segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Olhe bem para nós



por Rafael Belo

Olhe bem para nós. Temos uma ânsia por atenção quase canina. Abrimos olhos grandes felinos e colocamos em prática nossa atuação. No carnaval das fantasias liberamos nossas inibições, tiramos as máscaras e tentamos nos encaixar até a quarta-feira de cinzas chegar. Mas, o quebra-cabeça pode parecer perfeito na superfície, em tudo visto de fora, porém, por dentro, em profundidade nada se encaixa. Nossas peças soltas se soltaram apenas por uma razão: nós. Não há nada errado com o mundo. Errado foi como aprendemos a lidar de maneira precária com o exterior e nula com o interior.

Sim! Projetamos ideais, idealizamos expectativas parciais para receber a totalidade da responsabilidade dos nossos sentimentos do outro, muitas vezes, sem ele sequer desconfiar. Construímos castelos de ouro e diamantes com areia e ar, montamos seres perfeitos com peças sobressalentes da imaginação, então, quando tudo dá previsivelmente errado há drama. Choro e ranger de dentes se espalham no inferno tão mobiliado por nós. Mas, espere! Quem somos nós? Quais nossas vontades? Quais os anseios das nossas almas? Quantos espelhos negamos nos rodear?

Temos tanto a admitir para nós mesmos... Mas, claro, é mais fácil culpar os pais, a família, a escola, os professores, os políticos eleitos sozinhos, o mundo... Além, é óbvio, de todas as acomodações feitas para não nos incomodarmos tanto com nossa falsa satisfação. É tão passageira esta satisfação... Passamos tanto tempo insatisfeitos a ponto de qualquer estímulo em direção a uma realização verdadeira já injetar novo ânimo nos nossos projetos. Engraçado... Crescemos direcionados por todas as referências a buscarmos as riquezas, a sermos ricos, ou então aquela ideia da pobreza ser o objetivo, ou ainda quando nos dizem faça a sua felicidade, siga seus passos, ficamos tão confusos. Nunca nos mostraram este caminho.


Não poderiam porque não sabem. Precisamos descobrir por nós mesmos. Este ciclo infinito de busca da riqueza, felicidade e amor adaptado para as bilheterias atuais do American Dream é individual. Não é este caminho único da autoajuda coletiva reprimindo nossos eus de tantas maneiras com aquisições materiais e metas empresarias, industriais, mecânicas a ponto de nos fazer sentir fracassados, inadequados, incapazes em algum momento das nossas vidas. Talvez nem nos tenhamos suprimido nas nossas necessidades imateriais inorgânicas em uma substituição qualquer porque cada caminho traçado é marcado por apenas um de nós e para suprimirmos algo devemos ter algo para suprimir. 

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