por Rafael Belo
A solenidade de uma rosa traz as
lembranças poéticas em prosa para as crônicas do dia-a-dia. Nem sempre é
alegria nem poderia ser assim. É próprio do ser humano se sentir enfadonho com
a mesmice, mesmo se a repetição for um eco sincero do desejo. Enfadonho deriva
de enfado e este nasce do tédio. Puxei a etimologia porque ela vai mais além,
vindo lá do latim fastidium: desprezo
nascido da arrogância. Vivemos uma era de desprezo e isto ficou tão claro
diante do desejo de morte ao outro, especificamente nesta última semana com a
ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Um ser humano deixou a vida. É tempo
para refletir, mas queremos conflitos. Temos a arrogância de na atual situação
do mundo defender partidos e políticos atacando deliberadamente o outro,
disseminado o ódio e o desamor porque Amor é outra manifestação incabível em
explicações, vai bem além do sentimento pura e simplesmente. Diariamente apontamos
o dedo e entramos em guerras homéricas semeando o desrespeito. As folhas caídas
são secas, amargas e o fruto colhido só pode ser insosso.
Não há graça neste fomento de
destruição. Rir da desgraça alheia é jogar areia nos próprios olhos esfregando
até sangrar desejando a cegueira daquele outro a chorar. Uma onda de
indignidade surge a todo instante revelando uma desconexão agravante nesta vida
publicada nas redes sociais, nesta conexão sem fim, levando o respeito para o
fundo do mar. Assim, aquela morte enterrada, superada foi ressuscitada em
zumbis vestindo nossas peles em tantas cores do despropósito chegando a nos
impedir de saborear a vida, a nós mesmo e ao oferecimento do outro.
Realmente só oferecemos aquilo
latente em nós e estamos tão cheios de ódios e discórdias... Ao invés de nos
esvaziarmos de preconceitos, de excessos, de sentimentos desnecessários, da
pressa, dos acúmulos, das culpas, nos esvaziamos da nossa própria alma, da soma
multiplicada no abraçar o próximo, no ouvir, no não julgar, no estar presente no
equilíbrio das uniões e formamos ciclos de vazios loteando todos os terrenos
destinados as nossas plantações de orquídeas, margaridas, rosas e girassóis.
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