sexta-feira, agosto 31, 2012

Miniconto- Ventania

por Rafael Belo
Faltaram as palavras. Foi aquele silêncio constrangedor. No meio do protesto tudo se esvaziou, as pessoas se dispersaram com o novo assunto recém-chegado. Depois a internet parou de atualizar e ninguém mais curtiu, nada foi compartilhado.  A invenção parou. A voz foi calada e os dedos de tanto atrito acabaram calcificados no excesso. As ruas já vazias jaziam inertes enquanto os semáforos piscavam à procura daqueles seres de outro tempo a congestionarem...  As imitações e apropriações deram lugar à letargia. Toda esta sonolência pescava em cada vazio a completar mais uma adaptação do distúrbio social da sequidão. Esta seca se espalhava.

De alguma forma aquele homem disforme se tornara seco. Perdeu seu nome e qualquer registro de identidade. Acreditava ser o ouvir. Tudo ouvido era absorvido e caracterizado. Mas, durava pouco ele precisava se isolar e celebrar suas verdades secretas. Não se sabe porquê estas verdades dele se mantinham. Porém, qualquer informação recente, logo era esquecida.  Algo em torno de um dia, 24 horas e pronto... Nada. Sua mente se reiniciava como um bug do milênio real. Sua memória voltava a ser uma esponja seca e os recém-conhecidos, absolutos estranhos. Ele vagava em meio à poeira e a fumaça de um incêndio recente se alastrando com o forte vento.

Suas realidades virtuais não eram contradições. Contradição era sua presença, pois ela era a ausência em pessoa – bem quase isso. Havia um conflito o tempo todo para se saber sobre o motivo da briga, às vezes opinava sobre a superficialidade de tanto conflito interno, mas quando tudo se transformava em crise, ele batia cabeça. Faltavam palavras, faltavam pessoas, faltava conversa... Faltava... Bem... Outra hora lembramos... Certo era o homem sem nome navegando em águas turvas, se aventurando por onde não se enxergava, sem eira, sem beira, sem forma, devidamente constrangido em meio aos ex-conhecidos a o olharem de esguelha...

Algo dizia em seu interior empoeirado ser ele o escolhido para viver longe da sociedade, mas em sua loucura autista escolhida sempre se esquecia... Ser mais um de pele de areia, de memória curta, de vícios dispersos a ser dispersado por todo vento soprado, contra,  à favor... Mas há tempos não ventava e os secos clamavam por um vento novo. Todos pediam por uma ventania para levar esta casca plastificada e chamavam por um interior perdido em outras profundezas. No entanto, havia algo mais enraizado nesta poeira... A preguiça abraçada ao devido profundo se espalhava. A seca era a comida dos olhos, a bebida expelida da boca, o toque espinhoso do sentir, o arder do cheirar e as palavras quebradiças arranhando os ouvidos... Era o deserto de pessoas.

quarta-feira, agosto 29, 2012

Desassociados


Palavra contorna palavra,
desabafa os dedos teclados,
clicados ratos das aberturas virtuais escravas

vícios do fogo sem palha
da forma vazia sem toque
do TOC internado sem choque

com voz distorcida dos retoques
do curtir e compartilhar competitivo
do seguir o autismo escolhido
pelo caminho do conformismo editado

nas nossas ausências realizadas
postadas... Pelo ditado social.

(Às 21h20, Rafael Belo, terça-feira, 28 de agosto)

segunda-feira, agosto 27, 2012

Apatia e conformismo se dão as mãos

por Rafael Belo

Falar é fácil... Difícil é contornar as palavras. Mas, a dificuldade mesmo nestes dias de internação e desabafo no Facebook e contenção de palavreado nas tags e disparos de palavrões no Twitter é agir no mundo real. Parar de ritmar os dedos no encontro das letras nos teclados e cliques desenfreados e desatrofiar as pernas para reclamar efusivamente sobre os nossos direitos parece um mito, parece não dar certo no Brasil. Mais útil é deixar as formas do nosso corpo aonde permanecermos ou aflorar ainda mais nosso autismo por escolha.

É muito menos desafiador ser curtido e compartilhado por meio de mensagens clonadas, adulteradas e imagens usurpadas e editadas, a criar e se expor. A apropriação indevida, a coação do poder, o mimetismo das celebridades, a comodidade confundida com o comodismo e a apatia de mãos dadas com o conformismo sãos os nocautes do nosso ego diário procurando qualquer melancia para sermos aplaudidos nessa nossa vida de palhaços. Esse nosso jeitinho distorcido de sermos moldados aos ambientes acaba mais em camuflagem a dinamismo. Nossa confusão é tão intensa a nos tornar fogos-fátuos. Combustão espontânea onde o ar encontra o apodrecido.

Sempre há algo de podre no reino... E tudo bem¿? Vamos ganhar dinheiro de qualquer jeito? Vamos manter tudo como está? Vamos nos inventar tantas vezes até esquecermos quem somos? As linhas limites entre bondade e maldade se perderam quando os valores se inverteram e percebemos o fato da vida não ser um filme, muito menos a superfície de uma novela, mas mesmo assim vivemos personas ingratas e vorazes por mais... Passamos a afunilar um único olhar para todas as pessoas e culturas e esquecemos do relativismo generalizado, e esquecemos de quão profundo somos, e fazemos algo positivo para tentar anular algo negativo, e fingimos a falta de consequência perante nossas ações, e continuamos a forçar nosso esquecimento ao termos de dizer se somos bons ou ruins, pois somos ambos.


Fomos domesticados a sermos aceitos sempre e vencer constantemente. Fomos escondidos e acreditados na centralização do eu e com este aprendizado queremos ser coletivos... Queremos ser sociais... E bebemos e nos embriagamos de um tóxico qualquer e só assim revelamos ressentimentos egoístas, pensamentos covardes e atos insanos. Somos tão sociais e temos tantos amigos, a ponto de ser comum termos escolhido o autismo. Mesmo estes entre nós a parecerem sociais de fato serem uma caricatura de uma falta de análise psicológica ou da ausência de coragem de falar o pensado e o sentido. 

Nossas ausências são o verdadeiro preenchimento vazio oferecido por nós as nossas realidades.

sexta-feira, agosto 24, 2012

Miniconto - Sétimo dia



por Rafael Belo
Morto e enterrado. Para as pessoas e a medicina, Jazco Silva jazia há uma semana. Exatamente sete dias haviam se passado quando o falso falecido fez seu corpo presente no meio de sua própria missa de sétimo dia. Não há dúvidas da correria, do pensamento de brincadeira mórbida. Mas, o ex-morto, estava realmente vivo. Sujo, faminto, desnorteado, praticamente um zumbi. Por isso, o fato da igreja ficar acima do jazigo da família explicava o motivo de Jaczo estar ali tentando raciocinar porque tantas imagens dele e porque todos os familiares, amigos e conhecidos estavam ali.

Coração parado. Estas foram as últimas palavras ouvidas por Jazco. Depois tudo foi silêncio. Nenhuma voz de fora. Quando acordou tinha certeza de ter conversado muito, mas se falar. Estava se esforçando para lembrar palavra por palavra, enquanto os mais saudosos e corajosos se aproximavam, tocavam, perguntavam... E Jazco olhava olho por olho ao mesmo tempo lembrando a história de cada presente com ele. Até então, tudo estava escuro e rastejante, mas aos poucos uma ponte iluminada surgiu em sua mente.

Veio a Luz. Como se sua alma voltasse apenas neste momento. Jazco sorriu e todos pararam, tudo silenciou e quem se encheu de ruídos e de todo o claro som do mundo foi Jazco. Iluminado começou a falar, foi até o altar e feito o principal elemento para quem a missa era dedicada, inverteu os papéis. “Uma voz me tranquilizou este tempo efêmero no qual estive enterrado. Meu coração estava parado. Mas tive nova chance... Não sabia... Meu coração parado, já vinha sem bater há muito... E este ato físico acontecido, há de acontecer com todos se não ressuscitarem seus corações”.

O dito acelerou tanto os corações presentes a ponto de esquentar em um grau de espasmos. Corpos e almas se mantinham embevecidos e a pele arrepiada, porém, as mentes medrosas ferviam por outro motivo. Não era algo racional, nada a produzir um raciocínio aceitável, então, continuaram a ignorar os sentidos do corpo, da alma, as batidas dos corações parados e, pelo anunciado, estavam prestes a somatizarem para um funeral coletivo de proporções tão imensas a quebrarem as tradições dos caixões tailandeses... Vários Jazcos estavam acontecendo por toda parte.

quarta-feira, agosto 22, 2012

Vivendo


Para coração a bater na razão não mais batida
para um sensação repetida, sentida no mais intenso amparo
para o reparo do ainda não parado
para a paródia do sentimento somado

paro, separo, bato coração apanhado
para coração parado, quase enfurnado
para paradeira sem paradeiro na eira do comparo do atalho coroado

paro para poder continuar batendo
para o apanhado de vida no nosso punhado
apunhalado de corações, seja alvoradas e crepúsculos
para passarmos das ações dos súbitos, ao não morrendo.

(Rafael Belo, Às 23h27, terça-feira, 21 de agosto de 2012)

segunda-feira, agosto 20, 2012

Coração parado

Por Rafael Belo
Quantas vezes seu coração já parou? Não por ver seu amor passar, por sair ileso de um acidente, por levar aquele susto, por ser demitido, rejeitado, aprovado... Enfim... Me diga... Mas, sofrer 70 paradas cardíacas sequenciais no mesmo dia e permanecer vivo faz mais uma vez termos na ponta dos dedos a fragilidade da vida e termos em mente a força da alma humana. Agora some 66 anos, vida sedentária e alimentação ruim, de Francisco Silva, seria a sombra da morte, ou melhor, a própria morte ainda mais se acrescentarmos: a partir da quinta parada a medicina prova não funcionar mais os choques.

Milagre, Deus, fé... ? Tudo junto, nada disso... A vontade e a ação vinda na crença em si mesmo é todo o início de pavio alastrado pela chama a chegar até nós. Viver, sobreviver só é possível se acreditarmos. Cada etapa de crescimento pulada é um vácuo, é uma depressão semeada armazenada na memória da terra infértil vinda de uma poeira perdida até nós. É como se o vazio soprasse nos nossos ouvidos moucos e esta surdez nos preenchesse pelo coração parado.

Esta parada é consequência. Nossa inconsequência é esta parada. Talvez 70 seja algo nos levando a acreditar nas tentativas de continuar cada etapa escolhida da vida. No entanto, especulações sempre podem ser confirmadas - se esta for a vontade - e nos levar a histerias e outros extremos. Basta uma simples incitação para uma multidão raivosa provocar o caos ou fundar uma nova forma de acreditar no já acreditado. Eis a liberdade de expressão, só precisamos conscientizar nosso cérebro a não sermos só emocionais e somente racionais.

Já sentimos a parada do nosso coração diversas vezes pelos mais diversos motivos, nenhum fatal nenhum realmente físico... Mas, há sequelas. Fatos como este, a terem espaços em meios jornalísticos, ou pseudojornalísticos, são sim para se pensar na nossa força, nas consequências dos nossos atos, na nossa dicotomia de também sermos fragilidade, afinal quantas pessoas aos 66 anos, como Francisco, tiveram 70 paradas cardíacas e estão vivas quatro anos depois do ocorrido? O coração parado pode deixar de ser literal e ser literário quando somos apenas as linhas tortas esperando ter novas palavras.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Miniconto - Bebendo do próprio ego transbordante


por Rafael Belo
“Vergonha alheia”. Mal tenho vergonha dos meus fazeres e afazeres quem dirá do dos outros. Condescendência típica... Mas esta é a moda moldada na boca das ruas e na linha do tempo do face. Não tenho vergonha da comédia e do drama da queda de outro no chão. Eu rio, dependendo da gravidade, e chego para ajudar a levantar, pronto. Realmente ficou no passado. Mas ai daquele que vier de dedo em riste dizer como devo ser, qual forma tenho de agir e o sentimento vazado no rosto. Demais, ainda mais se você for se definir pelo meu nome: Ególatra Eussim.

Mas desta forma eu ajo. Eu dito como as pessoas devem ser na minha visão e eu as adéquo a minha maneira, a mais correta de se viver. Eu comando, tenho tudo nas mãos... Estes fios invisíveis a te moverem são a “informação desnecessária” sobre você. Você é meu títere. Além de meu fantoche onde enfio minha mão e te movo. Você não percebe, eu sou teu mestre. Você está sob meu comando e cada dedo meu mexido faz algo contigo feito uma pressão não sentida. Meus queridos Pinóquios. Minhas madeirinhas esculpidas a fogo e talhadeira, bebem de mim como seu fosse água. Coitados, tenho dó!

... Não, não tenho! Os quero seguindo como degraus me elevando, me dando suas glórias mesmo parecendo serem suas. “Vergonha alheia”... Fala sério! Mostrem esta mágoa, este rancor, esta explosão de ódio guardado para uma vingança sem fim na Avenida Brasil ou escrachada e Cheia de Charme. Vai lá diga a verdade, mostre suas garras afiadas e suas presas esverdeadas de veneno. Chega de fingir este seu puritanismo apodrecido há décadas. Sei do seu gosto pela manipulação. Assuma seu sabor de manipular e se adequar de maneira subversiva aos seus interesses e somente por eles.

Vamos confirmar o nome: Ególatra Eussim. Todos somos. Mas eu sou mais. Eu sou o Aliciador dos aliciadores, o serial killers dos seriais killers, Eu sou Eu. Vocês venham a mim, me adulem, me idolatrem, me fotografem, façam primeiro comigo ou as consequências serão... Digamos... Articuladas ao fundo, armadas em silêncio, matutadas feito pasto bovino, ruminando... Porque eu não sou nada além de mim, e tudo sou eu. Não há nada a ser aprendido se eu não ensinar, então, aprendam agora... Na próxima receberam só meu esporro.. Bem... A não ser... Humm, quando eu precisar de você eu te aciono, fique no aguardo. Até a próxima.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Folhagem ao tempo


Espelhos se estilhaçam de reflexos
nos infinitos efêmeros generosos
gêneros do genial genioso humano

caducando a juventude na extinta meia idade
espelhada na reflexão da atenção única a própria voz
ecoando os trincares ressoados nas cordas atando

nós tocando a garganta autossaturada
sons graves entre a sequidão engolida e os palavrões exaltados

fotografados na coleção de imagens solipsistas condensadas
soltas na pista à mercê de valores quaisquer, floreados.

(Às 23h20, 14 de agosto de 2012, terça-feira, Rafael Belo)

segunda-feira, agosto 13, 2012

Monocromático olhar pecilotérmico

*(Entre a Luz e a Sombra, só não há a escuridão. A Luz sempre virá mesmo se você estiver no ponto mais alto de costas e sem liberdade para voar - foto do crepúsculo do sítio dos meus sogros)

por Rafael Belo

Entre a vulgaridade e a paciência há um desentendimento e uma aparente fórmula única de ser. A necessidade de espelho e controle nos contradiz solenemente no nosso cotidiano, quando todo visto é reticências de quem somos no esquecimento dos três “dês”. As dimensões ficam limitadas ao modo eu de ver o mundo, a vida como os outros veem e como realmente é, são realidades paralelas. É como se todos sofressem de monocromatite aguda deixando o olhar sobre o mundo com a cor da vontade imposta. São seios à mostra como um belo sorriso e o descontrole explodindo como um abraço de tamanduá-bandeira.

Uma disfunção daltônica não referente à percepção visual, mas racional a se transformar e fortalecer este anteolho profissionalizante de viver em um viral real. Ai ai ai a ousadia se manifestar contrária a esta correnteza descolorida onde somos imperceptíveis aos distúrbios insones das nossas contradições. Este arco-íris preto e branco tem os disfarces da coloração tênue tensa espalhada pela mágica camaleônica de se ambientar e engolir venenos e coachares. É como se a peciloterma tomasse conta de nós, involuções de valores, e nós tornasse homens-répteis aptos a estarem ambientados em qualquer lugar, mas como irracionais agindo da mesma forma procurando o mesmo ângulo solar.

Além da percepção e da racionalização, ou mero uso digno do cérebro, esta diminuição de cores nos pasteurizaria à falta de luminosidade na extinção da diversidade... Há uma “não declarada” busca pelo pensamento único tão veementemente negada e criticada da boca para fora e tão fortalecida e robótica dos atos para dentro no ponto dos noticiários diários não nos dizerem nada e, muitas vezes, servindo para coisa alguma. Entre paciência e vulgaridade, nossa “agoramania”, “momentoemergencialidade” nos perde da paciência, nos esquece na vulgaridade e segue clonando o pertencido a outro, a personalidade alheia.

Somos sensíveis ao mundo mesmo sem admitirmos. Temos horror ao erro público, a aceitar falhas em cima do palco, a pedir e aceitar ajuda, ao comando autoritário, e, por isso, nosso branco só tem esta cor no nome. A sobreposição das cores primárias resultando na intensidade da clareza na luz emanada dos nossos olhos diversos parece estar ausente, carece de uma pretude originada exatamente desta ausência da luz, das cores... O preto. Admitir primeiro sermos diferentes e ao mesmo tempo iguais, não é bipolaridade é assumir a diferença. Tentar, arriscar, vestir o novo, ver por uma nova cor, enxergar por um novo olhar e se aquecer primeiro antes de procurar o sol é permitir ângulos serem esquadrinhados e mesmo assim sobreviver com sua essência e neste mundo, ou talvez esta seja a maneira da real vivência.

sexta-feira, agosto 10, 2012

Cegos

Egos renegam elos pelos pregos sinceros
sem conseguir ser verdade na hora da mentira
batem martelos nos pregados singelos
impregnados do orgulho caído em terra de ninguém

tetos quebrados pelos lábios torpes viciados nos flagelos
apontados na fragilidade alheia na hora da saída
partem línguas ferinas tingidas de impropérios
resgatados do surto sentido na guerra de outrem

empregados por afagos soprando egos quebradiços
adultérios negados ao próprio cego que és.

(Segunda-feira, 6 de agosto de 2012, às 22h, Rafael Belo)

quarta-feira, agosto 08, 2012

Miniconto - Dois lados iguais



por Rafael Belo

Na intensidade dos sentimentos dos extremos minha bipolaridade me leva a duas pontas desatadas e sorrio e choro na mesma hora. Estou cansada deste vento engarrafado vendido pelos meus olhos e entornado pela minha boca moldada de momentos entregues. Não sei qual minha sobra neste mundo de preços e ignorâncias costurado por uma soma de esquizofrenias adesivadas à revelia nas testas entorpecidas. Estes queixos arrebitados, estas cabeças baixas não sei se estão lá fora ou se estão aqui dentro...

Às vezes meu nome é Joana Espalha outras Maria Junta... Sei me perder nestes pensamentos incontáveis me invadindo aqui em cima... Ah, só pra você saber não estou deprimida... Agora estou... Bem, queria mesmo escrever da altura onde me encontro. A 60 andares em um prédio, sobre o único morro rodeado por arranha-céus, vendo os surtos da cidade e o balançar dos meus pés neste oceano de vazios. Olho e vejo um espelho me devolvendo o olhar...

Pequenos pontos estilhaçados se refletem e pressionam seus egos pelas ruas e avenidas a arranques e desrespeito, só eu saí deste combate não declarado... Mas declaro minha batalha contra eu mesma enquanto o céu me ventila e resfria minha pane do dia. Distante não há como não ver os passos dados, as pegadas apagando... Por isso, aqui me acalmo e conto meus pecados pelas pessoas se tocando e evitando se tocarem nas calçadas sem espaço para pensar. Também a sensação de leveza e liberdade aqui são maiores e talvez só existam neste lugar...

Quando se passa tanto tempo silenciando os gritos, ignorando as vozes intolerantes, deixando a vida te levar, já não há rumo conhecido, pois, todos já foram ignorados, mas todos estes sons sem forma continuam... Continuam... E a cabeça se arrebita e o queixo se rebaixa e o tempo se contrai e relaxa em espasmos urbanos. Deve ser Humano esta dicotomia, estas duas mulheres perdidas em mim, estes pensamentos desavisados, Esta Joana, Esta Maria, Esta na fila dos andares tomando coragem para descer e voltar a enfrentar as calçadas sem espaço para estar.

segunda-feira, agosto 06, 2012

*Sobre a sombra da folha seca

por Rafael Belo

Sequidão e fumaça. Cidade cinza amanhecida segunda-feira. Mais uma semana começa sem chuva e as gargantas secam na mudez do real. Há tantos silêncios nas entrelinhas das postagens, nas imagens de fundo das palavras, na presença hipócrita mudando os ventos de direção, abafando a razão gritante.  Não há lógica, há coação e uma constante tempestade mal formada de mal estares na vontade de ficar sobre a sombra da folha seca.

O pigarro da falação interminável e das discussões vazias são o diagnóstico do calejamento das contradições humanas, da vontade pelo poder eterno à custa do saco de pancadas chamado povo. Sobre esta sombra da folha seca fica o deserto de valores em jogo na mesa de pôquer. Vale qualquer cartada mais alta, qualquer jogada bem arquitetada, toda alteração e artimanha empregada para no fim abraçar sozinho a ambição, o egoísmo e toda forma de poder.

Chega um ponto onde prestar atenção não é o suficiente, simplesmente pelo fato da forma ainda ser sem conteúdo... Eles não dizem nada. Há um floreio sem costuras quebrando nosso controle remoto e manualmente nos deixando na estática, na “normalidade da alienação”. Sim, há aqueles fortalecendo as asas para tentar criar um bando de voadores ufanistas e crentes em um presente melhor... Mas há pouco trigo neste joio em uma medida equânime a quantidade de sombra da folha seca.

Vender a alma para o diabo, não se trata apenas do sentido religioso da danação eterna eclesiástica, de um pacto, ou na descrença de alguns um dito popular. É a constante perda da paciência, da paz, da fé em troca da tranquilidade da mente e do espírito.  Vende-se muito por quase nada, aliás, aluga-se... “Se ganha” um conjunto de demônios mentais perante o falso sorriso para a vida. Diante disso, “talvez” a verdadeira sombra sobre a folha seca seja a consciência da liberdade, a ação crítica e um momento antes o de analisar e refletir sobre o nosso redor.

*captei no chão do quintal da casa dos meus pais.