sábado, outubro 29, 2011

Bem atentos nossos ouvidos ficarão


(*Bem aprecia o dia indo, rumando para o fim, distante em seu galho mediano refletindo luz do céu ao chão...  captei há dias no sítio da Fran)


por Rafael Belo

Bem-Te-Vi se empoleirava no galho mais alto no início da dissolução da noite. Não podia ser dito cedo demais, tarde demais ou pontualmente. Era um horário sem tempo pertencente apenas a ele. Bem, escolhia a mais alta árvore mais a leste, bem no oriente mesmo e apontava o bico para o horizonte. Quando o primeiro cálido raio o atingia, suas asas se abriam, suas penas se arrepiavam e o anúncio alvo da manhã vinha da conexão da sua imensa alma incontida no coração. Seu canto incansável chamava a alvorada com o teor de barítono mais envolvente proporcionado pela natureza. 

Só depois da Primeira Hora, Bem avisava: bemtevi, bemtevi, bemtevi... Passava o dia contando a maravilha vista e descrevia de maneira tão visual para seus iguais a tornar impossível estes também não terem visto. O dia se formava de peitos amarelo-sol cheios da verdade do alvorecer e todos podiam enredar para o mundo: bemtevi, bemtevi, bemtevi... Começaram a bem verem Bem e tentavam amanhecer junto a ele, mas Bem sentia quando a noite se entregava aos primeiros raios e nunca foi segundo. No entanto, nenhum imbuído do alvo solar deixaria de ser primeiro. 

A revoada da alvorada, agora, criava eclipses penosos e o amanhecer demorava um pouco mais para todos os outros seres. O estufar do peito e o cantar do prenúncio das manhãs antecedia os galos gritantes e todo o leve amarelo inicial dos pássaros iguais a Bem se transformou no intenso dourado branco. Eles bem esvaziavam a mente e deixava o dia vindouro cantar por meio deles. Agora o local de Bem era de todos e Bem logo partiria para Bem incentivar outras asas a serem o primeiro som gracioso antes do total despertar para o dia. 

Seu canto é ouvido como despertar diferente e sorridente para cada ouvinte. Aqueles que ouvem apenas os bemtevi, bemtevi, bemtevi... Acabam por enxergar a manhã de Bem. Acabam por renascer com vontade de crescer e partilhar a alegria de mais uma manhã e Bem bem fica próximo a todos e às vezes brilha na mente de quem está disposto a ouvir e espera paciente ser ouvido por quem ainda não escuta. Suas asas libertas vão acima rumo ao sol, bem a leste, bem ao oriente e quando repousa, repousa bem no fundo de nossa alma cantando no nosso profundo, aguardando ouvir a hora do nosso cantar.

quinta-feira, outubro 27, 2011

Um pássaro, várias lições


o pequeno pássaro marca o chão encenando a morte para afastá-la, ele vive
por Rafael Belo

A natureza se defende imediatamente ou aos poucos lutando pela vida.  Basta estar atento para comprovar. No quintal de casa mora uma cadela hiperativa. Ela faz do verde sua selva e dos cocos seus brinquedos, até abri-los e comer o interior.  Sim ela aprendeu a abrir. Mesmo com vários nomes, devido ao fato de ter chegado com um esdrúxulo Pintia(?!!), ela sempre sabe quando a chamamos. Nenhum intruso consegue ficar muito tempo no espaço dela, inclusive ratos. Mas, ontem (terça-feira) o maior erro dela aconteceu. Um filhote de Bem-Te-Vi foi abocanhado duas vezes, porém foi salvo pelo meu pai.

Logo em seguida, uma comitiva de bem-te-vis começou a atacá-la. Rasantes e picadas. Enquanto uns a puniam outros a ameaçavam com pios estridentes. Mais observadores, uns terceiros, cantavam os conhecido bemtevi bemtevi. Nunca foi tão assustador tal canto. Agora ela está mais contida perto da varanda pedindo asilo político dentro de casa. Toda oportunidade é aproveitada pelos seus carrascos. No quintal dos fundos, um moribundo filhote de penas tentava sobreviver. No segundo dia era iminente a morte. Eminente era o zelo cego dos pais a procurarem a cria perdida.

Pouco depois do almoço. Os pássaros genéricos do filme de Hitchcock pairavam mais baixo e faziam Pintia revelar um arrependimento quase piedoso de sua travessura por domínio de território. Um pio gritado já ecoava por horas. Lá no fundo, o pequeno pássaro parecia já não respirar. E provavelmente uma ressabiada mãe velava arisca a junção de penas sem vida de uma variação não registrada de som desta espécie. Tinha um quê de descrença nos pios cada vez mais baixos. Mas, para minha surpresa aquele pequeno Bem-Te-Vi não estava mais no mesmo lugar.

Ele se arrastava e tentava erguer a cabeça enquanto seus pais rodeavam e piavam incentivos.  Mas, ele não estava morto? – qualquer som ameaçador era o suficiente para encenar a morte. No chão insistia, piava forte. O pescoço parecia quebrado e uma asa também, mesmo assim forçava a asa boa para se erguer e apontar o bico para o som de quem lhe chocou. Seus ágeis protetores faziam sombra sob o sol e estavam em toda parte.  Ninguém chegaria perto mais. Menor comparado a um punho fechado, poucas semanas de vida, conhecendo apenas a imensidão de um quintal, com penas contáveis e provável sensação do vento sob as asas, aquele filhote não desistiu. Sua vida, sua liberdade. Dos pequenos lateja a força de viver, a árdua luta para continuar a respirar. Um pássaro, várias lições.

terça-feira, outubro 25, 2011

Atravessando

(*Todo copo d'água é vida e o sol é o guia do todo... captei nestes dias de calor)

Úmidos lábios se contraem em dilatados olhos translúcidos
lúcidos da alucinação real do Amor revelando o oásis da vida
com toda água sombra e areia de tempestades enfrentáveis
nas inevitáveis curvas do dia jorrando poeira no sinal do farol
jogando a intensa luz para guiar os navegantes distantes da praia

tocando cada um que saia sem destino com apenas lembranças no paiol
com todas as esperanças guardadas na experiência de mais um nascer do sol
recomeçando a vida de um ponto novo com as velhas referências
na nudez total da pele vestida da essência
de um beijos contraindo o tempo nesta ausência de espaço.

por Rafael Belo às 10h09 de segunda-feira, 24 de outubro de 2011.

sábado, outubro 22, 2011

O caminho da cabeça meio vazio


(*As folhas caem e os sentimentos ciscam apenas com o instinto de sobrevivência e nada mais além da vastidão...! ... captei no sítio dos meus sogros em Sidrolândia)


por Rafael Belo
Aquela dor de cabeça passageira decidiu não descer mais. Deixou de ser a constância dos olhos vidrados por horas na tela para tornar-se uma passageira perdida, mas ele achava ser tarde parar voltar a sentir. Passava das duas da madrugada de mais de sete anos de isolamento e insensibilidade. Aquela cabeça doída foi o início da frieza e de uma maldade. Tudo por causa de um tumor imaginado obstruindo o sistema límbico. Este responsável por motivações, comportamento agressivo e emoções.

Ele vagava simplesmente evitando qualquer ser respirando. Morava em uma pedreira abandonada nos confins das redes sociais. Vivia de óculos escuros e cara de mal – seja lá o significado disso. Quando raramente era visto era em um comentário ácido desproporcional direcionado a um bom dia qualquer. Mas, sua dor lancinante sempre parecia uma smile original sem qualquer expressão identificável. Cometia coisas não acertos ou erros, coisas. Nada cabia no dualismo simplista de maldade e bondade.

Quando menos esperasse, saberia que nenhum sistema límbico obstruído por uma imaginação imaginada seria responsável pelo que ecoa a alma, pelo som descompassado do coração. Encontraria o lugar para onde foi o que deveria ter sentido nos momentos que terminou relacionamentos, que foi assaltado, que viu a morte, que comprou sua primeira casa, que foi visto pela morte, que foi demitido, promovido, reconhecido, rejeitado, traído, ignorado, exaltado, confundido, procurado... Só não estaria preparado para encontrar este lençol freático escondido.

Incrível foi quando de fato aconteceu. Ele sentiu falta da fidelidade da dor e se surpreendeu por poder sentir falta e saber o significado de falta...! Mas, foi só. Esta solidão doeu e ele pensou na dor... Até esquecer e olhar para a tela escura. Não havia luz em parte alguma. Sem saber como se referir a si mesmo soube de um tempo aonde a luz vinha de dentro, o incluindo. Isto levou a horas olhando para um reflexo desconhecido imitando os seus movimentos. Lembrou que para ter reflexo em um espelho é necessária luz...
...Começou a percorrer um vazio e a contar os grãos de areia... Sabe-se lá o tempo do porvir para retornar deste espaço deixado... Pesou a cabeça nas mãos sentindo tanta bagagem quanto possível. Depois divagou e não soube mais o que fazer...!

sexta-feira, outubro 21, 2011

Não deixamos de fazer


*( Caminho com o sol ao redor mesmo quando seus relfexos são a lua seus raios sempre chegam no meu caminhar...Captei ao caminhar apra o serviço no dia 19/ 10/11)

Por Rafael Belo
Sentar e imaginar cada expressão dos seus quando conversam e lembrar acabou virando mais real pelas redes sociais. Eu sempre escrevi e desagrilhoava os limites da mente quando ouvia e observava o mundo ao meu redor e fazer o upload para tantas timelines e updates status levou um tempo, confesso. Por isso, fiquei agrilhoado a correntes de ar intermináveis de sons, imagens, sensações e sentimentos profusos de maneira quase delirante por tempo demais pelo tempo necessário.

Sentia-me febril e com uma anti-rábica vencida constantemente, afinal, eu escrevia o tempo todo sobre tudo. Mas, só a maturidade tardia me mostraria a arrogância disto. Adoeci de mim mesmo ao deixar a voluntariosa estupidez humana sair da caixinha. Lidar com a estupidez e zerar a arrogância eram os desafios para o arrebentar das novas correntes insensíveis. Lá no canto do isolamento mental minhas mãos estavam cortadas e o olhar cego, mas a adaptação voltou a mostrar que só a alma escreve com o Coração, as mãos são desnecessárias.

Tomar distância de si parece ser necessário para um salto mais profundo na volta. Típico afastamento involuntário. Bem, o melhor de se afastar é a bagagem do retorno. E o mundo virtual em palavras mesmo disfarçadas-copiadas-alteradas-inventadas traz a população para o mesmo espaço ao mesmo tempo, contrariando a física. Vários corpos não presentes ocupam sim o mesmo lugar simultaneamente. Assim como é feito fora dos arrobas e underlines  em outros toques mais antigos. Porque já fazia tempo que corpo e mente não estavam juntos andando na orla do mundo.

No fim a união continua sendo a força, as palavras mal contextualizadas seguem problemáticas, a exposição de relacionamentos mal atados caminham se desfazendo, amizades superficiais ainda fazem silêncio, novas pessoas entram em nossas vidas, amigos reais fazem menos falta com as conversas virtuais, grupos reforçando opiniões se destacam e permanecemos conhecendo sempre. Só não direi que o mundo é o mesmo porque a aceleração do tempo e do espalhar das informações vivem agora na velocidade do pensamento. Sentar e imaginar cada expressão dos nossos quando conversam e lembrar nos atropelou, mas não deixamos de o fazer.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Olhos Brilhantes


A imensidão gira em acompanhados galhos para subirmos em abas as direções
captei, Rafael Belo, rs  nesta quinta (20).
Quando o Amor se manifesta
não há procura espera nem escuridão
há uma festa de todos os dias no coração vestindo os olhos
de todos os espólios divinos vivos
e nos enxergamos todos filhos [ e irmãos...]

é um óculos sorrindo fazendo o sol vir vindo
ver... Finalmente podemos enxergar e crer
na intensa Luz salgada de suavidade audível
e é perceptível: tocamos o Amor com o olhar
vendo vastos vales infinitos no Ser Humano possível
no contínuo perdão,

Sermos mais Alma Coração e imensidão.






Às 12h53 - quinta-feira, 20 de outubro de 2011 por Rafael Belo.


PS: Desculpem o sumiço, mas voltei mais renovado e inspirado! Esta é em homenagem a vida e ao Dia do Poeta. E não é que a foto parece a da anterior rs...