto isso buscando solidariedade, apoio, reconhecimento, incentivo para continuar, exemplo de como fazer, vitimismo, heroísmo, já sabias, só desabafo… Não tenho coragem de mandar para você no direct, no privado… Não quero demonstrar dúvida, não quero hesitar, mostrar fraqueza, já preciso me provar o tempo todo, não vou admitir o fracasso na minha relação… O ideal era… O ideal seria… Será que vale à pena conhecer o outro de verdade? E a mim mesma? Não quero descobrir!

terça-feira, março 20, 2018

inexistia ela




não acredito em posses
então a resposta da pergunta que você não fez é não
eu nunca tive ninguém
quando estive tentando dividir me perdi
mas nada a ver com ela era eu
eu era perdição
não me ouvia  não ouvia o coração nem minha suposta razão
e ela? Ela não existia nunca existiu mas não era fantasia
eu a sentia eu a tocava ela estava na minha mente e bem na minha frente
ela era o que eu acreditava estava errada
eu sabia mas o ideal parecia tão mais real
e toda vez quando eu estava para despertar
eu de novo adormecia
a bela era ela mas eu que dormia.

+Rafael Belo, às 10h, sexta-feira, 16 de março de 2018+

segunda-feira, março 19, 2018

idealizando o outro



por Rafael Belo

A gente vive fora da realidade. Normal. Até porque os pequenos fatos acabam parecendo imensos e únicos representantes de uma crise sem fim que acabou de começar. Quando são consequências de uma série de fatores incluindo muito a omissão. No nosso mundinho imaginário, seria hilário se não fosse trágico, nossa mania de idealizar. Sabe? Criar uma sobreposição a partir da nossa suposição de alguém ou algo. Quem nunca viveu ou está vivendo um relacionamento ideal está mentindo.

É praticamente parte de nós criar pessoas inexistentes, fabricar mudanças e expectativas sobressalentes para vestir alguém que dizemos amar. Como se o ser humano fosse um lego incompleto, desmontado e necessitasse de um outro lego incompleto e desmontado para fazer sentido… Esse calor desértico deve levar com o suor o que nos resta de bom-senso, autoestima e amor-próprio junto com as sinapses das experiências… Sei lá… A gente só fala porque na hora de tirar a prova, na prática, faz tudo de novo cheios de medinhos. A gente não pensa direito, não sente direito, se bem que alguém pode dizer o que é direito?!

Posso dizer que estou indo para três anos do fim deste ciclo de criar coisas e pessoas ideais. Alguém a fim de fundar o Idealismo Anônimo? A sigla ia parecer inteligência artificial, poderia estar certa desde que o significado fosse dissimulado, fingido, postiço, afetado… Não negue que agimos assim para manter uma relação. Deixamos de ser  saudáveis há muito tempo… Nós vivemos o momento. Vamos alimentando carências, trocando idealismo por materialismo e vestindo uma série de roupas que jamais couberam em nós de verdade.

Quem sabe não seguimos no faz de conta. Faz de conta que estamos bem, faz de conta que estou bem, faz de conta que você está bem também e a vida é uma maravilha o tempo todo com unicórnios para todo lado… No final vemos que nunca houve um início porque a pessoa que você se relacionava, no fundo, era você mesmo. O outro no relacionamento é mais um desconhecido e até agora não admitimos isso. Somos orgulhosos, seguimos padrões e falamos demais. Podemos exercitar entender isso primeiro admitindo o que fazemos e nossos erros deixando o outro fazer o mesmo se for da vontade dele.

sexta-feira, março 16, 2018

A contagem regressiva (miniconto)







por Rafael Belo

O mundo lá fora não importava. Eu escutava minha música, tentava me livrar da minha dor e se possível sair ilesa sem causar nenhuma morte no caminho. Minha boca vivia amarga, meu corpo sempre ardia e, às vezes, eu nem respirava. Não sabia como parar de me comportar assim. Era uma má-selvagem capaz de morder alguém só por me olhar... Tinha o desejo de não me preocupar, de ter paz... Queria saber se aguentaria todo este oposto imposto à mim. Eu batia palmas e ouvia palmas irônicas ecoarem por aí. Eu conversava sozinha, brigava sozinha... Eu passei dos limites sociais. Era uma foragida e agora, calma, livre da raiva, eu deveria me entregar...?

Seria justo dizer ser injusto? Justo agora que finalmente percebi ainda ser um ser humano, minha vida chegaria ao fim? Eu que era fria como água gelada no chuveiro em um inverno de 50 graus negativos. Era cortante e mortal, não mais. Mas, todas as vidas que transformei em morte precocemente serão cobradas. Sentir muito, pedir desculpas são só palavras... Minha consciência desperta, alerta é masoquista. Eu quero incomodar as pessoas, mas não quero ser incomodada... Esta gente se acha inteligente e eu me sinto equivocada quando dou a chance de provarem... É como querer água calma jogando milhões de pastilhas efervescentes.

Viro as costas e vou embora. Grosseira mesmo... Este é o menor dos meus problemas... Serei eu má e toda esta definição de mal caricato equivocada? Eu serei merecidamente enjaulada, humilhada, a escória da sociedade... Todo mundo julga, ojeriza, me chama de monstro e no final sou uma mulher como as outras. Elas só não admitem e nem têm coragem de agir como eu... A ideia da música absurdamente alta era eu não escutar sequer meus pensamentos, mas estou aqui sendo cercada por populares e policiais brigando por jurisdição. Se eu tivesse nascido em outra época eu teria o demônio em mim ou seria uma bruxa... Queimada ou exorcizada e só por quem está à frente dos religiosos...

Pelo visto serei executada e o problema será eliminado como se não existisse. Não sou a única. Só criei uma consciência. Assassinas com consciência se sobrevivem enlouquecem. Terei paz se estou arrependida de verdade? Minha raiva me abandonou, agora não posso nem odiar ninguém e a culpa vem como um conta-gotas com ácido aplicado direto na garganta. Sinto que minha hora vai chegar e passar sem eu nem perceber... Será que como Caim e Judas um plano me trouxe até aqui ignorando meu livre-arbítrio? Ou meu livre-arbítrio me levou a escolhas e independente de quais fossem ainda assim eu acabaria no fim de um plano? Ironia ou não enquanto os tiros me tiram desta existência eu sorrio ouvindo a música mais conhecida da banda Europe: The Final Countdown... Melhor assim!

quinta-feira, março 15, 2018

de repentes




a morte não aconteceu
a vida venceu de lavada
a calma sutilmente prevaleceu
toda raiva testemunhada foi aplacada

nada ardia mais no corpo leve
a temperatura foi em queda livre breve
libertar tanta angústia guardada

as horas se foram não mais amarguradas
tantas travas tentaram retroceder

mas o tempo não volta mais vai sentindo a pele tocando em série sabores sorridentes forjando de repentes e agora dorme tranquilo a sonhar.
+às 09h35, Rafael Belo, quinta-feira, 15 de março de 2018+

quarta-feira, março 14, 2018

Minha máscara cairá (miniconto)


por Rafael Belo
Não sou agradável. Talvez seja desagradável. Ninguém me disse. Eu vejo na reação das pessoas, na expressão facial delas… Não me dizem por medo. Eu posso ver também… Não sou mulher de muitos sentidos. Tenho os normais, mas presto atenção a cada detalhe. Eu não entendia o porquê. Hoje, sozinha, pela primeira vez há não sei quantas relações… Enfim, eu tenho raiva crônica. Diagnóstico próprio. Sou especialista em mim, então, eu sei o que sinto. Sinto muito pelo que fiz há tanto tempo, aquele atropelamento fatal...

Nao fui presa nem julgada, não estava estava errada, mas seria possível evitar...? Bem ontem, eu estava dirigindo quando me dei conta. Percebi que eu gritava para os outros motoristas. Estava bufando como um touro faminto sedento por sangue. Comecei a pensar na minha sinceridade, na minha honestidade e do respeito que tenho..  Mas fazia tempo que nem isso mostrava. Estava silenciosa e distribuía patadas ainda sem saber o motivo. Eu sou algo nocivo a mim mesma. Estava me descontrolando, quase babava… Buzinava como se não houvesse amanhã…

Mas houve. Sobrevivi a mais um dia dirigindo como louca nas vias egoístas e de outros motoristas igualmente loucos. Pilotos também são insanos. Parei para pensar… Quer dizer, não parei… Fiquei pensando o motivo de eu estar agitada, o coração doendo, a respiração alterada… Era infarto? Não! É raiva aguda. É porque quero ser totalmente moral, todo o tempo ética e a maioria, dita burra como unanimidade, só quando convém, apenas quando a envolve. Não, não sou melhor que ninguém. É mais provável que eu seja um vaso ruim…

E você sabe… Vaso ruim não quebra!  Eu… Eu… Não tinha raiva deles não estarem respeitando as regras nem os sinais ou que isso também significava arriscar ainda mais minha vida… Eu tenho inveja e não consigo fazer igual. Quero trocar de faixa sem dar sinal, colar na traseira dos veículos, fechar motos, carros, ônibus e caminhões, furar o sinal vermelho, simplesmente correr como se tivesse atrasado para sempre, não parar antes das travessias de pedestres, estacionar na faixa de pedestres, na vaga de idosos, grávidas e deficientes… Aí minha máscara cairá. Será que terei coragem de me revelar?

terça-feira, março 13, 2018

ajeita







há um ódio no pódio
espalhando esporos por aí
vivemos provisórios spoilers do amanhã
fazendo manha escolhendo a Netflix

a cada manhã odiando acordar tão cedo
quebrados brinquedos egoístas infantis
tendo chiliques pueris como barris de lama

rola na cama se envolve na própria trama
levanta se engana finge que ama desconhece quem

não tolera sinais os desrespeita e a noite quando deita ajeita a raiva para outrem.

+às 20h54, Rafael Belo, segunda-feira, 12 de março de 2018+

segunda-feira, março 12, 2018

Ainda somos humanos





por Rafael Belo

As pessoas já não acreditam em fatos. Elas querem provar que estão certas. Que a versão delas de qualquer acontecimento é a válida e o restante não…. E partem para a agressão. Agressão física, moral, psicológica gerando um ciclo de violência sem fim. Então, vemos mais uma criança, um ser humano inocente, ser espancado até a morte… Quais as chances que Emanuelly teve? A mãe foi denunciada mais de uma vez e foi feito o que? Visitas. Cerca de dez visitas para constatar que parecia tudo bem?

Qual outra aparência teria? Não havia outras medidas? Um psicólogo não deveria entrar em ação e conversar com toda a família? Agora é irreversível e só não será irrelevante se medidas mais eficientes se tornarem lei e forem tomadas. Sempre trabalhamos com o corretivo que significa simplesmente que para aquela situação é tarde demais e consequentemente caro demais de todas as formas. Mas a eficiência do preventivo, no caso, mostrou que não é suficiente… Quantas coisas são insuficientes na tua vida e você segue como se tivesse tudo bem, querendo provar algo para o outro e não para si mesmo? E você acha que está vivo?

Vivo só para depois dizermos mais uma vez acontece? Ou vamos dizer de novo? Ou vamos ficar indignados? Vivemos indignados com os acontecimentos e a falta de solução ou simplesmente trabalhamos na indiferença? Para depois reclamarmos, dizermos que não deu certo? Querendo começar de novo? Há muita raiva acumulada em nós fazendo nós doloridos e vivemos se motivo, sem razão… Gritamos nos trânsito sozinhos com o outro, brigamos por pouco, brigamos por nada… Colocamos a culpa da nossa situação em alguém que queremos descontar e depois?

Qual a quantidade de raiva e perturbação devemos acumular para sermos capazes de tirar a vida de alguém que supostamente deveríamos amar? O mundo está para acabar desde seu nascimento porque sabemos tanto, mas só usamos nosso conhecimento para sermos mais violentos, revidar e destruir. Uma vida é paga com outra? É a solução? Porque tanto desamor e ódio? Uma das razões pode ser a crença de que deveríamos ser privilegiados, ricos, repletos de só coisas boas e dons… Mas vem a realidade dar na nossa cara e ainda assim fingimos que é alguma falha técnica no sistema, e eliminando a falha tudo volta ao normal, nada aconteceu… A gente não aprende, porém bem que poderíamos pensar:  Se dói ainda somos humanos.

sexta-feira, março 09, 2018

Alguém…







por Rafael Belo
eu achava que estava perdida nesta mata, sabe? Sem bests, sem crushes, sem um boy pra chamar de nenê… Sem meu Cel pra tirar minhas selfies… Toda hora eu procurava virada meu Cel e nada. Aí lembrava que perdi foi ele… Meus amigos estavam todos lá… Minhas curtidas se foram… Loga agora que eu ia shippar… literalmente molhei o rolê, bodei na hora… Sério, mano… Eu paro e cê tá louco?! Fico procurando ângulo pra diva, mitar mesmo e pá, um soco da realidade… Se fosse uma fã minha estaria me sangrando neste momento…

De que adianta tudo isso. Nem um alerta sobre meu desaparecimento. Alguém deve ter me substituído como eu temia… A louca das selfies… Não pode ser verdade isso ser considerado distúrbio mental… Nervoser… Mas passou… Não de repente. Buguei por horas gritando nesta mata… Sei lá! Parece filme de terror! Sem trilha sonora, só silêncios, atrás de silêncios, atrás de mim e sem trilhas realmente… Parece tudo novo aqui e eu não posso registrar tanta virgindade…

Se eu gritar para alguém me chamar no probleminha, vai adiantar?! Mina eu ia tombar!! Ia mesmo! Agora tô aqui na Disney! Tiltada! Preciso sair dessa, que pilha! Quantas vezes vou bugar? Preciso tentar me afastar do celular, mesmo quando me aproximar dele de novo. Fico ali esperando curtida, comemorando cada uma, rezando por comentários e se compartilhar, então… Eu… De novo isso!? Que ar é esse? É tão puro a ponto de me devolver pra Disney toda hora…

Será possível mesmo ver as horas pelo sol… Quantos dias já fiquei aqui, heim?! Eu! A galera! Que berro! Vou colante! Poxa! Certeza! Sentiram minha falta. Não?! Nem perceberam? Ei! Saiam do celular, por favor. Preciso de atenção … Como assim cinco minutos?  Como melhore, miga? Não me diga apenas pare! Não! Não aceito! Cinco minutos equivalem, sei lá, a uma semana perdida pra mim. Quer dizer que mudei por nada…? Quer saber ? Vou tentar não postar nada… Preciso compartilhar isso com este ângulo e esta luz e… Alguém me empresta o Cel?

quinta-feira, março 08, 2018

apenas memória







prendo o ar
                    quebraram-se os espelhos em uma poça digital
                    estilhaços voaram sobre eles mesmos eram meus eus
                    sendo tão eles em cada ângulo possível de registrar
                    agora a aparência se foi com o medo me trazendo selvagem

as lágrimas formam novos reflexos líquidos
desfazendo meu eu físico livre de antigos vícios vendidos
iludidos pelos sentimentos manufaturados em superfícies de nadas

em manadas de selfies minhas digitais meus traços também desfaço
amasso nos braços o hoje sem o deixar escapar desligo o celular

saio do online me desmarco de todo lugar deixo apenas a memória registrar
                volta a respirar.
+ às 21h58, Rafael Belo, quarta-feira, 07 de março de 2018+

quarta-feira, março 07, 2018

É pesado!





por Rafael Belo

Sem energia?! Sacanagem! Não acredito! Não gostei de nenhuma destas selfies de hoje. Pouca visualização, pouca curtida, nenhum comentário… O que eu fiz de errado?! O que está acontecendo?! Meu Deus! Nem chegou a 100 curtidas? Não, não, não… Vou apagar tudo agora… Ai meu coração! Será meu fim? Vou morrer assim e… Vão me ajudar? Meu rolê acaba agora. Vou embora. Bodei de vez… Caraaa, nem meus boys. Berro! Buguei mesmo…

Vou ligar pras bests… Kkkk. Eu disse ligar…. Vou de áudio… Elas vão estar todas bugadas. Vou apelar pra umas selfies chave. Todas chavosas. Vamos pagar de novinhas e lacrar de novo… Aquele crush novo com certeza vai dar aquele coments: “mitou”. Vou dar uma carga rápida senão… Nervoser já! Relaxa aí! Cadê meu carregador? Aqui. Pisa menos, pai! Pelamor… Aff, agora deu. Cadê as parças?! Tá todo mundo me sangrando, por quê? Alguém me chama no probleminha?

Tô pistola! Tá todo mundo na Disney?! Eu nunca ia postar isso? Me shipparam com aquele boy nojento? Tá tiltado!!! Vou colante já?! Preciso convocar… Minas, vocês tão de zoas, véy?! Aaaa me defenderam… Tô Tumblr… Tô na Disney também… Tombei. Apenas pare. As migas eram falsianes e as falsianes destruidoras?! Preciso mandar um melhore pra mim mesma… Vou precisar entender… Estou toda bugada… É verdade esta tal de selfitis? Eu estou crônica, bests?!

Quantas selfies estou apagando? Sério? Eu vou me sangrar agora… Mais de 200 antes de deitar à noite… Vou cair dentro comigo ! Mas, este urso precisa cair primeiro. Invadiu meu perfil! Vai ver  o quanto sou pior!!! Vou apagar tudo e voltar estilo Brumar!!  Cê é louca?! É treta pura! Mina, preciso de ajuda! Vou fazer uma depo e se lacrar, eu mito! Vídeo, agora! Vou de story! Quantas? Umas dez deve pelo menos chamar a galera no probleminha… Eu assumo meu… Pesado! Distúrbio mental é muito pesado, man! Mas, vai gongar! Certeza! Vou floodar em todas as redes… Será que vou parar n’o Encontro?!

terça-feira, março 06, 2018

celular na mão





penso o quanto sou Narciso o quanto sou real
me perco no bom e no mau
misturo bem e mal
sou tão indeciso com tanta opção
tento me encarar de tantos ângulos
faço e desfaço planos como se controlasse o tempo
ouço um lamento um choro um velório
mais um simplório eu que se foi
como cômodos acomodados construídos e destruídos depois de vidas de hesitação
encaro-me em cada reflexo apagado de mim
sem saber se respira esta imagem sem fim
sendo selfies separadas pelo estado emocional na escada adaptada há uma jornada para começar
prefiro preparar-me em reparos retratados em vício para publicação
celular na mão…
preciso de uma nova emoção.
+Rafael Belo, às 01h07, terça-feira, 06 de março de 2018+

segunda-feira, março 05, 2018

Selfies: distúrbio mental




por Rafael Belo

Quando você quer conferir sua aparência, você utiliza um espelho? O reflexo que vemos não vem mais de espelhos e outras superfícies reflexivas, mas do celular. Nós, Narcisos modernos, morremos diariamente na nossa autoimagem criada pela nossa mente a partir da ideia de quem somos. Mas, isso não é apenas filosofia, solidão e carência é doença. Vivemos curvados na distração do deus da Conexão e para aumentar nossa coleção de isolamentos uma nova doença foi diagnosticada: a selfitis.

Os selfiados, viciados em selfies, agora se encaixam neste novo distúrbio mental. Se a vontade for de postar seis ou mais é considerado crônico. São estudos divulgados por pesquisadores da Universidade de Nottingham Trent, na Inglaterra, e da Thiagarajar School of Management, na Índia. Vivemos nesta constante selfitis crônica em uma conexão ininterrupta esperando atenciosamente a ajuda das redes sociais, curtidas, compartilhamentos, apoio… Mas, as consequências são devastadoras.

Intervenções estéticas, expectativas, planejamentos e, claro, depressão seguida de suicídio. O espelho é mais um meio para nos separarmos da nossa imagem ao qual nos deparamos, nos separarmos da realidade, do significado de laços afetivos resultando no devastador sentimento infeliz de abandono, de culpa, de uma busca vazia dentro da desorientação dos caminhos já esquecidos de como caminhar… A importância da opinião de, no fundo, desconhecidos passa a ser motivo do comportamento, do sentimento…

Não é de graça tanta dor sentida por aí. Estamos vidrados nas pequenas telas em nossas mãos, conversando sozinhos, procurando ângulos, jeitos, gestos, gostos, afetos, crushes, matches e armazenando tantas imagens de nós mesmos que precisamos ouvir, ler, saber como acham que devemos agir, nos vestir, comer, ir, dormir, reagir, começar, terminar… A diferença do mito de Narciso e nós é que aquele desconhecia a beleza física, a beleza estética aos olhos próprios e quando se deparou consigo mesmo pela primeira vez em reflexo se afogou se admirando. Já nós, nos  montamos e desmontamos a todo instante para agradar, para chamar atenção, para dar indiretas, para mostrar poder e independência quando demonstramos o oposto em um ciclo infinito sem morte real.