por
Rafael Belo
Estava
tudo bem até elas falarem. Não, não estava, não é?! O silêncio trouxe o clima
tenso cortando o ar com a navalha delinqüente guardada sob a língua. Não!
Espera! Também não era isso?! Era uma imposição. Isso! Isso sim incomodava. Não
era a opinião. Porque esta pertence a cada um. Mas, a vitimização como
argumento, a dramatização como fundo, a obrigação como cotidiano e o livre-arbítrio
para o de vez em quando estava à flor da pele. Era preferível a gritaria do
estouro, da explosão da raiva incabida a este silêncio matador, assassino, tão
pesado deixando as duas curvadas ruminando as próprias, opiniões, as próprias frustrações,
aquelas expectativas irreais e mudas.
Mas
é Carnaval, vamos deixar encerrado por aqui, na quarta-feira de cinzas a gente
desmuda e começa de novo... Não? Não podemos voltar só daqui a cinco dias de
folia? Não é assim o funcionamento do Brasil, das pessoas? Esquecer não é o
normal? Como?! Ah, sim! Ninguém esquece realmente se não seguir em frente... Mas,
não é tão simples aceitar este fato e quem somos de fato, Katilneila, afinal,
fomos criados para projetar nossas expectativas, para cobrar do externo, ou
seja, dos pais, dos chefes, do mundo, dos políticos, mas o outro não tem nada a
ver com nossos pensamentos, nossos sentimentos, só nós temos, Katilneila, é
isso mesmo?
Causa
e efeito não funciona mais do mesmo jeito?! Certo. Estou me fazendo de boba?
Você tem razão! Estou negando saber, eu sei. Admitir isso é admitir minha
capacidade de mudar e é doloroso ser completa. Fragmentos assim é mais fácil
lidar, sabe?! Menos intenso. Distribuir minhas responsabilidades torna mais
leve. Nada posso fazer se não sou eu, certo? Oi? Sim, sim... Ilusões perdidas,
perdidas ilusões... Então, causa e efeito mudaram. Como? Bom, se eu, uma
executiva com sobrenome famosa roubar posso nem ser acusada, mas se a Edilaia,
for fazer faxina e sumir algo na casa, ela poderia ser presa... Achou errado. Não
pode ser presa sem provas, o sindicato é forte, a imprensa dá visibilidade...
Fugindo
do assunto? Não tenho nada a dizer. Não preciso me desculpar, não quero
obrigados, só pare de esperar algo de mim. Nesta época de relatividade há
infinitas possibilidades para a mesma ação. São tantas reações, tantos
pensamentos diferentes, tantos sentimentos subdesenvolvidos... Não. Subdesenvolvido
não é categoria, é burocrático, é rótulo...! Aprendi a lidar só com meu
exterior, com quem está fora. Quem está dentro é uma desconhecida! Por isso,
volto ao início e prefiro o silêncio tenso desta imensidão aqui fora a gritaria
e pancadaria aqui dentro. Volto ao sofrimento das expectativas.
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