terça-feira, fevereiro 28, 2017

comprimidos reprimidos



há uma colisão de pressões de onde do meio me saio
um desmaio dedicado da dor dizendo a um eu passado sobre um eu futuro
seguro de nenhum existir agora querendo quase questionar nossa ânsia de ganhar
todo ar de atenção latindo contra contradições comendo miados medos

meu segredo é tirar fantasias liberar caninos felinos domésticos dos destinos
pinos do meu desencaixe desnecessário dilatando minhas pupilas para o abate
debate dos caminhos cruzados causando jogos viciados em recuperação

ação dos comprimidos reprimidos aditivos das ilusões das realizações
junções ideais das expectativas previsíveis do drama
cama dos espelhos da realidade rachando responsabilidades com o reflexo

estou anexo ao desconexo desfiar destes fios desejando me manipular.


+ às 11h32, Rafael Belo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2017 +

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Olhe bem para nós



por Rafael Belo

Olhe bem para nós. Temos uma ânsia por atenção quase canina. Abrimos olhos grandes felinos e colocamos em prática nossa atuação. No carnaval das fantasias liberamos nossas inibições, tiramos as máscaras e tentamos nos encaixar até a quarta-feira de cinzas chegar. Mas, o quebra-cabeça pode parecer perfeito na superfície, em tudo visto de fora, porém, por dentro, em profundidade nada se encaixa. Nossas peças soltas se soltaram apenas por uma razão: nós. Não há nada errado com o mundo. Errado foi como aprendemos a lidar de maneira precária com o exterior e nula com o interior.

Sim! Projetamos ideais, idealizamos expectativas parciais para receber a totalidade da responsabilidade dos nossos sentimentos do outro, muitas vezes, sem ele sequer desconfiar. Construímos castelos de ouro e diamantes com areia e ar, montamos seres perfeitos com peças sobressalentes da imaginação, então, quando tudo dá previsivelmente errado há drama. Choro e ranger de dentes se espalham no inferno tão mobiliado por nós. Mas, espere! Quem somos nós? Quais nossas vontades? Quais os anseios das nossas almas? Quantos espelhos negamos nos rodear?

Temos tanto a admitir para nós mesmos... Mas, claro, é mais fácil culpar os pais, a família, a escola, os professores, os políticos eleitos sozinhos, o mundo... Além, é óbvio, de todas as acomodações feitas para não nos incomodarmos tanto com nossa falsa satisfação. É tão passageira esta satisfação... Passamos tanto tempo insatisfeitos a ponto de qualquer estímulo em direção a uma realização verdadeira já injetar novo ânimo nos nossos projetos. Engraçado... Crescemos direcionados por todas as referências a buscarmos as riquezas, a sermos ricos, ou então aquela ideia da pobreza ser o objetivo, ou ainda quando nos dizem faça a sua felicidade, siga seus passos, ficamos tão confusos. Nunca nos mostraram este caminho.


Não poderiam porque não sabem. Precisamos descobrir por nós mesmos. Este ciclo infinito de busca da riqueza, felicidade e amor adaptado para as bilheterias atuais do American Dream é individual. Não é este caminho único da autoajuda coletiva reprimindo nossos eus de tantas maneiras com aquisições materiais e metas empresarias, industriais, mecânicas a ponto de nos fazer sentir fracassados, inadequados, incapazes em algum momento das nossas vidas. Talvez nem nos tenhamos suprimido nas nossas necessidades imateriais inorgânicas em uma substituição qualquer porque cada caminho traçado é marcado por apenas um de nós e para suprimirmos algo devemos ter algo para suprimir. 

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Preferência mortal (miniconto)




por Rafael Belo

Estava tudo bem até elas falarem. Não, não estava, não é?! O silêncio trouxe o clima tenso cortando o ar com a navalha delinqüente guardada sob a língua. Não! Espera! Também não era isso?! Era uma imposição. Isso! Isso sim incomodava. Não era a opinião. Porque esta pertence a cada um. Mas, a vitimização como argumento, a dramatização como fundo, a obrigação como cotidiano e o livre-arbítrio para o de vez em quando estava à flor da pele. Era preferível a gritaria do estouro, da explosão da raiva incabida a este silêncio matador, assassino, tão pesado deixando as duas curvadas ruminando as próprias, opiniões, as próprias frustrações, aquelas expectativas irreais e mudas.

Mas é Carnaval, vamos deixar encerrado por aqui, na quarta-feira de cinzas a gente desmuda e começa de novo... Não? Não podemos voltar só daqui a cinco dias de folia? Não é assim o funcionamento do Brasil, das pessoas? Esquecer não é o normal? Como?! Ah, sim! Ninguém esquece realmente se não seguir em frente... Mas, não é tão simples aceitar este fato e quem somos de fato, Katilneila, afinal, fomos criados para projetar nossas expectativas, para cobrar do externo, ou seja, dos pais, dos chefes, do mundo, dos políticos, mas o outro não tem nada a ver com nossos pensamentos, nossos sentimentos, só nós temos, Katilneila, é isso mesmo?

Causa e efeito não funciona mais do mesmo jeito?! Certo. Estou me fazendo de boba? Você tem razão! Estou negando saber, eu sei. Admitir isso é admitir minha capacidade de mudar e é doloroso ser completa. Fragmentos assim é mais fácil lidar, sabe?! Menos intenso. Distribuir minhas responsabilidades torna mais leve. Nada posso fazer se não sou eu, certo? Oi? Sim, sim... Ilusões perdidas, perdidas ilusões... Então, causa e efeito mudaram. Como? Bom, se eu, uma executiva com sobrenome famosa roubar posso nem ser acusada, mas se a Edilaia, for fazer faxina e sumir algo na casa, ela poderia ser presa... Achou errado. Não pode ser presa sem provas, o sindicato é forte, a imprensa dá visibilidade...

Fugindo do assunto? Não tenho nada a dizer. Não preciso me desculpar, não quero obrigados, só pare de esperar algo de mim. Nesta época de relatividade há infinitas possibilidades para a mesma ação. São tantas reações, tantos pensamentos diferentes, tantos sentimentos subdesenvolvidos... Não. Subdesenvolvido não é categoria, é burocrático, é rótulo...! Aprendi a lidar só com meu exterior, com quem está fora. Quem está dentro é uma desconhecida! Por isso, volto ao início e prefiro o silêncio tenso desta imensidão aqui fora a gritaria e pancadaria aqui dentro. Volto ao sofrimento das expectativas. 

quinta-feira, fevereiro 23, 2017

protesto!



a pequena flor amarela está na tela do olhar
é a imagem no centro da minha mente acumulando o pensar
uma aquarela surreal aberta alerta em uma bandeira natural a brotar
brasileira tremulando no instante de luz o chacoalhar da necessidade de parar

cópias diferentes da gente eu comigo pensando nos reflexos

ecos discretos no desenrolar do fio da noite foice racional dos sentimentos
confusão sentimental dos pensamentos fazendo história
passado passou dizendo não existir além da memória

longe de entender e ainda assim querer supor simples o complexo
há um anexo enviado com cópias do passado parado no acesso

aventuro-me dentro de mim para me achar fora da minha imitação
preservo a vegetação nativa na minha natureza minhas pegadas se misturam
apuram os sentidos às alturas dos pensamentos sentindo o meu vento interno
sincero sopro singelo refresco o honesto elo se completam

não são o mesmo me aceito primeiro em um gesto
vai-se o medo sou o próprio protesto.


+ Rafael Belo, às 11h52, fevereiro, quinta-feira, 23 de 2017 + 

quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Só na memória (miniconto)



por Rafael Belo

O caos impera minha ordem como o amanhecer precede a tarde e o anoitecer. A família esta toda ali se encarando, se analisando, falando amenidades só para enfatizar não ter diálogo, não terem nada haver. É uma legião de pessoas com legiões de pessoas dentro da própria mente. Arquivos de mágoa, rancor, ódio, confusão e o silencio mortal. Há tanto veneno destilado, guardado e destinado... A cada individuação ali, o Eu grita para ser sentido dentro da própria ignorância, mas a percepção só percebe a partir dela mesma e, às vezes, tudo são resmas empilhadas de papel sulfite em branco. Não adiante escrever, ler, perceber, mas não se envolver... Meriene tenta só observar, porém todo vez é arrastada para o meio de qualquer coisa.

O ambiente e o comportamento padrão e repetitivos podem remontar há milhares de anos do mesmo nesta família, a Mixes. É possível eles nem sequer terem tido oportunidade de fundir, ou equilibrar, pensamentos e coração. Sentir e pensar entram em conflitos de emails pela distância absurda criada por Meriene Mixes. Cara mente de Meriene, sabichona como é, sabe quem somos, mesmo assim nos apresento para, afinal, agir. Somos os sentimentos longínquos perdidos de Meriene. Fomos isolados do coração. Pelo movimento e correria, estamos nos pés. Estamos muito doloridos e latejantes. Deve haver muita quina e objetos escondidos no caminho...

Viramos fobias e medos criando sintomas doloridos em diversas partes do corpo, mas não podíamos nos desenvolver apenas sendo nós mesmos, precisávamos de orientação. Juntos, saímos todos dos fragmentos do coração e depois de tanto tempo tentando chegar até você, nos perdemos. A mente não se envolver sozinha, mas consegue lembrar de como era se envolver, aí estão os erros tanto procurados por ti. Para se resolver, precisamos nos encontrar para identificarmos nossas origens. Nosso coração só tem cicatrizes frágeis. Ainda somos os mesmos e vivemos as sombras de sermos mais. Sabemos, somos o coletivo sentimentos e precisamos dos seus conhecimentos para ir a algum lugar.


Seria o começo do fim, mas não sabemos haver meio ou meios. Este email pode acabar na lixeira ou ser eliminado como spam e todos nós vamos viver como teclados, cordas, válvulas, sopros... Enfim, instrumentos com notas de outros tons, de outros sons, emoções adulteradas, formas corrompidas de viver ou extravasar nós mesmos, os sentimentos. Lamento, lamentamos, se puder entender o significado, se não, acesse a memória e entenderá, espero. Esperar vem de esperança. Você entende o conceito, mas já não esta cansada de só pensar sem se conectar com o agora? Separados assim podemos ambos deixar de existir porque o passado não existe mais, está só na sua memória. Vamos nos encontrar e começar uma nova história. Atenciosamente, Sentimentos.

terça-feira, fevereiro 21, 2017

Verbete das pétalas



ramalhetes contém belezas em conjunto
buquês o brilho de quando chegar junto
fases da mesma flor se sobrepõem ao fundo
banquetes da primavera no derretimento do verão
são o outono adubando o artificial inverno
congelado no inferno das misturadas mentes diferenciais

nada iguais os pensamentos nem o mesmo ukelele diminui o violão
cada cérebro contém o próprio firmamento mas o céu é outro lugar
a tradução nunca significa exatamente o querer falar acima das traves
há entraves pagando todos os males sob o tapete do verbete dos ipês

glacê das pétalas apontando clichês nos aromas únicos perdidos discretamente na própria mente.


+ Rafael Belo, Às 13h30, terça-feira, 21 de fevereiro de 2017+

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

Contaminação global



por Rafael Belo

A percepção de cada um sobre o mundo - se não for cópia - não é a mesma. O cérebro e a própria lógica deste funciona com uma particularidade tamanha difícil de medir. Como dimensionar o imaterial, às vezes nem entendido por quem o possui? Com respeito, certamente. A relatividade da simplicidade e da complexidade está ligada diretamente a quem esta diante deste dilema. Pode ser solução, problema ou sinceramente não significar nada e os rótulos distribuídos na saída do útero só aumentam o suficiente para nos reduzir às superfícies do olhar.

Neste caso, até cópias são diferentes. Só parecem iguais e tentam imitar. Ao primeiro olhar as percepções são só impressões. Estas não podem ser marcadas, não podem ficar. Nada fica no lugar por muito tempo. Até prédios e empreendimentos sólidos vão se liquefazendo diante do tempo e qualificar os efeitos do cotidiano é se manter irredutível em uma opinião, admitir a inexistência da deterioração e da evolução. A construção de cada um de nós é um mosaico, não um vidro liso sem cortes e recortes. Nós somos uma mudança constante mesmo quando não parece.

Aparência é uma palavra dizendo tudo: não significa nada sem contexto nem explicação. Na sociedade da imagem, confundimos paisagens com pessoas e temos raciocínios à toa sobre julgar o visto. Os pensamentos e posicionamentos sim são significantes como o verdadeiro diálogo. Mas, há ainda um algo mais em nós, ditos racionais. Uma conexão excessiva nesta sociedade conectada da informação e do instantâneo igualmente carente e solitária. Cara e coração são smiles e emotions avisando a chegada a todo instante no celular. Somos encontrados em todo lugar, mas estamos perdidos, desconectados da importância do outro.


Supomos ser simples para nós o mesmo para o outro e perdermos o tato, a percepção das necessidades deste. Assim como elogios são a Nutella de uns e o inferno de outros, o silêncio é o pesadelo de uns e a necessidade de outros... Se não nos dispomos a entender nem a diferença dos organismos, o contraste dos corpos, dos tamanhos, dos pesos, das medidas, da saúde de cada um como querer falar sobre o modo de pensar? Estamos longe de nos entender realmente, mas nem precisamos de entendimento. Precisamos de uma audição boa, excesso de paciência, a morte total do julgamento e a contaminação global do respeito. 

sexta-feira, fevereiro 17, 2017

Apagada (miniconto)




por Rafael Belo

Absurdos em séries surtam no mundo e eu já não ligo a televisão mais. Trump decidiu: “o Brasil é da América do Norte. Sorte para os brasileiros”. Um muro gringo terminou de ser erguido para a gente pagar. Outros muros são construídos por aí. Picharam meu nome errado ao me chamar reacionário… Nem o gênero acertaram. Ainda escreveram otário… Anaê Hinário… Meu nome ao contrário é Êana.

Os universitários estão todos nas ruas nervosos. Policiais a paisana questionam, gritam: “mais impostos?!”. São expostos por defenderem uma opinião. Deve haver outra questão. Quem acredita na televisão? Há um grupo em rebelião com protesto violento, uma violação ao decreto de pacificação. Já não se é minha imaginação ou realmente vida em ação. Pode ser apenas mais uma série de destruição…

Uma fase de ilusão para pensar nas possibilidades. Longe ou perto da verdade? Ê Anaê, como foi se envolver com uma pichação ?! Não, não! Envolveram-me. Nem assisto tevê para poder pensar buscando informação em mais de um lugar. Brigar comigo mesma é uma inação ou afobação? Não pode ter só um lado na televisão, com certeza há grades com melhor programação.

Quem sabe a gente ouça a intuição ou ao menos o coração, pois a razão já perdemos como história… Esquecemos! Vivemos tanto nos livros, na humana trajetória e só repetimos esta série sem fim, esperando espaço na agenda para marcar uma nova data para o mundo acabar. A política bate na minha casa, o sistema na minha cara… O problema é ter a vida revistada, cada vírgula interpretada da maneira adotada, minha mente está revirada. Haverá reviravolta e na próxima volta virá violência. Ao invés de um tapa, ser interrogada… Serei fuzilada! Apagada!

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Imortal


assassinatos em série de todas as formas do tempo vão surgindo a cada minuto no noticiário
uma nova temporada termina uma antiga começa
há excessos à beça pregando pequenas peças de realidade na ficção dos meus olhos
há acontecimentos tão ilusórios coexistindo sem se dividirem nem somarem
multiplicando a divisão diminuindo as somatórias
mudando destinos histórias criando trajetórias paralelas aos sonhos
de nada somos donos só nossos pensamentos são patrimônios onde nem o esquecimento chega há armazenamentos nas nossas sinapses
sou ser seriado somado a criar conexões constantes e em um instante imortal sou

+Às 12h27, Rafael Belo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017 +

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

Despetalar (miniconto)




Por Rafael Belo

Ella sumiu durante um ano. Queria gravar suas próprias séries, mas se distanciou do próprio mundo. Seria a cineasta com mais bagagem. Teria seus próprios recordes no Guinnes Book e eram tantas probabilidades... Sua mente saia fumaça. Havia uma quantidade de opções incontáveis e, Gabriella, preferia ser Ella. Todos diziam seja isso, você é boa nisso, trabalhe com aquilo... Só faziam gerar irritação, então, Ella se afastou. Já era órfã até de parentes parou com a vida tão badalada indo a todos os eventos possíveis de participar. Resolveu não atender celular, não responder nada das redes sociais...

Estava sozinha como se sentia. Órfã de si mesma. Só absorvia aquelas imagens intermináveis de séries sem fim. Utilizou suas habilidades de cracker para criar uma nova identidade e com isso mudou todos os seus números. Ninguém mais a conhecia nem poderia falar com ela. Recebia por pequenos trabalhos, mas com grandes quantias. Era investigadora virtual. Procurava cada curtida, cada compartilhamento, cada conversa... Enfim, tudo passível de incriminação e procurava a cliente ou o cliente em potencial. Juntou dinheiro suficiente para realmente sumir e assim o fez.

Não se dava conta do tempo. Só via séries crackeadas e não tinha necessidade de horário para nada. Mal se higienizava. Talvez tivesse o mal do século, mas não parecia depressiva. Só desistira das pessoas e as pessoas desistiram dela. Na verdade, Ella havia mudado tantas vezes na surdina... Era muito difícil localizar quem não queria ser encontrado. Fazia questão de ser intratável e grosseira com todos... Não deixou saudades. Mas, há sempre alguém em busca de você. Ella não era diferente. Não tinha morrido. Então, um certo alguém a procurava por toda parte. Não sabemos o nome dele...


Ele havia enxergado o desejo dela de afastar o mundo e isso, não há explicação do motivo, o atraiu. Ella era uma lenda na cidade onde morou por último “graças” ao desconhecido obcecado – ou seria apaixonado – por ela. Contava histórias fantásticas sobre a intratável criatura. Ele sabia quem Ella era. Talvez mais até se compararmos a decadência dela. Tudo armazenado na cabeça dela era relacionado às séries e a conversa era sobre séries. As conversas solitárias traziam arrependimento do abandono do mundo. Não queria ser mais a órfã. Quando sua campainha tocou, Ella abriu sem pensar e sorriu para Ele como quem se apaixona em uma dessas séries pela primeira vez e começa a se despetalar.

terça-feira, fevereiro 14, 2017

reverso



órfãos de ideais vagam repetidores em temporadas infinitas
amadores profissionais protestando por paradas cardíacas
órgãos vendidos em séries inacabadas pela audiência fugitiva
fogem dos senhores feudais disfarçados legados confiscados na justiça

atiça a realidade representada rente  quando o não entendido chega
achega arte imitando vida parte daquele dia diferente das séries sem fim
ai de mim nas dores passadas infiltrando agora o futuro puro aconchega

eita pega do multiverso reverso impossível de acompanhar
é apanhar um episódio de um jeito no outro se levantar

há planos individuais coletivos eles não acabam só não sonham mais
os mesmos sonhos sãos sazonais na durabilidade mais longa aliás

saudades repletas não vêm sozinhas elas alinham aninham não somos órfãos jamais.

+ às 11h34, Rafael Belo, terça-feira, 14 de fevereiro de 2017 +

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Não assista séries


por Rafael Belo

Não assista séries! Algumas são tão boas a ponto de nos viciar como os desenhos e animações dos anos 1980 e 1990 das nossas infâncias quando parávamos tudo e corríamos para frente da televisão para mergulhar nas histórias e personagens. Há poucos dias estávamos lembrando, eu e um casal de amigos, desses até o início dos anos 2000. Lembrei, além desses, de séries ainda na minha memória como Anos Incríveis e Mundo da Lua. Séries roubam nosso tempo e nos levam para onde elas passam e de repente é o nosso assunto principal. Elas não acabam mesmo se as temporadas infinitas chegarem ao fim, até porque muitas representam nossa realidade.

Você já parou para contar quantas séries acompanha? Ultimamente eu não tenho assistido. Quero esperar as temporadas acabarem e fazer minha própria maratona, deixar uma parte do tempo livre – só uma parte – para isso. Mas, há pouco eu assistia menos de dez, mas já cheguei a acompanhar algo em torno de 30... Em 2015, foram produzidas 409 séries de TV originais, de acordo com um estudo da vice-presidente executiva da FX Networks, Julie Piepenkotter. É! Você não leu errado. Foram exorbitantes 409 séries impossíveis de acompanhar, mesmo 10% delas.

As mais assistidas e comentadas são Friends, How I met your mother, Supernatural, Games of Thrones, Marco Polo, Vikings, The Walking Dead, Legends of Tomorrow, Grey’s Anatomy, Demolidor, Justiceiro, Luke Kage, Jéssica Jones, Stranger Things, The Flash, The 100, Teen Wolf e centenas de outras não necessariamente nesta ordem. Identificamo-nos, nos aventuramos, nos colocamos no lugar dos personagens, torcemos por eles, reclamamos dos roteiristas, queremos aumentar o tempo e ficamos ansiosos para o próximo capítulo.


Este ano de 2017, o número pode passar dos 455, só a Netflix prevê o lançamento de 30. Friends From College, Punho de Ferro, Os Defensores, Deuses Americanos e Legion são estreias prometidas por diversas emissoras e aguardadas por milhões de fãs.  Nem durante a vida mais longa seria possível acompanhar todas as séries nem àquelas amadas por nós. Aliás, é bom lembrar a durabilidade delas. Supernatural está em seu décimo segundo ano e promete ser o último. Friends chegou há dez anos e How I met your mother, nove. Quando elas acabam nos deixam órfãos repletos de saudades dos melhores episódios, de cada personagem... Então, não assista séries! Pelo menos não sozinho. Faça uma maratona com os amigos e aproveite a maior quantidade de tempo possível para confraternizar.

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Vou estar lá (miniconto)




por Rafael Belo

Já era um ano perdido. Eu, Anara, vou mudar de nome. Talvez as más escolhas parem de me encontrar. Se pararem de me procurar já fico satisfeita. Quem conhece meu rosto já se foi… Agora preciso de uma nota de desaparecimento e morte por dedução com um nota de falecimento veiculada em toda parte. Depois é voltar-me a força divina mais próxima, quem sabe uma novena, e pedir para ser esquecida e não atacada.

Houveram guerras invisíveis aos meus olhos, mas não aos meus ouvidos e minha intuição. Nada fiz. Preferi a razão tão em desuso. Minha cabeça rolou duas vezes e nada a substituiu nem minha função foi preenchida. Devo ser uma lenda ou a lenda específica da mula sem cabeça com adaptação brasileira para a burra sem cabeça. Seria redundante? O peso de uma pena pode derrubar um elefante…

Viviam me perguntando se vivo de ética, de moral e caráter. Pelo visto morro deles também, mas consigo sorrir de verdade, dormir com leveza, ser bem lembrado… E minha alma, vestindo este corpo, é toda gratidão mesmo quando não há um tostão para um filão, vulgo pão. Talvez eu tenha valores de mais ou seja demais ter valores, mas agora penso em um nome novo para mim? Você pensou em utopia? Já me sugeriram antes…


Não se preocupe. Vou encontrar um. Morro todo dia um pouco de mim. Outras pessoas vão diminuindo anonimamente minha população mental, às vezes um universo inteiro explode sem deixar vestígios, mas é bem possível um novo surgir no lugar… Uma supernova sem bandeiras separatistas, extremistas, consumistas da mente, devoradoras de alma, Jack Estripador dos corações… Quando eu me calar, vou estar lá.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Linha reta



autênticas cópias acertam os erros destecem o tecido do som surdo gritado no mudo

culpo o tempo por ainda não esquecer por ainda não curar o incurável sendo um terremoto inamovível
muto um outro ser qualquer em máscaras reais fixadas no meu imparável rosto
há um gosto salgado se fazendo de amargo no meu doce onde meu paladar insosso tem o sabor de um gosto oferecido pelas asas barulhentas do menor inseto destinado a só rastejar
há um experimento do azedo ser agradável para quem experimenta com uma boca não apenas minha
alinha o batimento acelerado no estado estático de quando a linha do coração é um bipe contínuo hospitalar
a morte não vai chegar ela equilibra a arrogância o desprezo no sossego agitado no desassossego do ombro calado ouvinte da hora acertada mesmo no erro na palma estatelada

com as raízes desenhadas da Senhora até no nosso tropeço esquecido dela nunca ter ido embora


+às 02h20, Rafael Belo, quinta-feira, 09 de fevereiro de 2017+

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Sem legado (miniconto)



por Rafael Belo

Há uma carreata logo à frente. Não há buzinas nenhum barulho. Até os veículos estão de luto. Mas, outros automotores buzinam, fazem o sinal da cruz no rosto em um total desgosto de estar perto da morte. Melhor o sarcasmo ou outra sorte como um cortejo não cruzar. Foi-se aquele malandro do meu irmão, corrupto, porém, morreu. Não vou julgar. Era meu sangue e nem sempre foi assim, tão ruim… Por que tenho estas lembranças? É família, tudo bem. Envolveu a todos nós nesta lambança nos jornais. Não há mais esperança. A lama é o mais limpo dos nossos pisos atuais.

Os sons guturais causados pelas decepções e alienações parentais sendo nós filhos de um país nos fazendo ter vergonha da Pátria Mãe Gentil. Quantas vezes já tive vontade de matar meu irmão? Fratricídio… Mas, na maior cara de pau ele me olhava com lágrimas nos olhos treinados e dizia:  Ah, Canita, irmãzinha! Perdoa-me?! Era o suficiente para me derreter. Nada mais poderia fazer. Só o enxergava pequeno, só o via na nossa infância e ele resolveu delatar. Quando um ex-presidente delatou algo? Ninguém acreditou ter sido acidente a morte por atropelamento… Caixão fechado… E agora estão todos o dividindo entre santo e demônio. Ele era os dois! Somos todos!?

Ainda recebo mensagens de ódio nas minhas mídias sociais, no meu celular, até ligações em todos os horários impróprios. Nem sei mais o número do meu celular. É qual? O décimo número em menos de uma semana? Agora de vai tarde, a por quê, Meu Deus, por quê? Conheci amigos íntimos, inexistentes até ontem... Com certeza mais aparecerão e agora? Está acontecendo alguma coisa lá na frente. Ei! Eu disse para não parar sob nenhuma circunstância, não disse?! Nada mas isso, mas aquilo… blablabla… Continue! Anda logo!!! Pela calçada! Ah, sai daí! Não quero saber. Você pode descer ou afivelado o cinto neste banco vazio ao lado. Eu me responsabilizo!

Estão todos mortos!!! Minha família inteira?! Onde estão as crianças?! Faça alguma coisa eu inútil?! Ligue pra alguém?! Não! Não, a polícia não vai resolver isso. Como? Não dá tempo pra chorar agora! Se parar para absorver tudo isso, morro eu também. Por quê você me jogou no chão? Não achei parecido com tiros… Agora sim!!! É de alto calibre. Só pode ser militar. Como eu sei? Para um segurança particular metido a detetive você não sabe nada, como pode? Eu era da defesa pessoal do exército… Sem mais perguntas. Vamos procurar algo para acharmos as crianças. 

Será um sequestro? Será que… Está tudo tão dolorido e lento. Algo queima no meu peito. Perfura minha vida, liberta minha alma... Deve ser um segundo passando, mas meu olhar é uma eternidade. Vai acontecer algo aos meu sobrinhos, meios-irmãos, primos… É uma lição deixada pra quem vive! Eles executaram minha família como exemplo. Com certeza estávamos ao vivo para o mundo inteiro. Nem terei legado. No meio de tanto barulho só fica meu silêncio e um vazio logo a ser preenchido.

terça-feira, fevereiro 07, 2017

falsificação



querem que queísmos sejam o máximo de ligação entre nossas relações e sejam achismos participar das religiões ao mesmo tempo temos fé e superstições
poderíamos andar mais à pé a erguer inibições de sermos transportados vivemos nos perdidos e achados dos supermercados comendo conformismos comprados superfaturados na bola de neve da corrupção

nos deixam recados desbotados sumariamente apagados para termos razão não podemos pensar nem sentir só reagir animais feridos escolhidos em uma emoção
noção na nação abatida por quem não está nem aí apesar da acolhida devemos nos demitir da função multidão

cadê o povo jogado à acomodação?

somos filhos bastardos criados escravos para a submissão quando descobrimos sermos nós os legítimos filhos da luta

surta as únicas opções opostas do muro na graça da desgraça rir do luto
tudo apontado para um só culpado jogando areia no arregalar dos olhos próprios mareados sangrando o desejo da cegueira alheia da destruição

lamentação da falta de sinal para conectar o celular como provar a vida sem se fotografar à torto ao respeito

querem que quebremos opiniões isolando defeitos para nos aquartelarmos em pedaços inteiros em um dos dois lados escolhidos para nossa falsificação.
+às 12h, Rafael Belo, terça-feira, 07 de janeiro de 2017+

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Ciclos de vazios



por Rafael Belo

A solenidade de uma rosa traz as lembranças poéticas em prosa para as crônicas do dia-a-dia. Nem sempre é alegria nem poderia ser assim. É próprio do ser humano se sentir enfadonho com a mesmice, mesmo se a repetição for um eco sincero do desejo. Enfadonho deriva de enfado e este nasce do tédio. Puxei a etimologia porque ela vai mais além, vindo lá do latim fastidium: desprezo nascido da arrogância. Vivemos uma era de desprezo e isto ficou tão claro diante do desejo de morte ao outro, especificamente nesta última semana com a ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Um ser humano deixou a vida. É tempo para refletir, mas queremos conflitos. Temos a arrogância de na atual situação do mundo defender partidos e políticos atacando deliberadamente o outro, disseminado o ódio e o desamor porque Amor é outra manifestação incabível em explicações, vai bem além do sentimento pura e simplesmente. Diariamente apontamos o dedo e entramos em guerras homéricas semeando o desrespeito. As folhas caídas são secas, amargas e o fruto colhido só pode ser insosso.

Não há graça neste fomento de destruição. Rir da desgraça alheia é jogar areia nos próprios olhos esfregando até sangrar desejando a cegueira daquele outro a chorar. Uma onda de indignidade surge a todo instante revelando uma desconexão agravante nesta vida publicada nas redes sociais, nesta conexão sem fim, levando o respeito para o fundo do mar. Assim, aquela morte enterrada, superada foi ressuscitada em zumbis vestindo nossas peles em tantas cores do despropósito chegando a nos impedir de saborear a vida, a nós mesmo e ao oferecimento do outro.


Realmente só oferecemos aquilo latente em nós e estamos tão cheios de ódios e discórdias... Ao invés de nos esvaziarmos de preconceitos, de excessos, de sentimentos desnecessários, da pressa, dos acúmulos, das culpas, nos esvaziamos da nossa própria alma, da soma multiplicada no abraçar o próximo, no ouvir, no não julgar, no estar presente no equilíbrio das uniões e formamos ciclos de vazios loteando todos os terrenos destinados as nossas plantações de orquídeas, margaridas, rosas e girassóis.

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Adulteradas (miniconto)




por Rafael Belo

Era a terceira identidade de Colibri . Há tempos não houve seu próprio nome. Uma presa política em uma época de afirmação de liberdade e democracia era uma aberração temporal. Era como ser transportada direto da Segunda Guerra Mundial para 2017. Precisamente, para ela a confusão social seguia e a perseguia. Ela carregava o fardo de morte e de ter sido torturada brutalmente, mas sua alma e coração seguem intactos. Um pacto consigo mesma da necessidade de conseguir e prosseguir.

Agora se perguntava se já não havia morrido em uma época na qual nem nasceu. Como muitos parecidos com ela andando solitários na contramão chamava atenção. Havia uma beleza silenciosa tocando a todos onde passasse. Os olhares a alcançaram, sorrisos se abriam, mas nela inexistia a beleza imposta. Mesmo assim, a palavra linda ricocheteava nas mentes surpreendidas por tal força existir. Não se lembra de andar jamais de cabeça baixa, porém, vontade não faltava.

Chamava muita atenção ao natural, apesar de não querer. Hoje começava a se lembrar quem era e como seria lembrada. Tentando disfarçar, ouvia a notícia da televisão de um ponto de táxi. Estava entre assustada e admirada. Primeiro pela ausência de o que?! Seis horas?! Como podia ser meio-dia já? Mas era…! Segundo por causa de ela passar de jornalista para manchete. Procurada jornalista Kamira Colina, pivô da renúncia do ex-presidente da República…

Não sabia como mais uma vez conseguira aquele fardo de foragida e mais uma vez estava tudo errado. Não havia sido o pivô de nada, apenas… Apenas… Bom, fez o trabalho dela. Foi atrás de diversas fontes montou os links, as sonoras, fez o mínimo de edição possível e quando vendeu seu trabalho freelancer uma reedição totalmente ressignificada estava no ar e bombando nas redes sociais. De anônima orgulhosa de suas contribuições para a sociedade, para pária, para uma mistura a mais no saco de corrupção do país e o pior era o resultado… Não será o resultado de tanta manipulação. A Terceira Guerra Mundial finalmente ia acontecer.

quinta-feira, fevereiro 02, 2017

vocabulário



palavras desconexas me acertam na avessa testa
frases frágeis fugindo com pressa na travessa sem saída
beco sem partidas das chegadas chamadas em vogais
ruas abissais conservando consoantes cremadas

cinzas espalhadas sem vento nas falas fáceis fingidas tingidas de visuais

virtuais vozes vão vazando viciantes vorazes vigilantes estradas
oscilantes balas flechas conversas cercadas de ciladas
dissecadas nos gramados soletrados na separação dos verbos a mais

vocabulários vicejantes vivem vacilantes usam utopias umidificadas atuais
branca flor oferecida no tolo jogo todo lodo solto nos fogos artificiais

estouro descansa nas mentes profundamente superficiais há guerra há paz.

+ÀS 12H48, Rafael Belo, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2017+

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

A laranja (miniconto)




por Rafael Belo

Há inúmeras maneiras da privacidade ser invadida. Sem conexão não existo, mesmo se sumir por um dia já posso ser esquecida. Conectada há inúmeras notificações e delações gratuitas dos locais onde estou. Nem pra ser premiada...  Check in por toda parte, as imediações denunciam quem está no meu perfil por perto e mesmo assim, mesmo assim fui estúpida e um segundo de estupidez apaga, deleta, exclui, bloqueia os demais momentos de lucidez. Voltar atrás é o sonho enrustido de todo mundo e...

- Vie Piara?, interrompeu uma voz mais chamando que perguntando com um ar de sempre usar esta abordagem, quem sabe imaginando ser mais simpática e abridora de portas. - Sim? Quem é você?, se arrependia imediatamente Vie por dar a abertura pretendida pela estranha... Mas, ela conhecia a repórter sensacionalista já sabendo ser a manchete de logo mais independente das suas respostas, a “matéria” seria tendenciosa, jocosa e daria a entender as piores coisas possíveis, porém, Vie se sentia merecedora do que viria.

Eu preciso de um psiquiatra, não de uma jornalista! Quem sabe um psicólogo. Esta máscara teatral de drama e humor se intercala na minha face e na minha mente. Se não bastasse, os vizinhos estão perguntando para o meu pai sobre... Não seria diferente, sempre há mais gente cuidando da nossa vida que nós mesmos... Será que vou ser clara o suficiente desta vez para não ser mal interpretada de novo? Eu disse isso sim, mas não com esta intenção... Só estava tentando comparar e agora só complicam as coisas...

Você não vai me ajudar em nada eu devia dizer, ao invés, de agradecer pela oportunidade de me explicar. Meu celular já começou a tocar, com certeza está cheio de whats e eu não desliguei o GPS. Por que há policiais por toda parte? O que está acontecendo? Eu não cometi crime nenhum, só disse o que pensava... E o direito de expressão? Não tenho para onde correr... Será que se eu tentar eles vão atirar? Tarde demais... Por que tem tantas emissoras aqui?


- Vie Piara! Você está presa por falsa alegação de crime! Você tem o direito de... Então, uma tempestade isolada caiu torrencialmente para completar a sorte de Vie!