segunda-feira, março 19, 2018

idealizando o outro



por Rafael Belo

A gente vive fora da realidade. Normal. Até porque os pequenos fatos acabam parecendo imensos e únicos representantes de uma crise sem fim que acabou de começar. Quando são consequências de uma série de fatores incluindo muito a omissão. No nosso mundinho imaginário, seria hilário se não fosse trágico, nossa mania de idealizar. Sabe? Criar uma sobreposição a partir da nossa suposição de alguém ou algo. Quem nunca viveu ou está vivendo um relacionamento ideal está mentindo.

É praticamente parte de nós criar pessoas inexistentes, fabricar mudanças e expectativas sobressalentes para vestir alguém que dizemos amar. Como se o ser humano fosse um lego incompleto, desmontado e necessitasse de um outro lego incompleto e desmontado para fazer sentido… Esse calor desértico deve levar com o suor o que nos resta de bom-senso, autoestima e amor-próprio junto com as sinapses das experiências… Sei lá… A gente só fala porque na hora de tirar a prova, na prática, faz tudo de novo cheios de medinhos. A gente não pensa direito, não sente direito, se bem que alguém pode dizer o que é direito?!

Posso dizer que estou indo para três anos do fim deste ciclo de criar coisas e pessoas ideais. Alguém a fim de fundar o Idealismo Anônimo? A sigla ia parecer inteligência artificial, poderia estar certa desde que o significado fosse dissimulado, fingido, postiço, afetado… Não negue que agimos assim para manter uma relação. Deixamos de ser  saudáveis há muito tempo… Nós vivemos o momento. Vamos alimentando carências, trocando idealismo por materialismo e vestindo uma série de roupas que jamais couberam em nós de verdade.

Quem sabe não seguimos no faz de conta. Faz de conta que estamos bem, faz de conta que estou bem, faz de conta que você está bem também e a vida é uma maravilha o tempo todo com unicórnios para todo lado… No final vemos que nunca houve um início porque a pessoa que você se relacionava, no fundo, era você mesmo. O outro no relacionamento é mais um desconhecido e até agora não admitimos isso. Somos orgulhosos, seguimos padrões e falamos demais. Podemos exercitar entender isso primeiro admitindo o que fazemos e nossos erros deixando o outro fazer o mesmo se for da vontade dele.

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