quarta-feira, maio 29, 2019

dose da pose








desorienta a razão em constante luto
morre todo dia uma nova verdade absoluta
em uma insistência zumbi de repetir tudo
ajustamos o justo ao nosso sorrir que surta

no clima estranho onde a gente chora
cheios de acordos e barganhas de joelhos dobrados
olhos fechados na pesada respiração buscando alívio
no meio dos conflitos perdidos pela hora

de não conseguir se afastar trocando paz por desaforos
levados para casa como crianças mimadas

a gente não para mesmo em posição fetal
por cada escolha fatal já embriagada na primeira dose da pose.

+às 19h57, Rafael Belo, segunda-feira, 27 de maio de 2019, Campo Grande-MS+

segunda-feira, maio 27, 2019

Até o fim





por Rafael Belo
Eu escuto punhos acertando cabeças, rins e outras partes de corpos o dia todo, além de gritaria e acusações, mas nem sempre é literal, nem sempre é visual. São indiretas, traições, indignações e um sentimento de perseguição semeado diariamente para infernizar cotidianos. Mesmo pensado e elaborado estrategicamente esperando os mesmos resultados todos nós temos ao menos a leve desconfiança que reações - até calculadas - podem ser inesperadas. Não somos máquinas e até estas falham fatalmente pelo tempo ou pela manutenção. Como a queda do avião com Gabriel Diniz mostra que até a morte pode ser silenciosa e deixar todos em silêncio. Respiramos fundo e imediatamente vamos procurar saber se ela é real de verdade.

Uma simples carona… Se transforma em tantas reações levando ao famoso ponto de ruptura e procuramos justificativas em um monte de “mas” e “desculpas” ... Qual o sentido? Qual o objetivo? Onde queremos chegar? E todos os porquês nos levando a um fim idêntico... A morte nos une mais que a vida. Passamos a vida centralizando as coisas, controlando os passos, tentando cercar desejos e objetivos, criando dependentes funcionais e queremos chamar como isso? “É assim mesmo”? União? Tem dado muito certo… Divididos e defendendo governos (qualquer um deles) como se não fôssemos os cidadãos doutrinados a ser o elo mais fraco da corrente.

Seja lá quem votamos há alguém eleito, se não foi nosso voto, está eleito e somos os patrões independente de termos dado o voto ou não. É democracia ou não? Mas aqui estamos nós na tal “pós-verdade”, na grande era da informação onde predomina a desinformação, a viralização das fakenews e a disseminação do ódio como um vírus incurável. Só somos capazes de nos reunir por interesses comuns. É humano. É natural. É necessário. Não nos defendemos sós. Precisamos de testemunhas, de amigos, de outras vozes para não nos entregarmos a insanidade e, incluindo a regra básica da sobrevivência, nos tornamos mais fortes juntos. Mas, união não tem nada ver com esta leveza reversa onde mal dormimos a noite ou com sair às ruas como as massas populares que não somos mais, querendo apenas ter razão ou justificar nossas escolhas para cutucar os coleguinhas com dados e estatísticas.

Não há sobrevivência assim. Há morte. Há revolta. Há caos. Desta forma - emocionados -  somos constantemente enganados com orgulho e julgamentos vivendo um luto após o outro, uma acusação após a outra, uma desunião ligada pelos motivos implantados em nós, nos achando tão superiores e espertos nesta vida, tentando acreditar que sozinhos realmente vamos longe, voamos alto e lá de cima... Passáros se esgotam, batem, aviões caem e matam… O cantor campo-grandense responsável pela música mais chiclete de todos os tempos, levou todos a descrença, questionamentos e pela trajetória do jovem, Gabriel Diniz, só havia alegria e união na vida dele. Por isso, é tachado de não-natural, de acidente, mas há taxas emocionais mais caras que quaisquer impostos. Invariavelmente, nos faz refletir.

É natural a gente acreditar ter motivos para tudo porque não gostamos de não saber, não gostamos da insegurança, do desconhecido e ainda que possamos falar só por nós mesmos, há alguém que nos ajuda a juntarmos nossos próprios pedaços. A olhar por vários olhos. Eu acredito nas pessoas, não em todas e cada vez em menos gente. Olho para a nítida diferença pela janela e tento apenas sentir. Tenho fé e pratico minha vontade de mudar para melhor. Sigo em upgrades e atualizações constantes para jamais cair em desunião e desesperança. Fomos lembrados mais um dia que o fim é a morte e ninguém pode evitar, mas todos podemos ser os melhores possíveis pelo caminho até ela.

sexta-feira, maio 24, 2019

os anéis





olhos vidrados boca retorcida língua insensível

vida virada ilícita pelas palavras
escravas da má-intenção

lícita visão contaminada
nas drogas argumentadas

balão inflado pelo inflável gesto pela retribuição

Inflamado jeito de doer e irá ser ira se perdendo no falso aceno

troca-troca obsceno sem sexo cheio de anexos das indiretas envolvidas

directamente ligadas ao ciúme infectado

sentimento de posse dopado e outros entorpecentes

deixando dormente no inexistente guizo da serpente os dedos cortados deixados pelos anéis.
+Rafael Belo, às 10h48, sexta-feira, 24 de maio de 2019, Campo Grande-MS+

quarta-feira, maio 22, 2019

Não me chamem mais Mãe (miniconto)






por Rafael Belo

Pessoas não gostam de pessoas. Pessoas gostam de imagem, se julgar e, principalmente, ter razão. Querem ter vantagem, querem mostrar… Precisam opinar sobre tudo. São pequenos deuses querendo adoradores a própria imagem e semelhança. Enxergam os Estados Unidos como o Olimpo e a Europa como o Paraíso cristão enquanto se vangloriam das orações voltadas para si mesmos, deuses brasileiros… São mesmo santos do pau oco. Ajoelham para quem fizer suas vontades e desejos. Barganham e quase nunca retribuem porque nunca foi a intenção… A verdadeira religião dos seguidores são as curtidas, a cópia, os views… O… Você não está entendendo nada, né garota?

Você deixou eu suar, borrar toda minha maquiagem para te ouvir e… Era só isso né? Só queria que eu te ouvisse… Mas por quê? "Cala a boca, novata!!!" , "Vou vai saber o que acontece no banho de sol", mas… "Como você ainda estava de maquiagem?!"... Eu achei poder tudo, sempre pude. "Ela não vai calar a boca!". Eu… Eu… Merda! Não quero chorar mais. Ainda mais… "Vamos te fazer sangrar, cadela!". "Com quem a vadia louca esta falando…!" . "Falando, sua estúpida?". "Não tem como ouvir alguém falando do Isolamento!".

Façam silêncio mesmo. Eu vou matar vocês também. Uma por uma. Vocês caíram quando esqueceram de vocês, mas eles estão falando ainda mais de mim. Vou derrubar essa prisão em cima de todas vocês. Vocês são fracas. Fracas e ponto. Não há ninguém nos segurando aqui além desta estrutura de proteção. Quando deuses foram proibidos de tirar o que é deles por direito?! Uma deusa nunca fica sem o que quer. Eu controlava a quantidade de imbecis e fui dormir alguns milênios… Eu deveria acabar com todas vocês imediatamente.

Não sabia que esta era sem bases parecendo um constante mar em fúria, mas vazio e sem destino, condenava um massacre com as próprias mãos desses homens vazios capazes de nos apagar desta realidade podre que ninguém quer viver… Eles rejeitaram o poder daquela simples mulher e a julgaram. Eu só os apaguei da existência e tomei banho naquele sangue sujo deles para… Ah, julgamentos nem eu posso fazê-los! Não faz mais sentido sentir minhas deusas. Vamos despertar para estas consequências injustas por sermos quem somos. Eu as liberto e peço que não me chamem mais Mãe, apenas Natureza.

segunda-feira, maio 20, 2019

Indiretas, sentimento de posse e outros entorpecentes






por Rafael Belo

Engraçado como em meados de um 2019 tão cheio de previsões o preconceito e o assédio ainda são as piores consequências da ignorância. Estão por toda parte usando disfarces das estatísticas no combo drogas lícitas, ilícitas, troca de favores, machismo, ciúmes, indiretas, sentimento de posse e outros entorpecentes. Aliás, engraçado já não soa mais uma expressão de ironia em um mundo onde esta, o sarcasmo e o humor são pouco entendidos ou usados como armas pesadas.

Parece que o tiroteio é despretensioso e só uma bala perdida ou outra é responsável por tantas mortes diárias por aqui. Isso, até o famoso stalkear surgir de leve e chegar a comentários… Vale lembrar que comentar sobre o outro está no topo da cadeia alimentar da vigília. Escute. Este é o som destas novas armas sendo afiadas… A vigilância da vida alheia afia a língua nas fakenews e na fala mansa chegando com um bem-querer peculiar vestindo boas intenções, falando do Poder da Justiça com o peso da religião já alongando os dedos para printar, curtir e compartilhar nos grupos de amigos e família, além de mandar aquele recado nos status e stories cotidianos.

Não há graça nenhuma em expor as pessoas. Basta chamar no privado, na DM… Vá saber exatamente o que se passa se não puder cuidar da própria vida… Mas há uma necessidade de fortalecer o próprio ego nesta modernização do julgamento do comportamento do outro, sem medir consequências nem os sentimentos sociais neste mundo conectado. Não importa mais se não há manto de amor maior que a aceitação e a ausência de julgamentos, a atualização de ser dono da razão vem obtendo tanto sucesso que fazer os outros se sentirem mal é basicamente a regra número 1.

Regras válidas para todos longe do "eu" porque mais que suprimir tentando impedir que o outro apareça, a vontade é de supressão, ou seja, eliminar de vez a existência do outro simplesmente por incomodar ou não fazer o que você quer. Não há critério, medidas ou verdades e mentiras. Tudo é baseado na eliminação pelo erro… Lembro apenas tudo que ouvi, assisti, aprendi e de toda a literatura da intolerância de grandes guerras pelo mundo com pesos fatais. Mesmo com o discurso da tolerância, da igualdade, do "não é bem assim", de botar a culpa nas estrelas… Tudo parece levar a viver em infernos tantas fez já vividos. Parece tudo estar na mesma caixa de bagunças dos resfriados e das viroses: ninguém sabe que tem, nem profissionais identificam, mas mesmo assim o diagnóstico é oficial e preciso. Estamos entorpecidos e esta anestesia geral nos afoga em ignorância que nós dá permissão inexistente  de ofender, culpar e julgar o outro.

sábado, maio 11, 2019

Porcelana






Foi-se o chão
não há teto nem paredes
só esta linha da tensão
vibrando um sem contar de vezes
Vai-se o corpo
não há sentido nem sentimentos
todo muito é pouco é oco
amontoado de afazeres sem momentos
irá-se a mente
história por memória
riso insano quebrados dentes
trajetória tão imprudente
Se soubesse de tanto agora
não seria eu nem teria tanta força
para ser esta origem da Aurora
rasgando as roupas fazendo com que o mundo ouça
minh'alma esboçada louca
mas têm momentos que sou toda louça cara escondida para aquela ocasião que não virá
me desfaço em cacos pois caio xícaras pires pratos
de refinado a porcelana vulgar
ser humano barato esquecendo que a Alma...
ah, está é eterna até acabar.

+-Rafael Belo/* às 17h59, sexta-feira, 02 de maio de 2019, Campo Grande-MS.

quarta-feira, maio 08, 2019

O nada do meu interior (miniconto)


por Rafael Belo

De braços abertos, ela girava. Chovia. Ela estava alagada. A água não ia para lugar nenhum. Só acumulava dentro dela separando o deserto como se houvesse repulsa entre os dois, não atração. Mas ela precisava sentir. Ela caia, sangrava, levantava, caia, sangrava, levantava, caia, sangrava, levantava… Ainda sem sentir nada neste ciclo de dor. Sem tal dor existir. Assim, se via ela: inexistência. Assim se apresentava. Desconstrução refazendo sua morte cheia de views na esquina da Afonso Pena com a interdição da 14.

Sou vazia ou estou vazia? Vejo da janela de mim mesma. Janela embaçada de lágrimas presas às meninas dos meus olhos. As pupilas dilatadas como se minha vida fosse um monte de drogas e eu cheirasse, injetasse, deixasse debaixo da língua e fumasse… Só que sou só. Sou só eu careta. Não quero me programar. Não quero me entorpecer. Eu quero sentir. Quero saber onde estou. Alguém sabe? Não sei se sou perdida ou perdição e vivo fazendo pedido de conexão...

Para acelerar outra morte minha. Aumentar os views, compartilhamentos e curtidas de meu corpo vazio, quebrado, atrapalhando o tráfego e derrubando os pedestres vidrados na realidade fria da tela quente. Enquanto olho vazia, tão vazia que a escuridão treme de frio e a explicação congela as línguas mais ligeiras e espertas. Dizer que eu não sinto nada eu ilógico. Talvez eu deva me apresentar como ilógica. Eu só quero sentir de novo. Viver outra vez.

Porém, só faço é rodar e sangrar como uma dublê qualquer de corpo e espaço. Perdi minha mente, perdi meu corpo, parou meu coração, onde está minha Alma? Você sabe? Esta frescura mata! É calamidade pública focada no suicídio! Eu ausência de desejo, de significado e eu só cavo mais estampando na pele pendurada em ossos um sopro de desesperança emaranhado às mentiras perfeitas dos meus perfis digitais. No entanto, se me reconhecer na rua e tiver coragem de me olhar nos olhos… Lá nas minhas profundezas de uma depressão destratada como virose: nada vai encontrar.

Às 10h07, Rafael Belo, segunda-feira, 06 de maio de 2019, Campo Grande-MS.

segunda-feira, maio 06, 2019

Precisamos aliviar o fardo





por Rafael Belo

Não sei qual a qualidade de homem ou quantidade de homens sou. Meço-me pela quantidade de arrepios em mim e as inúmeras vezes da emoção ser minha dona. Arrebatadora de uma criação, de uma nova criatura… Um ser humano falho, sem querer atalho para quaisquer conquista. Estatelado no chão de novo, percebo o céu estrelado por trás da dor, por trás das nuvens carregadas me encharcando chuva, neste buraco mal fechado.

Um buraco seria chamar de tímida esta inquilina inóspita já aprontando as malas para onde faça frio porque eu esquentei de novo e não deixarei mais a depressão passar sequer uma noite. Não importa a tormenta ou as forças dos ventos nem sequer uma fila eterna de argumentos, se sentir se ausentava como a qualidade dos sinais para conexão nesta realidade… Não há sinal satisfatório, se o importante é a felicidade.

Mas se conto nas mãos a quantidade de pessoas que sabem como estou, já não julgo a qualidade de Amor nesta Terra de aprendizes… Ainda contamos as lágrimas tristes descontando as alegres... Que conta infeliz fazemos. Estamos morrendo e lamentando. Ao invés de aprender a agradecer, aprendemos a afastar, a agredir, a nos proteger e fechar. Vamos nos calar perante a nossa própria dor pelas aparências?

Somos bons em essência. Bons, não tolos. Bons, não burros. Bons, não inocentes. Queremos defender tanto o que consideramos da gente que ficamos surdos, não respeitando a realidade do outro… Somos diferentes e a nossa igualdade é na Justiça, senão da Lei divina simplesmente a do retorno. Este vazio e esta solidão nos empurrando de vez em quando para a inexistência e o esquecimento são os verdadeiros fakenews desta Era de Inovação duelando com a mesma Era da Depressão. Talvez a gente não descubra sozinho a nossa força, mas precisamos aliviar o fardo que criamos para nós aceitando mãos que se estendem.