sexta-feira, julho 31, 2009

Lugar partido

(esta foto tirei em busca de deficientes visuais - photocomedy)

por Rafael Belo

Coração partido. Acontece muito. Aí misturam-se raiva, revolta, tristeza e dor. Mas, o engano é achar um partido coração apenas nas relações de Amor, amizade e paixões pelas pessoas. Lugares também partem nosso motor essencial. Aqueles aonde mais vamos, às vezes, mais do que a própria casa. Também podem te dar às costas -as portas (fechadas).

Não me apontou o dedo, não quis saber dos meus problmas – quem gostaria?, não quis conversar de forma alguma, mal mostrou interesse. Eu nunca havia me considerado um cliente até então, mas não imaginava ser maltratado de tal forma – tão bem. Imaginava (claro) de outra forma. Tanto era, bastava olhar atrás das lentes, meus olhos denunciavam ao lacrimejarem – era uma rejeição – dizendo não ao “tudo” em resposta a cretina pergunta: “tudo bem?!”

Não era contradição, mas não queria demonstrar decepção. Nao chorei! Passei a raiva e depois a rvolta com tristeza e dor – decidi não voltar – por enquanto. É óbvio o instante, passado, de ter terminado a “conversa” com selvageria e sangue, mas foi um instante rápido. Fiz meus dois treinos. Conversei com “todos”, falei da minha ausência - mas só pelo resto do mês. Ainda fiquei enrolando, conversando mais, até fecharem o lugar -partido.

Vinha bufando pelas ruas escuras e vazias passadas da onze da noite de uma terça-feira, me sentino lobo mau dos três porquinhos e o seu lobo da chapéuzinho. Por´m não derrubei nada nm devorei ninguém – estava só. Qual era o problema?Acertaria dois meses em um. Nunca deixei de estar em dia durante quase dois anos. Tudo “se” venceria no outro dia...

Já sentia falta das pessoas, de cada uma das cinco artes e da musculação. Talvez por elas volte. Por enquanto vou procurar outros professores recomendados com um dojo apropriado – como se houvesse por aqui- ou os mesmos professores, mestres e senseis em outro lugar. Mas, “aquele” lugar partiu meu coração.

quinta-feira, julho 30, 2009

Sempre a nascer


(Memorial JK ao fundo, foto difícil de conseguir tirar programar)

Você estica a mão
para encostar no passado
Toca aquela face em preto e branco
Passando privadamente para você uma paixão passada
queima tua alma,
te inspira fundo
deita a cabeça para o céu

uma garoa quente deságua e conecta
ligado ao jamais fechado mesmo passado

houve um espaço e passos de despedida
foram feitos pedaços
e duas partidas

mas, o coração
já vinha partido
nasceu despedaçado.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 16h28, 13 de julho de 2009.

quarta-feira, julho 29, 2009

De uma gota


(depois das gotas desfocadas, todas as gotas ao fundo -tirei no quintal da casa dos meus pais)

Aquecido olhar borbulhante
A me bater hesitante, antes de o encontrar
Atravessando a ponte ela está
Com um bom dolorido sentimento
Subindo doce pela boca salivada,
saboroso coração

apertado, invadido, conformado
em ser a ressaca do mar em lua cheia

toma o corpo para si ao se dilatar pupila
vê a ponte se desfazer, acelerada
e o olhado vem lento
desenvolvendo aquele momento
movendo os traços da realidade
para um desenho do universo

cada cor captada na fotografia do terno instante eterno
tórrido intenso no sorriso daquelas mãos trocadas
tocadas no enlace entrelaçado
do calor
palavra por palavra
a ser abraçada pela imensa gota da emoção.


Folha de Outono (Rafael Belo), às 01h29, 13 de julho de 2009.

segunda-feira, julho 27, 2009

(Pacato) Cidadão

(foto do last show The Doors, tirei esta do Brett o vocalista substituto, mas bom)

por Rafael Belo

Veio a letra com a melodia enquanto assistia Mandela, beirando a madrugada. A cantava muito, mas nunca analisei a letra. É uma ironia aos supostos cidadãos que somos. “Pacato Cidadão”. Ô Pacato Cidadão!,é o Pacato da civilização, Pacato Cidadão!, é o Pacato da civilização...” Agora me lembrei do He-Man, mas deixa pra outro texto.

“Pra que tanta TV, Tanto tempo pra perder, Qualquer coisa que se queira, Saber querer. Oh! Pacato Cidadão!, Eu te chamei a atenção, Não foi à toa, não, C'est fini la utopia,Mas a guerra todo dia, Dia a dia, não...” Creio ter feito a conexão com Mandela pela guerra diária que enfretava e todo dia há uma guerra dentro e fora de nós. Faz sentindo estar nele e lutar nela. Porque o princípio básico –nascer livre- não cai do céu (ou cai?).

Tirar vidas não é uma opção, acaba por ser uma escolha e assim nasce uma guerra –ou continua. Ficar em casa, ir diariamente ao trabalho, depois fazer os sociais não é o bastante. Me incomoda. Quero lutar pela minha liberdade, ter minha própria utopia. Não sou guerrilheiro, não quero portar armas -não as usuais. Fico muito incomodado ao pensar ser um pacato cidadão. Então, vem a velha história –estória?- de direitos. Certo. Vamos exigir.... E os deveres? O Quê fazemos? “Eu” tenho o dever de tornar as “coisas” melhores. A outra velha história de cuidar do próprio jardim –ao menos ao meu redor- e lá vem as borboletas. Agir? Não, obrigado! Apenas “crescer, multiplicar, envelhecer e morrer” como uma árvore... Ah, não! Árvores “limpam” nosso ar.

“Pra que tanta sujeira, Nas ruas e nos rios, Qualquer coisa que se suje, Tem que limpar, Se você não gosta dele, Diga logo a verdade, Sem perder a cabeça, Sem perder a amizade...” Mandela ficou quase três décadas preso pela liberdade do seu povo. Mohandas Gandhi, mais conhecido com Mahatma (do sânscrito “a grande alma”) Gandhi espalhou os protestos de não-agressão como um meio de revolução, pedindo ao mundo o mesmo com a paz, sem tocar em armas. Há ainda os biblícos como Moisés vagando quatro décadas pelo deserto, tirando o povo da escravidão do Egito e Jesus, pela PALAVRA, libertou nossa alma e a morte dos nossos medos.

“Consertar o rádio, E o casamento é, Corre a felicidade, No asfalto cinzento, Se abolir a escravidão,Do caboclo brasileiro, Numa mão educação,Na outra dinheiro...” Estávamos muito bem no ventre presos, aquecidos e nos soltaram para a vida: choramos. Depois saimos do ventre dos pais, e “hemos de sair”, outro parto. Mas, sempre procuramos um ventre pacato para nos aquecer e esconder. Ah, pacato cidadão “não foi a toa não...”

domingo, julho 26, 2009

Hipotermia

(o vidro e a grade pla janela chuvosa do carro, assim tirei)

De repente estou frio feito lá fora
Minhas roupas não me aquecem
Nú igual a noite vermelha inverno índio
Um gelo norte, tremendo febre
Minha terra roxa imitada pela pele minha

Não sinto meu coração, pareço um ser de pedra
Duro e concreto e sem vida
Uma lacuna a durar breve
Durante o congelar do sangue entregue
Não circula calor, em greve, em mim

Esta dor descubro dos meus pés acimentados
De dentes destilados, batidos
Sem qualquer significado remóido no banquinho
Sentado, sozinho, dentro da casa que venta
Um terço do mu tamanho encolhido, aguenta frio

Mas, estou cavando um buraco no sofá.


Folha de Outono (Rafael Belo), às 00h05, 13 de julho de 2009.

sábado, julho 25, 2009

Quisera eu, quimera

(meu bairro de cima, terei do alto da torre de sinos)

Os planos de hoje acabaram, quando acordei e era tarde
Tomara-me uma praia nos olhos de um mar menstruado
Meus lábios e voz cansada Orfeu, eu, Morfeu
Na quimera de projeções
Cantando na afinação da harpa,
me mutando no domínio imaginário do despertar

preto ou branco de mil heróis afluentes, rugindo raça
face ilusória de traço fixos, coberta da lua aquecida sol,
na propriedade das estrelas

ondas oníricas acariciando a pele, para arrepiar a vida
no fundo respirar acometido do abismo da profundidade

Quisera eu, quimera
Ter paternidade nos partos influentes, por gerações de sonhadores

Gero a ti
Minha utopia pirofágica, para poder sonhar

Voar, no não lugar

Em (com) postura com os pés nas descomposturas
dos “achados” lugar.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 13h08, de 11 de julho de 2009.

quinta-feira, julho 23, 2009

Sobre as 24 horas

(torre os sinos, tirei do alto de Ribeirão Preto)
Por Rafael Belo

Todo dia começa a meia-noite. Isto se um dia tiver 24 horas – assim acredito e me ensinaram. Mas, para alguns começa a meia-noite e um. Fato, então, é o término do dia à meia-noite...! Minto! O fato é faltar um minuto todos os dias. Porém, se o dia começa como acreditava a pouca linhas, ele termina às 23h59... Não é um trava língua -ou neurônios- é a constatação de todos os dias nos roubarem um minuto, ou seja, se é dito: 24 horas é igual a 1 dia, não temos um dia sequer! Temos “exatas” 23h59. Quanto tempo perdido...!

Somos controlados por estes ditos marcadores. Há muito tempo -olha aí- eu usava relógios. Tinha vários. As pessoas sempre pediam informações sobre horários. Só para saberem o quanto estavam atrasadas, o quanto iam demorar, o quanto estavam adiantadas, o quanto ainda tinham pela frente, o quanto... Bem, Já até me roubaram um. Lembro bem. Estava eu -não brinca!?- e mais dois amigos (lá pelos meus 12 anos) dois de um lado da rua e um do outro. Quando atravessávamos, de encontro ao terceiro integrante, um sujeito grande de jeans e tênis rasgados, sem camiseta e boné veio na minha direção. Eu desviava, ele era minha sombra (o sol estava às costas). Com dois toques soltou meu relógio do pulso e saiu em disparada. Um verdadeiro “profissa” exceto, por depois de longe e ainda correndo, ter gritado: “Valeu baixinho”. “Baixinho”, repeti indignado. Fiquei com raiva. Foi o motivo da minha fúria. Não terem roubado o meu tempo. Isto só descobri agora. Alguns ano depois parei de usar relógio. Agora tenho o péssimo hábito de ficar consultando os celulares -puro tédio, falta do quê fazer mesmo.

Nosso fiel controlador, às vezes a despertar, nos rouba todo dia -a não existir mais- um minuto. Em dois anos e quatro meses perdemos um dia. Todos os dias acabamos pedindo sem pensar “só um minuto, já vou, pode esperar um minuto”. Em um minuto acontece tanta coisa – acreditem. Quem espera um ladrão? Nós!? Assim os dias não existem. O tempo nos rouba um minuto “por dia”, então por que se preocupar com o tempo se ele é um trapaceiro? É justamente por isso a preocupação. Não vou deixar o tempo passar sem passar com ele. Ele já leva muito. Não vou perder tempo(?).

quarta-feira, julho 22, 2009

Sem face


(foto de um passarinho procurado que tirei durante um campeonato brasileiro de ciclismo)

Reascendeu o Renascimento sem perceber pura morte no cheiro
Odor agridoce de dura dor incompatível ao sofrimento
Estendido no fim de semana prolongado
Extensão a apatia dos famigerados

Aromas gerados de alguma decomposição sob a bandeira verde amarela
Sobre a nossa flâmula, o incêndio da pátria

Deitado nas labaredas distantes
há sorrisos acomodados,
ouviram o crepitar intolerante das brasas
nas cinzas malas de couro do povo
o vento leva a inglória

São vilanias da pequenez representada

almas doadas para corpos sem brios
vazios vermes das promessas da maçã desejada
uma mordida, e a mandíbula intoxicada

Fênix promíscua, cheia de caras.

Folha de Outono (Rafael Belo), às 12h30, de 11 de julho de 2009.

segunda-feira, julho 20, 2009

Espelhos

(Tirei esta no FMS em Porto Alegre, passeata)Por Rafael Belo

Vi meu reflexo me imitando e decidi: “Não gosto de espelhos”. Eles refletem nossa luz e pretensa visão da nossa imagem. Julgam-nos por nós mesmos e nos fazem um paradoxo – desde o afogamento de Narciso. “Tudo bem” a transparência dos vidros se concentrando na sombra da nossa imagem, mas um espelho não. Fica a mostrar uma referência e nosso psicológico -pouco ou muito- intimidado pelos padrões de beleza. É uma piada do tempo. “Hoje estou bem”, “Humm, hoje não”... Vamos quebrar os espelhos e esperar apela sinceridade alheia. “Estou bem assim?”-algum tempo depois- “Ah, sim! Claro. Ficou.” Melhor não esperar nada. Creio termos perdido minutos da vida diante do acreditar sermos nós mesmos. Lembro do “O olho do Mal”, com a Jéssica Alba. Ela cobre todos os espelhos da casa ao voltar a enxergar e ver além – o além. Em uma parte ela: diz quem esta (se referindo a própria foto e o espelho mostra uma moça morta no começo do filme).

Os espelhos nos ajudam a sermos fúteis e a nos enganar para o bem e para o mal – como se fosse a definição (in) exata de mocinho e vilões. Ou nos eleva demais a autoestima ou a destrói – com meios termos. Espelhos levam nossa respiração e deixam parecer o muito não ser o bastante em nenhuma hipótese - nossa! Às vezes só prendem (nossa respiração). Jogam de nossa auto pseudoimagem para nós: “QUERER NÃO É SONHAR”.

Acertam ao nos mostrar tão “matérias”. Somo matéria... Atrás de tudo isso minha liberdade está lá presa, entre “meus olhos”, de reflexo. Quero partir estes espelhos, mas não tornarei estilhaços minha liberdade. Quero voltar a respirar... Quero culpar nossa geração da imagem e “ver para crer”, “tudo a ver”, “a gente se vê por aqui”. Mas, sei bem – sabemos bem – É... O problema não são os espelhos...!

sábado, julho 18, 2009

D‘água

(Esta foto tirei em Isla Maragarita no PAraguai, flamboiã)

Choveu por anos. Fomos migrando para as montanhas morrendo. Sabendo de única coisa: amigo é sempre bom. Não adianta procurar amigos, pois a procura é sempre longe, um amigo está sempre ao lado, não importa se distante. Sem família de sangue, só a escolhida – como se houvesse escolha no meio da tragédia. Este era nosso carregamento exato. Tragédia. As sobras das bagagens. Ninguém ousava chorar após infindáveis lágrimas do céu sem nuvens. Parecíamos desolados sem poder planejar nada, a não ser sobreviver. Mais! Éramos precisamente deslocados.

Não podíamos nos deitar. Só havia poças e onde não havia poças não estava seco ainda. Éramos 50 pessoas consideradas fortes. Infelizmente, não contávamos os mais velhos ou as crianças abaixo dos sete anos. Dez homens apenas. De todos dois eram imunes a “acquafobia”. Palavra denominada ao absurdo medo da água. Em um planeta água como a temer? Precisos 48 a temiam. Era consequência da mesma ter levado a vida da ex-Terra. Trauma. Um deserto líquido baumaniano (referência ao sociólogo Zigman Bauman) era a única paisagem. Afetos, amores, leis, família, religião, justiça eram pura fluidez como a modernidade.

Nenhuma metáfora mais. Beber da água era beber dos nossos e cada um daqueles planos ambiciosos. Não! Ninguém acreditava nisto! Uma noite só havia o silêncio em corpos empilhados, teimando planejar sobreviver, mas os planos era outros. Nunca mais havia dormido e toda noite observava os corpos vazios, me pareciam sem vida até acordarem junto ao sol insinuante e agressivamente sorridente. Neste dia sabia do meu sono, ele se aproximava conforme aparecia terra em volta.

Foram surgindo todas as frutas esquecidas. Olhei para os lados e um por um se afogava em terra. Sem som, sem luta, se entregaram. O naufrágio da terra “se acabava”. E agora? Decidi subir em uma árvore e escolhi negar a fruta oferecida. Assim as águas avançaram mais uma vez sobre nós e nos levaram. Bem, fiquei eu a ver minha família desaparecer, varrida. Uma mulher isolada. Penso em doar uma costela. Estou pronta para ceder uma costela. Não vim do barro, vim da água. Sou fluída e não modelada. Sou corrente pronta para libertar uma nova humanidade.

sexta-feira, julho 17, 2009

Só na lembrança

(Tirei no lugar mais incrível para apreciar o pô-do-sol: Rio Paraguai)

Alguém me vê mais quatro horas do dia anterior
É preciso voltar ao ontem
Este lugar perdido
Encontrado só na lembrança

Não importa sua atual inexistência ao toque
O amanhã também inexiste
A partir de agora

É certo quando se sente
O passado presente
Nem tudo vai embora

Nada chega em outra hora
Mais quatro horas pra memória

Torta trajetória de esquivas
Diagonais pra frente

Oh, locomotiva intransigente
Há tantos passageiros para descer da mente em um dia

Todavia, tinham tirado os trilhos
Acabaram-se o vagões

Folha de Outono (Rafael Belo) 11h44, 11 de julho de 2009.

quinta-feira, julho 16, 2009

Necessidades


(tirei há três anos na Páscoa, voltando pra casa)

Lá se foi o tempo
Engolindo as horas
Faminto feito mendigo
Ignorado por qualquer esmola de vida
Esvaiu-se no corpo com o estômago dolorido

E os olhos sedentos
Secos como todo este abandono de energia na madrugada
Depois do descanso despido, está passado
O amassado domina drástico, os detalhes
Ainda prendendo a noite no noturno
Mesmo com céu indefinido nestas horas vagas

Há ao atrito da insônia
Incomodando a casa

Atento sonâmbulo a intermediar
O preâmbulo perambular astuto
Escorrendo o descanso matuto
Para o não descansar
Acelerado adulto
Precisando sonhar

Folha de Outono (Rafael Belo) 11h22, 11 de julho de 2009.

terça-feira, julho 14, 2009

Imaginação



(tirei esta entre o fórum social mundial, em Porto Alegre)

Por Rafael Belo

“Fora”, “Não...”, “Eu odeio...” são os protestos nas redes virtuais. E aos ventos lá fora, pois lá não gritamos. Este fora do ambiente cibernético me lembra o ocorrido agora a pouco. Estava na calçada e logo atrás uma senhora no volante d um carro prata, classe média, sedã, não sei a marca, pois, a senhora de rugas marcas de “expressões” e um vestido bem – bem mesmo – estampado incrementado pelas jóias nos pescoços dedos e pulsos me chamou - não sei porquê - mais atenção. Não pela descrição dos artefatos artifícios tão discretos ou pela idade não comentada, mas pelo movimento da cabeça da senhora.

É bom escrever: Ela lembrou minha falecida vózinha materna (aliás, de “inha” não tinha nada além do tamanho). Tinha certeza sobre o balançar firme e lento da esquerda para a direita repetidamente, ser por minha causa. Afinal, estava abaixado com as mãos sobre o assoalho do carro e depois levantei bruscamente direto para o encontro do olhar negativo dela.

Procurava um pedaço da minha caneta. Depois de me esticar para pegá-la, travei o carro, levantei e bati a porta, para o olhar pesado citado. Estava lá à esquerda imediatamente me julgando e toda a negação da senhora me parou. Comecei a pensar compulsivamente sobre a imaginação dela e, agora, me dei conta das possibilidades furtivas e furtadas, a passar pela cabecinha da senhorinha: “Furando o pneu homenzinho. Feio, muito feio.” ou “Tentando fazer ligação direta. Que pouca vergonha!”.

Depois, sem dar seta para esquerda, saiu com o carro sem parar de balançar a cabeça. A senhorinha -juíza e júri- me lembra exatamente nossos protestos atuais contra “os mais um” ou “sempre os mesmos” da política. Balançando a cabeça em desaprovação, vemos um pouco do acontecido e partimos para criarmos comunidade, indignados com nossos eleitos. Eles agradecem e cultuam a deusa internet.

segunda-feira, julho 13, 2009

Névoa negra


(tirei esta na frente da facul, no antigo fim de tarde pós rádio)

negação nivela nervos
aliterários
navega em olhos irritados
ao naufrágio assombrado
saber aceitar

algo templário – de contemplar
na mudança de tempo

inexpressível de entendimento,
mas em expressão secular

banido das multidões para as massas
há o modelar tsunâmico dos mares

um avesso oceânico
de nossas gotas nas ondas

as ondas passam

nosso equilíbrio nas cristas
nos torna surfistas,
mas também foragidos

filhos adotivos das sombras nas cavernas
amontoadas em eras de alegorias

feitas d nossas feições temerárias
de ensaios da alegria

empresária da vastidão
nas muambas de “a(´)goras”

02h54 Folha de Outono (Rafael Belo) 10 de julho de 2009.

domingo, julho 12, 2009

Margens


(tirei esta nas margens do Rio Paraguai em Porto Murtinho/MS)

Silêncios e sons são toda esta explorada visão
Da nossa inexplorada melodia
Canção cantada no nosso notório silêncio
Perante protestos da sala sonora
Povoada de falas para não pararem os sons

Caos e bonança fazem feita a circunstância
De tantas desigualdades desiguais de tons
Para alguns ouvidos, arpões da pesca
- predatória dos raros “pensatos” a boiar
“Sões” para alimentar os silêncios

Chegam às orelhas a dor da pauta, “dolor” da pausa
Desfazendo o bolor dos surdos ouvintes
Propenso ao suicídio do fungo dos neurônios
Já pelas telhas da mente, ateia fogo no fundo
Ao vazar do propano tenso
Na ardência interna, há uma nova terra à vista
Onde floreia a ausência alternada em presença
Sustenta um ritmo íntimo margeado de sons
E sãos silêncios

02h32 Folha de Outono (Rafael Belo) 10 de julho de 2009.

sábado, julho 11, 2009

Sobre o amor (injustamente) platônico


(uma das minhas primeiras fotos com o experimento da lâmpada apagada e a máquina digital - primeira)

- Você fez eu me apaixonar, declarou ela.
- Desculpe não era minha intenção, defendeu ele.
- Só fui eu mesmo, continuou ele. Posso deixar de ser..., arriscou.
- Não!, se apressou ela. Tudo bem. Gosto assim, ponderou.
- Mas..., ele tentou argumentar.

Ela olhou intensa para ele, por breves minutos de silêncio - parando qualquer frase ou pensamento para depois concluir alegre: “Vamos ficar com nossas intenções e fingimentos”. Sorriram e seguiram o momento.

(Rafael Belo)

quarta-feira, julho 08, 2009

Ponte d’água

(Tirei esta foto em Isla Margerita no Paraguai de dentro de uma igreja barroca)

Clareou a noite ao emitir o chamado do escritor
Seu lado escuro levou o sono
Deixou toda a insônia desperta
Com palavras e versos enredados nos dedos apontados
Para o coração do leitor a pensar
Ser a própria luz solar

A noite madrugou devagar
Absorvendo as horas idas como se não fossem
Eram, um refúgio de silêncio e palavras nascidas

Refletidas no futuro raiar longe
A contracenar com o sono, em afastamento
Nada de sons, por um longo momento

Os pensamentos calaram o monte
Com montes de sentimentos no trono
Clareou o escritor, e ele, era dia

12h37 Folha de Outono (Rafael Belo) 06 de julho de 2009.

A Espera

Por Rafael Belo

Não deveria ser cena típica, mas os relatos são. Alguém sendo assaltado do outro lado da rua por vários ninguéns desarmados - ainda a espancarem covardemente a vítima -, e os espectadores, acumulados, ficam fascinados e não se movem para nada. Testemunhas com celulares nas mãos para filmar, fotografar, não para - ao menos - chamar a polícia. Sem falar da gratuidade surtada das pessoas. De repente você vê um alvoroço e certamente é briga. Todos querem saber o acontecido e quase sempre é totalmente banal. “Uma mente desequilibrada quis entender “tudo errado” e começou a esmurrar e chutar homens e mulheres”.

Eu agradeço por não ter presenciado nada disso ainda. Não conseguiria ficar de testemunha de uma atrocidade. Não adianta dizerem: “Não tem nada a ver com a gente”, “Não podemos nos envolver”... Eu pergunto como não? Tem a ver sim estávamos lá, o alvoroço mudou tudo e como estamos vendo estamos envolvidos. Isto me lembra dois filmes. “O Encontro” e “ Violência Gratuita”. Este último uma refilmagem fiel do mesmo título de 98, aliás, é uma tradução desnecessária de Funny Games.

A excelente atuação de Naomi Watts, Tim Roth, Brady Corbet, Devon Gearhart e Michael Pitt mostra um quê de esquizofrenia e de psicótico nos “vilões” criando um jogo divertido – sem diversão nenhuma - onde no final todos deveriam morrer. Já “O Encontro” vai mais com nossas caras de testemunhas. Uma amaldiçoada por Deus, Christina Ricci, é obrigada a ser testemunha de todas as tragédias da humanidade, simplesmente porque ficou assistindo fascinada a Crucificação sem reagir. Vem-me a cabeça nosso às vezes, assim, passamos o ano todo frios para esquentar no Carnaval. Olhamos o bloco passar, não porque há um amor exaltado por lá, mas por que ele está em todo pedaço de qualquer lugar e parece haver alegria naquele momento passante... Depois é um ano de espera.

domingo, julho 05, 2009

Latidos do planalto

(foto que tirei na virada captando as luzes e a dinâmica apenas para destacar a música e o movimento sem photoshop)

Por Rafael Belo

“Eu nunca fiz isso antes, eu nunca fiz isso antes”. Sempre vem repetido. Quem já não ouviu ou disse... Não importa se sirva apenas como afirmação para uma autocrença. Nós gostamos do óbvio e de jogos lúdicos, mas nem sempre os entendemos, pois faltam neles o gosto primo: o óbvio. Assim ele fica lá pela infância e mineiramente nos afastamos dele no decorrer da vida. Paulistanamente ficamos só com a ilusão e paulistamente persistimos no óbvio ao repetir o antes nunca feito por nós.

Mesmo mineiramente (comendo quietos mesmos), paulistanamente (mais egoístas e solitários) e paulistamente (teimosos) - definições de dicionários que apreendi em alguma revista – somos ávidos por suicídios, mas só os anestésicos, esses “levadores” de neurônios e vergonha. Vai lá se reunir com os amigos e só mais uma ou o clássico mando no meu nariz (e o resto do corpo é quem paga) depois libera as esquizofrenias. Falando em línguas... Aqueles bilíngües ou “pseudobilíngues” soltam o idioma chumbado e arrastado em inglês, espanhol e invocam a terceira pessoa para se referirem a si, além de tudo ser engraçado ou dramático a ponto de chorar. Tempos de baladas. Não sei o porquê os políticos começaram a pipocar na minha mente...

Nada a ver com a palavra ridículo ou a fatídica república das bananas saltitantes em textos por aí, mas eles são como nossos cãeszinhos mal acostumados. E quem deixou os pequenos cães peludos tomarem conta da nossa casa da mãe Joana?! Os meus, os seus e os nossos bichinhos de estimação que me desculpem por tamanha ofensa comparativa (logo eu averso a comparações), contudo é bem óbvio o osso roído jamais largado na boca deles. Quando você deixa um cachorrinho entrar, deitar na sua cama e comer sua comida não há quem o convença dele não ser o dono da casa. Há um instinto deliberativo do disfarce descarado no qual eles passam por nós e fingem, com certeza, terem sido invisíveis ao passar. Ainda assim nós os xingamos e tentamos impedir a passagem. No final desistimos, dividimos nossa casa com eles e na inversão dos papéis eles tomam conta da gente. Espero não sair latindo por aí e passar raiva no planalto porque nunca tomei anti-rábica!

Afinação do tempo

(foto da primeira vez frente a uma rotativa e lá se vão os anos)

Aquele vento não sopraria de novo para bandear com as folhas
Ele correu o mundo único soprando outras únicas folhas
Uma turnê particular soprando em melodias locais
Por quem o vento tocar e levar
Para quem se lembrar ser também das bandas do vento

Passando por brisas e bandalheiras aos grunhidos e agudos
Absurdos sopros acumulam poeiras ou as retiram
E vento soprado primeiro não é o mesmo na segunda vez

Quando aquele vento volta vindouro
Varre as primeiras vezes consecutivas
E os ventos furtivos do planalto furtam nosso ar

Na terceira leva do vento voltado
Ainda há unicidade pérolas e diamantes
Basta contar até três e soprar para o vento sumir
E todas as outras infindáveis vezes de (re) volta
Ele acumulará bandas sopradas e tocará igual, mas mais afinado

23h42 Folha de Outono (Rafael Belo) 04 de julho de 2009.

Sem tragédia, só bagagem

(quando penso em Isolda lembro desta minha foto no fim da tarde ao sair da rádio de dentro da facul então vai a minha homenagem a ti)

Há alguém do outro lado sofrendo as minhas mesmas experiências
Porém absorve seus arredores em pormenores próprios
De miudezas engrossadas de destrezas insólitas

Lenda Isolda dos mitos celtas
De reluzente armadura feita pele
Ainda perdidamente na poção de amor
Reporta a vida crítica, mas não há de morrer de tristeza

Vê a beleza da vida na felicidade contida na metade de todas as coisas
Há magia naquele mágico olhar a ser também escrita
Esta escriba da rotina feita para reflexos e reflexão

Não procura razão em tudo, mas porque não questionar o nada
Diria esta força articulada gesticulada em amplitudes
Ah, suas atitudes dão corpo a uma argumentada opinião

Um tanto de Tristão habita nesta Isolda, dama solta
A cavalgar qualquer visão.

20h24 (Rafael Belo) Folha de Outono, 04 de julho de 2009.

sábado, julho 04, 2009

Apontar dos ponteiros

(foto que tirei aos arredores de CG)

Há o bater do coração acelerado de todas as horas
Incomodado nestes ponteiros se movendo em círculos
Guardado no alto pelas memórias
Silenciado pelo bater covarde da bela torre de sinos
Todos sincronizados nos ouvidos alterados pelos uivos de redemoinhos

Alta estação da sucessão de esquecimentos comprimidos
Umedecidos na boca pela língua nos lábios
Engolidos secos aos gestos contrários
Até o covarde bater do coração haver
Há o silêncio acelerado do bater alto da antiga torre dos sinos

São dezoito horas na fronteira misturada entre luz e escuro
No círculo seguro de onde o tempo vem e vai
Fica
Uma ou outra batida entre os bateres do peito e da duração
Momentos parados postos diante dos contínuos
Haveres secretos
Abertos para revelação

18h - 02 de julho de 2009 – Rafael Belo (Folha de Outono)

Há você

(foto que tirei da janela de um apê que morei)

Saiam sons indiscriminadamente daquele corpo exposto na noite apagada
Onde ninguém enxergava a água
Caída de outros corpos também de ninguém
Criando um rio parado do outro lado do fardo
De se deixar levar

Pela correnteza de pensamentos
Levados pelos sentimentos
A desaguar
Em um distante lugar
Tão perto
Chamado lembrança

No deserto de lágrimas
Caladas invisíveis
Saído de um rosto impávido
De falso brilho
Há você
Um ser de lembranças

17h30 – 02 de julho de 2009 – Rafael Belo (Folha de Outono)